Nem alguns dos
nomes mais bem pagos pela mídia conservadora para defender o
capitalismo contra os avanços de um Estado mais socialmente justo no país têm
escapado da degola nas redações
Mídia conservadora aperta o cinto no fim
de uma era de dominação
Por Correio do Brasil
Derrotada nas
urnas, a mídia conservadora brasileira prepara-se, a passos largos,
para tempos difíceis logo adiante, com a possível edição da Lei da Mídia Democrática,
que deverá retirar dos grandes veículos de comunicação a supremacia na captação
da publicidade estatal, responsável, em alguns casos, por mais de 70% do
faturamento destas empresas. A última e desesperada tentativa de manter o status
quo, no qual asseguram mais de 90% de cada real aplicado em propaganda, nas
três esferas do Poder, foi um golpe
às vésperas do segundo turno nas eleições presidenciais, frustrado com
a vitória da candidata petista, Dilma Rousseff. Na tentativa fracassada de
derrubar o prestígio da presidenta Dilma junto aos eleitores, a revista semanal
de ultradireitaVeja estampou na capa uma chamada na qual sugeria que o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua sucessora “sabiam de tudo” acerca
da corrupção na estatal Petrobras. A Editora Abril, dona de Veja, já
responde a um processo, na Justiça comum, pela publicação da reportagem sem
qualquer prova, mas a matéria foi prontamente reproduzida pelas Organizações
Globo, pela Folha de S. Paulo, O Estado de São Paulo e demais
satélites destes principais integrantes do cartel midiático que, hoje, domina o
setor no país.
Na noite
passada, em conversa com jornalistas, a presidenta falou sobre temas centrais
de sua próxima gestão, entre eles a regulação da mídia. Sobre este assunto,
Dilma Rousseff voltou a negar qualquer intenção de interferir na produção do
conteúdo, mas defendeu a regulação econômica de um dos segmentos mais
concentrados da economia nacional.
– Defendo a
liberdade de expressão e ela não é só liberdade de imprensa, mas é o direito de
todo mundo que tiver uma opinião, mesmo que você não concorde com ela, ele tem
direito de expressar. Tem direito de se expressar até contra a Democracia.
Outra coisa diferente é confundir isso aí com regulação econômica, que diz
respeito a processo de monopólio ou oligopólios que pode ocorrer em qualquer
setor econômico, onde se visa o lucro. O Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade) está aí para isso em qualquer setor. Mas qualquer outro setor,
como transportes, energia, petróleo… tem regulações e a mídia não pode ter?
Estou falando sobre o que ocorre em muitos países do mundo. Centros
democráticos. Ou alguém desconhece a regulação que existe nos Estados Unidos?
Desconhece a regulação na Inglaterra? Do meu ponto de vista, é uma das mais
duras. Estou dando dois exemplos de situações que não temos que ser iguais. Não
quero para nós uma regulação tal qual a norte-americana – disse.
Dilma fez
questão de frisar que as medidas a serem adotadas não visam atingir as Organizações
Globo, embora esteja no centro do cartel formado pelas grandes empresas de
comunicação no país.
– Ela está mais
diluída. Não acho que a Rede Globo é o problema. Isso é uma visão que
eu acho velha sobre o que é a regulação da mídia. Velha. Porque é a gente estar
demonizando uma rede de televisão. Quando você tem que ter regras que valham
para todo mundo. Não só para eles. Não só não misturo essa discussão com
mecanismos de censura, como repudio. Eu não represento uma parte. Eu quero
representar o todo. E isso jamais poderá ser feito sem uma ampla discussão da
sociedade. É o tipo da coisa que exige uma consulta pública – adiantou.
Tempos bicudos
Ao longo das
últimas décadas, em tempos anteriores à instauração da ditadura militar, as
principais concessões de TV e os jornais conservadores receberam dos governos
federal, estaduais e municipais; do Poder Legislativo e do Judiciário fortunas
capazes de transformar, por exemplo, a família do jornalista falecido Roberto
Marinho na mais rica do país, com recursos acumulados na faixa de R$ 120
bilhões. Os demais herdeiros dos proprietários de meios de comunicação também
figuram entre os mais ricos do Brasil. Ao longo dos últimos 12 anos de governo
do PT, pouco
ou nada mudou na distribuição dos recursos investidos em publicidade, o que
manteve a acumulação de riqueza por parte dos principais adversários dos
governos Lula e Dilma. Após a tentativa frustrada do golpe midiático, os
partidos de esquerda passaram a exigir da presidenta Dilma a edição da Lei da
Mídia Democrática, o que determinou uma nova resposta por parte dos meios
conservadores de comunicação.
Um dia depois
de demitir a colunista Eliane Cantanhêde, um dos maiores salários do diário
conservador paulistano Folha de S. Paulo, a empresa da família Frias pediu
as contas do jornalista Fernando Rodrigues, outro importante colunista político
da direita. Ele estava há 27 anos naquele jornal e oficializou, nesta manhã, o
que já se especulava nas redes sociais desde a noite passada. Em uma nota,
intitulada Aviso aos navegantes, Rodrigues informou que “a partir desta
sexta-feira (7.nov.2014), estarei aqui no UOL (onde já estava desde o
ano 2000) e nos comentários matinais na (rádio Jovem Pan) JP (no
ar desde 2006). Depois de 27 anos, encerrei minha colaboração no jornal Folha
de S.Paulo”.
As demissões
dos seus colaboradores mais caros apenas encabeçam uma longa lista de nomes do
jornalismo que trabalham há décadas na publicação. Em fase de corte de gastos,
a Folha de S. Paulo já demitiu cerca de 25 profissionais nos últimos
dias. Os cortes na redação, segundo o Portal dos Jornalistas, teriam começado
na terça-feira, com a saída de 15 pessoas, e continuado na quarta.
Na véspera,
Cantanhêde escreveu no Twitter:
“Amigos do
Twitter, aviso geral: amanhã eu não escrevo mais a coluna na Folha. Foi bom
enquanto durou”.
Movimento
semelhante tem sido observado nas redações das revistas, jornais, rádios e TVs
ligados à mídia conservadora, ao longo dos últimos meses.
Reproduzido de Correio
do Brasil. Via Barão
de Itararé
07 nov 2014
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