Na edição do Jornal Nacional de 24 defevereiro de 2012 – um momento marcado pelas ainda recentes ações higienistas de retirada dos chamados “noias” das ruas de São Paulo e Rio de Janeiro –, após uma longa reportagem de sete minutos sobre o crack para discutir a internação compulsória de seus usuários, o âncora William Bonner arrematou, diante das sobrancelhas graves de sua colega Patrícia Poeta: “Todo mundo diz que crack basta experimentar uma vez só e a pessoa fica viciada”.
Infelizmente, Bonner não citou fontes nem apresentou referências. Mesmo com as fantasias apocalíptico-epidêmicas associadas ao crack, ainda assim é necessário corrigir a informação do jornalista e alertar ao leitor que “todo mundo”, nesse caso específico, está errado. Não existe uso de droga sem usuário e sem contexto. Por mais que uma substância possa ter, por sua farmacologia, um maior ou menor potencial para induzir dependência, não existem drogas com propriedades “mágicas”. É a combinação entre a substância, o momento de vida da pessoa e o contexto de consumo que causam ou impedem a adição. Nenhuma droga vicia por si e nem instantemente, e isso vale tanto para o crack e a heroína quanto para uma das drogas de maior potencial de dependência, o tabaco.
A redução da criminalidade em Portugal
É uma tarefa árdua para o jornalista se mover dentro deste campo. Drogas, incluindo o álcool, são um assunto polêmico e complicado, que afeta as pessoas de formas diferentes e envolve campos distintos do conhecimento – Direito, Sociologia, Antropologia, Farmacologia, Neurociências, Psicologia, Religião, Saúde e Segurança Pública – áreas que usam termos mutuamente incongruentes e expressam visões frequentemente antagônicas entre si. Para complicar ainda mais, os jornalistas são uma categoria profissional cujo contato com as drogas legais e ilegais não é, definitivamente, menor do que na população em geral.
A segurança do profissional de imprensa, portanto, diante da dificuldade deste tipo de pauta, do peso do prazo e da necessidade de que a notícia também venda o meio onde ela circula, acaba sendo o lugar onde a classe política viceja diante da questão das drogas: o senso comum. Não ofenda, não contorne, não surpreenda o senso comum: enquanto as pessoas acreditarem que as drogas são um mal em si, mantém-se a zona de segurança.
Em um painel organizado pela Organização Mundial da Saúde em Washington para marcar o Dia Internacional contra o Abuso de Drogas, na terça-feira (26/6), especialistas defenderam as estratégias de redução de danos e até a legalização de substâncias ilícitas como formas de reduzir o impacto social de seu uso. Até onde a imprensa nacional chegará sobre este assunto, além de reproduzir as notas de agências internacionais e mencionar as “campanhas” oficiais? É fato que Portugal tem uma história de já 10 anos de sucesso na redução da criminalidade e do abuso ao tornar o uso de drogas legal. O que ficamos sabendo disso em nosso país? O que ouvimos por aqui do impacto das narcossalas da Europa para usuários de drogas que têm o mesmo perfil de nossos dependentes de crack?
Estimulante cerebral
O que lemos, assistimos ou escutamos são, quase invariavelmente, visitas dramáticas às “cracolândias” reais ou imaginárias e incursões a um único tipo de tratamento – internações compulsórias nas ditas comunidades terapêuticas – cuja efetividade é questionável. Monocordicamente, a imprensa reforça o que todo mundo já pensa sobre o assunto e, colateralmente, além de não contribuir socialmente no debate, capitaliza política e financeiramente pessoas e modelos que estão atrelados a, no mínimo, violações aos direitos humanos, segundo demonstrou um recente relatório do Conselho Federal de Psicologia.
Quando assisti à manifestação de William Bonner em cadeia nacional e horário nobre, fiquei pensando se o âncora dispararia expressões de tamanho senso comum se o assunto fosse, por exemplo, a pena de morte (“todo mundo diz que bandido bom é bandido morto”) ou a conduta de algum político (“todo mundo diz que o deputado fulano é ladrão”). Claro que não – apesar de ser, neurologicamente, um estimulante cerebral, só o crack é capaz de entorpecer a imprensa a esse ponto.
Programas noticiosos na TV brasileira que as crianças assistem: a ridicularização e humilhação dos “entrevistados” como entretenimento
A infeliz matéria da incauta e despreparada jornalista da Band, Mirella Cunha, é uma ponta do iceberg do que mal se revela como a falta do marco regulatório para o setor. Esse mau exemplo de (tele)jornalismo além de ser óbvio descumprimento do Código de Ética do Jornalista que ela e colegas juram defender, é desrespeito às cartas de direitos humanos, claro abuso de poder midiático dos donos dos meios de comunicação e, ostensiva demonstração do que os monopolizadores dos meios da produção das notícias pela televisão prestam como desserviço à nação. Entretanto, eles têm respaldo num consenso.
A começar do nome do programa onde a reportagem é exibida, vê-se o que as grandes redes de televisão "escolhem" ser urgente para o Brasil, e para o telespectador ter conhecimento: a exploração da violência como entretenimento a título de informação. Coube a essa “entrevistadora” a infelicidade de ser a gota d'água que entornou escandalosamente de um oceano de barbaridades do telejornalismo sensacionalista e burlesco. Boris Casoy e Datena que o digam. Ironia do destino e rumo que toma esse tipo de abordagem, também da mesma emissora...
A ridicularização e humilhação dos “entrevistados”, compreendidos como infratores detidos ali na delegacia, não justifica que haja mais violência em cima do suposto delito cometido. Telejornais e telejornalescos chamam de “bandidos” aqueles que, no final das contas, são as vítimas de um sistema econômico que produz a exclusão social e educacional, os marginalizados à beira do caminho da vida com um mínimo de dignidade humana.
Entendido assim, não seria mais apropriado dizer que aqueles que contribuem para esse estado de coisas são os que deveriam ser chamado de malfeitores. Essas pessoas que se mostram de colarinho branco e ternos escuros, ora trajando vestidinhos com decote bem talhado não se associam e são comparsas feitos porta-vozes da “bandidagem” proprietária das mídias eletrônicas? Essência, conteúdo e forma retransmitidos à exaustão por detrás das bancas ou cenários de apresentação das notícias, isso não caracteriza associação criminosa para fins escusos?
Tanto telejornalismo quanto programas de esportes, eleitorais e “noticiosos” não passam pela Classificação Indicativa, que no mínimo poderia diminuir os efeitos negativos que causam às crianças que assistem a esse tipo de programa. Caso do “Brasil Urgente” da Band e programas similares - os noticiosos - são “desclassificados” no duplo sentido: passam na TV em qualquer horário e, se fazem de exemplo do que seja repreensível pela total anti-ética e des-compromisso com o Capítulo V da Comunicação Social da Constituição Federal, Artigos 220 a 224.
Debatida intensamente por alguns setores da sociedade nesses anos recentes, a Classificação Indicativa, marco regulatório para o setor, a outorga, renovação, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão no país encontra poucos defensores para a democratização dos meios de comunicação no Congresso - como a Frentecom - e entre a população em geral, enquanto os donos das grandes mídias fecham trincheiras quase que intransponíveis na perpetuação dessas situações que vão se tornando insustentáveis.
Se consideramos esse tipo de jornalismo uma afronta para com a sociedade, o bom jornalismo e os direitos humanos no país temos de ir à luta contra esse tipo de abuso, relembrando que fazem décadas que a des-regulação e relativa “passividade” dos telespectadores contribui para que esse crime midiático seja cometido todos os dias pela televisão.
Há que se participar mais do debate político e, fazer isso pelas redes sociais pode ser considerado um avanço, quando se escancaram e se dão a conhecer esses casos que ilustram o desrespeito de donos das mídias e maus jornalistas produzindo o anti-jornalismo.
A população não pode mais ser tão conivente com esse tipo de crime que é legitimado pelas infindáveis firulas do debate jurídico que se dá a respeito do que seja liberdade de expressão e comunicação como um direito humano. As urnas e as ruas são outros caminhos de participação e visibilidade dessa insatisfação crescente entre o povo ante os crimes de tortura e terrorismo midiáticos, que deveriam ser inafiançáveis e imprescritíveis, de lesa humanidade. Por não ser de bom senso, aquilo que é "consenso" para os donos das mídias no monopólio da voz nas grandes redes de televisão exige uma postura dos que reconhecem a comunicação como um direito humano. As grandes mídias perderam, há muito, a legitimidade que mantêm à força de maracutaias com outros poderosos da polititica.
Chegará o dia em que veremos nos tribunais e nas cadeias aqueles que perpetraram esses atos contra a população em níveis globais. Exemplos desses crimes temos aos montes pela questionável programação da televisão que existe por aí. Pessoas como aquela jornalista e seus patrões certamente deveriam pensar sobre isso, pois a voz do povo crescendo nas ruas e nas redes vai naquele conhecido dito popular: “aqueles que humilharam serão humilhados”. Essas matérias desclassificadas são apenas pontinhas do iceberg do que vai pelos bastidores da política, das salas de chefes e editores, das salas de aula dos cursos de jornalismo. A sujeira vai mais fundo, mas a mobilização contra isso vai mais forte.
As redes de televisão são apenas “territórios” de impérios de comunicação, informação e entretenimento e, todas competem entre si pela supremacia e liderança do mundo do mercado de verbas publicitárias. Territórios que se alargam aonde chega a audiência. A competição fica apenas por ali. Os impérios se aliam para ditar as regras do jogo do vale tudo na garantia da privatização do setor e dos serviços, no fazer do interesse privado se passando por interesse/necessidade do público e, por isso, longe da interferência do Estado regulador. Regras que querem imexíveis e defendem a unhas e dentes nas amarrações e armações com os seus próprios representantes comerciais se passando também por representantes do povo que os legitimou nessa nossa sociedade democrática pelo voto. Será por isso que acontece o que se dá com cinco reles artigos perdidos, e quase despercebidos e esquecidos pela população/audiência na Constituição Federal?
Como direito humano é luta, e não concessão dos conhecidos podres poderes coniventes com tais crimes, veremos num futuro não muito distante nossa Constituição ser re-evolucionada pela vontade direta do povo nas ruas. Se hoje ela é desrespeitada ao extremo pelos próprios “descendentes” dos constituintes que a criaram, junto com os aduladores e bajuladores da corrupção no mau uso das prerrogativas do cargo público que lhes foi conferido, tenho quase certeza de que os movimentos sociais e populares terão o poder que merecem das mãos do próprio Deus que, no preâmbulo da Carta, certamente não protege os que jurando com uma mão sobre a Carta, com a outra roubam as esperanças do povo de um país chamado República Federativa do Brasil.
Mais além do discurso bonito do ideal do Estado Democrático e de Direito para as massas verem, que a Carta Magna brasileira seja cumprida pela boa-vontade dos que realmente sejam representantes do poder que emana do povo, já farto das falcatruas que abençoa tantos mercadores do voto espalhados pelos corredores, salas e plenários do Legislativo, do Executivo e, quiçá do Judiciário que, em última instância, deveria proteger os direitos conquistados pela população. Nesse quesito, em especial sobre a Classificação Indicativa, o poder Judiciário emperra, e segue na (i)lógica do discurso/sofisma da inviolabilidade da liberdade de expressão e, da censura por regulação. Liberdade, qual e de quem e para quem? Censura, qual e de onde e para onde? Regulação é justamente delimitar onde o direito de um termina onde começa o do outro. Onde o direito que as empresas acham que têm de transmitir lixo pela TV e seus impérios afora toca o direito da sociedade ter reconhecida, e respeitada, a comunicação como um direito humano para o exercício da cidadania em plenitude.
Vamos à luta, que existem muitas batalhas pela frente. Se o telejornalismo e programas noticiosos não têm nenhuma categoria e desinformam do que seja urgente para o Brasil, se os programas esportivos distraem e alienam, se os programas eleitorais iludem e ocultam interesses contrários à democratização dos meios de comunicação, o povo é que ganhará essa guerra. Se os impérios do crime organizado dos donos das empresas de comunicação contra atacam na forma de dissimulação do que seja direito e deveres humanos, a sociedade civil avança passo a passo, voz a voz, ampliando nos canais alternativos e nas frentes aonde exista alguma decência
Que nos cursos superiores onde se formam jornalistas, nas escolas e lares as crianças sejam protegidas do que vem pela programação da TV nesse fogo cruzado de interesses do mercado e de audiência se sobrepondo aos imperativos da ética e dos direitos humanos. Que profissionais, professores e pais, consciente e responsavelmente, cuidem para que a infância e adolescência no mundo seja cuidada naquilo que lhes é negado por irresponsabilidade e malversação dos homens e mulheres em cargos públicos, ou sob as vestes de parda eminência, explorando a fé do povo em um mundo de justiça e equidade, vendidos que são ao deus do dinheiro fácil que lhes enchem bolsos, malas, envelopes, urnas, cuecas ou togas.
Basta de sermos ridicularizados, humilhados e expropriados da vontade que emana das ruas, que esse poder não pode, nem deve estar outorgado à má-vontade dos empodrecidos falsos representantes do povo nas diversas tribunas, tampouco nas mãos das concessionárias do bem público que são os donos das mídias que fazem de lixo a programação no palanque da TV brasileira.
Crianças do mundo inteiro, uni-vos! “Nós precisamos libertar as mídias, e vamos fazê-lo”, afirma Amy Goodman, e eu concordo plenamente com ela.
Leo Nogueira Paqonawta
PS: Um parêntese: (caberia aprofundar nesse caso protagonizado pela cinicamente sorridente jornalista e levantar outras questões tais como: onde foi que essa moça se formou em jornalismo, na UFBA? Se ela tem nível superior, mereceria ter o diploma cassado junto com outros tantos jornalistas que se prestam a esse tipo de atitude? A quantas anda a discussão sobre Ética Jornalística nos cursos de formação de comunicadores sociais e jornalistas? Como e quando as regionais da FENAJ se pronunciarão sobre tal fato? Como o Conselho de Comunicação Social da Bahia vê isso tudo?)
Leia também:
"A repórter loira, o suposto negro estuprador e uma sequência nojenta" no Blog do Rovai (21/05/12) que informa que a Band "vai tomar todas as medidas disciplinares necessárias. A postura da repórter fere o código de ética do jornalismo da emissora", clicando aqui.
“Sete de abril é o Dia do Jornalista”, onde a jornalista Mirella Cunha (Band) é uma das convidadas a falar na “grande oportunidade para os estudantes aprenderem mais sobre a história, a importância e as atividades desenvolvidas no jornalismo”, clicando aqui.
“Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros” clicando aqui.
“Sinjorba envia nota de repúdio sobre programa de TV”, abaixo:
A Presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia enviou nota de repúdio sobre a reportagem da jornalista Mirella Cunha exibida no programa Brasil Urgente, da Band Bahia. Segue a nota:
“A reportagem da jornalista Mirella Cunha exibida no programa “Brasil Urgente”, da Band Bahia, na qual um jovem negro que acabara de ser preso acusado de assalto e estupro é sistematicamente oprimido e humilhado é uma pequena amosta de uma luta dura travada nos últimos anos na Bahia contra o desrespeito constante aos direitos humanos praticados por programas de televisão sensacionalistas que invadem as residências dos baianos, principalmente no horário de meio-dia, expondo corpos de vítimas de homicídio, entrevistas intimidantes com suspeitos de crimes em delegacias, famílias de jovens que sofreram abuso sexual, além de outras formas de violência. Como agravante, a maioria dos casos tratados nestes programas são arquivados por falta de provas. A reportagem da Band Bahia ganhou visibilidade graças à internet, mas inúmeras outras, igualmente terríveis são exibidas a cada dia.
Contra esta prática hedionda vem se manifestando constantemente os sindicatos dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) e dos Radialistas, apoiados fortemente pela Associação Bahiana de Imprensa e Ordem dos Advogados do Brasil. Nem mesmo o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) no Ministério Público, oriundo de representações feitas por estas entidades pareceu adiantar. O fato é que o poder econômico, político e até religioso das emissoras que produzem estes programas é tão grande que nem mesmo uma tentativa da Secretaria de Segurança Pública da Bahia para barrar o acesso destas equipes às dependências das delegacias deu resultado e reportagens como essa ajudaram a eleger um delegado Deraldo Damasceno ao cargo de deputado estadual.
Há cerca de dois anos a Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia vem registrando estes fatos através do Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania da Facom/UFBA, resultando no livro A construção da violência na televisão da Bahia: um estudo dos programas Se Liga Bocão e Na Mira, Ed. Edufba, 2011, de Giovandro Ferreira, Daniella Rocha, Adriana Sampaio e Pedro Caribé.
Em funcionamento desde janeiro deste ano, o Conselho Estadual de Comunicação é a nova instância desta luta, não apenas por ser formado por representantes de entidades envolvidas com estas questões, como também por ser presidido pelo secretário estadual de Comunicação, Robinson Almeida, e também ser integrado pelo secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, Almiro Sena, que já enfrentou esta temática como promotor.
Mas, enquanto os jornalistas não contarem com um Conselho de Classe, os profissionais que não respeitam os direitos humanos mais elementares não poderão ser punidos com moções ou suspensão da atividade, porque, sem esta entidade e sem Lei de Imprensa, cabe à sociedade recorrer aos códigos Civil e Penal. Para quem está a margem desta sociedade, cabe o papel de vítima do mau jornalismo”.
Marjorie Moura
Presidente do Sinjorba
Reproduzido de Correio 24 horas . Blog do Marrom . 22 mai 2012
“Jornalistas da Bahia repudiam atitude da jornalista da Band-BA”, em AL Notícias (22/05/12) clicando aqui. Trecho abaixo:
Carta aberta de jornalistas sobre abusos de programas policialescos na Bahia
“O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.”
Gregório de Mattos e Guerra
Ao governador do Estado da Bahia, Jaques Wagner.
À Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia.
Ao Ministério Público do Estado da Bahia.
À Defensoria Pública do Estado da Bahia.
À Sociedade Baiana.
A reportagem “Chororô na delegacia: acusado de estupro alega inocência”, produzida pelo programa “Brasil Urgente Bahia” e reprisada nacionalmente na emissora Band, provoca a indignação dos jornalistas abaixo-assinados e motiva questionamentos sobre a conivência do Estado com repórteres antiéticos, que têm livre acesso a delegacias para violentar os direitos individuais dos presos, quando não transmitem (com truculência e sensacionalismo) as ações policiais em bairros populares da região metropolitana de Salvador.
A reportagem de Mirella Cunha, no interior da 12ª Delegacia de Itapoã, e os comentários do apresentador Uziel Bueno, no estúdio da Band, afrontam o artigo 5º da Constituição Federal: “É assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. E não faz mal reafirmar que a República Federativa do Brasil tem entre seus fundamentos “a dignidade da pessoa humana”. Apesar do clima de barbárie num conjunto apodrecido de programas policialescos, na Bahia e no Brasil, os direitos constitucionais são aplicáveis, inclusive aos suspeitos de crimes tipificados pelo Código Penal.
Sob a custódia do Estado, acusados de crimes são jogados à sanha de jornalistas ou pseudojornalistas de microfone à mão, em escandalosa parceria com agentes policiais, que permitem interrogatórios ilegais e autoritários, como o de que foi vítima o acusado de estupro Paulo Sérgio, escarnecido por não saber o que é um exame de próstata, o que deveria envergonhar mais profundamente o Estado e a própria mídia, as peças essenciais para a educação do povo brasileiro.
Deve-se lembrar também que pelo artigo 6º do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, “é dever do jornalista: opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos”. O direito à liberdade de expressão não se sobrepõe ao direito que qualquer cidadão tem de não ser execrado na TV, ainda que seja suspeito de ter cometido um crime.
O jornalista não pode submeter o entrevistado à humilhação pública, sob a justificativa de que o público aprecia esse tipo de espetáculo ou de que o crime supostamente cometido pelo preso o faça merecedor de enxovalhos. O preso tem direito também de querer falar com jornalistas, se esta for sua vontade. Cabe apenas ao jornalista inquirir. Não cabem pré-julgamentos, chacotas e ostentação lamentável de um suposto saber superior, nem acusações feitas aos gritos.
É importante ressaltar que a responsabilidade dos abusos não é apenas dos repórteres, mas também dos produtores do programa, da direção da emissora e de seus anunciantes – e nesta última categoria se encontra o governo do Estado que, desta maneira, se torna patrocinador das arbitrariedades praticadas nestes programas. O governo do Estado precisa se manifestar para pôr fim às arbitrariedades; e punir seus agentes que não respeitam a integridade dos presos.
Pedimos ainda uma ação do Ministério Público da Bahia, que fez diversos Termos de Ajustamento de Conduta para diminuir as arbitrariedades dos programas popularescos, mas, hoje, silencia sobre os constantes abusos cometidos contra presos e moradores das periferias da capital baiana.
Há uma evidente vinculação entre esses programas e o campo político, com muitos dos apresentadores buscando, posteriormente, uma carreira pública, sendo portanto uma ferramenta de exploração popular com claros fins político-eleitorais.
Cabe, por fim, à Defensoria Pública, acompanhar de perto o caso de Paulo Sérgio, previamente julgado por parcela da mídia como “estuprador”, e certificar-se da sua integridade física. A integridade moral já está arranhada.
A pesquisa que se segue: “A televisão possibilitando novos olhares no saber – fazer pedagógico” investiga formas de apropriação da televisão como ferramenta pedagógica nas instituições de ensino. O hábito de ver televisão faz parte da cultura atual. Na maioria dos lares brasileiros, estejam eles no ponto mais distante do mapa, a TV está presente entretendo e distraindo as pessoas, e por ser um meio de comunicação tão atraente e popular acaba por interferir no modo de pensar, agir e se relacionar com o mundo. Nesse sentido, o projeto procura mostrar de uma forma atraente, o uso desta tecnologia para promover a aprendizagem de forma crítica e atualizada, já que a grade de programação de todas as emissoras busca tratar de assuntos atuais em seus programas, sejam eles informativos ou de entretenimento. Sendo assim, os meios tecnológicos de comunicação, em especial a televisão, podem ser usados como recurso para educar o olhar, motivar os alunos e transformar as aulas em laboratórios do conhecimento humano e assim contribuir para a formação de cidadãos que conseguem ver além das imagens e participar democraticamente dos processos políticos e sociais do contexto em que está inserido. Para tanto, foi realizado pesquisa de campo em escolas da rede pública estadual de ensino, com aplicação de questionários abertos para alunos e professores. Teoricamente o trabalho se fundamenta no pensamento de autores que há muito tampo se dedicam ao tema como Douglas Kellner, Marcos Napolitano, Pedrinho Guareschi, José Manoel Moram, dentre outros.
Conclusão
Chegando ao fim desse trabalho percebo que muito descobri sobre a televisão e toda a dinâmica que a envolve, porém minhas descobertas são apenas uma pequenina ponta da discussão que não pode ficar engavetada nas escrivaninhas burocráticas das escolas, faculdades e outros órgãos educacionais.
Nesse trabalho pude pontuar fatos e levantar questionamentos pertinentes ao campo comunicacional e educacional, pois acredito que da mesma forma que a escola precisa mudar sua visão em relação a televisão e outras mídias, as emissoras de TV devem se engajar em utilizar esse instrumento tão rico que é a comunicação de massa em benefício da formação de gerações críticas e questionadoras.
Para encaminhar essas mudanças é necessário coragem para debater os meios de comunicação de massa, que hoje são grandes oligopólios a serviço do capitalismo mercantilista. Penso que essa realidade deve ser modificada e acompanho o pensamento de Silverstone (2002), quando este diz que a sociedade precisa se manifestar criando o que pode ser chamado de quinto poder, que seja capaz de controlar o quarto poder - a mídia- que já controla muito bem os outros três.
O papel desse quinto poder seria desafiar, criticar, enfrentar e responder a mídia. Quanto a escola, a responsabilidade dessa instituição vai além da formação intelectual, deve transcender a formação humana e cidadã e alcançar o ápice de uma formação integral do indivíduo, onde este possa contra argumentar e se posicionar-se frente as intencionalidades das mídias, não deixando de assisti-las e participar de suas produções, mas lendo-as de forma crítica, reflexiva e decidindo-se de forma democrática sobre seus valores e contribuições à sociedade.
Sempre é tempo de iniciar um letramento para as mídias, e para essa tarefa obter êxito ninguém pode ficar de fora. A sociedade civil e o poder público devem ampliar seus conhecimentos sobre a mídia eletrônica para junto aos órgãos educacionais buscar formas de democratizá-la.
A obrigação da mídia é defender os interesses do país, e a obrigação da escola é possibilitar as futuras gerações a participação ativa nas mudanças e a compreensão intrínseca desses interesses. Portanto, na sociedade atual, uma não deve caminhar sem a outra do lado.
Conheça o trabalho na íntegra clicandoaqui ou ali.
Carlos Scolari cunhou o termo “hipertelevisão” para classificar a atual etapa deste meio de comunicação em contraponto às fases datadas por Umberto Eco. Ao analisar a história da TV, especificamente na Europa, Eco estabeleceu dois períodos distintos:
1. A “paleotelevisão” vai da década de 1950 até meados dos anos 1970. Trata-se de uma televisão marcada pelo monopólio público e pela mão firme do Estado. É uma televisão tutelada pelo governo, distante do público e com direcionamento pedagógico. Havia poucos aparelhos de televisão e pouquíssimas emissoras. Trata-se da fase da “TV janela” tão citada pelos teóricos de Comunicação. Uma televisão em que as pessoas assistiam, de dentro de casa, o que acontecia no mundo, ou o que se “permitia” que assistissem do mundo.
2. A “neotelevisão” já trata de um período mais recente, indo da segunda metade da década de 1970 até, na visão de alguns autores, o final dos anos 1980. No entanto, boa parte de suas características ainda permanece visível, metamorfoseando-se, adaptando-se e, também, desaparecendo aos poucos. A principal característica da neotelevisão, na Europa, é a desregulamentação do setor, que passa a funcionar num sistema misto público e privado, com uma oferta cada vez maior de novas redes de televisão.
Os horários da programação expandem-se e a televisão passa a aproximar-se de seu público. Ela se apresenta como a principal atração: é a notícia, o espetáculo. A metáfora, agora, é a da “TV espelho”, aquela que se espelha em si mesma e deseja despertar para si o interesse do público. Exibe seus bastidores e finge não ter segredos para a audiência. É nesse período que a televisão tenta descobrir os gostos do telespectador, amplia a presença do entretenimento na programação, desconstrói a linguagem formal e começa a perseguir uma narrativa de interação com a audiência, uma busca da cumplicidade.
[Assista aqui e aquiao vídeo da entrevista com Carlos Scolari.]
A televisão da atualidade
Há diversos autores que anunciam uma “terceira” fase em que a televisão passa a se ocupar não mais do mundo ou de si mesma, mas de seus telespectadores, num ambiente de convergência mediática sob o controle do telespectador. Estafase é exemplificada pelos reality shows, como o Big Brother.
O semiólogo Eliseo Verón é um desses autores. Para ele, há uma mudança de paradigma e, portanto, uma nova etapa. Entre outros aspectos, Verón destaca que nesta fase a programação da TV dá uma oportunidade aos espectadores de decidirem o desfecho dos programas e, pela primeira vez, aqueles assumem um protagonismo na televisão. Esta fase, para Verón, será o desfecho da TV generalista, a morte da televisão como a conhecemos hoje.
Como Verón, outros teóricos tentam apreender e classificar seus novos significados. Ramonet e Piscitelli têm apostado no conceito de “pós-televisão” para definir a fase atual que seria um aprofundamento das características da neoTV, com a progressiva eliminação das fronteiras entre os gêneros. François Jost chama a atenção para o limiar de um novo momento em que imagens reais e fictícias se misturam, apagando as fronteiras que separam os programas da publicidade. Já Carlos Scolari, nosso entrevistado aqui, prefere chamar de “hipertelevisão” o atual estágio.
Para Scolari, o atual estágio da TV não pode ser visto simplesmente como uma sequência linear da história, daí dizer que descarta o conceito de pós-televisão. Para ele, essas mudanças vão muito além de um simples aprofundamento das características da neotelevisão, como dizem os defensores do conceito de “pós-televisão”. Embora a hipertelevisão extrapole as classificações anteriores, também incorpora alguns de seus elementos. Daí, Scolari defender a ideia de que as “fases” não têm fronteiras rígidas.
Um exemplo citado por Scolari como paradigmático da hiperTV é o surgimento, na década de 1980, da americana CNN “con sus propias características, por ejemplo, la polifonía y la fragmentación de la pantalla”, diz, referindo-se às múltiplas mensagens e janelas sobrepostas à tela principal dessa televisão. Uma construção feita a partir do sistema das “janelas” criadas na informática. A hiperTV é uma televisão instalada em uma sociedade em rede, nos termos definidos por Manuel Castells. Para este, a sociedade desloca-se de um sistema de mídias de massa para um sistema multimídia especializado e fragmentado, com audiências segmentadas. “Como o sistema é diversificado e flexível, é cada vez mais inclusivo de todas as mensagens enviadas na sociedade”, garante Castells.
Novo paradigma em construção
Embora a TV que temos hoje ainda preserve muitas das características da neoTV, já podemos reconhecer elementos que se apresentam como o arcabouço de um novo paradigma em construção:
** A interação crescente entre emissor/receptor e receptor/receptor, algo próximo da experiência entre usuários da internet;
** A articulação da TV com outros media interativos;
** O empoderamento do telespectador;
** O uso da interatividade digital para customizar programas, alterando o desfecho destes, como nos videojogos;
** O incremento de novos terminais para assistir TV, como as telas do computador, dos tablets, celulares, consoles de videojogos;
** A possibilidade de acesso a essas plataformas a qualquer momento e em qualquer lugar;
** O modelo da escassez analógica substituído pelo da abundância digital, visível nos milhares de canais produzidos por anônimos e disponibilizados em servidores como o You Tube;
** A prevalência da programação assincrônica, com a oferta de vídeo-on demand (VOD) de programas completos ou de fragmentos, cuja montagem caberá ao telespectador interativo, sobre o modelo de fluxo vertical de programação;
** A flexibilização e a pulverização da fronteira o entre os gêneros informativo e de ficção;
** O fim das fronteiras rígidas entre conteúdo e publicidade, dando origem a novos modelos comerciais, não mais baseados em intervalos publicitários;
** A intensificação dos “macrorrelatos” com expansão das histórias em diferentes e convergentes plataformas;
** A linguagem audiovisual padrão substituída por uma linguagem multimídia transversal, interativa, com estímulo à busca e à navegação;
** A introdução de novas linguagens, fruto da convergência com outras mídias.
Interatividade no telejornalismo
Conectada com outras plataformas e libertando-se, aos poucos, de uma programação “em fluxo” típica da TV tradicional, a hiperTV, segundo Scolari, lança mão de uma narrativa transmidiática. Um exemplo é o da série televisiva Lost, que se expande para videojogos, livros e uma série de outros elementos. Na sua entrevista, Carlos Scolari esclarece que a narrativa transmidiática não se limita à ficção. Está na publicidade e, também, no jornalismo. Neste último aparece nas múltiplas plataformas onde uma notícia pode ser apresentada.
Se isso, em certo limite, já era possível entre as chamadas mídias tradicionais, ganhou novas dimensões na atualidade digital. A notícia pode nascer numa publicação no Twitter ou numa conversa no Facebook, chegar à redação da TV, passar pelo jornal e repercutir em qualquer outro meio, com linguagens, estéticas e narrativas diferentes e complementares. A esta expansão soma-se outro elemento da hipertelevisão que é a colaboração dos usuários na construção do conteúdo, enviando textos, fotos, comentários ou sugestões de pautas. Um trajeto sem fim, onde novas interferências surgem durante o percurso.
É neste ambiente que se reserva um novo papel para o telespectador na televisão atual. Quando o apresentador do telejornal diz que “vamos” saber o que aconteceu, ele está tentando incorporar o público no seu discurso e na sua ação. Ou seja, “vamos saber juntos”. Trata-se de um efeito retórico para simular a participação, garante Carlos Scolari.
Em outro ponto desta entrevista Scolari diz que a televisão tenta simular as novas mídias para ser “o que não é”, ou seja, uma mídia interativa. Questionado se não seria esta busca pela “interatividade” o principal significado da hiperTV, Scolari diz que não. Afirma que são coisas diferentes: a TV interativa está contemplada na hipertelevisão, mas esta é uma classificação mais abrangente. Trata-se de uma televisão mais complexa. Uma TV com um ritmo novo para um telespectador habituado à velocidade dos videojogos e à hipertextualidade da linguagem da internet.
Carlos Scolari fala de seu ceticismo e – até – decepção com as promessas da TV digital terrestre, a TDT. Questiona os mitos em torno desse tema e aponta um dos possíveis motivos para que a interatividade ainda não tenha decolado: os custos econômicos desse formato. Responde se é ou não importante haver interatividade no telejornalismo e se há alguma relação dessa estratégia com o futuro da televisão. Finalmente, destaca uma questão que ainda vai requerer respostas definitivas: como (re)construir a opinião pública e o elo social neste novo mundo marcado pela segmentação de conteúdos e pelas audiências fragmentadas.
Quem é
Carlos Scolari, de 49 anos, é professor da Universitat Pompeu Fabra, na Catalunha, em Barcelona, Espanha. Antes de migrar para a Europa, em 1990, foi professor da Universidad Nacional de Rosário, cidade em que nasceu, na Argentina. Suas investigações no campo da Comunicação concentram-se no impacto da internet sobre os meios de comunicação de massa. Ultimamente, tem-se dedicado à influência dos discursos transmidiáticos na linguagem televisiva, naquilo que ele chama de “ecologia de los medios”. Esta entrevista foi feita no âmbito do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, da Universidade do Minho, em Braga, Portugal.
* Editor do Bom Dia ES (TV Gazeta/Rede Globo), é doutorando na Universidade do Minho, em Braga (Portugal)
"The Grammar of Hypertelevision: An Identikit of Convergence-Age Fiction Television (Or, How Television Simulates New Interactive Media)", 2009, no Journal of Visual Literacy, clicando aqui.
Resumo: The arrival of “new media” such as the Web and multimedia mobile devices is transforming “old media” such as television. If we consider that these new media coexist with the old ones in the same system, then it could be a valid exercise to analyze the contaminations between them. In this article, I analyze the aesthetics of new audiovisual productions-–i.e., the acceleration of rhythm, the multiplication of characters and narrative programs—and the transformations of the television interface in order to identify the pertinent traits of what I define as hypertelevision. The article concludes with a reflection on the simulation of interactive experiences in contemporary television.
Na dramaturgia, jornalismo e entretenimento, emissora direciona sua linguagem e estilo para atingir suas metas de audiência com o apoio da nova classe média nacional
Não é de hoje que a Rede Globo vem moldando sua programação ao gosto da tal nova classe de consumidores brasileiros. A apresentação da grade de programação de 2012 – realizada na noite dessa segunda-feira, 5, para a imprensa e para o mercado publicitário, em São Paulo – não deixou dúvidas de que são esses milhões de brasileiros que influenciarão o estilo, a linguagem e a cara que a emissora adotará nesse e nos próximos anos.
“Os acontecimentos econômicos do Brasil tem de ser levados em consideração quanto montamos a nossa programação. As classes C, D e E, apesar de sempre terem existido, conseguiram, nos últimos anos, ampliar seu potencial de consumo graças a melhoria salarial e uma melhor distribuição de renda. Temos que acompanhar esse processo com a nossa dramaturgia, o jornalismo, o esporte e todo o entretenimento que oferecemos aos espectadores”, explicou o diretor geral da Rede Globo, Octavio Florisbal, durante a coletiva de imprensa no evento.
Uma rápida observação das principais novidades da grade deste ano denotam essa exaltação das classes mais populares. As novas novelas da grade (Avenida Brasil, que substituirá Fina Estampa, Cheias de Charme, que entrará no lugar de Aquele Beijo, as 19h e até mesmo o remake de Gabriela, na faixa das 23h) são recheadas de personagens e cenários bem típicos da maior parte da população de classe média do País. A linguagem dos jornalísticos da casa e das transmissões esportivas também têm a preocupação de serem compreensíveis para todo o grande público. O novo programa da jornalista Fátima Bernardes, que irá ocupar as manhãs da emissora a partir do segundo semestre, também mesclará entretenimento, prestação de serviços e jornalismo, a fim de cativar quem busca informação mas não dispensa um pouco de lazer na telinha.
Esse namoro com a classe C, entretanto, não desvia a emissora dos padrões de qualidade e de excelência profissional que ela sempre pregou. A própria apresentação da grade foi realizada em clima de superprodução, com o elenco da casa se revezando no palco, em uma apresentação para mais de mil convidados – a grande maioria profissionais de agências de publicidade e do mercado anunciante. A classe, aliás, foi bastante homenageada durante o evento. Ao subir ao palco, Fátima Bernardes ressaltou a importância dos profissionais de propaganda na construção da grade, do estilo e da liberdade de expressão da TV Globo. O apresentador Fausto Silva também agradeceu aos publicitários, ressaltando a importância dos programas de auditório. “As pessoas do mercado sabem o quanto uma ação conduzida por um âncora de TV tem de impacto sobre o público. Por isso que sempre me envolvi diretamente com a área comercial, para transmitir essas mensagens da melhor maneira possível”, disse Faustão, em sua participação no evento.
Em busca dos 19 pontos
Uma grade variada, vários astros e estrelas de peso no elenco, investimento na tecnologia de produção e transmissão e a aquisição de importantes produtos para colocar no ar têm um único objetivo: fazer com que o público não troque a programação da Globo por outros canais, pela internet ou por outros afazeres.
Questionado sobre o atual cenário de declínio de audiência na TV Aberta, Octávio Florisbal atribuiu o fenômeno ao crescimento da base de assinantes da TV paga. “Até 2014 devemos ter um total de 25 milhões de lares no Brasil com TV por assinatura. Essas pessoas, que antes não tinham outras opções de canais, hoje já podem escolher muitos outros para assistir. Acredito que seja para esse meio que tenha migrado os nossos 3 pontos de audiência na média geral, que perdemos desde o final da década de noventa, quando saiu o primeiro balanço do Painel Nacional de Audiência”, acredita o executivo.
Para 2012, Florisbal revela que a meta da emissora continuará sendo atingir os 19 pontos na média diária de audiência. No ano passado, a Globo conseguiu chegar somente aos 18. Para concretizar essa missão, além da variedade da programação, a emissora também apostará no aprimoramento tecnologico. A produção de conteúdo para internet e mídia moveis serao prioridade em 2012, bem como a ampliação da emissora na transmissão do sinal digital. Segundo Florisbal, aé 2014, a Globo pretende levar a TV Digital para 70% dos municípios brasileiros.
Em relação à grade, como de costume, a emissora priorizará o atual modelo, com poucas variações em relação ao conteúdo que já está no ar. Entre as novidades estão um novo programa de variedades, que será comandado por Pedro Bial (ainda sem data de estreia definida) e o retorno do humorístico Casseta & Planeta. O Big Brother Brasil, cuja 12a edição ainda está no ar, já tem mais uma temporada garantida em 2013.
A extinção dos infantis
Outro ponto de destaque da coletiva do diretor geral da emissora foi a revelação de que, em 2012, a programação infantil da Globo será praticamente extinta. Como as manhãs da emissora serão preenchidas com o novo programa de Fátima Bernardes, a TV Globinho acabou perdendo seu espaço, ficando somente com uma edição nas manhãs de sábado.
“Internacionalmente, as emissoras de TV Aberta não exibem mais conteudo infantil. Ele está cada vez mais restrito à TV paga, com canais direcionados só para isso. Acreditamos que isso também começará a acontecer no Brasil. Além disso, manter uma programação para crianças é muito complicado, pois ela não dá retorno nem em audiência – uma vez que eles preferem assistir os programas infantis da TV paga – e também não trazem retorno comercial, porque as restrições para publicidade infantil são muito rígidas”, justificou Florisbal. “Certamente, quem irá absorver esse público é o SBT, que já faz, há muitos anos e muito bem, uma programação infantil na TV Aberta”, pontuou Florisbal.
Leia também: "TV para todos", por Alline Dauroiz e Thaís Pinheiro no Estado de SP, clicando aqui: "Há menu para todos os gostos, mas a segmentação perde espaço na TV paga, que se consagra como produto de massa, sendo consumida hoje por 32 milhões de brasileiros".
O Brasil que se vê na TV está restrito ao Rio e à São Paulo, salvo raras exceções. Exibem-se nas novelas e nos telejornais, lindas paisagens e graves problemas urbanos dessas metrópoles para todo o país.
Fico a me perguntar o que interessa ao morador de Belém o congestionamento da Marginal do Tietê, exaustivamente mostrado pelas redes nacionais de TV? Não haveria fatos locais muito mais importantes para a vida dos telespectadores do Pará do que as mazelas da capital paulista?
No entanto, o conteúdo que vai ao ar não é determinado pelos interesses ou necessidades do telespectador e sim pela lógica comercial. Para o empresário de TV local é mais barato e mais lucrativo reproduzir o que a rede nacional de televisão transmite, inserindo alguns comerciais da região, do que contratar profissionais para produzir seus próprios programas.
Para as grandes redes trata-se de uma economia de escala: com um custo fixo de produção, o lucro cresce à medida em que os anúncios são veiculados num número crescente de cidades.
Isso ocorre porque como qualquer outra atividade comercial a lógica do capital é a da concentração, regra da qual a televisão, movida pela propaganda, não escapa. Só que a TV não é, ou não deveria ser, apenas um negócio como outro qualquer.
Por transmitir valores, idéias, concepções de mundo e de vida, ela é também um bem cultural e não uma simples mercadoria. Dai a necessidade de ser regulamentada e ter os seus serviços acompanhados de perto pela sociedade.
Como concessões públicas, as emissoras têm obrigação de prestar esses serviços de maneira satisfatória, atendendo às necessidades básicas de informação e entretenimento a que todos tem direito. Caso contrário, caberiam reclamações, processos e punições, como ocorre em quase todas as grandes democracias do mundo.
Aqui, além de não existirem órgãos reguladores capazes receber as demandas do público e dar a elas os devidos encaminhamentos, não temos uma legislação capaz de sustentar esse processo. Por aqui vale tudo.
E quem perde é a sociedade, empobrecida culturalmente por uma televisão que a trata com desprezo. Diretores de emissoras chegam a dizer, preconceituosamente, que “dão ao povo o que o povo quer”.
Um caso emblemático da falta que faz essa legislação é o da produção e veiculação de programas regionais. Se o mercado concentra a atividade televisiva no eixo Rio-São Paulo, cabe a lei desconcentrá-lo, como determina artigo 221 daConstituição, até hoje não regulamentado.
Sua tramitação é seguidamente bloqueada no Congresso por parlamentares que representam os interesses dos donos das emissoras de TV.
Em 1991 a então deputada Jandira Feghali apresentou um projeto de lei estabelecendo percentuais de exibição obrigatórios para produção regional de TV no Brasil. Doze anos depois, em 2003, após várias concessões feitas para atender aos interesses dos empresários, o texto foi aprovado na Câmara e seguiu para o Senado, onde dorme um sono esplendido até hoje.
São mais de vinte anos perdidos não apenas para o telespectador, impossibilitado de ver o que ocorre na sua cidade e região. Perdemos também a oportunidade de abrir novos mercados de trabalho para produtores, jornalistas, diretores, atores e tantos outros profissionais obrigados a deixar suas cidades em busca de oportunidades limitadas nos grandes centros.
Mas se os interesses empresariais das emissoras bloqueiam esse florescimento artístico e cultural, as novas tecnologias estão abrindo brechas nessas barreiras. O barateamento e a diminuição dos equipamentos de captação de imagens impulsionaram o vídeo popular e a internet vem sendo um canal excelente de divulgação desses trabalhos.
Combina-se a vontade e a capacidade de fazer televisão fora das emissoras tradicionais com a necessidade do público de acompanhar aquilo que acontece perto de sua casa ou de sua cidade.
O que não descarta a necessidade da existência de programação regional nas grandes emissoras, como forma de tornar o Brasil um pouco mais conhecido pelos próprios brasileiros.
Publicado originalmente na Revista do Brasil, edição de fevereiro de 2012.
* sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho
O jornalismo hipócrita da Rede Globo e da mídia nacional
No primeiro dia útil de 2012 a Rede Globo e a mídia brasileira noticiaram – de forma hipócrita – que o Irã, mais uma vez, desafiava o mundo ao fazer testes com mísseis de médio e longo alcance no Estreito de Ormuz, por onde passa a maior parte do petróleo consumido no ocidente, fornecido por monarquias árabes corruptas e subservientes ao imperialismo e ao sionismo.
O “jornalismo” da Globo tenta induzir a opinião pública mundial a apoiar qualquer tipo de ação criminosa por parte dos EUA ou da Otan contra o Irã, para favorecer a política belicista e imperialista dos EUA e racista de Israel.
A imprensa brasileira, na sua maioria, contrata agências de notícias norte-americanas para divulgar informações de países estrangeiros. Ora, as agências de notícias norte-americanas são financiadas pelo governo norte-americano justamente para mentir e enganar a opinião pública mundial. Portanto, a imprensa brasileira compra mentiras e divulga mentiras sendo, portanto, cúmplice de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade.
Os proprietários dos grandes meios de comunicação do Brasil deveriam ser levados às cortes internacionais por associação a crimes de lesa humanidade, por justificar - por exemplo - a guerra ao Iraque, Afeganistão, Líbia, e agora por apoiar guerras na Síria e Irã.
Notícias tendenciosas
Esse conglomerado de empresas que fabricam notícias tendenciosas, que se diz “imprensa livre”, não publica uma palavra sobre os crimes do governo norte-americano na Guerra da Coréia (onde os norte-americanos assassinaram 1 em cada 3 coreanos em 1950, dizimando 1/3 da população daquele país, onde seguem fazendo chantagens e ameaças atômicas, dividindo o país em fazendo da Coréia do Sul um depósito de armas e bombas atômicas).
Nada sobre o assassinato pelos EUA e Otan de mais de 200 mil pessoas na Líbia. Essa pretensa mídia comercial não publica uma palavra sobre as bombas atômicas norte-americanas e suas 965 bases militares construídas para dominar o mundo. Nenhuma palavra sobre as armas químicas e biológicas atualmente desenvolvidas em laboratórios norte-americanos para serem usadas como armas de destruição em massa.
Os ataques diários da mídia ocidental à República Islâmica do Irã tem o único objetivo de incentivar e estimular uma nova guerra para favorecer os interesses mercantilistas de investidores norte-americanos e israelenses (judeus sionistas), detentores da maioria das ações das indústrias bélicas e petrolíferas na Bolsa de Valores de Nova Iorque.
O roqueiro Raul Seixas tinha razão: “Mamãe não quero ler jornais: mentir sozinho eu sou capaz”.