As notititícias da dieta
informacional de cada dia...
Leo Nogueira Paqonawta
Filosomídia
O
que digerimos do que a “mídia” histérica – mas sagaz – nos “alimenta”
cotidianamente fermenta esse “angu de caroço” numa sociedade que devora a notititícia
como se fosse morrer caso não chupasse, até à medula, do osso duro de doer da
receitinha dos “jornais do almoço” que estão por aí, Brasil e mundo afora...
Essa
sociedade midiaticamente obesa está adoentada e vidiotizada, sem perceber isso
quando se põe à frente das telinhas e páginas dessas empresas de
anti-comunicação definindo gostos, paladares e o menu da discussão que vai
engasgando a todos 24 horas por dia, sete dias por semana, ano após ano...
Quantos
de nós já paramos para ver – e re-ver, re-fletir, re-pensar - como as redes de
anti-comunicação anunciam o prato do dia desde a noite anterior e seguem pela
madrugada e manhãs, requentado a marmita do vomitório dos especialistas de
plantão em assuntos de toda e qualquer ordem?
Quem
são esses homens e mulheres, apresentadores e porta-vozes de uma maneira de ver
o mundo que nos impõem como única maneira de crer?
Para
a população ingênua e adestrada no consentir ao discurso da ordem do dia, como
não acreditar nessas pessoas bem apessoadas e vestidas nos trinques que desfilam
das “antigas” bancadas de locutores para o passeio pelas telinhas, em geral
esfregando as mãos como querendo expressar que “já estamos no papo”, deles?...
Aquela
infeliz adolescente de Florianópolis com o seu “Diário”, alçada ao estrelato
nos programetes que fazem sucesso nas grandes redes - e na “Rede Social” da hora
- é uma dessas vítimas da dieta informacional que nos enfiam goela abaixo pelo
dia inteiro, por todas as formas. O caso é que, de vítima, ela (e com certeza
seus familiares) passaram (talvez) inconscientemente à condição de co-autores dos
crimes perpretados em nome da liberdade de expressão por essas companhias produtoras
e distribuidoras de informação como entretenimento, cereja do bolo da
des-informação em suas receitas sensacionalistas.
O
que parece ser democratização das vozes, “pelos”, “através” e “dos” meios de
comunicação não é senão demoniocratização, demonização de uns ou alguém, aquela
coisa de apontar e achar culpados nisso e naquilo quando todos temos o rabo
preso a esse sistema de coisas que impera em nossas vidas: a conveniência, a
conivência, o comodismo, a hipocrisia como máscara no modo de ser desse capitalismo.
E,
a histeria se retro-alimenta a cada “tocar” no assunto e no passar do
dedo/mouse nos links que jorram des-informação, futricas, fofocas, meias-verdades
e completas mentiras que fazem a delícia de todos os que consomem essa lavagem
cerebral que nem porco aguenta, inclusive dos que também são chamados de PIG,
aqueles que são os donos por detrás dessa lambança do chiqueiro midiático.
Haja
colesterol ruim nas veias de quem tem sangue de barata que devora tudo isso, esse
tititi e dis-que-me-diz disfarçados de “notícias” relevantes, que não podemos
deixar de saber, e consumir, de sair de casa sem sabê-las, de tê-las instantaneamente,
aonde estivermos, ao toque de um dedo no aplicativo das engenhocas tecnológicas
que tantas pessoas têm acesso cada vez mais.
Essa
neurose doentia e insana toda é que produz esses infelizes momentos
protagonizados por uma adolescente indisfarçavelmente de poucas palavras, e de muitas
tecladas, obviamente secundada por um “staff” que lhe apoia, e outro que se
aproveita da situação para criar mais e mais des-entendimento e confusão
premeditada, calculada milimetricamente como ração de engorda dessa vara
desvairada e incauta, ingênua, em-bobecida, vidiotizada, que coloca sua fé naquilo
que lhe dizem, justamente por não terem opinião formada sobre nada.
Na
ampliação dessa específica fala postada nas redes é que aquelas empresas também
engordam seu faturamento, porque elas sobre-vivem das esmolas e dos restos de
cada um que consome, ou paga com suas moedinhas para ter acesso a toda essa
dieta, os sub-viventes.
Também
não é à toa que até nos supermercados as gôndolas próximas aos caixas se enchem
de revistas das mesmas companhias monopolizadoras, para que os compradores
desse modo-de-vida enfiem nas sacolinhas plásticas a mais recente dica disso e
daquilo, os moldes do vestido e do cabelo da fulana de tal, as receitas
requintadas, o corpitcho do galã desnudo, os guias de viagem e de carros, os
jornalecos com toda sorte de anúncios que vão misturados aos potes de manteiga
e salsichas, sacos de arroz e feijão, o pão deles - das mídias - de cada dia.
Tudo parece tão normal, essa oferta opressante e agressiva de quinquilharias do
mundo do consumo...
Essa
liberdade de opressão das empresas chamadas de “mídias”, que monopolizam o
discurso, a voz, a fala também em nome a democracia teria limites? Quem dá ou
determina os limites contra esse assédio sem fim das mídias? O marco
regulatório a partir do governo, as ONGs, a sociedade civil, as donas de casa,
os pais e responsáveis, a comadre e o compadre de nossa madrinha ou padrinho, os
avós ou tias, as instituições de defesa dos direitos humanos, os sindicatos, as
associações de classe, as escolas, os professores?
O
caso é que a indigestão midiática está posta como mal do século sem que quase ninguém
se aperceba disso muito claramente.
As
escolas como aparato ideológico do mercado - capitalista, diga-se de passagem -
são no mais das vezes des-merecedoras de recursos constitucionalmente
determinados para a Educação, e professores fazem o que podem, e até onde têm
forças, para que os projetos políticos pedagógicos de cada unidade escolar
contribuam para a boa formação das crianças e adolescentes em nosso país. Tantas
outras vezes acabam se rendendo à reprodução desse estado de coisas
des-humanizante que muitos polititicos fazem questão de perpetuar, esses mesmos
que se fazem vassalos do sistema hegemônico e consagrado ao consumo desmedido.
Eles até são pagos para isso...
E,
as notititícias, como fofocas e futricas diárias desse mundo agonizante, vão e
vêm em todos os horários, nobres e plebeus de todas as classes de consumidores,
trazidos pelas empresas e grandes corporações que controlam os meios
comunicação.
Salve-se
quem puder dessa dieta informacional cada vez mais intragável e, quanto
pudermos, muito bom ter os olhos críticos muito maiores que o que nossa barriga,
e paciência, possa suportar. Chega um dia, ou uma hora, em que não dá mais pra
ficar chupando o dedo, até o osso, olhando tudo isso passar à nossa frente e, é
preciso agir e re-agir, indignar-se contra isso, contra qualquer forma de opressão
e agressão, seja das mídias e, até mesmo quando no caso ela venha no que aparentemente
seja por uma adolescente que age “sozinha” nas redes sociais.
Em
sã consciência, nós não devemos ser cúmplices disso, dessa liberdade de opressão
e opinião que com o tempo enche tanto o saco - o de plástico do supermercadinho
da mídia e o metafórico - que é preciso dizer basta! Basta de re-produzir a
opressão, a agressividade legitimada pela mídia que diz saber das coisas e ser
a dona da verdade! “Hay que endurecerse” contra qualquer tirania...
No
mais, “deixai vir às mídias as criancinhas”, porque vai que aqueles que se fazem
mesmo de crianças é que têm algo realmente importante, e digno, de relatar, de
falar, de com-partir ao mundo sob os únicos holofotes de uma alegria interior
que re-encante e eleve o mundo e suas gentes...
Que
isso seja aspirado e possível, também e especialmente, pela escola pública, por
sua comunidade compromissada e responsável, engajada e sincera nos esforços
pela Educação de qualidade, com dignidade, paixão, bem querer e bem viver para
todos.
...
Bem
que vejo tudo isso...
Bem
te quero, crianças... e adolescentes, homens e mulheres com direitos e deveres nesse mundo que
necessita tão urgentemente dessa Educação, e da mais pura alegria de viver, de
ternuras e amores tão esquecidos por nós...
...
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