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quarta-feira, 4 de abril de 2012

"Importa ser misericordioso"...


Não basta ser bom, importa ser misericordioso

Ele não se propôs fundar uma nova religião. Nem pretendeu que as pessoas fossem mais religiosas. Mas o que de fato quis, foi que todos, com a religião ou sem ela, fossem mais humanos, solidários, fraternos, justos, amorosos e misericordiosos

Leonardo Boff
04/04/2012

A Semana Santa nos convida a pensar sobre o sentido maior de nossas vidas à luz daquele que foi radicalmente humano e por isso também divino. Ele não se propôs fundar uma nova religião. Nem pretendeu que as pessoas fossem mais religiosas. Mas o que de fato quis, foi que todos, com a religião ou sem ela, fossem mais humanos, solidários, fraternos, justos, amorosos e misericordiosos.

Para Jesus não bastava ser bom. Tinha que ser misericordioso. Só assim seria plenamente humano. O Deus que anunciava era um Pai bom mas principalmente era um Pai misericordioso. Sentir a dor do outro, abaixar-se até o seu nível e compreender sua vulnerabilidade sem logo julgá-la, constituía a originalidade de sua mensagem.

Ela é atualíssima. Num mundo cruel e sem piedade, onde nações são arrasadas pela voracidade do capital que as mergulha em dívidas, como se faz urgente e necessária esta virtude escandalosa e tão radicalmente humana que é a misericórida.Precisamos trazer de volta a figura do Pai bom mas fundamentalmente misericordioso.

Se há um eclipse da figura do pai na sociedade moderna, há também uma saudade por sua volta, já testemunhada há séculos por Telêmaco, filho de Ulisses, na Odisséia de Homero: “Se aquilo que os mortais mais desejam, pudesse ser conseguido num abrir e fechar de olhos, a primeira coisa que eu quereria, seria a volta do pai”. Curiosamente esta volta é augurada pelo Cristianismo, numa página memorável de São Lucas ao falar da volta do pai ao filho pródigo.

Para compreender esta volta do pai, importa situar a parábola no contexto da prática e da proposta de Jesus. É um dado historicamente assegurado que Jesus circulava entre pessoas de má companhia e que comia com elas. Comer era considerado, para os critérios do tempo, um sinal de amizade. Naturalmente provocava escândalo entre as pessoas piedosas que passavam a criticá-lo.

Por que Jesus assumia um comportamento assim ambíguo? Responder a isso é identificar sua experiência espiritual e sua forma de entender Deus. Jesus experimentou um Deus que é Pai de infinita bondade e que, por isso, assumiu características de mãe: acolhe a todos, a bons e a maus e revela uma misericórdia ilimitada. A forma como Jesus expressa a misericórdia de Deus é ser ele mesmo misericordioso, coerente com o que aconselhava aos outros: “sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso”. Em razão disso, se misturava às pessoas de má fama para que, em contacto com ele, pudessem sentir a misericórdia divina.

Para facilitar a compreensão dos piedosos que se escandalizavam, narra três parábolas: a da moeda perdida, a da ovelha desgarrada e a mais conhecida de todas, a do filho pródigo. Cada parábola termina com estas palavras consoladoras: “alegrai-vos comigo porque encontrei a ovelha desgarrada, a moeda perdida e porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado”.

Precisamos ser duros de coração e faltos de espiritualidade para não apreciarmos essa experiência de Deus como Pai de misericórdia. Como o amor é incondicional, incondicional é também a misericórdia. Nisso a parábola do filho pródigo é explícita. A novidade não reside no fato de o filho voltar ao pai, depois de haver esbanjado tudo e se encher de remorsos e de saudades. A novidade reside no fato de o pai voltar ao filho: ao vê-lo na curva da estrada, o pai corre-lhe ao encontro, lança-se ao pescoço e cobre-o de beijos. Não lhe cobra nada. Ao contrário, prepara-lhe uma festa.

Com isso Jesus quis deixar claro: Deus é um Pai materno ou uma Mãe paterna que sempre volta para os filhos e filhas, por malévolos que sejam, porque nunca lhe saem do coração.

As Igrejas, diferentes de Jesus, raramente se voltam para as pessoas para que façam uma experiência de misericórdia. Antes, continuam a aterrorizar as consciências com as chamas do inferno. Escolhem o caminho do moralismo, reforçando o medo que mantém cativa a liberdade e torna triste a vida.

Jesus mesmo denuncia essa atitude, presente no filho bom que ficou em casa, à sombra do pai. Ele se nega a voltar para o irmão. Quer a observância da norma e a aplicação do castigo. Esse filho bom é o único a ser criticado por Jesus. Para Jesus não basta sermos bons. Importa sempre voltar para o outro e mostrar amor e misericórdia.

Pai e filho voltam um ao outro: fecha-se o círculo e irrompe então a irradiação da plena humanidade.

Reproduzido de Brasil de Fato
04 abr 2012
Via Faceook

quinta-feira, 29 de março de 2012

..."Não façais algo a nosso povo que lhe cause desgraça e que o faça perecer... Vieram fazer as flores murchar"…


Texto relembrado por Denis de Moraes a propósito da partida de Cuba do Sr. Ratzinger em março de 2012, publicado em Koinonia, de autoria de Leonardo Boff. Via Facebook.

“Sobre a Declaração “Dominus Iesus”, documento sobre a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e a doutrina da Igreja. Foi emitido pela Congregação para a Doutrina da Fé, no dia 6 de agosto de 2000, assinado pelo então prefeito da Congregação, o Cardeal Joseph Ratzinger, que se o tornou Papa Bento XVI”. Wikipédia

Joseph Card. Ratzinger: exterminador do futuro?

Leonardo Boff

Quem pretende possuir sozinho a verdade absoluta está condenado à intolerância para com todos os demais que não estão nela. A estratégia é sempre a mesma, em qualquer um destes totalitarismos: converter os outros ou submetê-los, ou desmoraliza-los ou destruí-os. Esse método o conhecemos bem na América Latina. Foi minuciosamente aplicado pelos primeiros missionários ibéricos que vieram ao México, ao Caribe e ao Peru com a ideologia absolutista romana. Consideraram as divindades das religiões indígenas falsas e suas doutrinas pura invenção humana. E os destruiram com a cruz associada à espada.

Os lamentos dos sábios astecas ecoam até hoje:"Dissestes que não eram verdadeiros nossos deuses. Nova é essa palavra, a que falais. Por causa dela estamos perturbados, por causa dela estamos incomodados… Ouvi, senhores nossos, não façais algo a nosso povo que lhe cause desgraça e que o faça perecer… não podemos estar tranquilos" (Miguel León-Portilla, A conquista da América Latina vista pelos indios, Vozes, Petrópolis l987,21-22). Os maias em soluços choravam: "Ai! Entristeçamo-nos porque chegaram (os espanhóis cristãos)…Vieram fazer as flores murchar. Para que sua flor vivesse danificaram e engoliram nossa flor… Castrar o sol. Isso vieram eles fazer aqui… Esse Deus "verdadeiro" que vem do céu só de pecado falará, só de pecado será seu ensinamento. Eles nos ensinaram o medo"(León-Portilla, op.cit. 60-62).

O Cardeal Ratzinger poderá imaginar o que um piedoso presbiteriano, trabalhando no interior da selva amazônica com os indígenas ou um monge taoista, mergulhado em sua contemplação, sentirão quando, num encontro inter-religioso qualquer, se lhes disser que eles não têm fé ou que não são igreja, que em si nada possuem de divino e de positivo, e se o possuem é só por causa de Cristo e da Igreja? Assim humilhados e ofendidos têm motivos para chorar como os astecas e maias. E seu lamento chegará até o coração de Deus que sempre escuta o grito dos oprimidos, sem a mediação desnecessária da Igreja. Mas como são justos e sábios, seguramente, apenas sorirrão face à tanta arrogância, à tanta falta de respeito e à tanta ausência de espiritualidade para com os percursos de Deus na vida dos povos.

Leia o texto completo em português na página de Koinonia clicando aqui.

Joseph Card. Ratzinger: ¿exterminador del futuro? Sobre la Dominus Iesus

Leonardo Boff

Quien pretende tener él solo la verdad absoluta está condenado a la intolerancia para con todos los demás, que no están en ella. La estrategia es siempre la misma, en cualquiera de estos totalitarismos: convertir a los otros o someterlos, desmoralizarlos o destruirlos. Conocemos bien este método en América Latina. Fue minuciosamente aplicado por los primeros misioneros ibéricos que vinieron a México, al Caribe y a Perú con la ideología absolutista romana. Consideraron falsas las divinidades de las religiones indígenas, y sus doctrinas las tuvieron por pura invención humana. Y las destruyeron con la cruz asociada a la espada.

Los ecos de los lamentos de los sabios aztecas resuenan hasta hoy: "Dijisteis que no eran verdaderos nuestros dioses. Nueva palabra es ésa, la que habláis. Por causa de ella estamos perturbados, incomodados… Oigan, señores nuestros: no hagáis a nuestro pueblo algo que le cause desgracia o que lo haga perecer… No podemos quedar tranquilos" (Miguel León Portilla, A conquista da América Latina vista pelos indios, Vozes, Petrópolis l987, 21-22). Los mayas sollozaban: "¡Ay!, entristezcámonos, porque llegaron (los españoles cristianos)… Vinieron a hacer que las flores se marchiten. Para que su flor viviese, dañaron y devoraron nuestra flor… Castrar el sol: eso es lo que vinieron a hacer ellos aquí… Ese Dios "verdadero" que viene del cielo, sólo de pecado hablará, sólo sobre el pecado será su enseñanza. Ellos nos enseñaron el miedo" (León-Portilla, op.cit. 60-62).

¿Podrá imaginar el cardenal Ratzinger lo que un piadoso presbiteriano, trabajando en el interior de la salva amazónica con los indígenas, o un monje taoísta, sumergido en su contemplación, sentirán, cuando, en un encuentro inter-religioso cualquiera, se les diga que ellos no tienen fe, o que no son iglesia, que en sí nada tienen de divino y de positivo, y que si lo poseen es sólo por Cristo y por la Iglesia? Humillados y ofendidos, tienen motivos para llorar como los aztecas y los mayas. Y su lamento llegará hasta el corazón de Dios, que siempre escucha el grito de los oprimidos, sin la mediación innecesaria de la Iglesia. Pero como son justos y sabios, seguramente sólo sonreirán frente a tanta arrogancia, a tanta falta de respeto y a tanta ausencia de espiritualidad para con los caminos de Dios en la vida de los pueblos.

Leia o texto completo em espanhol na página de Koinonia clicando aqui.

domingo, 7 de agosto de 2011

O Tao da Libertação: Mark Hathaway e Leonardo Boff


Fritjof Capra: o Tao da Libertação de M. Hathaway e L. Boff

por Leonardo Boff

30/07/2011

Em 2010 Mark Hathaway e eu publicamos em inglês um livro que nos tomou cerca de 12 anos de pesquisa: ”The Tao of Liberation:exploring the Ecology of Transformation” (Orbis Books, N.Y.) Ele americano-canadense, pedagogo, com vários anos de trabalho no Peru e esperto em astrofísico e cosmologia e eu ecoteólogo. Foram muitos encontros seja no Canadá seja no Brasil. O livro ganhou a medalha de ouro da Fundação Nautilus que premia livros inovadoras em várias áreas do saber. Nosso prêmio foi em “Cosmologia e Nova Ciência”.

Ao ler o manuscrito, Fritjof Capra se entusiasmou tanto que se ofereceu para fazer o prefácio que, como verão, é uma bela peça de reflexão.


O livro sairá nos inícios de 2012 em portugues pela Editora Vozes de Petrópolis. LB

O Tao da Libertação
Explorando a Ecologia da Transformação

Prefácio

(...) "Porque levou tanto tempo para se reconhecer a seriedade do risco à sobrevivência humana? Porque somos tão devagar em mudar as nossas percepções, idéias, modos de vida e instituições, as quais continuam a perpetuar injustiças e a destruir a capacidade do planeta Terra em sustentar a vida? Como impulsionar o movimento pela justiça social e pela sustentabilidade ecológica?

Estas questões são centrais para este livro. Os autores, Leonardo Boff e Mark Hathaway – um do Grande Sul, o outro do Grande Norte – tem refletido muito sobre questões teológicas, de justiça e de ecologia. A resposta deles às questões acima delineadas é que o desafio maior vai além da disseminação de conhecimento e mudança de hábitos.

Todas as ameaças que enfrentamos, na visão deles, são sintomas de uma doença cultural e espiritual afetando a humanidade. Eles afirmam que: “Há uma patologia aguda inerente ao sistema que atualmente domina e explora o mundo”. Eles identificam a pobreza e a desigualdade, o esgotamento da Terra e o envenenamento da vida como os três principais sintomas desta patologia e eles observam que “as mesmas forças e ideologias que exploram e excluem os pobres estão também devastando toda a comunidade de vida do planeta Terra”.

Para superar este estado patológico, os autores argumentam, será necessária uma mudança fundamental da consciência humana. Eles escrevem que “de uma maneira muito real, nós somos chamados a nos reinventar como espécie”. Eles se referem a este processo de profunda transformação como ‘libertação’, na mesma maneira em que este termo é usado na tradição de Teologia da Libertação; quer dizer, no nível pessoal como forma de realização ou iluminação espiritual e no nível coletivo como a procura de um povo de se libertar de opressões.

No meu entendimento, este duplo uso do conceito de ‘libertação’ é o que dá a este livro seu caráter único, permitindo aos autores integrar as dimensões sociais, políticas, econômicas, ecológicas, emocionais e espirituais da atual crise global.

Como Hathaway e Boff dizem no prólogo, O Tao da Libertação é a procura pela necessária sabedoria para efetuar profundas transformações liberadoras no nosso mundo. Se dando conta que esta sabedoria não pode ser encapsulada por palavras, eles decidiram descrevê-la através do uso do antigo conceito Chinês Tao (‘o Caminho’) significando tanto o caminho espiritual do individuo como a maneira de ser do próprio universo. De acordo com a tradição Taoista a realização espiritual acontece quando agimos em harmonia com a natureza. Nas palavras do clássico texto Chinês Huai Nan Tzu: “Aqueles que seguem o fluxo da natureza na corrente do Tao”.

Fritjof Capra

Extraído da página de Leonardo Boff. Leia o prefácio completo clicando aqui.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Leonardo Boff: Não há outra alternativa que o socialismo


"O teólogo ecologista brasileiro Leonardo Boff fala nesta entrevista das contradições dos governos progressistas na América Latina, e assinala que “é importante que os movimentos sociais populares, que têm uma alternativa, uma visão humanista, espiritual, de respeito pelas pessoas, se transformem em um grito de protesto, uma resistência e que não aceitem as soluções que lhes dêem”.

PROJETO CHAKANA

O Eco Teología da Libertação

Enquanto existam pobres, segue vigente a Teologia da Libertação. Mas acrescentamos algo mais, porque a Teologia da Libertação nasceu escutando o grito do oprimido, mas não só os pobres, as mulheres, os indígenas, os afro latino-americanos gritam, senão também grita a Terra, gritam os animais, gritam os bosques. Então, dentro da opção pelos pobres, tem-se que inserir ao grande pobre, que é a Terra. Daí nasceu e segue uma vigorosa Eco Teologia da Libertação, muito largamente difundida como uma das respostas à crise atual, que está por todas as partes do mundo.

O papel do conhecimento indígena

Tenho a idéia, a convicção, de que os povos originários são portadores de uma sabedoria ancestral, de uma maneira de relacionar com a Terra, mas não como um cofre de recursos, nem como algo morrido nem para ser explodido, senão a Terra como pachamama, como mãe, onde nasce a veneração, o respeito, o sentido comunitário da convivência, a produção. Não para o enriquecimento, senão a produção para o necessário, o suficiente para todos. Então aqui há valores que nós, a cultura dominante, perdemos e que os povos originários nos recordam. Por aí passa o futuro da humanidade, da importância de dar-lhes centralidade a eles, os escutar, porque isso nos ajuda a encontrar um caminho que tem futuro.

O legado de Paulo Freire

Para nós não há outro caminho que não seja esse que Paulo Freire nos ensinou com A pedagogia do oprimido. Isto é, no fundo ninguém é pobre. Tudo tem uma riqueza porque a cada pessoa pensa, produz valores, e o pobre não é um pobre, é um oprimido, um fato pobre, um empobrecido. E quando os empobrecidos se reúnem, criam uma força e se fazem sujeitos da sua libertação. Então os pobres unidos fazem um movimento de libertação. Não é o Estado, nem a Igreja, nem as pessoas de boa vontade as que vão libertar aos pobres. São os pobres mesmos, quando elaboram uma consciência, um projeto, se unem, e nós entramos como aliados pela porta de atrás, os apoiando, caminhando juntos. Então Paulo Freire ensinou-nos isso, que eles têm uma força histórica e que eles podem mudar a sociedade, e que nós junto a eles aceleramos esse processo".

Leonardo Boff

Leia a entrevista completa na página do Diário Liberdade clicando aqui.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011


"Homem, de olhar sereno e voz pausada, que fez de sua vocação religiosa uma opção pelos direitos humanos, especialmente os direitos dos pobres e priosineiros da injustiça. Gaillot denuncia o clima de injustiça reinante na França hoje, diz que a Igreja Católica virou às costas para o povo pobre e caminha para virar uma seita, e aponta a América Latina como a região que deve servir de exemplo para os que lutam contra a injustiça.

(...) Evidentemente, a Teologia da Libertação é perigosa para os poderosos. Quando os pobres são submissos aceitam seu triste destino, então não há nada que temer, são pão abençoado para os poderosos. Os detentores do poder podem dormir tranquilos. Mas se os pobres despertam e adquirem consciência de sua condição, convertendo-se em atores da mudança, então isso produz medo no poder".

Monsenhor Jacques Gaillot . França

Leia a entrevista ao Jornalista Hernando Calvo Ospina na Carta Maior clicando aqui.