Reino Unido aprova regulação da mídia
Jornais não conseguem barrar medida em
resposta a escândalo sobre escutas
POR O GLOBO / COM
AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
30/10/2013 22:10 / ATUALIZADO 30/10/2013
22:32
LONDRES - Depois de países como Equador e Venezuela lançarem este ano medidas
de controle da imprensa, foi a vez de o Reino Unido unir-se à polêmica. Dois
dias após o premier David Cameron ameaçar censurar o “Guardian” pela publicação
de documentos sigilosos sobre a espionagem no país, a rainha Elizabeth II
sancionou nesta quarta-feira um sistema de regulação da mídia, que foi
amplamente criticado por jornalistas locais. A iniciativa, apoiada pelos três
principais partidos políticos britânicos, vem na esteira do escândalo de
escutas telefônicas por jornalistas, e depois de os meios de comunicação verem
seus esforços contra o controle rejeitados na Justiça.
A novidade deve
sujeitar revistas e jornais britânicos a um órgão de fiscalização do governo
com a função de coibir os abusos descobertos com o escândalo dos grampos - que
revelou que repórteres do jornal “News of the World”, do magnata Rupert
Murdoch, e de outros meios de comunicação, tiveram acesso ilegal a ligações
telefônicas de celebridades, políticos e vítimas de crimes. Também torna mais
fácil para as pessoas que se sintam atacadas pela imprensa terem suas queixas
ouvidas, além de permitir ao órgão federal cobrar multas aos meios de
comunicação.
(A medida) vai
proteger a liberdade de imprensa ao oferecer reparação quando erros forem
cometidos”, defendeu o Ministério da Cultura, em comunicado.
Jornalistas
locais argumentam que o órgão federal poderia ser usado por políticos para
punir publicações das quais não gostam. Eles também reclamam que propostas
sugeridas por eles foram ignoradas.
Ex-editores supervisionariam grampo
A guerra,
porém, ainda não acabou. Várias publicações já ameaçaram boicotar o novo órgão.
Outras consideram levar o tema ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Os
meios de comunicação não são obrigados a se inscrever no novo marco
regulatório, mas não está claro, até agora, como o impasse será resolvido.
- As chances de
nos unirmos à interferência estatal é nula - disse Tony Gallagher, editor do
jornal “Daily Telegraph”.
Já o grupo “Hacked Off”, que reúne pessoas que se sentiram atacadas pela mídia,
elogiou a medida. “A imprensa deveria aproveitar para mostrar que não teme ser
submetida a padrões éticos decentes, e que tem orgulho de agir com
responsabilidade com as pessoas para quem e sobre quem escrevem”, disse num
comunicado.
No mesmo dia,
dois jornalistas foram acusados em Londres de supervisionar grampos telefônicos.
Segundo a promotoria, Rebekah Brooks, ex-braço direito de Murdoch, e Andy
Coulson, ex-chefe de imprensa do premier britânico, teriam supervisionado um
sistema de escutas e de pagamentos ilegais a funcionários públicos quando eram
chefes do “News of the World”. Ambos negam as acusações.
Ainda ontem,
outros três jornalistas do extinto tabloide declararam-se culpados das
denúncias relacionadas às escutas, nas primeiras confissões desde o início da
investigação, em 2011.
Reproduzido de O
Globo
31 out 2014
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