Educação
superior sofre com indústria da pesquisa
Luiz
Felipe Pondé, filósofo e professor
Entrevista
à Gazeta do Povo
19/11/2012
Ele
é um dos polemistas mais lidos no momento. Com a acidez que lhe é peculiar, o
filósofo, professor e escritor Luiz Felipe Pondé diz que além do patrulhamento
ideológico, é a burocracia montada pela “indústria da pesquisa” o que sufoca a
discussão aberta de ideias nas universidades, especialmente nas maiores.
Ele
esteve em Curitiba no início do mês para falar sobre educação, a convite das
Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil). Na ocasião, divulgou seu último
livro, Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, da Editora LeYa, que está há
cerca de 30 semanas entre os mais vendidos no Brasil. Confira trechos da
entrevista concedida à Gazeta do Povo.
Do que se trata o
politicamente correto e como ele está presente na academia?
É
um fenômeno que surgiu nos Estados Unidos e tem várias raízes. Uma delas vem do
chamado pragmatismo, que entende que, se você muda o modo de falar, muda o modo
de agir no mundo. Esse pensamento tem a intenção de introduzir o mal estar no uso
de determinadas palavras para que isso se transforme no modo de você ver o
mundo. Por exemplo, não usar o termo “ele” para Deus, porque isso dá a entender
que Deus é masculino, e por isso as mulheres seriam inferiores. Isso se
transformou numa espécie de patrulha ideológica que atrapalha a vida de todo
mundo. Leva você a ter medo de dizer ou escrever determinadas coisas, sob o
risco de te chamarem de racista, sexista. Na universidade, ele se transforma em
grupos de domínio institucional que destroem a carreira de pessoas que adotam
outra postura ideológica.
Como você lida com seus
colegas, professores universitários, que veem preconceito em muito do que você
diz?
Eles
não veem preconceito, eles mentem. Sabem que não é preconceito. O principal
motivo de inimizade é o de que você não pode fazer sucesso na vida acadêmica.
Não pode ter sala cheia na pós-graduação, porque fica todo mundo irritado. A
reação piora quando você vai para a mídia e começa a vender livro.
As universidades estão
“infestadas” de política?
A
vida universitária é quase toda política e quase nada conhecimento. Você tem de
garantir a carreira, a verba de pesquisa, a influência institucional. Isso é
pior nas grandes universidades, porque elas estão mais inseridas na indústria
da pesquisa, que envolve CNPq, lista Qualis, Scielo e todo um emaranhado de
coisas.
Entre
os que criticam você, há quem diga que não se pode abrir mão de certa polidez
na educação, especialmente no ensino fundamental, sob o risco de tornar os
alunos pessoas insensíveis e menos tolerantes.
Polidez
e politicamente correto não são a mesma coisa. Vamos dizer que eu quero
combater o preconceito contra índios. Aí eu digo que [Hernán] Cortez era um
cara malvado e os astecas eram vítimas. É claro que o Cortez não devia ser um
santo, mas dizer que os astecas eram bonzinhos é conversa pra boi dormir.
Quando você chega na educação com a intenção de combater o preconceito contra
os índios e inventa histórias como essas, isso não é polidez, é má educação. Eu
aprendi a ser educado, polido, sem que ninguém precisasse mentir para mim.
Em um dos capítulos do
seu último livro você é bastante duro com os cursos de ciências humanas ao
dizer que neles há “hordas de inseguros, medíocres e covardes”. Por quê?
Esse
argumento da insegurança não é meu, é de um pensador canadense chamado Northrop
Frye. Ele diz que nas ciências humanas estão inseguros e ressentidos que se
escondem atrás de uma teoria para não correr nenhum risco. Muita gente faz
ciências humanas por que é fácil, mas também há muita gente que faz porque
pensa ser um Marx ou um Nietzsche. Depois vira apenas professor, passa o resto
da vida dizendo que fez doutorado e escrevendo textos que ninguém lê.
Parte
do que eu digo é fruto da irritação que eu tenho com a burocracia acadêmica.
Tem um pouco de romântico ressentido nisso.
Você influencia seus
alunos para que sejam conservadores?
Esse
conceito de conservador é bastante problemático, porque o usam com muita
imprecisão. Conservador, em política, é quem se identifica com uma tradição
filosófica que duvida de qualquer teoria que diz poder mudar o mundo a partir
de um punhado de ideias. Edmund Burke, um dos pais dessa tradição, critica as
“closet theories” (teorias de gabinete, em português), típicas de gente que
fica numa sala pensando como a humanidade é, como deveria ser e o que fazer
para mudá-la. Na prática, quase sempre, significa matar um monte de gente que
não concorda com você. Do ponto de vista conservador, autores como Marx,
Rousseau e Foucault são aquele tipo de gente que ama a humanidade e detesta seu
vizinho. Adora a ideia de homem e tem muita dificuldade em lidar com a pessoa
real.
Eu
sei que influencio muita gente, mas não tenho a preocupação de fazer com que os
alunos pensem como eu. Não gosto de pregar em sala de aula, mas já aconteceu de
alunos se espantarem ao se descobrirem conservadores. Aí eu digo que não é
preciso agir como se descobrisse que tem leucemia.
Reproduzido
de Gazeta
do Povo
19
nov 2012
Saiba mais do "Guia do politicamento incorreto na Filosofia", clicando aqui.
Saiba mais do "Guia do politicamento incorreto na Filosofia", clicando aqui.
Comentário de Filosomídia:
Este senhor deveria ter um programa de televisão só dele... Eu até arriscaria um nome para tal: "Filosoidiotização em foco".
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