domingo, 25 de novembro de 2012

Educação superior sofre com indústria da pesquisa



Educação superior sofre com indústria da pesquisa

Luiz Felipe Pondé, filósofo e professor
Entrevista à Gazeta do Povo
19/11/2012

Ele é um dos polemistas mais lidos no momento. Com a acidez que lhe é peculiar, o filósofo, professor e escritor Luiz Felipe Pondé diz que além do patrulhamento ideológico, é a burocracia montada pela “indústria da pesquisa” o que sufoca a discussão aberta de ideias nas universidades, especialmente nas maiores.

Ele esteve em Curitiba no início do mês para falar sobre educação, a convite das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil). Na ocasião, divulgou seu último livro, Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, da Editora LeYa, que está há cerca de 30 semanas entre os mais vendidos no Brasil. Confira trechos da entrevista concedida à Gazeta do Povo.

Do que se trata o politicamente correto e como ele está presente na academia?

É um fenômeno que surgiu nos Estados Unidos e tem várias raízes. Uma delas vem do chamado pragmatismo, que entende que, se você muda o modo de falar, muda o modo de agir no mundo. Esse pensamento tem a intenção de introduzir o mal estar no uso de determinadas palavras para que isso se transforme no modo de você ver o mundo. Por exemplo, não usar o termo “ele” para Deus, porque isso dá a entender que Deus é masculino, e por isso as mulheres seriam inferiores. Isso se transformou numa espécie de patrulha ideológica que atrapalha a vida de todo mundo. Leva você a ter medo de dizer ou escrever determinadas coisas, sob o risco de te chamarem de racista, sexista. Na universidade, ele se transforma em grupos de domínio institucional que destroem a carreira de pessoas que adotam outra postura ideológica.

Como você lida com seus colegas, professores universitários, que veem preconceito em muito do que você diz?

Eles não veem preconceito, eles mentem. Sabem que não é preconceito. O principal motivo de inimizade é o de que você não pode fazer sucesso na vida acadêmica. Não pode ter sala cheia na pós-graduação, porque fica todo mundo irritado. A reação piora quando você vai para a mídia e começa a vender livro.

As universidades estão “infestadas” de política?

A vida universitária é quase toda política e quase nada conhecimento. Você tem de garantir a carreira, a verba de pesquisa, a influência institucional. Isso é pior nas grandes universidades, porque elas estão mais inseridas na indústria da pesquisa, que envolve CNPq, lista Qualis, Scielo e todo um emaranhado de coisas.

Entre os que criticam você, há quem diga que não se pode abrir mão de certa polidez na educação, especialmente no ensino fundamental, sob o risco de tornar os alunos pessoas insensíveis e menos tolerantes.

Polidez e politicamente correto não são a mesma coisa. Vamos dizer que eu quero combater o preconceito contra índios. Aí eu digo que [Hernán] Cortez era um cara malvado e os astecas eram vítimas. É claro que o Cortez não devia ser um santo, mas dizer que os astecas eram bonzinhos é conversa pra boi dormir. Quando você chega na educação com a intenção de combater o preconceito contra os índios e inventa histórias como essas, isso não é polidez, é má educação. Eu aprendi a ser educado, polido, sem que ninguém precisasse mentir para mim.

Em um dos capítulos do seu último livro você é bastante duro com os cursos de ciências humanas ao dizer que neles há “hordas de inseguros, medíocres e covardes”. Por quê?

Esse argumento da insegurança não é meu, é de um pensador canadense chamado Northrop Frye. Ele diz que nas ciências humanas estão inseguros e ressentidos que se escondem atrás de uma teoria para não correr nenhum risco. Muita gente faz ciências humanas por que é fácil, mas também há muita gente que faz porque pensa ser um Marx ou um Nietzsche. Depois vira apenas professor, passa o resto da vida dizendo que fez doutorado e escrevendo textos que ninguém lê.

Parte do que eu digo é fruto da irritação que eu tenho com a burocracia acadêmica. Tem um pouco de romântico ressentido nisso.

Você influencia seus alunos para que sejam con­­­­­­­servadores?

Esse conceito de conservador é bastante problemático, porque o usam com muita imprecisão. Conservador, em política, é quem se identifica com uma tradição filosófica que duvida de qualquer teoria que diz poder mudar o mundo a partir de um punhado de ideias. Edmund Burke, um dos pais dessa tradição, critica as “closet theories” (teorias de gabinete, em português), típicas de gente que fica numa sala pensando como a humanidade é, como deveria ser e o que fazer para mudá-la. Na prática, quase sempre, significa matar um monte de gente que não concorda com você. Do ponto de vista conservador, autores como Marx, Rousseau e Foucault são aquele tipo de gente que ama a humanidade e detesta seu vizinho. Adora a ideia de homem e tem muita dificuldade em lidar com a pessoa real.

Eu sei que influencio muita gente, mas não tenho a preocupação de fazer com que os alunos pensem como eu. Não gosto de pregar em sala de aula, mas já aconteceu de alunos se espantarem ao se descobrirem conservadores. Aí eu digo que não é preciso agir como se descobrisse que tem leucemia.

Reproduzido de Gazeta do Povo
19 nov 2012

Saiba mais do "Guia do politicamento incorreto na Filosofia", clicando aqui.



Comentário de Filosomídia:

Este senhor deveria ter um programa de televisão só dele... Eu até arriscaria um nome para tal: "Filosoidiotização em foco".

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