Os números não mentem: maioria quer
democracia na mídia
Pesquisa revela que não é a qualidade
que define a audiência das TVs, mas a falta de opção. E que, apesar da
propaganda contrária da imprensa, a maioria quer a democratização da mídia
Lalo Leal
14/09/2013
O debate em
torno da democratização da comunicação acaba de ganhar um reforço importante.
Uma pesquisa sobre o tema promovida pela Fundação Perseu Abramo permite agora
discutir o papel da mídia em cima de dados concretos. Sabia-se, por exemplo,
que a TV aberta – apesar do avanço da internet – continuava sendo o meio mais
utilizado pelos brasileiros para informação e entretenimento. Agora temos
números: 94% fazem isso, 82% deles todos os dias.
À frente da
internet e dos jornais, empatados em 43%, está o rádio, com 79% (69,2% ouvem
diariamente). Presente nas regiões mais remotas do país e nas grandes cidades,
sua voz é ouvida por ribeirinhos na Amazônia e pelos motoristas presos nos
congestionamentos urbanos, com uma força político-eleitoral que ainda está para
ser medida.
A pesquisa
teve caráter nacional e ouviu 2.400 pessoas, com margem de erro que varia de
dois a cinco pontos percentuais. Soube-se por ela que 57% dos brasileiros leem
jornais, mas quase a metade (46,2%) só lê o do bairro ou da cidade em que mora.
Muito atrás aparece o segundo jornal mais lido: o Extra, com 5,9%. Os jornalões
– Folha de S.Paulo (4,5%), O Globo (3,1%) e O Estado de S. Paulo (3%),
com leitores concentrados no Sudeste – revelam não ter a projeção nacional por
eles apregoada. Entre as revistas o dado é preocupante: 76% leem esse tipo
de publicação, dos quais 50,2%, a Veja. Conhecendo a linha editorial da revista
fica clara a necessidade de uma alternativa capaz de contrabalançar os efeitos
negativos que ela causa à sociedade.
Na internet,
o Facebook (38,4%) e o Twitter (25,5%) são os preferidos dos brasileiros. Os
portais de notícias – Globo (16,7%), UOL (12,6%), Terra (7,3%) – vêm depois:
seis em cada dez entrevistados dizem buscar informações e notícias nesses
sites, reforçando a convicção de que a internet é responsável pelo declínio dos
jornais impressos.
Quanto ao conteúdo, não há uma percepção de que os meios de comunicação, quando
tratam de política e economia, defendam os interesses da população. Só 7,8%
acreditam nisso. Os demais dizem que eles defendem os interesses dos próprios
donos (34,9%), dos que têm mais dinheiro (31,5%) e dos políticos (20,6%).
Em relação à
TV, a pesquisa concretiza o que os estudiosos já inferiam. A maioria dos
brasileiros (71,2%) não sabe que as emissoras de rádio e TV são concessões
públicas. E quando passam a ser perguntados sobre o que veem na tela mostram
uma clareza maior: 43% dizem não se ver representados na TV e 25% se consideram
retratados negativamente. Grande parte avalia às vezes ou quase sempre como
desrespeitoso o tratamento dado à mulher (64%), aos nordestinos (63%) e aos
negros (66%) nos programas das emissoras.
O remédio
está na regulação dos meios. Os entrevistados concordaram com essa necessidade,
mostrando que a campanha sistemática da mídia, comparando regulação à censura,
surte pouco efeito. Deveria haver mais regras para o funcionamento das TVs para
71%. E na opinião de 77,2% deveriam ser estabelecidas e aplicadas por um órgão
ou conselho representativo da sociedade, como ocorre em vários países
democráticos.
A maioria
(entre 50,9% e 65,8%) se manifestou contra a veiculação de palavrões, a
exposição gratuita do corpo da mulher, de imagens de cadáveres, de crueldade
com animais, de nudez e sexo, violência e morte e de uso de drogas. Também se
mostrou contrária a cenas de violência e de humilhação de gays e lésbicas,
assim como ao humor que ridiculariza as pessoas. E mais: 88,1% não querem
propaganda de bebida alcoólica na TV.
São dados que
não aparecem no Ibope e não têm nada a ver com audiência. A pesquisa revela
como é enganosa a afirmação de que a TV mostra o que as pessoas querem ver.
Veem, na verdade, por falta de opção ou para não deixar a casa silenciosa.
Reproduzido
de Revista
do Brasil
14 set 2013
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