A TV psicotizante na globobocalização
Depois de ver
essa fotografia nas redes sociais fui procurar o vídeo com a cena na Internet,
achando facilmente no site "gshow" da Globo. Pasmo, fiquei matutando
em como o "carrasco" que idealiza e executa esses crimes superou em
mau gosto os requintes daquela famosa cena artística do banho da beldade loira
de Hitchcock.
Ao mesmo
tempo, não há como evitar que venham à mente outras tantas cenas que se
relacionam com as estranhices sobre o que a TV e as grandes corporações
midiáticas fazem com, e pelo povo: reproduzir cotidianamente a doença que é
inoculada pelas janelinhas e mil telas vidiotizadoras produzindo, em série, os
vivo-mortos dessa sociedade da chamada Idade Mídia que corrói em trevas,
ironicamente disseminada por cabos e tubos que conduzem luz.
Decerto que é
assunto para neurocientistas e psiquiatras se debruçarem por décadas a fio, em
seus laboratórios, o que as monopolizadas empresas de anti-comunicação em
conjunto fazem a partir de seus estúdios, provocando essa epidemia que
dis-forma em zumbis des-pensantes o que seriam seres humanos com dignidade e
direitos.
Nesse século
XX, que ainda não acabou, a Idade Mídia tem muito a ver com a Era de Direitos
tão propalada aqui e ali nos cenários nacional e internacional, mesmo que nos
meios políticos as políticas públicas sejam tão negadoras do que acolá, na luta
cotidiana por um mundo melhor, a sociedade civil e gatos pingados da indignação
defendam e promovam os ideais e valores para a construção de uma sociedade de
justiça.
Políticos e
empresários à soldo do mundo do mercado se sentem acima disso tudo, do bem e do
mal, e as discussões sobre regulamentação, qualidade da programação,
democratização dos meios de comunicação, direitos humanos e das crianças não
afetam em nada a pandemia em curso, bem planejada em conjunto pelos poderosos
interesses dos donos das mídias, obviamente orquestrada e afinadíssima com os
interesses de quem faz da humanidade gato e sapato.
Desde tempos
imemoriais é fato que as classes dominantes continuam atuando com o mesmo
roteiro, ainda que os atores e a ribalta nos apresentem um elenco com caras
novas, ao gosto de cada época e à moda do apetite da plebe por o que veio a se
chamar entretenimento, purgação das culpas da vida desenfreada de prazeres
duvidosos de cada um.
A turba
insatisfeita com pouco sangue nas arenas levanta ou abaixa o dedo para
determinar a vida de quem se digladia até à morte naquilo que chamam de
espetáculo. Hoje, entronizam ou execram a mesmice que desfila em todos os
canais do Circo Midiático com a idêntica imponência do gesto de césares
sanguinários, com o polegar apertando as teclas do controle remoto da
arquibancada do sofá almofadado.
Papas,
cardeais, bispos e padres cederam sua vez aos megaempresários atuando por suas
marionetes que estampam as revistas, assim como dão as caras atrás das telinhas
ultra contemporâneas em alguma engenhoca tecnológica de última geração. Pelos
altares erigidos na sala, no quarto etc., nos tablets e nos celulares se cultua e se venera o que a deusa
platinada santifica. Agora, são os
telespectadores e consumidores dos produtos endeusados dos tempos modernos que
absolvem e condenam o que ouvem de pecados e mazelas no confessionário pessoal
de cada um.
E, segue dia
e noite a ladainha na farsa dos telejornais criando a pauta de discussão
nacional pela des-informação hipnotizante, na festança do banquete da dieta
informacional de engorda e espalhando o terror e o medo como prestação de
serviço indispensável à população que perdeu a noção do certo e errado, do
justo e injusto, tantas as falcatruas que permeiam as intenções de jornalistas,
repórteres, editores e chefes de redação como prepostos dos interesses dos
patrões na ideia hegemônica da anti-comunicação. Claro que regiamente financiados
pela propaganda e marketing a serviço e impulsionados pela ideologia opressora
disfarçada nas caricaturas.
Até nesses
horários dos religiosos se re-produzem o tom dado aos telejornais e programas
de auditório, com apresentadores do show de fé dando mais pinta que as macacas
de auditório, que aplaudem calorosamente os calouros e veteranos dos púlpitos
de todas as crenças como quem se extasiasse se o mar se abrisse para revelar as
terras da salvação. Todos famintos e sedentos de uma vida glamorosa além do
deserto percorrido das vidas medíocres , que não seria bela se a televisão não
lhes prometesse o paraíso das sensações.
Na novena
quase infindável das novelas em que a deusa brasileira em favor da
globobocalização se tornou referência internacional, toda uma geração se
habituou a seguir como vidiota a procissão de estórias chamadas de folhetim,
onde se ressaltam capítulo a capítulo
todas as coisas desgracentas e esquisitices próprias da vida humana no rumo
desembestado de vivências das paixões, ilusões e desejos. Pelo enredo inteiro
perpassa dor, desatino, des-encontro, mal-entendidos em tramas maquiavélicas
com suspense de um fim de semana para outro, como ondas trazendo o mesmo lixo
do comportamento infeliz de personagens que não se sabe bem influenciando a
vida real, ou apenas retratando o que vai no pensamento e sentimento coletivo
da humanidade entorpecida.
Por séculos que
a literatura e os romances, e décadas que os filmes, novelas e noticiários se
edificam sobre essa ideia de colocar dia após dia um tijolinho de infortúnio
criando o clima de tensão, terror e medo enquanto os “finais felizes” se dão apenas
no final das “obras”, quando terminam. E logo depois se recomeça outra maratona
de tristezas diárias. Isso por si só já denota alguma coisa doentia.
E, o resto da
programação da TV des-regulada, enquadrada nos moldes do que se quer para o
mundo escravizado e doentio, vai contaminando ano após ano desde a criança até
o mais idoso dos velhinhos habituados às papinhas indigestas da publicidade
dirigida ao público infantil, aos requintes dos temperos de violência adocicada
da sociedade embevecida e trôpega, até o soro de mil histórias contadas em
gotas incalculáveis injetadas no sangue de quem, no final das contas, não viveu
nenhuma daquelas cenas a não ser pelas telas, e não viveu a própria vida,
pensante, sonhadora e realizadora de cenas singulares e criativas além do que
foi imposto.
Nem precisa
se falar aqui do que significam esses programas de reality show em que muitos se comprazem em ficar espiando as
bobageiras encenadas por atrizes e piriguetes, atores e modelos, garotões
machistas e, às vezes, gays e lésbicas bem comportadinhos conforme quer o
contrato que assinam para se exporem ao gosto do voyeur. Perguntemos às crianças nas escolas quem dormiu, e fez o
que com quem, debaixo de edredons ou na piscina. Muitas delas sabem mais do que
mal imaginamos como professores e professoras mal-amados e des-amantes em
nossos sonhos e fantasias eróticas.
O Circo
Midiático com seus shows espetaculares, a programação fantástica, o que faz
des-pensar os cegos, surdos e mudos refastelados, os obesos do entretenimento
que gargalham, choram, devoram as migalhas caídas da mesa dos 1% senhores
controladores de tudo e todos,
a-palermados zumbis no drama tragicomédico da doença normotizante.
Desde a
invenção desse tipo de imprensa e meios de anti-comunicação temos sido tratados
na camisa de força do hospício da vida des-humana, criados à imagem e
semelhança das exigências do deu$ monetário exercendo seus plenos poderes para tudo
controlar. Nos acostumamos a agir e reagir, apenas dentro das esferas do
aceitável nessa lógica escravizante e alienadora desde que um mais espertinho, no
meio das massas sem vontade nenhuma, subiu em alguma pedra acima do fogo das
cavernas ou numa caixinha de fósforo nos palanques, púlpitos, tribunas, palcos
e centros das atenções para atrair a si a má-vontade de todos num discurso
manipulador de consciências para que o restante dos 99% da humanidade sempre
servisse de pedestal para a fama, eleição, canonização, soberba, arrogância e endeusamento
daqueles poucos. A TV nos formata, mais que ninguém, mais que qualquer tirano,
para a consagração do Império dos falsos deuses mandando e desmandando sobre a
vida dos pobres vidiotas.
Lemos por aí no
ciberespaço que a personagem da novela retratada na cena da foto, encarnada
pela outra beldade malvada da hora, alcançou índices recordes de público
plugado na emissora que a reproduziu, segundo disseram os institutos de
pesquisa e verificação de audiência, pelo menos para a cidade de São Paulo. Faz
parecer que no resto do país se deu o mesmo.
Todo ano
temos essas cenas finais de novelas em que a sociedade se delira com a
condenação, perseguição e morte de malvados e malvadas que destilaram fel pela
história inteira. Se houve muitos tapas e beijos, corpos desnudos, cenas de
sexo e outras de alguma coisa querendo se parecer com politicamente correto,
mas indubitavelmente bastante baixaria ao longo da trama, é certa garantia de
que a audiência foi conquistada, os anunciantes pensam que comprarão seus
produtos, e as emissoras faturam milhões com a contribuição do dízimo dos
pagantes. O “carrasco” das
novelas - em especial dessa da cena da foto - é apenas mais um dos criadores de
ilusão, dos acólitos que em seus estrelismos fazem sua parte na colaboração
para ludibriar a massa que finge estar tudo bem no mundo das escolhas pessoais,
onde liberdade de expressão se confunde tanto com a velhíssima e velhacas formas
opressão re-produzidas pelas mídias 24 horas por dia, e sete dias por semana
sem intervalo.
Na sequência da enumeração das artes feita há 100 anos,
certamente que à TV cabe o oitavo lugar - mas como anti-arte - pelas
anti-maravilhas que produz e re-produz na disseminação da doença ainda não
devidamente catalogada em um rol, bem ao lado de itens que descrevessem a
patologia com os tiques da histeria coletiva, demência generalizada, boçalidade
intermitente, câncer do pensamento, inflamação dos sentidos, vidiotice pura.
Obviamente que há cura para tudo isso, muito mais além do
simples desligar a TV ou ficar estropiado e junto a uns poucos na luta que
parece interminável pela qualidade de programação, democratização dos meios de
comunicação, regulação, classificação indicativa etc. Remendar pano novo nos
velhos tecidos desses preciosos sistemas de educação e comunicação que temos
tem se comprovado tão ineficaz quanto dar um passo pra frente e dois para trás
pelas vias da justiça que não enxerga, não fala e não ouve como ab-surda,
ab-muda e ab-cega frente às ações promovidas pela alfabetização des-humana -
escolar, midiática - no beabá da
cartilha do consumismo pelos interesses do mercado e dessa economia da selva em
que o poder e o dinheiro mandam.
Creio que há que se des-truir tudo isso e re-começar de
novo. Como restaurar o bom senso onde o consenso que impera tem essas
características psicóticas graves na globobocalização e vidiotização do mundo?
Parece faltar indignação, lucidez, sensatez, responsabilidade,
integridade, em suma, sabedoria, onde sobra des-amor e in-felicidade nesse
tempo de trevas da “Idade Mídia”. O distúrbio neurótico que padecemos, e agora
parece ser social, educacional, cultural, artístico e comunicacionalmente
aceito como a coisa mais normal do mundo contemporâneo, ainda vai provocar
muita tristeza, terror e guerras em que todos sempre perderemos alguma lindeza
dentro e fora de nós.
O esquisito do personagem Norman Bates - de Psicose de Hitchcock - a meu perceber, teria
feito muito mais estragos no filme se fosse rodado hoje. Não duvido que sua mãe
encalacrada naquele quarto, mortinha-viva da silva, assistisse o dia inteiro,
por exemplo, a TV Globo com sua programação e essa novela em especial. Somos
todos Ninhos e Césares, acreditando nas palavras de anti-amor da Aline, das TVs,
dos meios de comunicação. E daqui a pouco morreremos, de facada, tristeza, ou teremos
um AVC. Tudo a ver!
Que
pais e irresponsáveis não sub-metam as crianças a esse tipo de programação e, professores, fiquem atentos aos compromissos
no campo das relações entre a Educação e Comunicação. As crianças têm direitos
e devemos defendê-los, mesmo que não venhamos a dar a mínima para os nossos
próprios e des-cumpramos nossos deveres, como o fazem os meios de anti-comunicação.
Quem puder ou querer des-pertar do torpor viciante dessa
doença psicotizante e normótica, que o faça logo, e realize com outros indignados
os sonhos por uma humanidade para o Bem Viver.
Leo
Nogueira Paqonawta
27 jan 2014
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A foto reproduzida nas redes sociais, aqui foi retirada de um site sobre novelas. Apenas a colocamos ali para expressar, no texto, todo nosso repúdio a tudo o que ela apresenta, re-presenta e se e-produz pelas mídias.
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A foto reproduzida nas redes sociais, aqui foi retirada de um site sobre novelas. Apenas a colocamos ali para expressar, no texto, todo nosso repúdio a tudo o que ela apresenta, re-presenta e se e-produz pelas mídias.
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