Marco
regulatório da mídia no Reino Unido pressiona a discussão no Brasil
Correio
do Brasil . Redação
30/11/2012
A divulgação do
relatório produzido pela Justiça britânica acerca dos abusos cometidos pela
imprensa, naquele país, desperta a proposta que dorme no Congresso e no
Executivo brasileiros, de se estabelecer, aqui também, um marco regulatório
para a mídia. A proposta formulada por Franklin Martins, ex-titular da
Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República no governo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, bombardeada por veículos de
comunicação de grande porte, foi arquivada na gestão da presidenta Dilma
Rousseff.
O ex-ministro, no
documento que sintetiza o pensamento da sociedade civil, em diferentes
oportunidades, estabeleceu as bases de um projeto de lei capaz de substituir
uma lei editada em meados do século passado. A legislação em vigor, segundo
Martins, “promove o vale tudo no setor, desconsidera a convergência de mídia,
não leva em conta que entramos na era da sociedade da informação e,
principalmente, ignora a Constituição de 1988″. Em entrevista exclusiva ao Correio
do Brasil, nesta sexta-feira, Martins disse acreditar que “o governo, em algum
momento, irá liderar o indispensável debate público, aberto e transparente
sobre o tema”.
– É uma necessidade para
o país – frisou o jornalista.
Para o jornalista, a
chamada ‘grande mídia’ apenas defende seus interesses econômicos ao
opor-se à criação de regras para a sua conduta.
– O marco atual está
integralmente ultrapassado e não dá conta dos problemas atuais – afirmou, em
outra recente entrevista.
Martins citou que a
convergência de mídia faz com que a radiodifusão e as telecomunicações se
confundam e exige urgentemente uma regulação para que as teles não detenham
todo o poder sobre a informação. E citou o faturamento dessas companhias para
exemplificar.
– Em 2009, todas as
rádios e TVs faturaram R$ 13 bilhões, enquanto as teles, R$ 180 bilhões. Não
havendo regras, a regulação ocorre pelo mercado e aí teremos o pior dos
cenários, porque teremos um setor controlando todos os meios e todo o conteúdo
– lembrou. O quadro existente em 2009, segundo levantamento do CdB, em
pouco ou nada se alterou ao longo dos últimos dois anos.
Ele pontua, também, que
a alegação de que estipular compromissos fere a liberdade de imprensa, esconde
o desejo de manter a concentração do poder.
– No mundo inteiro há
regulação de técnica e conteúdo. Tem que ter produção regional, nacional,
independente e precisa buscar um equilíbrio – disse.
Mesmo o Reino Unido,
onde praticamente inexistia qualquer regulamentação ao setor da mídia, passa
agora à fase de criação de um conselho independente, formado pela sociedade,
equidistante do governo e das empresas, para que abusos sejam contidos e, por
exemplo, possam ser coibidas as associações entre jornalistas e malfeitores.
Na Inglaterra, a
disseminação de grampos telefônicos ilegais levou à prisão, entre outros, a
ex-editora-chefe do diário londrino News of The World, Rebekah Brooks. No
Brasil, o conluio entre jornalistas e criminosos, a exemplo do que ocorreu nos
fatos investigados pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira,
entre o diretor da revista semanal de ultradireita Veja, Policarpo Júnior,
e o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foram
barradas na CPMI.
– A sociedade civil
apresentou todas as suas contribuições, o governo agora é quem deve apresentar
uma proposta. De qualquer forma, temos a força da razão, da liberdade de expressão
e da democracia ao nosso lado – afirmou Martins em outra entrevista à página
paulista na internet Rede Brasil Atual.
Regras
claras
O estabelecimento de
regras claras para o segmento da Comunicação Social no país é também o que
espera a deputada Luiza Erundina, integrante da Comissão de Ciência e
Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara. Ela, que falou com
exclusividade ao CdB, espera que a gestão da presidenta Dilma seja capaz
de liderar esta discussão no país.
– Se depender do
Congresso, infelizmente, o assunto não sairá da gaveta – alerta a parlamentar,
que aponta a ação de um pesado lobby, nas duas casas do Parlamento, que
trabalha para vetar qualquer ameaça ao poder estabelecido por um pequeno grupo
de jornais, revistas e concessões de canais de TV que, na prática, domina o
setor – afirmou.
Para a deputada, que
lidera a discussão sobre um novo marco regulatório para a mídia no país, “a
Argentina está anos-luz do Brasil nessa matéria”.
– O estabelecimento, na
Argentina, da Ley de Medios, supera a velha discussão entre o marco
regulatório e a liberdade de imprensa, simplesmente porque a ausência de regras
para o segmento facilita apenas a concentração do poder nas mãos de poucos,
como ocorre no Brasil. Um marco regulatório permitirá o retorno à diversidade
da informação e a gestão adequada dos recursos públicos e das concessões,
acabando com o apadrinhamento – ressaltou.
Erundina, no entanto,
acredita que ainda há uma árdua batalha pela frente, pois o poder desses meios
de comunicação ligados aos segmentos mais retrógrados da sociedade é tamanho, e
tão concentrado, que apenas a mobilização popular permitirá um avanço na
discussão da matéria, tanto no âmbito do Executivo, quanto do Legislativo.
– O que ocorreu na área
da Comunicação Social, nos últimos dois anos, durante a atual gestão da
presidenta Dilma, foi um grave retrocesso nos avanços conquistados ao longo dos
dois mandatos do presidente Lula. É preciso rever isso. E com urgência –
concluiu a parlamentar, sobre a reforma nas regras da mídia.
Reproduzido
de Correio
do Brasil
31
nov 2012
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