O médico cubano, o Facebook e a massa
A foto do profissional de saúde sendo
vaiado foi vista nesta terça-feira por milhões de pessoas na rede social, de
forma espontânea. Não há campanha de TV que tenha a mesma eficácia.
Publicado 28/08/2013
A foto de
Jarbas Oliveira, da Folhapress, em que médicas de Fortaleza vaiam um médico
cubano, circulou o Brasil ontem e sua repercussão fizeram pelo Mais Médicos e a
vinda dos profissionais de saúde estrangeiros mais do que qualquer campanha em
horário nobre da TV poderia fazer. Manifestar-se publicamente de forma
contrária à vinda de médicos estrangeiros em geral –e de Cuba em particular--
ficou mais difícil depois daquele clique.
Explico o
motivo.
Comprada por
CartaCapital, a imagem foi postada em nossa página no
Facebook e, até as 13h desta quarta-feira, já tinha sido compartilhada mais de
20 mil vezes, “curtida” outras 8 mil vezes e comentada por 4 mil pessoas. A
cada vez que alguém interage com um conteúdo no Facebook, ele aparece em sua
“time line”, e acaba sendo visto por parte de seus contatos. O Facebook fornece
ao administrador de páginas corporativas --como a de CartaCapital— o total de
pessoas “impactadas” pelo post. Ou seja, em quantas na time line de quantas
pessoas aquela informação foi vista. Neste caso, foram 1,5 milhão de pessoas.
O fenômeno
ocorreu em algumas páginas pessoais. Na minha mesmo, onde postei uma foto da
capa do jornal
que tirei com meu celular, os números são semelhantes aos da página da revista,
então faz sentido supor que um número semelhante de pessoas foram impactadas. O
paraense Marcus Pessoa postou em sua página pessoal uma montagem
simples, ladeando a
foto da Folhapress e uma imagem PB de Little Rock (EUA), de 1957, que mostra
uma estudante negra chegando para seu primeiro dia de aula sem separação racial
–e sendo hostilizada por colegas brancas. Mais de 30 mil pessoas compartilharam.
Na página do Brasil 247 a onda foi ainda mais forte. Ao ser o primeiro veículo
a escrever sobre o assunto e postar rapidamente na rede no começo da manhã,
mais de 200 mil compartilharam o post.
Certamente alguns milhões de pessoas viram esse conteúdo ontem ao longo do dia
em sua tela.
O que tudo
isso quer dizer?
Além do
enorme impacto positivo na opinião pública quanto a vinda dos médicos
estrangeiros, fica claro o potencial do Facebook enquanto comunicação de massa,
pelo menos no Brasil. Os números batem a audiência da maioria dos telejornais,
e ainda vêm acompanhados de um juízo de valor, de opinião. E isso, como se diz,
“agrega valor”, especialmente num ambiente de posições exacerbadas –e muitas
vezes pouco equilibradas.
O poder da
criação de Mark Zuckerberg é bastante útil para gerar contrapontos aos grandes
veículos de comunicação e disputar o imaginário e a opinião da população.
Segundo dados do próprio Facebook, há 76 milhões de contas ativas no Brasil.
Ok, outras dezenas de milhões de pessoas estão fora, mas praticamente a
totalidade dos profissionais de comunicação e da parcela mais jovem da nação
está diariamente se informando e formando sua opinião pelo que veem em sua "time
line". Isso não é pouca coisa. Falar que 10 milhões de pessoas debateram o
assunto ontem na rede social é estimativa modesta, e o número real é
praticamente impossível de ser aferido mesmo pela empresa.
O Facebook
como ferramenta de comunicação, tornando cada um ao mesmo tempo emissor de
informação e comentarista pode ser interessante, ainda mais levando-se em
consideração que quase toda nossa mídia tradicional trabalha dentro de uma
mesma linha ideológica. No caso do médico cubano, escancarou o viés racista da
ação, o que é obviamente bom.
Esse
protagonismo do Facebook enquanto pauteiro geral da nação, influenciando
grandes veículos, blogs e até conversas de boteco ou no almoço da firma,
contudo, é perigoso. Haja visto o caminho que os protestos de junho ameaçaram
tomar em um determinado momento. Ainda mais porque muita gente enxerga Facebook
como se fosse um serviço público. Pessoalmente tenho críticas a certas
políticas da empresa, como o veto a qualquer tipo de nudez e a proteção tênue
da privacidade dos usuários. Mas trata-se de uma empresa privada, com
interesses comerciais claros e que dita as regras que bem entender, desde que
não desrespeite a legislação dos países em que atua. A função primordial do
Facebook é dar lucro, e não pra prestar um serviço livre e gratuito à
população.
Convém curtir
com moderação.
28 ago 2013
Comentário de Filosomídia:
Há que se ter
profunda admiração, respeito e gratidão aos médicos cubanos que chegaram ao
Brasil dias atrás para trabalhar nas frentes de luta contra uma doença crônica
no país: o descaso público de séculos pelo povo sofrido e vitimizado nas
periferias do sistema desumanizador; a síndrome de superioridade de uma
elititica soberba, esnobe, a verdadeira "escrava moderna" da máfia da
exploração do ser humano; a ganância de pseudo médicos, mercadores da vida,
traficantes dos planos de saúde, vassalos das corporações profissionais
travestidas na morte de todas as esperanças do Bem Viver em seus jalecos
brancos impecáveis, sem uma grama de poeira dos caminhos do sofrimento alheio
no mundo, a anti-solidariedade.
Elas e eles,
as médicas e médicos cubanos são verdadeiramente heróis que rexistem há décadas
um bloqueio econômico imposto pelo autoritarismo que é, sim, o Grande Ditador
da (des)ordem mundial espalhando no mundo o medo, a fome, a sede, a doença
maior do egoísmo.
Elas e eles
furam esse bloqueio justamente no atendimento ao grito de desespero dos
desamparados pelos poderes e suas políticas públicas por séculos e, são
recebidos aqui, numa cidade chamada Fortaleza, berço daquelas e daqueles
colegas de juramento de uma profissão que, em nosso país parece ter gerado e
saído das academias mais embrutecidos e desumanizados pelo trator de interesses
que beiram a insanidade do que entraram nas escolas de medicina para realizar,
talvez, um sonho de colaborar na redenção de todas as dores, ou, no que parece
mais óbvio, ampliar a sangria e os horrores da mercantilização da saúde,
direito de todos.
Esses jovens
brasileiros tão alienados de sua própria humanidade, vaiando os recém-chegados
como matilha de lobos uivando sob pele de cordeiros em suas vestes querendo
parecer imaculadamente santos merecem a nossa mais profunda compaixão, quando
sabemos que só mentes e sentimentos insanos podem produzir e conduzir ações tão
infelizes, dignas de quem patrocina a miséria nessa conduta anti-ética,
anti-humana, ignorante, estúpida. O mesmo fazem tantos outros profissionais da
área de comunicação, chamados de jornalistas, que bancam a des-informação e
alimentam o ódio ao próximo, ao diferente, ao íntegro.
Lamento
profundamente, do mesmo modo, tantos afetos e conhecidos meus que compartilham
aquela má ideia desses médicos brasileiros criados e formatados nos moldes do
profissionalismo sem coração, repetidores de um juramento hipócrita,
professadores de uma doutrina de anti-fraternidade que chamam de "ciência',
quando os vejo tão des-informados e alienados quanto eles, des-possuídos de sua
própria dignidade humana, verdadeiros moribundos, rodeados de brilhos de ouro
mas mendigos do afeto mais sincero e simples, esse que a gente bem vê nos olhos
de crianças em situação de forçada miséria e desamparo, mas que sorriem ao
menor gesto de amor desinteressado.
Meus parabéns
a esses heróis da medicina além de todas as fronteiras das convenções humanas,
minha gratidão a vocês que atenderam a um chamado para ir onde nossos jovens ou
imaturos profissionais jamais ousariam servir de instrumento de Paz para a
Saúde, Alegria, Esperança. Vocês em sua coragem nos co-movem a sermos tão
profissionais e humanos quanto vocês o são.
Meus parabéns
pela foto, Jarbas Oliveira, porque você captou um desses instantes que ficará
marcado para sempre na retina espiritual desse planeta tão carente de heróis
anônimos que fazem a diferença, re-vira-voltam e re-evolucionam o mundo.
Obrigado.
Leo Nogueira
Paqonawta
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