Geração desconcentrada
Larry
Rosen*
18/11/2012
As
distrações constantes causadas pelo meio digital já afetam o aprendizado de
adolescentes e jovens.
Uma pesquisa recente do
Pew Internet & American Life Project, em que foram entrevistados 2.462
professores dos ensinos fundamental e médio nos EUA, conclui que: “A vasta
maioria concorda que as atuais tecnologias estão criando uma geração que se
distrai com facilidade e só consegue se concentrar por breves intervalos de
tempo”. Dois terços dos professores concordam que as tecnologias contribuem
mais para distrair os alunos do que para o seu desempenho escolar.
Recentemente, minha
equipe de pesquisa observou 263 alunos dos ensinos médio e superior estudando
em casa por 15 minutos. O objetivo era verificar se os jovens conseguiam se
manter concentrados e, em caso negativo, o que motivava a dispersão. A cada
minuto, anotávamos o que eles faziam: se estavam estudando, trocando mensagens
de celular, se havia um som ou uma TV ligados, se estavam diante de um PC e
quais sites visitavam.
Os resultados foram
surpreendentes. Verificamos que eles só conseguiam se dedicar às tarefas por
períodos de três a cinco minutos, em média, antes de perder a concentração. De
maneira geral, a distração era causada pela tecnologia, incluindo: (1) a
presença de dispositivos, como iPods, laptops e smartphones, no local de
estudo; (2) as trocas de mensagens de texto; (3) os acessos ao Facebook.
Também procuramos
averiguar se a fonte de distração seria indicativo de quais eram, em geral, os
melhores estudantes. Como seria de esperar, aqueles que ficavam mais tempo
concentrados e que tinham estratégias de estudo bem desenvolvidas eram também
os melhores alunos. Os piores eram os que consumiam diariamente mais mídia e
dividiam a atenção entre diversas tarefas ao mesmo tempo.
Um resultado nos causou
espanto: os alunos que entravam no Facebook uma vez durante os 15 minutos
tinham notas mais baixas. Não importava a quantidade de acessos; um só era
suficiente. Isso significa que as mídias sociais afetam negativamente a
concentração e a atenção temporárias, e também o desempenho escolar.
O que está acontecendo
com esses jovens? Fizemos essa pergunta a milhares de estudantes. Eles nos
disseram que, alertados por um bipe, uma vibração, uma luz piscando, eles se
sentem compelidos a responder a esse estímulo. No entanto, mesmo sem
intromissões, eles disseram que são perturbados por pensamentos como: “Será que
alguém comentou o post que deixei no Facebook?”. Ou: “Será que o meu amigo
respondeu ao SMS que mandei há cinco minutos?”.
Três quartos dos
adolescentes e jovens checam os dispositivos a cada 15 minutos ou menos, e,
quando não podem fazê-lo, ficam extremamente ansiosos. E a ansiedade inibe a
aprendizagem.
Convívio. Estou
convencido de que aprender a conviver com distrações internas e externas tem
tudo a ver com o ensino da concentração. Em psicologia, chamamos de
“metacognição” a capacidade de perceber quando a situação exige concentração e
quando isso é desnecessário.
Como ensinar os jovens a
se concentrar num mundo que constantemente desvia a atenção deles? Uma
estratégia que adotamos em salas de aula de diversos países se chama “intervalo
tecnológico”. Funciona assim: os estudantes têm permissão para usar
smartphones, tablets ou laptops para fazer pesquisas na internet e atividades
relacionadas com o estudo por um tempo. Com frequência, aproveitam para checar
e-mails e mensagens de texto e acessar redes sociais.
Depois do intervalo, o
professor pede para que os alunos deixem seus aparelhos em modo silencioso e
virados de ponta-cabeça sobre a carteira, à vista de todos, para que se
concentrem por 15 minutos no trabalho de classe.
Sem as distrações
externas de vibrações e luzes piscando, não há por que ceder às distrações
internas. Ao fim dos 15 minutos de concentração, o professor decreta outro
intervalo tecnológico, e assim vai. O truque é aumentar gradualmente o tempo
entre os intervalos tecnológicos, para que os alunos aprendam a se manter
concentrados por períodos mais longos.
Sob minha orientação,
essa técnica tem sido adotada com êxito por professores em sala de aula, por
pais à mesa de jantar ou em restaurantes e por executivos em reuniões. Até
agora, porém, o máximo que conseguimos foram 30 minutos de concentração —
graças a Steve Jobs (e outros) e a sua capacidade de inventar aparelhos tão
fascinantes e dispersivos.
A tecnologia não vai
desaparecer. Ao contrário, ela tende a ficar cada vez mais atraente. Com mais
conexões sociais eletrônicas em nossas vidas, as distrações internas também
aumentam, e os intervalos tecnológicos podem treinar o cérebro a se concentrar,
aplacando a preocupação e a ansiedade com aquilo que podemos estar perdendo no
nosso mundo social virtual.
Tradução de Alexandre
Hubner
*É professor de
psicologia da Universidade Estadual da Califórnia e autor de cinco livros,
incluindo iDisorder. Este artigo foi publicado originalmente pelo jornal The
Free Lance-Star.
Reproduzido
de clipping FNDC
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