O Azul intenso
Célia Laborne
Há dias em que as águas se fazem mais azuis, como orgulhosas de si mesmas, de um azul tão profundo que chega a parecer lágrima nas pupilas infantis de Ana.
O sol ganha mais luz e raios novos para começar a manhã. Há dias que são feitos com carinho e cuidados especiais, porque foram marcados, a longo tempo, no calendário.
As horas têm, então, um significado certo e precioso – uma fisionomia toda própria. Cada uma é a data inadiável, repleta de segredo, que fica fazendo surpresa à toa. Só não as sente plenas quem está muito inquieto ou descrente da doçura; quem se esqueceu de prender bem os olhos ao azul mais intenso da água ou aos raios muito novos.
Há dias em que as ruas se fazem mais largas e combinam encontro em todas as esquinas; ou convidam a caminhadas extensas para contar cousas curiosas ou mostrar as árvores onde dormem nomes entrelaçados.
Esquecem o tédio e a súplica das mágoas. A música chega tão perto que é parte da cadência dos gestos e o canto nasce leve, como um pedaço do tempo. Só não os viu quem não foi tocado pelo azul ou poema que nasce dele.
Depois, as horas amadurecem e tentam fazer tristeza, ou acordar a sombra e a solidão. Chamam a bruma dos dias opacos e desalentados, convidam o silêncio velho. A saudade debruça-se dolorida sobre as ruas como se as fadas estivessem mortas e os sonhos perdidos.
Mas, quando a realidade cinge o corpo, com braços de terra e medo, os olhos brilham ainda cheios de cores e música.
Pois, onde ouve um dia de luz há vestígio de alegria, gérmen de sorriso, fragmento de esperança. Onde passa o sonho fica um raio luminoso desafiando os incrédulos e descrentes.
Via e-mail da autora, desde Vida em Plenitude...
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