Autoritarismo
digital estilo Facebook
Por Carlos
Castilho
Observatório
da Imprensa
23/11/12
Uma nova queda de braço
entre o dono da rede social Facebook (FB), Mark Zukerberg, e seus milhões de
usuários começa a ganhar corpo na internet, no que muitos já antecipam com uma
possível ruptura do modelo democrático
no ciberespaço.
Tudo começou na
quarta-feira (21/11), quando a direção do Facebook anunciou sua intenção de
acabar com o sistema que permite seus usuários opinarem sobre decisões da
empresa. Trata-se de um dispositivo por meio do qual se uma alteração das regras de relacionamento
com usuários receber mais de sete mil comentários online, a diretoria se
compromete a submeter a questão a um plebiscito entre usuários; e se 30% deles
forem contra, a medida seria abandonada.
Esta cláusula foi
adotada em 2009, quando houve a primeira grande rebelião de usuários contra a
alteração das regras de privacidade da rede social para ampliar as possibilidades de faturamento, usando dados processados
de usuários para identificar tendências e, com elas, vender inserções
publicitárias. Desde então, nada podia ser mudado sem a aprovação de pelo menos
30% dos usuários.
O argumento do Facebook
é no mínimo polêmico. A maior rede
social da internet acha que cresceu demais inviabilizando a democracia interna
por conta de seu gigantismo e pela necessidade de atender acionistas e
exigências legais de governos estrangeiros.
Além de bloquear a
oposição interna às mudanças nas políticas de relacionamento com seus
associados, a rede FB quer acabar com os verdadeiros
plebiscitos informais organizados por usuários em várias partes do mundo
sobre temas que variam desde a política até tendências sexuais, e que sempre
incomodaram profundamente governos, instituições e personalidades. Também quer
mudar as regras de uso do correio eletrônico concedido a cada usuário.
O argumento de que a
democracia depende do número de pessoas envolvidas é altamente questionável pois, se levado ao pé da letra, implica
dizer que o sistema só pode vigorar em nações ou comunidades pouco populosas, e
que os países com alta concentração demográfica só podem ser governados com
métodos autoritários. Se depender desse tipo de argumento, Zukerberg está
fadado a sofrer mais uma derrota.
Mas o que potencialmente
é mais grave para toda a internet é a opção
da Facebook pelos acionistas e governos estrangeiros. Desde maio, Facebook
é uma empresa cujas ações são cotadas em bolsa. O valor dos papéis despencou de
38 dólares a ação em maio para menos de 20 dólares, em setembro, e agora se
recupera atingindo US$ 24 na semana do anúncio na nova proposta de mudança de
regras internas na rede.
Ao alegar que a
democracia interna prejudica os seus negócios, FB rompe com o seu passado e com a ideia original que alavancou o
seu crescimento vertiginoso. Hoje, a direção da rede alega que atinge 1 bilhão
de usuários, embora os institutos de pesquisa da audiência na web situem a
população real em torno dos 600 milhões de pessoas.
Deixa
de ser uma rede social, o que no imaginário dos internautas
significava uma estrutura horizontal e descentralizada, para se transformar num
negócio com decisões centralizadas e verticalizadas.
Facebook também troca a
heterogênea população de usuários espalhada pelos mais diversos cantos do mundo
pelas regras da política internacional, ao ceder às pressões de governos,
instituições e personalidades mundiais pouco acostumadas com as críticas e o
inconformismo de internautas, em sua maioria jovens que transformaram a
internet numa espécie de refúgio
existencial.
Tudo indica que o
confronto entre a direção da rede Facebook com seus usuários vai ser
complicado. Se a empresa aplicar a regra vigente, ela provavelmente terá que
recuar mais uma vez, o que significa que os seus acionistas continuarão
desconfiados em relação à capacidade da rede de aumentar suas receitas com
publicidade. Logo, as ações tenderão a cair novamente e Zukerberg terá novas dores de cabeça na área
financeira. [Você pode acompanhar a reação dos usuários da rede Facebook às
novas propostas no site https://www.facebook.com/fbsitegovernance]
Se, no entanto, a
direção da empresa usar do autoritarismo para mudar a regra sem consulta aos
usuários, surge o fantasma de uma fuga
em massa, o que pode significar a agonia rápida de uma rede que já foi
considerada o paradigma da internet. É uma possibilidade real, porque já
ocorreu antes com a outrora toda-poderosa rede My Space e também com o fenômeno
Orkut, da Google. Ambos minguaram depois que seus usuários debandaram para a
Facebook, atraídos pela ideia de uma rede democrática e livre.
Reproduzido
de Observatório
da Imprensa
Grifos
do autor
Nenhum comentário:
Postar um comentário