O novo padrão Globo de popularidade
Bárbara Sacchitiello
Meio & Mensagem
06/03/2012
Na dramaturgia, jornalismo e entretenimento, emissora direciona sua linguagem e estilo para atingir suas metas de audiência com o apoio da nova classe média nacional
Não é de hoje que a Rede Globo vem moldando sua programação ao gosto da tal nova classe de consumidores brasileiros. A apresentação da grade de programação de 2012 – realizada na noite dessa segunda-feira, 5, para a imprensa e para o mercado publicitário, em São Paulo – não deixou dúvidas de que são esses milhões de brasileiros que influenciarão o estilo, a linguagem e a cara que a emissora adotará nesse e nos próximos anos.
“Os acontecimentos econômicos do Brasil tem de ser levados em consideração quanto montamos a nossa programação. As classes C, D e E, apesar de sempre terem existido, conseguiram, nos últimos anos, ampliar seu potencial de consumo graças a melhoria salarial e uma melhor distribuição de renda. Temos que acompanhar esse processo com a nossa dramaturgia, o jornalismo, o esporte e todo o entretenimento que oferecemos aos espectadores”, explicou o diretor geral da Rede Globo, Octavio Florisbal, durante a coletiva de imprensa no evento.
Uma rápida observação das principais novidades da grade deste ano denotam essa exaltação das classes mais populares. As novas novelas da grade (Avenida Brasil, que substituirá Fina Estampa, Cheias de Charme, que entrará no lugar de Aquele Beijo, as 19h e até mesmo o remake de Gabriela, na faixa das 23h) são recheadas de personagens e cenários bem típicos da maior parte da população de classe média do País. A linguagem dos jornalísticos da casa e das transmissões esportivas também têm a preocupação de serem compreensíveis para todo o grande público. O novo programa da jornalista Fátima Bernardes, que irá ocupar as manhãs da emissora a partir do segundo semestre, também mesclará entretenimento, prestação de serviços e jornalismo, a fim de cativar quem busca informação mas não dispensa um pouco de lazer na telinha.
Esse namoro com a classe C, entretanto, não desvia a emissora dos padrões de qualidade e de excelência profissional que ela sempre pregou. A própria apresentação da grade foi realizada em clima de superprodução, com o elenco da casa se revezando no palco, em uma apresentação para mais de mil convidados – a grande maioria profissionais de agências de publicidade e do mercado anunciante. A classe, aliás, foi bastante homenageada durante o evento. Ao subir ao palco, Fátima Bernardes ressaltou a importância dos profissionais de propaganda na construção da grade, do estilo e da liberdade de expressão da TV Globo. O apresentador Fausto Silva também agradeceu aos publicitários, ressaltando a importância dos programas de auditório. “As pessoas do mercado sabem o quanto uma ação conduzida por um âncora de TV tem de impacto sobre o público. Por isso que sempre me envolvi diretamente com a área comercial, para transmitir essas mensagens da melhor maneira possível”, disse Faustão, em sua participação no evento.
Em busca dos 19 pontos
Uma grade variada, vários astros e estrelas de peso no elenco, investimento na tecnologia de produção e transmissão e a aquisição de importantes produtos para colocar no ar têm um único objetivo: fazer com que o público não troque a programação da Globo por outros canais, pela internet ou por outros afazeres.
Questionado sobre o atual cenário de declínio de audiência na TV Aberta, Octávio Florisbal atribuiu o fenômeno ao crescimento da base de assinantes da TV paga. “Até 2014 devemos ter um total de 25 milhões de lares no Brasil com TV por assinatura. Essas pessoas, que antes não tinham outras opções de canais, hoje já podem escolher muitos outros para assistir. Acredito que seja para esse meio que tenha migrado os nossos 3 pontos de audiência na média geral, que perdemos desde o final da década de noventa, quando saiu o primeiro balanço do Painel Nacional de Audiência”, acredita o executivo.
Para 2012, Florisbal revela que a meta da emissora continuará sendo atingir os 19 pontos na média diária de audiência. No ano passado, a Globo conseguiu chegar somente aos 18. Para concretizar essa missão, além da variedade da programação, a emissora também apostará no aprimoramento tecnologico. A produção de conteúdo para internet e mídia moveis serao prioridade em 2012, bem como a ampliação da emissora na transmissão do sinal digital. Segundo Florisbal, aé 2014, a Globo pretende levar a TV Digital para 70% dos municípios brasileiros.
Em relação à grade, como de costume, a emissora priorizará o atual modelo, com poucas variações em relação ao conteúdo que já está no ar. Entre as novidades estão um novo programa de variedades, que será comandado por Pedro Bial (ainda sem data de estreia definida) e o retorno do humorístico Casseta & Planeta. O Big Brother Brasil, cuja 12a edição ainda está no ar, já tem mais uma temporada garantida em 2013.
A extinção dos infantis
Outro ponto de destaque da coletiva do diretor geral da emissora foi a revelação de que, em 2012, a programação infantil da Globo será praticamente extinta. Como as manhãs da emissora serão preenchidas com o novo programa de Fátima Bernardes, a TV Globinho acabou perdendo seu espaço, ficando somente com uma edição nas manhãs de sábado.
“Internacionalmente, as emissoras de TV Aberta não exibem mais conteudo infantil. Ele está cada vez mais restrito à TV paga, com canais direcionados só para isso. Acreditamos que isso também começará a acontecer no Brasil. Além disso, manter uma programação para crianças é muito complicado, pois ela não dá retorno nem em audiência – uma vez que eles preferem assistir os programas infantis da TV paga – e também não trazem retorno comercial, porque as restrições para publicidade infantil são muito rígidas”, justificou Florisbal. “Certamente, quem irá absorver esse público é o SBT, que já faz, há muitos anos e muito bem, uma programação infantil na TV Aberta”, pontuou Florisbal.
Reproduzido de clipping FNDC
Grifos de Filosomídia
Leia também: "TV para todos", por Alline Dauroiz e Thaís Pinheiro no Estado de SP, clicando aqui: "Há menu para todos os gostos, mas a segmentação perde espaço na TV paga, que se consagra como produto de massa, sendo consumida hoje por 32 milhões de brasileiros".
Foto: O Estado de SP
Foto: O Estado de SP
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