quinta-feira, 19 de julho de 2012

A mídia e a greve das universidades federais


A mídia e a greve das universidades federais

Christopher Rodrigues
Estudante de Economia
Universidade Federal de São João del-Rei
19/07/2012

Iniciada em 17 de maio, a greve que atinge quase todas as universidades federais já é a maior dos últimos tempos. Professores e técnicos-administrativos reivindicam melhores salários, revisão do plano de carreira e melhoria da qualidade de ensino, sendo que a última também é defendida pelos movimentos estudantis.

Os três segmentos da comunidade acadêmica se mobilizam de norte a sul do país, mas apesar de tudo, a mídia convencional pouco noticia os motivos que levaram à paralização das atividades. Verdade seja dita, os principais veículos de comunicação do país não dão a mínima para os movimentos sociais, sendo que o foco deles está apenas no vacilo do governo que é indesejado por grande parte da elite nacional.

Se prestarmos atenção, vamos perceber que a cobertura midiática é absolutamente parcial, com reportagens tendenciosas que não revelam todos os motivos da greve e ainda buscam criminalizar aqueles que defendem o justo direito de uma educação de qualidade. Cumprindo o princípio de ouvir os dois lados, os jornalistas da mídia entrevistam, além de representantes do governo, sindicalistas e participantes do movimento grevista. A conversa chega a durar até mais de uma hora e os entrevistadores têm a paciência de ouvir todos os protestos e reivindicações que motivaram a deflagração da greve, mas como a classe trabalhadora não tem tanto espaço em jornais, revistas, rádios e TVs, as falas dos entrevistados sofrem várias edições até restarem alguns trechos que não evidenciam a verdadeira essência das mobilizações. O nome disso é manipulação ou distorção.

O importante é saber que os principais meios de comunicação não se preocupam com a sociedade e sim com os interesses políticos, econômicos e elitistas. Por isso, quando formos ler ou assistir uma notícia relacionada à greve ou a qualquer outro assunto de considerável relevância, devemos ter um mínimo de senso crítico e não aceitar sem questionar os argumentos e as opiniões da grande mídia. De preferência, devemos buscar meios alternativos de comunicação (blogs e perfis de redes sociais) e comparar as informações que neles são postadas aos noticiários dos veículos tradicionais. Assim teremos o acesso ao mais amplo e profundo jornalismo que trabalhe a serviço do povo brasileiro.

Christopher Rodrigues da Silva Vale, acadêmico do curso de ciências econômicas da Universidade Federal de São João del-Rei.

Reproduzido de Virtude Cidadania, por Christopher Rodrigues
19 jul 2012

Comentário de Filosomídia:

Concordo plenamente com seu texto, Christopher Rodrigues, além de que o espaço que as mídias tradicionais não dão ao debate sobre as causas da greve muitas vezes nem é conseguido - de maneira clara compreensível PARA A POPULAÇÃO - nos espaços da universidade, das associações de professores, servidores e estudantes. O que se fala/escreve fica no mais das vezes circunscrito aos boletins que só os mesmos leem...

Ainda ontem (18/07/12) estive numa assembleia de professores da UFSC (que tem duas associações de professores, concorrentes e de tendências opostas), com a presença de uns gatos pingados que, valorosamente, debatiam as questões que afetavam a categoria. Os demais, os milhares de professores da UFSC... bem, digamos que estivessem gozando suas “merecidas” e programadas férias...

Ainda comentei com uma professora sobre o vídeo "A Doutrina do choque", quando Naomi Klein termina sua fala no documentário dizendo sobre a "necessidade" de irmos para as ruas com nossas bandeiras de luta, para fazer visível e ajuntar a sociedade/população nas fileiras dos indignados, quando em geral a grande maioria de nós é "engabelada", entretida e perfeitamente “des-informada” pelas mídias cotidianamente...

Eu creio que enquanto a paralisação e discussão não for geral, irrestrita, envolvendo os verdadeiramente indignados com essa situação absurda que envolve e perpassa tudo e a todos, não haverá mobilização nenhuma para transformar esse “regime” tão antigo das coisas como elas estão.

Creio, também, que as mídias não mostram, mas a grande “re-evolução” está chegando, aqui e ali, por aqueles que já compreenderam a situação e as maneiras para verdadeiramente transformar tudo. Basta ver/sentir e amar o que fazem aqueles envolvidos pelo Occupy, os estudantes chilenos, os trabalhadores latino-americanos, a juventude grega e egípcia, o movimento indígena insurgente nas Amérikas, por exemplo.

São pelas vias alternativas de comunicação que tomamos conta da profundidade e seriedade desses movimentos mas, ainda é preciso caminhar muito asfalto e arrombar portas dos podres poderes em todos os níveis, para des-instalar os poderosos acostumados à manipulação fácil dos que estão cegos, surdos e mudos na sociedade mundial.

O desafio de nosso tempo será como quebrar essa hegemonia dos meios de comunicação concentrada nas mãos desses poucos e, tomar os microfones, prensas e câmeras para dar voz aos anseios e aspirações da população indignada que quer mudanças. A ”re-evolução” começa por aí, começou por aí, mas os poderosos não são tolos e sabem o que fazer para contornar isso tudo e manter as rédeas do poder. Como você bem afirma, a “manipulação e distorção” realizada por eles é enorme, e concordo também que as redes sociais têm um papel importante hoje no despertamento de muitos para a gravidade dessa situação. Não fosse o Facebook, por exemplo, eu não teria contato contigo, com seu blog, não saberia que lá nas Minas Geraes muitas vozes se levantam e cruzam as montanhas com seu grito de Liberdade.

É isso aí, rapaz... virtude rara e necessária nesse mundo... cidadania, economia, política e comunicação sendo debatidos por uma juventude que fará esse mundo entristecido re-vira-voltar nas suas bases. Esse é o passo e-volutivo que vamos dando agora, isso é a “re-evolução” que já começou...

E, você também está fazendo ela...

Um comentário:

Christopher Rodrigues disse...

Temas como a democratização dos meios de comunicação quase que não são debatidos no meio acadêmico. A academia infelizmente negligencia tais questões. A universidade pública deve também ser um espaço de discussão de assuntos relevantes e de interesse social. Os próprios professores devem estimular os alunos a participar da vida política e do processo democrático e ao mesmo tempo motivando o resto da sociedade a praticar o mesmo. Somos todos políticos e temos uma posição na sociedade. Somos sujeitos da democracia e não devemos permitir que a mídia e o poder privado nos manipulem como se fôssemos meros objetos. Pelo status de cidadania que a todos nós é atribuído, devemos lutar pelos nossos direitos e cumprir o dever de construir um país mais justo, democrático e com liberdade de expressão.