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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Qual é o sentido da vida? Neil deGrasse Tyson responde a um menino de 6 anos


Qual é o sentido da vida? Neil deGrasse Tyson responde a um menino de 6 anos

O astrofísico Neil deGrasse Tyson fazia uma palestra no Wilbur Theatre, de Boston, quando Jack, de 6 anos, perguntou a ele qual era o sentido da vida.

No vídeo abaixo (em inglês, legendado) vemos que Tyson fica surpreso com a pergunta, mas ao mesmo tempo elogia o pequeno: "quando adulto você terá os pensamentos mais profundos", diz ao menino.

"Acho que as pessoas fazem essa pergunta achando que o significado é algo palpável que possa ser encontrado (...) e não consideram a possibilidade de que o significado da vida é algo que você pode criar", explica. "Para mim o significado da vida é aprender algo diferente hoje, algo que eu não sabia ontem. E isso me deixa mais próximo de conhecer o que pode se conhecer no Universo, só um pouco mais perto, independente do quão distante está o conhecimento total. Se eu não aprendo nada, o dia foi desperdiçado. E por isso não entendo quem entra em férias da escola e diz 'é verão e eu não preciso pensar mais'".

Confira o vídeo:

Reproduzido de Revista Galileu . Luciana Galastri
20 jan 2015

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

"Um grito de liberdade, de alegria pura, de esplendor"...


O ônibus das cinco e quinze

Elaine Tavares

Chegar em casa é sempre uma viagem. Cada dia diferente, embora o caminho seja o mesmo. Mas é que dentro do ônibus seguidamente acontecem coisas espantosas, visto que os seres humanos são sempre surpreendentes. O trajeto até o Rio Tavares é de puro assombramento. Primeiro com a paisagem. O mar, os montes descortinando o horizonte, os casebres de pescadores, o absurdo do aterro, as gentes, os motociclistas e suas ousadas manobras, os carros em profusão. Quando é final de tarde então, é de enlouquecer. O céu fica de um rosado/dourado, uma coisa única, e a vontade que se tem é de gritar, tamanha a força da beleza.

Depois, no terminal desintegrado, a espera. Meia hora, quarenta minutos, aquela coisa dolorosa de se estar aprisionada num lugar, tão perto de casa. Hora de pensar no quão surreal pode ser uma obra pública, se não tiver um mínimo de humanidade. Quem planejou o transporte, nunca o usou. Não sabe do horror e da exasperação que aquilo tudo pode acometer num vivente.

Então, num dia qualquer, vindo mais cedo para casa, por conta da sorte (essa danada), a gente pega o ônibus das cinco e quinze. É o que sai do Tirio rumo ao Jardim Castanheira, via Eucalipto. Ele segue pela Pequeno Príncipe, tranqüilo e sereno, passando pelas casas sem muro, cheias de ameixas, romãs e limões. Então, lá no final, quase perto da praia chega a parada que fica em frente à Escola Brigadeiro Eduardo Gomes. É quando tudo começa.

Ali, o ônibus fica parado por uns quinze minutos. É hora de entrar toda a profusão de meninos e meninas, libertos do colégio. Dois deles tem deficiência e sobem com as cadeiras de rodas, felizes por partilharem aquela fartura de vozes. O restante parece formar um poderoso furacão. Eles vão passando a catraca, revestidos de uma atmosfera de gritos e risadas. Todos falam muito alto e ninguém consegue entender o que de fato dizem. Desconfio que não digam nada, é só uma algaravia juvenil, atordoante e insana. Um grito de liberdade, de alegria pura, de esplendor.

Alguns deles se dependuram nos ferros que servem para o povo se segurar e sacodem feito macaquinhos felizes. O cobrador, que já os conhece pelo nome, um a um, vai vociferando. “André, sai do buraco da porta”, “Marquinho, não pula no banco”, “Sossega Fabiano”. E aquilo tudo vai se transformando numa balbúrdia digna de Babel. Ninguém ouve ninguém. Os passageiros que nunca pegaram aquele ônibus ficam com os olhos arregalados, sem fôlego, incomodados. Clamam por Herodes e o abençoariam se ali aparecesse para dar um fim naquela confusão.

Mas, quem já se acostumou a pegar o Castanheira das cinco e quinze não consegue disfarçar a incontrolável alegria que vai invadindo a alma. Aquela gritaria toda vai atordoando, atordoando, até o ponto de a pessoa também começar a gritar. Quando o ônibus passa em um quebra-mola então, os decibéis vão ao volume máximo. É a catarse. Êxtase total.

Então, quando o ônibus passa da parada do Raio de Sol., os grupos de pequenos vão saindo em profusão e, pouco a pouco, o barulho arrefece. Os gritos vão amainando e se perdem nos caminhos de areia do Campeche por onde vão sumindo as crianças e suas enormes mochilas de aula.

Na parada do Centro Comercial Castanheira eu desço junto com uma parte desta turba. E com ela ainda vou um bom trecho do caminho, partilhando da gritaria. Meus 47 anos desaparecem e consigo ver a menininha que fui, vestida de vermelho, a bailar, pulando as poças de água que se formam no caminho. Minha alma dança e penso que todo o ser humano deveria ter um ônibus das cinco e quinze na vida. Porque iria perceber que a melhor coisa que pode acontecer a alguém é se embriagar de meninice. Gritar feito louco, pular pelas ruas, sorrir por nada. Ah, esse meu Campeche e esses anjos que me ensinam a des-crescer!

Reproduzido de Palavras Insurgentes
03 mar 2008

quinta-feira, 26 de julho de 2012

“Mãe, eu quero. Você compra?”


Publicidade para Crianças

“Mãe, eu quero. Você compra?”

Por Rosely Arantes em 24/07/2012 na edição 704

A frase do título, que muitas vezes culmina em uma discussão, tem feito parte do dia a dia da maioria das famílias brasileiras nos últimos tempos. Discutir os limites das crianças frente ao que é apresentado nas televisões, via publicidade, é algo que muitas vezes está além do alcance das mães, pais e até educadores. Não raro vemos matérias, baseadas em pesquisas ou estudos psicológicos, que desvendam os caminhos para a atuação, para não dizer manipulação e controle, sobre o público infantil numa tentativa de reforçar o apelo de compra.

Contrariando um caminho trilhado, há anos, por diversos países com democracias consolidadas, como a Suécia, Alemanha, Austrália, Espanha (Catalunha), Chile, Estados Unidos, Holanda, Nova Zelândia, Portugal e Reino Unido, o Brasil continua permitindo que a publicidade seja direcionada ao público infantil. Mesmo que a criança e o adolescente sejam considerados públicos prioritários pela Constituição brasileira e reforçado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), eles continuam sendo alvo das propagandas e do merchandising, instrumentos da publicidade,que os utilizam como mecanismo de “fidelização” de um futuro consumidor e, ultimamente, definidor de compras da família, numa estratégia de infantilizar o adulto e dar uma ideia de maturidade às crianças, numa troca de responsabilidades vil.

O que é mais estranho é que todas essas ações, que são consideradas violações de direitos, dão-se no espaço público do audiovisual, ou seja, nas rádios e televisões, que são concessões públicas. Para ser mais clara, é de propriedade do Estado o espectro eletromagnético que é temporariamente cedido a determinadas empresas de comunicação. E como parte das regras desta concessão está a atenção ao que já é estabelecida em lei, como informado no parágrafo acima. Como afirma o mestre em Ciência Política, pela Universidade de São Paulo, professor Guilherme Canela, “se o Estado (governo e sociedade) acorda institucionalmente que esse recorte etário merece prioridade absoluta, à mídia não é conferido nenhum salvo-conduto para se escusar de cumprir suas responsabilidades, especialmente porque radiodifusores são operadores de concessões públicas do Estado e da sociedade”.

Programação para todos os públicos

Esse “descumprimento” do acordo entre o Estado e o mercado ultrapassa também outras esferas, como a regulamentação do setor, defendida por organizações da sociedade civil e pesquisadores da área. No Brasil, o próprio mercado publicitário regulamenta toda a publicidade mercadológica por meio do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), que estabelece as normas e julga os casos que porventura sejam enviados por entidades representativas ou cidadãos comuns. Para o presidente da entidade, Gilberto Leifert, as tentativas de regulamentação revelam que o Estado não acredita no poder de discernimento do cidadão. “É um evidente paradoxo. Muitas vezes, o projeto de lei ou a intervenção do Estado sugere que o cidadão é considerado plenamente capaz apenas para constituir família, eleger representantes políticos, pagar impostos, mas seria incapaz de fazer escolhas a partir da publicidade”, afirma.

Outra prova da complexidade do que estamos falando se deu com a retirada do programa infantil diário TV Globinho, substituído por um voltado para o público adulto capitaneado pela jornalista Fátima Bernardes nas manhãs na TV Globo. A emissora, que já chegou a apresentar O Sítio do Pica-Pau Amarelo, Vila Sésamoe Xou da Xuxa, apresentou como argumentação que a grade infantil não dá nem audiência, nem receita publicitária, e diz seguir tendência internacional de deixar as crianças para a TV paga. Segundo a empresa, o canal fechado seria um espaço menos sujeito a controle externo, como classificação indicativa, sugerida pelo governo e proibições à publicidade infantil (como limite à propaganda de alimentos e ao uso de desenhos para seduzir o público-alvo). “O segmento infantil está na TV paga porque lá não tem censura nem restrição à propaganda”, diz Luís Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação. Importante questionar, neste caso, como ficam as crianças que não têm TV paga, já que o lazer e entretenimento também são direitos e a TV é uma concessão pública? Isso sem falar que como concessionária de um serviço público a empresa deve cumprir com o regulamento que prevê programação para todos os públicos.

Direito de ter brinquedo

Mas muitas pesquisas e estudos também são realizados para medir o impacto da publicidade no desenvolvimento psíquico e emocional, atual e futuro, das crianças e adolescentes. E os resultados são alarmantes. Segundo o Instituto Alana, organização não governamental de defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes em relação ao consumo em geral, bem como ao excessivo consumismo ao qual são expostas, as crianças são mais vulneráveis que os adultos e sofrem cada vez mais cedo com as graves consequências relacionadas aos excessos do consumismo, por estarem em pleno desenvolvimento. Para o Alana, são consequências danosas à exposição excessiva a obesidade infantil, a erotização precoce, o consumo precoce de tabaco e álcool, o estresse familiar, a banalização da agressividade e violência, entre outras.

Mas como não se mudam leis e costumes num passe de mágica, algumas tentativas de minar o poderio do mercado e proteger as crianças têm sido realizadas. Cabe registrar que está em tramitação no Congresso Nacional, há mais de dez anos, um projeto de lei que proíbe a publicidade de produtos infantis (PL 5921/01). O texto, de autoria do deputado Salvador Zimbaldi (PDT-SP), que faz parte da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, já foi alterado nas comissões de Defesa do Consumidor e de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio. Para o relator, “é necessária uma lei sobre publicidade infantil porque o Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar) não tem sido eficaz”. Depois que Zimbaldi apresentar o parecer, a proposta seguirá para a Comissão de Constituição e Justiça em caráter conclusivo.

O anteprojeto encontra bastante resistência por parte do setor empresarial, especialmente o de brinquedos. Para o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), que também é presidente da Fundação Abrinq, Synésio Batista, a publicidade infantil é fundamental já que toda criança tem o direito de ter brinquedo e a publicidade ajuda a aumentar a produção, despertando o interesse e deixando a criança informada, “não se oferece um produto dizendo o que ele não tem”, afirma Batista.

Discurso mágico

Outra forma de quebrar o bloqueio empresarial está na capacidade de organização da sociedade. Já é possível perceber que há intervenção de diversos setores desta na defesa pela regulamentação e isso tem mexido na estrutura de poder e aberto diversas frentes de debates sobre o tema criança e consumismo, especialmente nas redes sociais. Por conta disso, algumas campanhas publicitárias foram tiradas do ar. A mais recente foi o parque Mundo da Xuxa, que foi notificada pelo Procon/SP, e não pelo Conar, que apresentou como justificativa “o potencial de induzir o público infantil a atitudes que gerem risco à segurança e a saúde”. Importante registrar que esta campanha só saiu do ar depois que o coletivo Infância Livre de Consumismo (ILC), junto com outros movimentos e organizações, registrou queixas contra a propaganda. Este é outro exemplo de organização. Já as empresas Nestlé, Mattel, Habib’s, Dunga Produtos Alimentícios Ltda. (Biscoito Spuleta) e Roma Jensen (Roma Brinquedos) receberam as multas, também do Procon/SP, na semana passada, num total de mais de R$ 3 milhões, por campanhas publicitárias abusivas dirigidas ao público infantil. Estas últimas também foram resultado de mobilização de organizações da sociedade civil.

O Infância Livre de Consumismo (ILC) é um coletivo de pais, mães e cidadãos inconformados com a publicidade dirigida às crianças que nasceu como contraponto a campanha “Somos todos responsáveis”, promovido pela Associação Brasileira das Agências de Publicidade (ABAP). “Por mais informadas e conscientes que sejam as famílias, os pais não têm como combater um discurso mágico e atraente feito por adultos pertencentes a grandes e poderosos conglomerados empresariais, com alto poder econômico, que detêm pesquisas psicossociais, de mercado e até mesmo neurológicas”, avalia Marina Machado de Sá, publicitária e mestre em Políticas Públicas, uma das fundadoras do coletivo Infância Livre de Consumismo (ILC).

“Atentado à liberdade de expressão comercial”

Já a campanha “Somos todos responsáveis” defende que apenas os pais seriam os responsáveis pela proteção das crianças diante dos estímulos abusivos das propagandas ao consumismo. Para eles é importante, necessária e sadia submeter às crianças à informação. “Se a ideia é proteger as crianças da mídia, não adianta mais desligar a televisão, abaixar o volume do rádio e ficar longe das bancas de jornais”, diz Dalton Pastore, presidente do Conselho Superior da Abap. “A questão é mais complexa e merece uma discussão mais profunda, baseada em educação, e não em proibição”, complementa.

No entanto, atitudes como esta isentam o Estado e o mercado (empresas e publicitários) de quaisquer responsabilidades sobre a publicidade dirigida às crianças. “Nesta relação, fica patente a vulnerabilidade das famílias, da comunidade e da própria criança diante do discurso mercadológico”, alerta Mariana Sá.

Um alerta interessante feito por essas organizações diz respeito aos problemas causados ao meio ambiente. Segundo o ILC, o excesso de propagandas e conteúdo manipulatório dirigidos ao público infantil dificulta a educação cidadã e sustentável e vai contra a formação de um consumidor consciente, justo num momento em que o mundo repensa formas de consumo sustentáveis.

Assim cabe uma reflexão sobre o que está por trás dessa resistência do mercado no diálogo sobre a regulamentação do setor. É importante e urgente entender que isso é uma das pontas do iceberg chamado democratização da comunicação. Tema este que merece ser aprofundado, especialmente para entender o porquê de o discurso mercadológico estar baseado na censura e na defesa da liberdade de expressão. Como bem afirma Gilberto Leifert, a proibição de propaganda infantil é um “atentado à liberdade de expressão comercial”. Num país que acabou de sair de um processo de ditadura onde o calar foi um dos recursos mais (bem) utilizados, qualquer aceno que relembre esse momento é evidentemente danoso, significativo e causa aversão. Segundo o coordenador executivo da organização Andi Comunicação e Direitos, Veet Vivart, “associar a regulação, que é um instrumento democrático, interdita o debate”.

Cúmplices de violações

Daí surge outro debate sobre o porquê da importância dos pais, mães e demais responsáveis pelo cuidado direto de crianças e adolescentes, dizerem “não” aos constantes pedidos de “compra” emitidos por eles. Dizer não além de ser educativo, ajuda a criançada a entender que a vida não é o “céu de brigadeiro” que a TV mostra. Dito isso, é salutar compreender que um dos recursos da publicidade é o de se aproveitar do (grande) tempo que as crianças ficam exposta a programas televisivos, longe da presença de adultos, para impor uma lógica de consumo desenfreado, por meio de técnicas de aborrecimento (onde vencem pelo cansaço), aumento do volume no momento dos comerciais, o uso constante de merchandising, entre outras. Para se ter uma ideia do que estamos falando, as crianças brasileiras ficam até cinco horas na frente da TV, diferentemente de outros países, inclusive os Estados Unidos. No final, temos crianças obesas, sedentárias, doentes e mal informadas, para não aprofundar mais neste debate.

No final, a maioria dos pais e mães que trabalham fora de casa e, portanto, ficam longe de seus filhos, vê-se obrigado a comprar, atendendo aos pedidos insistentes do filho, na tentativa de suprir o tempo perdido. Mas é preciso entender que não se compra tempo, atenção e afeto, especialmente das crianças. Faz-se necessário e urgente refletir e criar estratégias de recompensa desse tempo a partir de momentos de aproximação, conversa, troca e atenção, onde os pais e mães fiquem com suas crianças e promovam momentos de interação com eles. Isso vale muito mais do que um brinquedo, na maioria das vezes caro, que será deixado de lado, em breve. Sem contar que é fundamental avaliar o pedido de compra. Afinal, é algo que vai ser realmente utilizado pela criança, é adequado para a idade, vai ajudá-lo de alguma forma, que habilidades serão desenvolvidas? Porquedo contrário, a velha resposta do “porque agora não tenho dinheiro”, atrapalha por não acrescentar, por não ajudar a pensar de forma sustentável e educativa. O “não” tem de estar embasado em outras motivações.

Importante resgatar que o processo de debate e regulação proposto pela sociedade civil é algo que deve inclusive acontecer dentro da esfera pública do Estado. Afinal,cabe a este ente promover e induzir os processos de garantia de direitos, uma vez que ele é o representante formal, referendado noutro processo democrático de consulta pública.

Por fim, quero lembrar que este é mais um ano de eleições e que estaremos escolhendo a/os nossa/os futura/os representantes à Prefeitura e Câmara de Vereadores. Em dois anos, escolheremos a/o presidente, governadores, senadores e deputados. E quantas vezes procuramos saber qual o plano de governo que eles propõem, nossas demandas de focar as crianças estão contempladas ou mesmo se acompanhamos esses compromissos pleiteados durante a campanha? Acredito que não. Normalmente preferimos nos omitir sob a desculpa de que política é lugar de corrupção, privilégios e impunidade. No entanto, essa postura nos coloca como cúmplice das inúmeras violações direcionadas a população infanto-juvenil brasileira.

***

[Rosely Arantes é jornalista, educadora popular e especialista em Gestão Estratégica Pública]

24 jul 2012

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Barbie: uma imagem que aprisiona



Barbie: uma imagem que aprisiona

Por Lais/Equipe 
13 julho 2012

"Barbie: uma imagem que aprisiona", esse foi o título do meu trabalho de conclusão de curso de Psicologia há alguns anos atrás. Mas, posso dizer que essa boneca loira e linda sempre chamou minha atenção não só pelos belos modelitos que exibia ou por seus 10 cm de quadril e 12,5 de busto. Barbie prometeu a todas as meninas de minha geração um mundo cor de rosa repleto de acessórios e acabou nos aprisionando nesse sonho.

Agora, vamos há um pouco de história.No final dos anos 50 o casal Ruth e Elliot Handler, fundadores da fábrica de brinquedos Mattel, encontraram um nicho de mercado, ainda não explorado, ao observar as brincadeiras de sua filha Barbara de 7 anos com bonecas de papel. Nessa época não existia uma boneca tridimensional de corpo adulto com a qual a criança pudesse fantasiar e realizar seus sonhos. Foi nesse momento que Ruth criou a Barbie e seu mundo "Pink" revolucionando para sempre as brincadeiras das meninas que, até então, brincavam exclusivamente com bebês como um exercício para a maternidade.

Desde a chegada da Barbie nas prateleiras, garotas do mundo todo passaram então a experimentar, em suas brincadeiras, a falsa idéia de que as mulheres adultas podiam ser o que desejassem: médicas, astronautas, bailarinas, mas claro, desde que fossem magras e belas. Assim, a boneca virou o jogo e passou não só a ditar as regras da brincadeira, mas também os desejos da garotada; por esgotar em seu corpo magro, oco e de plástico com as possibilidades de ser, pois passava valores que priorizavam o ter.

Barbie, hoje com mais de 50 anos de idade, continua sendo a boneca mais amada e vendida no mundo todo e acabou conquistando um fã clube de mais de 18 milhões de membros, desfiles inspirados em seus modelos de roupa, exposições em museus mundo afora e até mais de 36 cirurgias plásticas em um único corpo. A estética da Barbie é hoje imposta pela cultura da moda e, principalmente, pelas imagens publicitárias mobilizando milhões de meninas e adolescentes a fazer de tudo para conquistar o corpo ideal vendido como passaporte para a felicidade.

Esse fato é tão verdadeiro que na semana passada um exemplo chegou à maioria dos jornais brasileiros chocando a todos: Duas adolescentes inglesas de 16 anos, da cidade de Crewkerne, chegaram ao baile de formatura do colégio empacotadas dentro de caixas da Barbie em tamanho natural, como verdadeiras bonecas de plástico encenando uma entrada triunfal. As caixas de papelão de 1,80 m X 0,60, com flores pintadas a mão, foram feitas por uma das mães que gastou 250 libras para realizar o sonho das meninas.

Bom, se a intenção era roubar a cena elas conseguiram. A cidade toda parou para vê-las passar, aprisionadas em seu sonho de infância. Onde vamos parar? No baile de formatura! Agora, vale a reflexão... Se de alguma maneira, nós mulheres nos libertamos dos espartilhos de nossas bisavós, as adolescentes da atualidade continuam aprisionadas ao culto do corpo perfeito numa busca incansável pela magreza e felicidade que não lhes dá sossego.

Reproduzido de Consumismo e Infância
13 jul 2012

Leia também:

Barbie: tudo o que você quer ser ou considerações sobre a educação de meninas, por  Fernanda Roveri

Do rosa ao choque

A história da boneca Barbie foi objeto de estudo da dissertação de mestrado da professora Fernanda Roveri. O levantamento agora está no livro Barbie na educação de meninas: do rosa ao choque (Editora AnnaBlume), que será lançado no dia 27 de abri, às 16h30, na Faculdade de Educação da Unicamp, em Campinas.

No livro, a autora discute como meninos e meninas são educados por seus brinquedos e como a publicidade investe em carregá-los de feminilidade ou masculinidade. Enquanto os brinquedos destinados aos meninos propagam ideias de velocidade, destruição e desempenho, os brinquedos feitos para meninas reforçam a maneira sensível e passiva de como estas devem se comportar, reforçando conceitos de domesticidade e beleza como algo inerente ao feminino.

Leia o texto completo em Revistapontocom clicando aqui.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

"um gigante invisível: a literatura para os pequenos é considerada como algo menor"...


O gigante invisível
José Roberto Torero
Carta Maior
18/04/2012

A imprensa brasileira não cumpre a função de fornecer pontos de vista, análises, críticas e referências a partir das quais possamos escolher livros para nossos filhos e formar uma massa crítica em relação a uma área da literatura que é o primeiro passo para a criação do leitor.
Jovial leitora, juvenil leitor, vamos supor que você queira comprar um livro para uma bela criança ou para um espinhento adolescente. Como você o escolheria?
Talvez sua primeira ideia fosse dar uma olhada nos cadernos literários dos grandes jornais e revistas semanais para ver o que há de novo e interessante na área.
Mas seria um trabalho inútil. A grande imprensa não fala de literatura infantojuvenil.
Quereis provas? Dou-vos.
Na Folha de S.Paulo, a Ilustrada de sábado (dia em que o caderno traz mais textos sobre literatura) falava sobre nove livros. Todos adultos. A única menção a obras para crianças e jovens era a lista dos mais vendidos na categoria infanto-juvenil. E na Folhinha, onde às vezes há resenhas de livros, nesta semana não havia nada.
O Estado de S.Paulo não foi muito diferente. Em seu caderno Sabático também falou sobre nove livros. Mas nenhum deles era direcionado para crianças ou jovens. O consolo é que o Estadinho veio com uma página sobre Monteiro Lobato. Porém, o motivo é uma efeméride, os 130 anos do nascimento do autor em 18 de abril.
Quanto às revistas semanais, Veja, Isto é e Época não falaram sobre nenhum livro que não fosse para adultos. Nem unzinho. Pelo menos a Isto é, como a Folha, publicou uma lista dos mais vendidos na categoria.
O aparecimento destas listas em alguns órgãos mostra que a imprensa começa a perceber o valor comercial deste nicho. E não é à toa: 35% do mercado global de livros são dos infantojuvenis. E, segundo dados da Câmara Brasileira do Livro, o número de exemplares de títulos infantis produzidos no país cresceu 87% entre 2005 e 2010, saltando de 14,2 milhões para 26,5 milhões.
Fábio Victor, repórter da Ilustrada dedicado principalmente à cobertura de livros e literatura, acredita em três razões para a ausência de críticas sobre obras para crianças e jovens:
“1) Cadernização: os jornais têm seções para crianças (Folhinha, Estadinho...) e para adolescentes (Folhateen, no caso da Folha), o que pode levar as editorias ‘adultas’ a se desobrigarem de lançamentos voltados para estas faixas etárias”;
“2) Pouco espaço: são centenas de lançamentos de livros adultos todo mês, dos quais dezenas são interessantes, e o espaço que temos para reportagens e resenhas não permite falar nem de um terço do que valeria a pena. Se fôssemos incluir nessa cobertura infanto-juvenis, o alcance seria ainda menor”;
“3) A falta de cobertura do segmento leva, consequentemente, à falta de expertise: entre os repórteres e resenhistas que costumam escrever para os cadernos culturais, há poucos familiarizados com o universo infantojuvenil.”
Os três motivos são reais, mas Dolores Prades, coordenadora da área de literatura para crianças e jovens da revista eletrônica Emília, lembra que “jornais dos Estados Unidos, Espanha e Inglaterra reservam seções regulares para o segmento em seus cadernos literários. Algumas delas com destaques, análises e rankings importantes para os leitores e o mercado.”
E eu acrescentaria mais um motivo: preconceito.
É que a literatura para os pequenos é considerada como algo menor. Sem trocadilho.
O reduzido número de páginas, as ilustrações e a fantasia exuberante fazem com que muitos considerem a literatura infantojuvenil como algo pouco sério.
Porém, talvez nossa literatura infantojuvenil seja, hoje, melhor que a adulta.
Por exemplo, os escritores brasileiros jamais ganharam um Nobel de literatura, mas já venceram duas vezes (com Lygia Bojunga e Ana Maria Machado) o prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infantil.
Enfim, mesmo que haja boas desculpas, o fato é que a imprensa brasileira não cumpre a função de fornecer pontos de vista, análises, críticas e referências a partir das quais possamos escolher livros para nossos filhos e formar uma massa crítica em relação a uma área da literatura que é o primeiro passo para a criação do leitor.
Sem essa cobertura jornalística, a literatura infantojuvenil será sempre um gigante invisível.
José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.
Reproduzido de Carta Maior


Conheça o blog do "Programa Jornal e Educação" da Associação Nacional de Jornais, com Coordenação Executiva por Cristiane Parente de Sá Barreto, clicando aqui.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Ecos do Sino Grande: Aziz Ab'Saber


Aziz e eu

Cynara Menezes

Se há algo bom de verdade nesta profissão de jornalista é ter a oportunidade de conhecer gente sábia. Eu posso dizer que tive a honra de conhecer alguns sábios ao longo da minha carreira. Um deles morreu hoje, aos 87 anos, mansamente, em sua casa em Cotia (SP): o geógrafo Aziz Ab’Saber. O Brasil perde um grande intelectual e um ser humano maravilhoso.

Há oito anos recebi da editora Record a incumbência de fazer um livro com o professor Aziz, “O Que É Ser Geógrafo”, um depoimento em primeira pessoa voltado para universitários. Começou então a amizade entre a jornalista de 30 e poucos que nada sabia de geografia além do que aprendera no colégio, e o maior geógrafo brasileiro, de quase oitenta. Foram mais de 20 horas de entrevistas em sua sala no Instituto de Estudos Avançados da USP, na verdade uma prosa prazerosa onde ele ia contando, de forma absolutamente poética, a história de sua vida.

De olhos fechados, o professor ia lembrando e, não raro, se emocionando, com os relatos que vinham do passado, de muito antes de ele nascer, na aldeia do Líbano de onde partira seu pai, Nacib, em direção ao Brasil. Era tão vívida e colorida a narrativa de Aziz Ab’Saber que me transportava até suas memórias: o mercado no Líbano; a feira em São Luiz do Paraitinga, cidade em que o professor nasceu; as viagens de campo, já na USP, com os mestres franceses que formaram a primeira geração de uspianos e que ele tanto admirava: Pierre Monbeig, Roger Bastide, Jean Tricart, Roger Dion, André de Cailleux, Jean Dresch, Louis Papi.

Os papos se estendiam depois, na lanchonete da faculdade de Letras ou do DCE –o professor sempre me convidava para um café com leite e um pão com manteiga. Dava para perceber o quanto ele amava estar no ambiente universitário, sobretudo entre os estudantes, que volta e meia vinham cumprimentá-lo. Uma tarde, quando já havíamos terminado o ciclo de entrevistas, ele passou em minha casa e disse: “Hoje você vai receber uma aula de geomorfologia”. E me levou para um recorrido pelo interior de São Paulo, na região de Itu, onde conheci o interessantíssimo parque do Varvito, um tipo de rocha sedimentar única, formada pela sucessão repetitiva de lâminas ou camadas.

Em Salto, ele me mostrou a força das águas do Tietê, poluído mas vivo, pulsante, ao contrário da placidez triste que o rio tem na capital. Subimos o monumento à Nossa Senhora de Monte Serrat, onde Ab’Saber me explicou in loco sua teoria dos redutos e refúgios: pedaços de paisagens que pertencem a outro ecossistema. Em pleno interior paulista, me mostrou areia e mandacarus típicos do Nordeste Seco. Sinal de que um dia houve caatingas também ali. Eu, a discípula, arregalava os olhos e aguçava os ouvidos.

Aprendi muito com o professor. O principal, para mim, foi descobrir que havia poesia na geografia. Nunca vou esquecer a linda expressão que usava para definir a paisagem montanhosa de sua terra natal, São Luiz: “mar de morros”. Inesquecível também a viagem a cavalo que me contou ter feito, pequenino, dentro do jacá (cesto de vime), pela serra do Mar, descendo até o litoral, em Ubatuba. Toda vez que vou à praia em São Paulo e percebo como é úmida a mata atlântica, lembro do professor Aziz contando dos “pinguinhos” que caíam no cesto de suas lembranças de menino e que, ele, curioso, se esforçava para entender, por entre as tramas do jacá.

Aziz Ab’Saber era um homem de esquerda, no sentido mais utópico do termo – nada a ver com partidos políticos, como as pessoas teimam em confundir hoje em dia. Foi dele a ideia, que deu a Lula, de fazer pelo País as caravanas da cidadania. E lembro de como ficou chateado por nunca ter sido convidado para ir ao Palácio do Planalto, depois da posse… Mais triste ainda ficou quando seu amigo operário foi capaz de dizer, em 2006, em tom de pilhéria: “se você conhecer uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ela tem problemas”. Ab’Saber foi de esquerda até o fim. Até o fim o centro de suas preocupações como intelectual foram os mais necessitados, os que viviam longe de tudo, os ribeirinhos, os catadores de papel, os moradores das favelas. Até o fim desejou a inserção social dos humanos desamparados e se indignou com a injustiça.

Sempre que eu ligava para sua casa, mal ouvia eu dizer “alô!” e o professor Aziz respondia: “Cynara! Minha amiga”. As amizades são assim, não importa quantos anos se tem, de onde se vem, onde se nasce. As almas se reconhecem. Vou sentir saudades, professor. Se existe Paraíso, espero que tenha vista para o mar de morros.


 Ecos do Sino Grande

Aziz Ab’Saber

Ainda oiço. Trago na memória.
Na noite de São Luiz
Escuto ainda
As badaladas arrastadas
Do sino grande
Da matriz.

Coisa rara: tivemos que sair
Minha mãe, minha madrinha e eu
Para arejar o pequeno Iussef
Que estava com tosse comprida.

Ruas desertas. Escuridão
Bairro e chuvinha
Cheiro do mato vindo da outra banda
Do rio.

No alto do morro
O cruzeiro iluminado que meu pai,
Poeta introvertido,
Mandou iluminar.
Primeiras elétricas luzes,
Que antecediam
O pontilhado imenso que
marcava as luzes do universo.

Saudades de menino
Entes queridos.
Lembranças sentidas.
E, para completar
As badaladas arrastadas do sino grande
Que saudades, Deus meu!

Reproduzido de Carta Capital
16 mar 2012




Aziz Ab' Saber, um cientista que sonhava com uma universidade interdisciplinar e que amava as crianças. 

A televisão possibilitando novos olhares no fazer pedagógico


A televisão possibilitando novos olhares no fazer pedagógico

Pedagoga
Universidade Federal do Tocantins
2010

Resumo

A pesquisa que se segue: “A televisão possibilitando novos olhares no saber – fazer pedagógico” investiga formas de apropriação da televisão como ferramenta pedagógica nas instituições de ensino. O hábito de ver televisão faz parte da cultura atual. Na maioria dos lares brasileiros, estejam eles no ponto mais distante do mapa, a TV está presente entretendo e distraindo as pessoas, e por ser um meio de comunicação tão atraente e popular acaba por interferir no modo de pensar, agir e se relacionar com o mundo. Nesse sentido, o projeto procura mostrar de uma forma atraente, o uso desta tecnologia para promover a aprendizagem de forma crítica e atualizada, já que a grade de programação de todas as emissoras busca tratar de assuntos atuais em seus programas, sejam eles informativos ou de entretenimento. Sendo assim, os meios tecnológicos de comunicação, em especial a televisão, podem ser usados como recurso para educar o olhar, motivar os alunos e transformar as aulas em laboratórios do conhecimento humano e assim contribuir para a formação de cidadãos que conseguem ver além das imagens e participar democraticamente dos processos políticos e sociais do contexto em que está inserido. Para tanto, foi realizado pesquisa de campo em escolas da rede pública estadual de ensino, com aplicação de questionários abertos para alunos e professores. Teoricamente o trabalho se fundamenta no pensamento de autores que há muito tampo se dedicam ao tema como Douglas Kellner, Marcos Napolitano, Pedrinho Guareschi, José Manoel Moram, dentre outros.

Conclusão

Chegando ao fim desse trabalho percebo que muito descobri sobre a televisão e toda a dinâmica que a envolve, porém minhas descobertas são apenas uma pequenina ponta da discussão que não pode ficar engavetada nas escrivaninhas burocráticas das escolas, faculdades e outros órgãos educacionais.

Nesse trabalho pude pontuar fatos e levantar questionamentos pertinentes ao campo comunicacional e educacional, pois acredito que da mesma forma que a escola precisa mudar sua visão em relação a televisão e outras mídias, as emissoras de TV devem se engajar em utilizar esse instrumento tão rico que é a comunicação de massa em benefício da formação de gerações críticas e questionadoras.

Para encaminhar essas mudanças é necessário coragem para debater os meios de comunicação de massa, que hoje são grandes oligopólios a serviço do capitalismo mercantilista. Penso que essa realidade deve ser modificada e acompanho o pensamento de Silverstone (2002), quando este diz que a sociedade precisa se manifestar criando o que pode ser chamado de quinto poder, que seja capaz de controlar o quarto poder - a mídia- que já controla muito bem os outros três.

O papel desse quinto poder seria desafiar, criticar, enfrentar e responder a mídia. Quanto a escola, a responsabilidade dessa instituição vai além da formação intelectual, deve transcender a formação humana e cidadã e alcançar o ápice de uma formação integral do indivíduo, onde este possa contra argumentar e se posicionar-se frente as intencionalidades das mídias, não deixando de assisti-las e participar de suas produções, mas lendo-as de forma crítica, reflexiva e decidindo-se de forma democrática sobre seus valores e contribuições à sociedade.

Sempre é tempo de iniciar um letramento para as mídias, e para essa tarefa obter êxito ninguém pode ficar de fora. A sociedade civil e o poder público devem ampliar seus conhecimentos sobre a mídia eletrônica para junto aos órgãos educacionais buscar formas de democratizá-la.

A obrigação da mídia é defender os interesses do país, e a obrigação da escola é possibilitar as futuras gerações a participação ativa nas mudanças e a compreensão intrínseca desses interesses. Portanto, na sociedade atual, uma não deve caminhar sem a outra do lado.

Conheça o trabalho na íntegra clicando aqui ou ali.

Direitos da criança são ameaçados na TV


Direitos da criança são ameaçados na TV

Vilson Vieira Junior
Observatório da Imprensa
13/03/2012

Em maio de 2009, a pequena Maisa, à época com apenas seis anos de idade, protagonizou cenas constrangedoras ao lado do apresentador e empresário Silvio Santos no quadro “Pergunte pra Maisa”. O palco foi um programa dominical que leva o nome do “homem do baú”, no SBT. Numa das cenas, que foi ar no dia 10 daquele mês, ele provocou choro e muitos gritos na menina ao levar um garoto com o rosto pintado de monstro. Momentos antes, ela havia contado ao apresentador que ficou com medo ao vê-lo no camarim. Todavia, o dono do SBT quis fazer um teste e o chamou ao palco. Após ver o “menino-monstro” ao seu lado, Maisa, em desespero e aos prantos, começou a correr diante das câmeras acompanhada pelas gargalhadas sarcásticas de Silvio Santos.

Noutra ocasião, exibida uma semana depois, Maisa ficou nervosa com as provocações do apresentador pelo que havia acontecido no programa anterior. Ela deixou o palco correndo, bateu com a cabeça em uma câmera e chorou reclamando de dores com a mãe. Não bastasse aquele absurdo, Silvio Santos, em coro com o auditório, cantarolou: “Medrosa, medrosa, medrosa...” As duas cenas lamentáveis saíram da TV para virar febre na internet e logo ganharam as páginas de grandes jornais.

Resultado: a Vara da Infância e da Juventude da comarca de Osasco – cidade onde estão sediados os estúdios do SBT –, a pedido do Ministério Público Estadual, cassou a licença que permitia a participação da menina no programa. Essa longa introdução é para mostrar que fatos como esses envolvendo crianças não são isolados e, com frequência cada vez mais preocupante, invadem os lares de milhões de brasileiros. E o mais recente aconteceu no programa Raul Gil, no dia 3 de março deste ano, também no SBT.

Direitos da criança


Velho conhecido em apresentar calouros infantis para alavancar a audiência, Raul Gil comanda aos sábados o quadro “Eu e as Crianças”. Nele, as crianças interagem com o apresentador, cantam, dançam e contam piadas. Tudo em clima de muita diversão. Mas uma cena chamou a atenção por lembrar o ocorrido com Maisa há quase três anos. Desta vez, a vítima da disputa sem limites pela audiência na TV aberta foi a pequena Manuela Munhoz, que aparenta ter apenas quatro ou cinco anos de idade, embora seja bem conhecida do público que assiste ao programa.


Ao ser provocada pelo apresentador, que a interrompia voluntariamente quando ela tentava anunciar a próxima criança, começou a chorar, pedindo: “Por favor, para de brincar comigo, vovô Raul!” Como ele não atendeu aos pedidos da menina, ela disse: “Vovô Raul, eu já falei pra parar de brincar comigo!” E soluçava compulsivamente, sendo consolada por duas colegas que tinham acabado de chegar ao palco. O apresentador tentava minimizar o sofrimento da pequena caloura entoando frases que rimavam com o nome dela. Mas ainda chorando muito e com a voz embargada, Manuela teve que falar um texto decorado, um slogan que promovia o apresentador e a emissora na qual se apresentava.

Para muitos, tal episódio não passou de mais uma entre tantas estratégias já empregadas na TV para entreter o público, em sua grande maioria tão carente de diversão e lazer nos fins de semana. No entanto, crianças estão no centro desses fatos inaceitáveis e de mau gosto. Crianças que, como todas as outras, ao invés de serem objeto de exploração e chacota, merecem total proteção e respeito quanto à sua integridade física, moral e psíquica. É o que determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), mas que ainda parece desconhecido por aqueles que fazem televisão no Brasil.

Liberdade, respeito e dignidade


Vale sublinhar que o Estatuto motivou a ação do Ministério Público Estadual de São Paulo contra o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), em 2009, no caso Maisa. Sendo assim, não custa nada lembrá-los o que determina o ECA em seus artigos 4º, 5º, 15, 17 e 18, com destaque para os três últimos:


Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

Desafio à democratização da mídia

Ao serem analisados à luz da legislação, casos como os de Maisa e Manuela só vêm confirmar a forma criminosa com que a TV aberta comercial tem abordado a criança nos últimos tempos e refletem a inoperância do Ministério das Comunicações na fiscalização do conteúdo veiculado pelas concessionárias de televisão. Estas, além de não dedicarem o devido espaço ao público infantil a partir de conteúdos educativos, de exibirem em qualquer horário programas inadequados (burlando a Classificação Indicativa) e de abusarem da publicidade direcionada a esse público, prestam um enorme desserviço ao expor crianças em situações constrangedoras e humilhantes em programas de auditório.

Em suma, o que aconteceu deve ser visto como um atentado às crianças de todo o país, além de colocar em xeque, mais uma vez, o cumprimento de obrigações legais e constitucionais por parte das emissoras de televisão. Eis aí mais um desafio para os que defendem a democratização da mídia no Brasil: preservar os direitos de crianças e adolescentes nos meios de comunicação e reivindicar políticas de conteúdo que respeitem sua condição de sujeitos em plena formação de valores éticos, sociais e intelectuais.

* É jornalista, Serra, ES




sábado, 3 de março de 2012

Canção de ninar para uma criança indígena...


Nana para un niño indígena

Duerme mi cielo,
mi niño eterno, dueño del mundo,
mi corazón.
Despertarás y habrá acabado la larga noche
y su terror.
Vendrá la luz y el amanecer posará en tus labios
la esperanza que sueñan los pueblos originarios.

Sueña Pichiche (*1),
con las praderas donde el manzano
ya floreció,
en esa tierra en que el huinca (*2) aprende
nuestros amores, los que olvidó.
Él allí comprenderá que tu gente quiera romper
las alambradas que cierran la ruta a Peumayen (*3).

Duerme, mi pequeño,
que en el país al que vas dormido
escriben la verdadera historia los vencidos
No temas despertarte,
que la luz que se cuela por el tamiz de tus sueños
alumbra esta noche y limpia el cielo del mundo.
Duérmete y que vuestro sueño custodie el futuro.

Duerme mi wawa (*4),
la Pachamama (*5) besa tu frente y en su interior
guarda su oro negro y volátil, para ofrecértelo a ti, mi amor.
Duerme que un sueño nos salvará de tanto olvido,
y espantará al águila que acecha al puma herido.

Dulce paal (*6),
duerme tranquilo, que aquí a la selva no llegarán
el monstruo con dientes de acero, rencor y escamas y su ley marcial,
que a la tarde llegó un mensajero con pasamontañas
diciendo que traerá música y flores por la mañana.




Autor e Intérprete: Ismael Serrano.
Voz femenina añadida a la Versión Original de Ismael Serrano: María Isabel Bozzini.
Edición de Imágenes: María Bozzini.
(Imágenes: "Native Children from TNT Into the West" "Los niños del Sauzalito" y otras)

- Todos los derechos de autor e intérprete reserbados al Sr. Ismael Serrano.

Diccionario de palavras aborígenes:

1.- Pichiche: Niño en mapuche (indígenas del cono sur).
2.- Huinca: Hombre blanco en mapuche (aunque originariamente era un término para denominar a los ladrones de ganado).
3.- Peumayen: Lugar soñado en mapuche.
4.- Wawa: Niño en quechua y aymara.
5.- Pachamama: Madre tierra en quechua.
6.- Paal: Niño pequeño en lacandón maya.
7 - Indígena: Indígena es un cultismo tomado del latín indigena, que significaba 'de allí' y, por extensión, 'primitivo habitante de un lugar, nativo'.

Reproduzido do Youtube Usuário María Isabel Bozzini