Murdoch com a ex-editora do Sun, Rebekah Brooks
Não há como comparar Murdoch com os
barões da imprensa brasileiros
Paulo Nogueira
Murdoch é muito
diferente dos nossos barões de mídia.
Respeito Nassif
como jornalista, e reconheço nele o pioneirismo, ao lado de Paulo Henrique
Amorim, em erguer consistentemente na internet uma voz alternativa ao
conservadorismo petrificado das grandes empresas de mídia.
Mas Nassif tem
comparado Murdoch aos barões brasileiros em suas práticas, e nisto ele está
completamente errado.
A única
semelhança que os une é a ideologia de direita.
Murdoch, ao
contrário dos Marinhos, dos Civitas e dos demais, jamais encontrou mamatas
públicas em seu caminho.
Não foi bafejado
com reserva de mercado, com eternos Mensalões na forma de verbas publicitárias
governamentais, com financiamentos de bancos oficiais, com a compra cativa de
livros editados pelas empresas de mídia, com concessões – e por aí afora.
Foi, e é, um
empreendedor que correu o tempo inteiro riscos. E, diferentemente dos barões
brasileiros, é jornalista: sabe escrever, sabe fazer reportagem, sabe o que é
manchete e o que não é nada.
Ele herdou um
pequeno jornal de seu pai na Austrália e construiu um império mundial sem
ganhar nada de graça.
Instalou-se na
Inglaterra no final dos anos 1960, e enfrentou desde logo uma competição feroz
num mercado extremamente disputado.
Foi malvisto
desde o início pelos rivais, em boa parte por ser australiano. (A Austrália era
uma colônia usada pelos ingleses para despachar presos.)
Graças a sua
competência executiva e jornalística, ele se tornou o maior nome entre os donos
de empresas de mídia na Inglaterra.
Com o Times,
jornal clássico, e com o Sun, tabloide aguerrido, ele foi ganhando mais e mais
espaço.
O melhor
exemplo dos riscos que correu veio na década de 1980, quando decidiu entrar na
tevê por satélite, com uma empresa que batizou de Sky.
Era um negócio
caríssimo, e o retorno se mostrou bem mais demorado que o previsto por Murdoch.
Ele quase
quebrou. Não tinha como pagar as dívidas que fizera com os bancos – privados, e
ávidos por recuperar o que tinham emprestado a Murdoch.
Sem outra
saída, ele foi obrigado a se associar ao rival em tevê por satélite, a BSB,
igualmente em apuros. Dali surgiria a BSkyB.
Só muitos anos
depois Murdoch teve os meios de comprar a parte que não era sua. Só não comprou
porque, com o escândalo de um outro tabloide seu, o News of the World, o
governo inglês decidiu proibir a operação.
Sempre correndo
riscos, Murdoch acabou deslocando da Inglaterra para os Estados Unidos a sede
de seu conglomerado.
Comprou marcas
consagradas como a Fox e, no papel, o Wall Street Journal.
Nada em sua
jornada é parecido com os privilégios dados, no Brasil, a três ou quatro
famílias.
É um
empreendedor de verdade, e também um jornalista em condições de discutir
jornalismo com qualquer de seus editores de qualquer plataforma.
De que barão da
imprensa brasileiro se pode dizer o mesmo?
Reproduzido de Diário
do Centro do Mundo
16 jan 2015
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