segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A "Geração desconcentrada" por Larry Rosen


Geração desconcentrada

Larry Rosen*
18/11/2012

As distrações constantes causadas pelo meio digital já afetam o aprendizado de adolescentes e jovens.

Uma pesquisa recente do Pew Internet & American Life Project, em que foram entrevistados 2.462 professores dos ensinos fundamental e médio nos EUA, conclui que: “A vasta maioria concorda que as atuais tecnologias estão criando uma geração que se distrai com facilidade e só consegue se concentrar por breves intervalos de tempo”. Dois terços dos professores concordam que as tecnologias contribuem mais para distrair os alunos do que para o seu desempenho escolar.

Recentemente, minha equipe de pesquisa observou 263 alunos dos ensinos médio e superior estudando em casa por 15 minutos. O objetivo era verificar se os jovens conseguiam se manter concentrados e, em caso negativo, o que motivava a dispersão. A cada minuto, anotávamos o que eles faziam: se estavam estudando, trocando mensagens de celular, se havia um som ou uma TV ligados, se estavam diante de um PC e quais sites visitavam.

Os resultados foram surpreendentes. Verificamos que eles só conseguiam se dedicar às tarefas por períodos de três a cinco minutos, em média, antes de perder a concentração. De maneira geral, a distração era causada pela tecnologia, incluindo: (1) a presença de dispositivos, como iPods, laptops e smartphones, no local de estudo; (2) as trocas de mensagens de texto; (3) os acessos ao Facebook.

Também procuramos averiguar se a fonte de distração seria indicativo de quais eram, em geral, os melhores estudantes. Como seria de esperar, aqueles que ficavam mais tempo concentrados e que tinham estratégias de estudo bem desenvolvidas eram também os melhores alunos. Os piores eram os que consumiam diariamente mais mídia e dividiam a atenção entre diversas tarefas ao mesmo tempo.

Um resultado nos causou espanto: os alunos que entravam no Facebook uma vez durante os 15 minutos tinham notas mais baixas. Não importava a quantidade de acessos; um só era suficiente. Isso significa que as mídias sociais afetam negativamente a concentração e a atenção temporárias, e também o desempenho escolar.


O que está acontecendo com esses jovens? Fizemos essa pergunta a milhares de estudantes. Eles nos disseram que, alertados por um bipe, uma vibração, uma luz piscando, eles se sentem compelidos a responder a esse estímulo. No entanto, mesmo sem intromissões, eles disseram que são perturbados por pensamentos como: “Será que alguém comentou o post que deixei no Facebook?”. Ou: “Será que o meu amigo respondeu ao SMS que mandei há cinco minutos?”.

Três quartos dos adolescentes e jovens checam os dispositivos a cada 15 minutos ou menos, e, quando não podem fazê-lo, ficam extremamente ansiosos. E a ansiedade inibe a aprendizagem.

Convívio. Estou convencido de que aprender a conviver com distrações internas e externas tem tudo a ver com o ensino da concentração. Em psicologia, chamamos de “metacognição” a capacidade de perceber quando a situação exige concentração e quando isso é desnecessário.

Como ensinar os jovens a se concentrar num mundo que constantemente desvia a atenção deles? Uma estratégia que adotamos em salas de aula de diversos países se chama “intervalo tecnológico”. Funciona assim: os estudantes têm permissão para usar smartphones, tablets ou laptops para fazer pesquisas na internet e atividades relacionadas com o estudo por um tempo. Com frequência, aproveitam para checar e-mails e mensagens de texto e acessar redes sociais.

Depois do intervalo, o professor pede para que os alunos deixem seus aparelhos em modo silencioso e virados de ponta-cabeça sobre a carteira, à vista de todos, para que se concentrem por 15 minutos no trabalho de classe.

Sem as distrações externas de vibrações e luzes piscando, não há por que ceder às distrações internas. Ao fim dos 15 minutos de concentração, o professor decreta outro intervalo tecnológico, e assim vai. O truque é aumentar gradualmente o tempo entre os intervalos tecnológicos, para que os alunos aprendam a se manter concentrados por períodos mais longos.

Sob minha orientação, essa técnica tem sido adotada com êxito por professores em sala de aula, por pais à mesa de jantar ou em restaurantes e por executivos em reuniões. Até agora, porém, o máximo que conseguimos foram 30 minutos de concentração — graças a Steve Jobs (e outros) e a sua capacidade de inventar aparelhos tão fascinantes e dispersivos.

A tecnologia não vai desaparecer. Ao contrário, ela tende a ficar cada vez mais atraente. Com mais conexões sociais eletrônicas em nossas vidas, as distrações internas também aumentam, e os intervalos tecnológicos podem treinar o cérebro a se concentrar, aplacando a preocupação e a ansiedade com aquilo que podemos estar perdendo no nosso mundo social virtual.

Tradução de Alexandre Hubner

*É professor de psicologia da Universidade Estadual da Califórnia e autor de cinco livros, incluindo iDisorder. Este artigo foi publicado originalmente pelo jornal The Free Lance-Star.

Reproduzido de clipping FNDC
19 nov 2012

Página pessoal do autor clicando aqui.

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