A disputa mídia x política e o poder
libertador do voto
Luis Nassif
Historicamente
políticos e jornais sempre disputaram quem era mais autorizado a falar pela
opinião pública. É essa competição que explica os conflitos reiterados
entre ambos.
Ambos têm
interesses próprios – legítimos ou ilegítimos – e lutam com garras e dentes
para preservá-los. Ambos dependem de financiadores privados; ambos disputam
recursos públicos.
Mas existem
diferenças.
Os grupos de
mídia buscam o público escolarizado, bancarizado e consumidor, que garante os
patrocínios comerciais – porque consumidores – e a influência política – porque
abarcando setores influentes da sociedade.
Já para os
políticos, cada cidadão é um voto. Portanto, seu público é universal,
distribuído por todos os cantos do país.
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Tem mais.
A governança
de grupos de mídia é autocrática, anacrônica, pré-mercado de capitais.
As grandes
sociedades anônimas, embora sob comando de grupos de controle, são obrigadas a
prestar contas de seus atos a acionistas minoritários, a autoridades
reguladoras do mercado de capitais, do direito econômico. Independentemente do
tamanho, os grupos de mídia são fundamentalmente familiares. O processo de
decisão é solitário, monárquico.
No Congresso,
a governança é negociada. São deputados de todas as partes do país, precisando
prestar contas aos seus eleitores (em alguns casos, aos seus financiadores),
mas tendo de convencer seus pares. Mesmo os lobistas têm que legitimar
publicamente seus argumentos.
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No parlamento
prevalece a democracia (cada voto um voto) e a ampla discussão; nos grupos de
mídia, as decisões individuais e o cuidado de não chocar os leitores – o que os
torna agentes do status quo.
Esta semana,
o presidente da Câmara Federal, deputado Henrique Alves, ocupou rede nacional
para uma prestação de contas. Mereceu notas pequenas nos jornais.
No balanço do
ano, Alves divulgou as seguintes votações que representaram avanços
civilizatórios importantes:
1. Criação do
Plano Nacional de Educação, obrigando o governo federal a destinar 10% do
orçamento para a área.
2. Votação do
Marco Civil da Internet, assegurando a neutralidade da rede, dificultando a
formação de novos monopólios, como existe hoje em dia na radiodifusão.
3.
Prorrogação por quinze anos dos incentivos para a indústria de informática.
4. Aprovação
das cotas raciais nos concursos para o serviço público.
5.
Instituição do piso de R$ 1.014,00 para agentes comunitários de saúde e
endemias.
6. Aprovação
da Lei Menino Bernardo, para coibir violência doméstica contra crianças.
7. Votação de
emenda constitucional que obriga a União, estados e Distrito Federal a garantir
a presença de defensores públicos em todas as comarcas.
8. Aprovação
do Código de Processo Civil.
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Em relação a
esses temas, dentre os quatro grandes grupos de mídia, prevalece o entendimento
de que qualquer gasto aplicado na melhoria das condições de vida da população
subverte as contas fiscais. E que qualquer política que melhore a vida dos
excluídos é eleitoreira.
Aí acertaram.
Não fosse o interesse eleitoral pelo voto, não fosse o papel libertador do
voto, não fosse o direito de voto estendido a analfabetos, esse país ainda
seria uma grande fazenda.
Reproduzido
de Jornal
GGN . Luis Nassif on line
29 jun 2014