“A grande mídia imprime no inconsciente coletivo uma visão deformada do mundo”
Livro Latifúndio midiota, do jornalista Leonardo Severo, foi lançado no Fórum Social Temático, em Porto Alegre (RS)
Vivian Fernandes , de São Paulo (SP)
15/02/2012
A crítica à manipulação da sociedade feita pelos grandes meios de comunicação e o papel democrático que cumpre o jornalismo alternativo. Com o debate sobre essa dupla face da mídia, o jornalista Leonardo Severo lançou seu novo livro. Sob o título Latifúndio midiota: crise$, crime$ e trapaça$, a obra traz artigos e matérias nacionais e internacionais sobre temas da luta dos trabalhadores e movimentos sociais.
Com extensa trajetória no jornalismo de resistência, Leonardo é redator do jornal Hora do Povo, assessor na área de comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), além de colaborador do jornal Brasil de Fato. O livro inaugura o selo do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
O lançamento ocorreu em 27 de janeiro durante o Fórum Social Temático, em Porto Alegre (RS). Outro lançamento está marcado para 7 de fevereiro, em São Paulo (SP), a partir das 18:30, na Livraria Martins Fontes (Av. Paulista, 509). O livro pode ser adquirido nas livrarias ou pela internet.
Como Leonardo salienta, sua obra é acima de tudo um livro militante, comprometido com a defesa do Brasil, de seu povo e da classe trabalhadora.
Leonardo, você poderia fazer uma breve apresentação do que os leitores irão encontrar no seu livro?
Leonardo Severo – Latifúndio midiota é um livro que faz uma reflexão sobre os descaminhos e a manipulação da mídia em nosso país. São conglomerados de comunicação que imprimem no inconsciente coletivo uma visão deformada do mundo. Na nossa visão, jogam para cultuar valores egocêntricos e individualistas, banalizando a violência, a mulher e as relações sociais, no sentido de manter a dominação de uma casta – que é o setor financeiro ao qual ela serve. Então, Latifúndio midiota reúne artigos publicados sobre Venezuela, Bolívia, Cuba, Paraguai e sobre o próprio Brasil no âmbito da construção de uma postura mais social e coletivista.
O que na sua experiência como jornalista o levou até a construção dessa obra?
A minha experiência indica que esses artigos que foram publicados na internet mereciam ser melhor trabalhados e debatidos. E que nesse momento de discussão do novo marco regulatório da comunicação era uma oportunidade para debater determinados temas. O livro dialoga com a necessidade de nós fortalecermos o papel protagônico do Estado – na indução ao desenvolvimento, no estímulo à empresa nacional, ao emprego e ao fortalecimento dos salários. Com isso, nós damos visibilidade a análises críticas que não aparecem nos meios de comunicação da grande mídia. O livro é uma forma que eu encontrei de sistematizar essa denúncia e de fazer uma conclamação. É um livro militante.
Qual dos artigos e matérias você destacaria como representativo do livro?
Um dos artigos que eu gosto muito é um no qual eu sistematizei uma visita que fi z à Palestina em 2001, onde me encontrei com [Yasser Arafat (1929-2004), então presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP)]. Na época a ministra de Educação superior palestina, Hanan Ashrawi, falava que as principais vítimas das balas de aço revestidas com borracha dos israelenses eram os olhos das crianças palestinas. O livro traz fotos dessas balas, do que elas faziam no cérebro das crianças. Era uma coisa bastante cínica, que era para cegar e não matar. Isso era o resultado da segunda Intifada do levante popular árabe-palestino. Essa é uma das reportagens que eu acho que dá bastante visibilidade a um tema que é totalmente manipulado pelos grandes meios de comunicação.
Você poderia relatar também alguma matéria brasileira presente no livro?
Uma matéria que nós fizemos sobre o Marcos Antonio Pedro, que foi um indígena de etnia Terena, na cidade de Sidrolândia, no interior do Mato Grosso do Sul, onde ele foi literalmente moído dentro de um frigorífi co avícola da multinacional Cargil. Esse trabalhador foi acusado de ter se suicidado. Ele caiu [em uma máquina] porque não havia as mínimas condições de segurança. A empresa, de uma hora para outra, modificou todo o local do crime. Quando ele caiu, nós temos relatos de que disseram “bom, vamos abrir por baixo [do equipamento] para tentar socorrê-lo”, mas o fiscal da empresa disse: “não, porque isso vai parar a produção”. A partir disso, nós nos dirigimos até a aldeia de onde ele era proveniente. Conseguimos reconstituir as últimas horas [de vida dele] e comprovar que na verdade Marcos tinha um grande apego pela vida. Conversei com a companheira dele, com as fi lhas. Eu tenho um orgulho muito grande do livro porque ele procura abrir espaço aos que não têm voz. (Radioagência NP)
SERVIÇO
Título: Latifúndio midiota: crime$, crise$ e trapaça$
Autor: Leonardo Wexell Severo
Nº de páginas: 136
Preço: R$ 20,00
Reproduzido de Brasil de Fato
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