quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A destruição da infância: Vicenç Navarro


A destruição da infância

Está acontecendo algo muito grave que não vem sendo debatido: uma grande deterioração do meio cultural no qual as crianças estão submersas.

Vicenç Navarro (*)

Está acontecendo algo sobre o qual não se comenta muito nos fóruns midiáticos e políticos do país (Espanha), e que está causando impacto enorme na qualidade de vida em nosso presente e em nosso futuro. Estou me referindo à grande deterioração do meio cultural no qual a criança está submersa. Um indicador disso, entre outros, é o mundo midiático ao qual as crianças estão expostas. E não me refiro somente ao número de horas que passam diante da televisão ou de outras mídias de entretenimento, o que continua sendo um problema grave (nos Estados Unidos, onde este tipo de estudo é sistematicamente realizado, o tempo de exposição subiu de uma hora e meia nos anos 1970 para cerca de quatro horas atualmente). Estou me referindo, além do tempo de exposição, à evidente deterioração dos conteúdos de produção midiática. A destruição no conteúdo educativo dos programas televisivos ou dos videogames tem sido eminente, com um aumento notável da promoção do consumismo, do individualismo, da violência, do narcisismo, do egocentrismo e do erotismo como instrumentos de manipulação.

A evidência de que isto se dá dessa maneira é assustadora. Estes conteúdos – que configuram de forma muito negativa os valores sociais – estão espalhados por toda a sociedade, incluindo os adultos. Mas o que é ainda mais preocupante é que muitos desses valores se apresentam com mais intensidade nos programas voltados para o público infantil. E a situação está piorando. Vou me explicar.

Em meados da década de 1970, foi feito um estudo sobre o conteúdo dos programas de televisão para meninos e meninas nos EUA. Foi realizado por pesquisadores da Johns Hopkins University. Nesta pesquisa, constatou-se que a violência, muito generalizada nos Estados Unidos, estava inclusive mais presente, paradoxalmente, na programação infantil. Tal estudo provocou uma revolta considerável naquele país. E fui eu a apresentá-lo no Congresso dos EUA, não enquanto professor realizador do estudo, mas como dirigente da Associação Americana de Saúde Pública (American Public Health - APH, segundo a sigla original), tendo sido escolhido entre o corpo diretivo pelos 50 mil membros dessa Associação.

O Comitê de Assuntos Sociais do Congresso dos EUA organizou uma série de depoimentos para analisar o que estava acontecendo nos programas de televisão orientados para crianças. E convocou uma sessão em que estavam, de um lado, os presidentes das três cadeias de televisão mais importantes do país (CBS, ABC e NBC) e, de outro, o representante da APHA (que era eu). Para sempre me lembrarei daquele momento. Ali estava eu, filho de La Sagrera, bairro popular por excelência de Barcelona, Espanha, com o enorme privilégio (em um país de imigrantes) de representar meus colegas da APHA e defender os interesses da população norte-americana diante de três das pessoas mais poderosas dos EUA, que durante seu depoimento tentavam ridicularizar o meu, alegando que eu estava exagerando quanto ao impacto desses programas nas crianças norte-americanas.

Como não podiam questionar os dados que documentavam a enorme violência dos programas infantis, centravam-se em negar que tiveram impacto nas crianças. Este argumento foi fácil de destruir, com a pergunta que lhes fiz diante do Congresso:

“Se vocês acreditam que seus programas não têm impacto entre as crianças, por que cada anúncio comercial que aparece nestes programas custa quase um milhão de dólares?”. Não responderam. Negar que tais programas tenham um impacto nos espectadores é absurdo. O Congresso dos EUA, por certo, não fez nada, pois não ousava contrariar estes grupos poderosos.

A situação está se deteriorando

E a situação está inclusive pior atualmente. Esta fixação infantil pela mídia audiovisual está amplamente estendida, agora por meio dos videogames, que estão substituindo a televisão. O grau de exposição das crianças aos videogames alcançou um nível que ultrapassa em muito o tempo à frente da televisão. A transmissão dos valores por meio dos jogos eletrônicos, citados anteriormente, é massiva. É o equivalente ao fast food no universo psicológico, cultural e intelectual.

Tanto que, em vários países europeus, se considera proibir a importação de videogames dos EUA (que são extraordinariamente mais violentos), que destroem massivamente meninos e meninas. Acredito que as autoridades públicas espanholas deveriam considerar sua proibição, como já acontece em vários países da Europa.

Porém, para além da destruição que muitos desses videogames provocam na infância, a exposição a essa cultura tira as crianças de outras atividades. Existe evidência de que, quanto maior o tempo dedicado aos videogames, menor é a capacidade de leitura e de compreensão de textos. A leitura de livros – dos clássicos da infância, de Heidi ao Pequeno Príncipe – está diminuindo muito rapidamente. Serei criticado sob a alegação de que este texto denota nostalgia, o que não é certo, pois minha crítica não é ao fato de não lerem esses textos, mas sim à ausência de leitura desse tipo de texto, em que a narrativa conecta o indivíduo com a realidade que o cerca, ajudando a desenvolver uma visão solidária, amável e coletiva da sociedade. Enfatizar a força, o ego, o “eu” e a satisfação rápida e imediata do desejado, sem freios, levará todos nós a um suicídio coletivo.

E me preocupa o fato de que isto já esteja acontecendo. Se desejam ver seu futuro, vão agora aos Estados Unidos e o verão. As mudanças sofridas desde a década de 1980, quando se iniciou o período neoliberal com Reagan e Thatcher, foram enormes. O neoliberalismo, a exaustação ao "êxito" sem freios, ao individualismo, ao narcisismo, ao darwinismo, inundaram todas as áreas da cultura da infância.

As meninas como objeto sexual

Outro elemento da deterioração da cultura infantojuvenil está na reprodução dos estereótipos, por trás da qual há uma relação de poder. Um dos mais marcados é o que reproduz a visão machista da sociedade, apresentando as mulheres como objetos eroticamente desejados, e que, notavelmente, afeta a infância. Essa visão já alcançou dimensões patológicas. Nos países mais machistas (e a Espanha está no topo da lista), a mulher está sempre muito decotada (e cada vez mais) e, se não, vejam os noticiários diários. Por que os homens não vão decotados à televisão quando dão as notícias, mas sim as mulheres?

A imagem erótica, com uma definição de beleza estabelecida pelo homem, está alcançando nível tamanho de exagero, que começa inclusive com as bonecas Barbie. Vários países europeus – como a França – estão pensando em proibir tais tipos de boneca. Está chegando a um nível que exige uma mobilização, protestando contra essa destruição por meio da promoção de valores que são prejudiciais à infância e à população em geral. Espero que o leitor se some a essas mobilizações. Se você ama seu país, sugiro que faça algo. Não deixe que manipulem nem a você, nem a seus filhos, filhas, netos e netas. Indigne-se! Faça algo!

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(*) Professor de Políticas Públicas. Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, e professor da Johns Hopkins University. Site pessoal: www.vnavarro.org

Reproduzido de Carta Maior

26 jan 2014

Leia também:

"A TV psicotizante na globobocalização" (27/01/14) por Leo Nogueira Paqonawta, clicando aqui.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A TV psicotizante na globobocalização


A TV psicotizante na globobocalização

Depois de ver essa fotografia nas redes sociais fui procurar o vídeo com a cena na Internet, achando facilmente no site "gshow" da Globo. Pasmo, fiquei matutando em como o "carrasco" que idealiza e executa esses crimes superou em mau gosto os requintes daquela famosa cena artística do banho da beldade loira de Hitchcock.

Ao mesmo tempo, não há como evitar que venham à mente outras tantas cenas que se relacionam com as estranhices sobre o que a TV e as grandes corporações midiáticas fazem com, e pelo povo: reproduzir cotidianamente a doença que é inoculada pelas janelinhas e mil telas vidiotizadoras produzindo, em série, os vivo-mortos dessa sociedade da chamada Idade Mídia que corrói em trevas, ironicamente disseminada por cabos e tubos que conduzem luz.

Decerto que é assunto para neurocientistas e psiquiatras se debruçarem por décadas a fio, em seus laboratórios, o que as monopolizadas empresas de anti-comunicação em conjunto fazem a partir de seus estúdios, provocando essa epidemia que dis-forma em zumbis des-pensantes o que seriam seres humanos com dignidade e direitos.

Nesse século XX, que ainda não acabou, a Idade Mídia tem muito a ver com a Era de Direitos tão propalada aqui e ali nos cenários nacional e internacional, mesmo que nos meios políticos as políticas públicas sejam tão negadoras do que acolá, na luta cotidiana por um mundo melhor, a sociedade civil e gatos pingados da indignação defendam e promovam os ideais e valores para a construção de uma sociedade de justiça.

Políticos e empresários à soldo do mundo do mercado se sentem acima disso tudo, do bem e do mal, e as discussões sobre regulamentação, qualidade da programação, democratização dos meios de comunicação, direitos humanos e das crianças não afetam em nada a pandemia em curso, bem planejada em conjunto pelos poderosos interesses dos donos das mídias, obviamente orquestrada e afinadíssima com os interesses de quem faz da humanidade gato e sapato.

Desde tempos imemoriais é fato que as classes dominantes continuam atuando com o mesmo roteiro, ainda que os atores e a ribalta nos apresentem um elenco com caras novas, ao gosto de cada época e à moda do apetite da plebe por o que veio a se chamar entretenimento, purgação das culpas da vida desenfreada de prazeres duvidosos de cada um.

A turba insatisfeita com pouco sangue nas arenas levanta ou abaixa o dedo para determinar a vida de quem se digladia até à morte naquilo que chamam de espetáculo. Hoje, entronizam ou execram a mesmice que desfila em todos os canais do Circo Midiático com a idêntica imponência do gesto de césares sanguinários, com o polegar apertando as teclas do controle remoto da arquibancada do sofá almofadado.

Papas, cardeais, bispos e padres cederam sua vez aos megaempresários atuando por suas marionetes que estampam as revistas, assim como dão as caras atrás das telinhas ultra contemporâneas em alguma engenhoca tecnológica de última geração. Pelos altares erigidos na sala, no quarto etc., nos tablets e nos celulares se cultua e se venera o que a deusa platinada santifica.  Agora, são os telespectadores e consumidores dos produtos endeusados dos tempos modernos que absolvem e condenam o que ouvem de pecados e mazelas no confessionário pessoal de cada um.

E, segue dia e noite a ladainha na farsa dos telejornais criando a pauta de discussão nacional pela des-informação hipnotizante, na festança do banquete da dieta informacional de engorda e espalhando o terror e o medo como prestação de serviço indispensável à população que perdeu a noção do certo e errado, do justo e injusto, tantas as falcatruas que permeiam as intenções de jornalistas, repórteres, editores e chefes de redação como prepostos dos interesses dos patrões na ideia hegemônica da anti-comunicação. Claro que regiamente financiados pela propaganda e marketing a serviço e impulsionados pela ideologia opressora disfarçada nas caricaturas.

Até nesses horários dos religiosos se re-produzem o tom dado aos telejornais e programas de auditório, com apresentadores do show de fé dando mais pinta que as macacas de auditório, que aplaudem calorosamente os calouros e veteranos dos púlpitos de todas as crenças como quem se extasiasse se o mar se abrisse para revelar as terras da salvação. Todos famintos e sedentos de uma vida glamorosa além do deserto percorrido das vidas medíocres , que não seria bela se a televisão não lhes prometesse o paraíso das sensações.

Na novena quase infindável das novelas em que a deusa brasileira em favor da globobocalização se tornou referência internacional, toda uma geração se habituou a seguir como vidiota a procissão de estórias chamadas de folhetim, onde se ressaltam capítulo a  capítulo todas as coisas desgracentas e esquisitices próprias da vida humana no rumo desembestado de vivências das paixões, ilusões e desejos. Pelo enredo inteiro perpassa dor, desatino, des-encontro, mal-entendidos em tramas maquiavélicas com suspense de um fim de semana para outro, como ondas trazendo o mesmo lixo do comportamento infeliz de personagens que não se sabe bem influenciando a vida real, ou apenas retratando o que vai no pensamento e sentimento coletivo da humanidade entorpecida.

Por séculos que a literatura e os romances, e décadas que os filmes, novelas e noticiários se edificam sobre essa ideia de colocar dia após dia um tijolinho de infortúnio criando o clima de tensão, terror e medo enquanto os “finais felizes” se dão apenas no final das “obras”, quando terminam. E logo depois se recomeça outra maratona de tristezas diárias. Isso por si só já denota alguma coisa doentia.

E, o resto da programação da TV des-regulada, enquadrada nos moldes do que se quer para o mundo escravizado e doentio, vai contaminando ano após ano desde a criança até o mais idoso dos velhinhos habituados às papinhas indigestas da publicidade dirigida ao público infantil, aos requintes dos temperos de violência adocicada da sociedade embevecida e trôpega, até o soro de mil histórias contadas em gotas incalculáveis injetadas no sangue de quem, no final das contas, não viveu nenhuma daquelas cenas a não ser pelas telas, e não viveu a própria vida, pensante, sonhadora e realizadora de cenas singulares e criativas além do que foi imposto.

Nem precisa se falar aqui do que significam esses programas de reality show em que muitos se comprazem em ficar espiando as bobageiras encenadas por atrizes e piriguetes, atores e modelos, garotões machistas e, às vezes, gays e lésbicas bem comportadinhos conforme quer o contrato que assinam para se exporem ao gosto do voyeur. Perguntemos às crianças nas escolas quem dormiu, e fez o que com quem, debaixo de edredons ou na piscina. Muitas delas sabem mais do que mal imaginamos como professores e professoras mal-amados e des-amantes em nossos sonhos e fantasias eróticas.

O Circo Midiático com seus shows espetaculares, a programação fantástica, o que faz des-pensar os cegos, surdos e mudos refastelados, os obesos do entretenimento que gargalham, choram, devoram as migalhas caídas da mesa dos 1% senhores controladores de tudo e  todos, a-palermados zumbis no drama tragicomédico da doença normotizante.

Desde a invenção desse tipo de imprensa e meios de anti-comunicação temos sido tratados na camisa de força do hospício da vida des-humana, criados à imagem e semelhança das exigências do deu$ monetário exercendo seus plenos poderes para tudo controlar. Nos acostumamos a agir e reagir, apenas dentro das esferas do aceitável nessa lógica escravizante e alienadora desde que um mais espertinho, no meio das massas sem vontade nenhuma, subiu em alguma pedra acima do fogo das cavernas ou numa caixinha de fósforo nos palanques, púlpitos, tribunas, palcos e centros das atenções para atrair a si a má-vontade de todos num discurso manipulador de consciências para que o restante dos 99% da humanidade sempre servisse de pedestal para a fama, eleição, canonização, soberba, arrogância e endeusamento daqueles poucos. A TV nos formata, mais que ninguém, mais que qualquer tirano, para a consagração do Império dos falsos deuses mandando e desmandando sobre a vida dos pobres vidiotas.

Lemos por aí no ciberespaço que a personagem da novela retratada na cena da foto, encarnada pela outra beldade malvada da hora, alcançou índices recordes de público plugado na emissora que a reproduziu, segundo disseram os institutos de pesquisa e verificação de audiência, pelo menos para a cidade de São Paulo. Faz parecer que no resto do país se deu o mesmo.

Todo ano temos essas cenas finais de novelas em que a sociedade se delira com a condenação, perseguição e morte de malvados e malvadas que destilaram fel pela história inteira. Se houve muitos tapas e beijos, corpos desnudos, cenas de sexo e outras de alguma coisa querendo se parecer com politicamente correto, mas indubitavelmente bastante baixaria ao longo da trama, é certa garantia de que a audiência foi conquistada, os anunciantes pensam que comprarão seus produtos, e as emissoras faturam milhões com a contribuição do dízimo dos pagantes. O “carrasco” das novelas - em especial dessa da cena da foto - é apenas mais um dos criadores de ilusão, dos acólitos que em seus estrelismos fazem sua parte na colaboração para ludibriar a massa que finge estar tudo bem no mundo das escolhas pessoais, onde liberdade de expressão se confunde tanto com a velhíssima e velhacas formas opressão re-produzidas pelas mídias 24 horas por dia, e sete dias por semana sem intervalo.

Na sequência da enumeração das artes feita há 100 anos, certamente que à TV cabe o oitavo lugar - mas como anti-arte - pelas anti-maravilhas que produz e re-produz na disseminação da doença ainda não devidamente catalogada em um rol, bem ao lado de itens que descrevessem a patologia com os tiques da histeria coletiva, demência generalizada, boçalidade intermitente, câncer do pensamento, inflamação dos sentidos, vidiotice pura.

Obviamente que há cura para tudo isso, muito mais além do simples desligar a TV ou ficar estropiado e junto a uns poucos na luta que parece interminável pela qualidade de programação, democratização dos meios de comunicação, regulação, classificação indicativa etc. Remendar pano novo nos velhos tecidos desses preciosos sistemas de educação e comunicação que temos tem se comprovado tão ineficaz quanto dar um passo pra frente e dois para trás pelas vias da justiça que não enxerga, não fala e não ouve como ab-surda, ab-muda e ab-cega frente às ações promovidas pela alfabetização des-humana - escolar, midiática  - no beabá da cartilha do consumismo pelos interesses do mercado e dessa economia da selva em que o poder e o dinheiro mandam.

Creio que há que se des-truir tudo isso e re-começar de novo. Como restaurar o bom senso onde o consenso que impera tem essas características psicóticas graves na globobocalização e vidiotização do mundo?

Parece faltar indignação, lucidez, sensatez, responsabilidade, integridade, em suma, sabedoria, onde sobra des-amor e in-felicidade nesse tempo de trevas da “Idade Mídia”. O distúrbio neurótico que padecemos, e agora parece ser social, educacional, cultural, artístico e comunicacionalmente aceito como a coisa mais normal do mundo contemporâneo, ainda vai provocar muita tristeza, terror e guerras em que todos sempre perderemos alguma lindeza dentro e fora de nós.

O esquisito do personagem Norman Bates - de Psicose de Hitchcock - a meu perceber, teria feito muito mais estragos no filme se fosse rodado hoje. Não duvido que sua mãe encalacrada naquele quarto, mortinha-viva da silva, assistisse o dia inteiro, por exemplo, a TV Globo com sua programação e essa novela em especial. Somos todos Ninhos e Césares, acreditando nas palavras de anti-amor da Aline, das TVs, dos meios de comunicação. E daqui a pouco morreremos, de facada, tristeza, ou teremos um AVC. Tudo a ver!

Que pais e irresponsáveis não sub-metam as crianças a esse tipo de programação e, professores, fiquem atentos aos compromissos no campo das relações entre a Educação e Comunicação. As crianças têm direitos e devemos defendê-los, mesmo que não venhamos a dar a mínima para os nossos próprios e des-cumpramos nossos deveres, como o fazem os meios de anti-comunicação.

Quem puder ou querer des-pertar do torpor viciante dessa doença psicotizante e normótica, que o faça logo, e realize com outros indignados os sonhos por uma humanidade para o Bem Viver.

Leo Nogueira Paqonawta
27 jan 2014

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A foto reproduzida nas redes sociais, aqui foi retirada de um site sobre novelas. Apenas a colocamos ali para expressar, no texto, todo nosso repúdio a tudo o que ela apresenta, re-presenta e se e-produz pelas mídias.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Escola: Espaço/Tempo de Des-cobertas Brincânticas


Escola: Espaço/Tempo de Des-cobertas Brincânticas

Querida comunidade escolar do Beatriz,

Desde nossa chegada à Escola, em 30 de maio de 2012, desenvolvemos tarefas gratificantes e prazerosas a partir da Sala Informatizada, quando procuramos dar uma feição a que ela fosse um centro irradiador e agregador das possibilidades de vivências desafiadoras na relação Educação e Comunicação, objetivando a inclusão das pessoas e da Escola em geral de maneira criativa, autônoma e responsável na construção de um mundo melhor.

Além de todas as atividades próprias da Sala Informatizada, como o agendamento de atividades no espaço, auxílio na instrumentalização do uso de equipamentos, orientação nas consultas, elaboração de relatórios etc. também procuramos abri-la e disponibilizá-la - como direito de cada um e de todos - às pessoas que con-vivem na Escola, como funcionários e pais, e também aos alunos durante os horários de recreio e almoço, para que cada vez mais se inteirassem das possibilidades de uso dos recursos digitais na formação pessoal e profissional com finalidades educacionais e também de entretenimento e lazer, bem como para propiciar o desenvolvimento da sensibilidade estética, da crítica embasada no bom senso e propositiva, da ética engajada aos valores humanos, da liberdade de expressão e pluralidade de ideias, sonhos e ideais na ampliação das funções da própria Sala e sua transformação em um Espaço/Tempo de manifestação cultural, artística, comunicacional e educacional.

Essa experiência, muito rica e gratificante, também propôs reflexões sobre o papel do professor responsável pela Sala Informatizada não tão apenas como um “auxiliar de sala”, mas como um “Coordenador Mídia-Pedagógico” que articula com os segmentos da comunidade, e apresenta proposições para a superação de barreiras nessa relação Educação e Comunicação em outros pensares e fazeres para a prática pedagógica colaborando para a plena cidadania de todos, em especial das crianças e adolescentes.

Na ampliação desse papel e da obrigação do coordenador da Sala Informatizada, implementamos o Blog da Escola, aprofundando por esse canal de comunicação uma outra possibilidade de dar a informação sobre os acontecimentos no ambiente escolar em suas múltiplas faces, convidando que os demais profissionais se juntassem na elaboração de um “diário virtual” que não só apenas veiculasse informações sobre as atividades, mas que fosse um ambiente onde os alunos pudessem se expressar pela leitura e escrita, e expressar suas descobertas no percurso dessa jornada de aprendizado tão indissociável de seu próprio protagonismo no estabelecimento do roteiro muito pessoal ou coletivo com os colegas de turma.

Sempre incentivando a participação de todos na apresentação de sua própria maneira de ser, ver, perceber e se expressar, editamos 50 vídeos que estão disponíveis no Youtube e indicados no Blog da Escola e Secretaria Municipal de Educação, além de outros que foram postados no álbum “Vídeos” da página de Facebook e, milhares de outros que registram passagens memoráveis das mil e uma atividades vividas ao longo desses meses.

As dezenas de milhares de fotos postadas na página de Facebook clicaram momentos inesquecíveis que levaremos para sempre nos olhos e na retina espiritual, dizendo do orgulho e alegria, ressaltando nesses instantâneos a alegria dos seres envolvidos nas lições escolares, na concentração e expansão entre o concentrar nos estudos e o expandir nas horas de brincar, nos encontros para discutir e participar das decisões que dão rumo à Escola, e na própria descoberta desse maravilhoso processo individual e coletivo que envolve tantas forças e dedicação, lutas e sofrimentos, dores e amores, interesses e saberes, ilusões e sonhos no que nós mesmos chamamos de Escola como Espaço/Tempo de vivências para a afirmação da (cosmo)cidadania de todos, muito mais que um simples lugar da ação/reação de ensino e aprendizagem.

Nas páginas da Escola nas redes sociais os “cabeçalhos” expressaram cenas desse trajeto, lido e escrito por este profissional e ser humano con-vivendo com o outro, com o diferente, com o singular. Foram 43 fotos de capa/cabeçalho que “catam” e “contam” uma história linda das crianças e jovens, dos pais, familiares e responsáveis, dos funcionários e professores comprometidos com uma Educação de qualidade, humanizadora e “beatrizficada” no sentido de registrar as atividades escolares e extra-curriculares, as cenas do cotidiano escolar na singeleza e espontaneidade dos alunos e alunas, bem como da comunidade escolar no cotidiano dos afazeres.

A Menina Mafalda trouxe o Boi de Mamão, a Maricota e a Bernúncia que des-cobriram tantos personagens que também se reuniram à história, e o passarinho tão vibrante e cantante nos céus e jardins da Escola que se tornou o mascote e símbolo do bem-te-ver e bem-te-querer, re-conhecendo as crianças e jovens como seres capazes de cantar e en-cantar suas próprias histórias nas inumeráveis páginas de um conto com mil e um capítulos de peripécias sem fim no Grande Livro da Vida do Beatriz entre suas gentes, flora e fauna, em palavras e atitudes de bem perceber, bem ver, bem falar e bem ouvir cada voz em sua singularidade. Bem-te-vi... canta do ninho em sua Árvore de Protetor daquela floresta com todas as suas histórias desde tempos imemoriais, desde antes que os primeiros europeus chegaram com suas novidades para poder enriquecer a vida dos que aqui moravam em harmonia com a natureza.

A sugestão do logotipo da Escola também foi percebida, lida e escrita nessa história, que crescendo e amadurecendo nos seus traços vai de “uma escola de leitores” a “uma escola de leitores e escritores”, porque a história e o protagonismo de cada um dos sujeitos na unidade escolar esboçam e desenham, num símbolo, uma ideia e concepção de mundo, que se vai desbravando na medida dos passos que são dados na contínua reflexão e ação na re-leitura e re-escritura das razões da Escola e de cada ser que segue com ela e com todos numa viagem sem fim de des-cobertas e re-velações.

Os suportes da leitura (azul) e da escrita (vermelho) são os mapas traçados e traçando roteiros possíveis e impossíveis nessa viagem maravilhosa e fantástica na realização do sonho de ser criança, adolescente, pai e mãe, de ser profissional que não perde o rumo quando se tem o amor que dá direção à bússola que aponta o rumo para as Estrelas (Cruzeiro do Sul), desde o Pantanal à Via Láctea no nosso bairro galáctico, e além no infinito mar de tudo a ser aprendido, apreendido, vivido, con-vivido nessa e-ternuridade.

A estrelada bandeira brasileira que fora estilizada com os dizeres, nome e cores vermelha e azul do Beatriz que marcou uma simbologia da Escola transformou-se numa proposta que significasse essa trajetória que teve tantas vidas envolvidas nas buscas e entregas pela excelência educacional. Da Bandeira Nacional que também tivera retirado do dístico a expressão “Amor” (por princípio) e deixados a “Ordem” (por base) e “Progresso” (por finalidade), quisemos traduzir novamente esse sentimento que move a todos de mil e uma formas diferenciadas na Bandeira da Escola Beatriz desfraldada no topo dos corações e agitando-se dentro de cada um dos reunidos nessa verdadeira epopeia educacional, dessa verdadeira saga nos mares das compreensões nos caminhos do mundo em que nos co-movemos juntos. Do “Amor” e os compromissos e responsabilidades que decorrem dele, dessa realidade necessária e observável, tangível, cada um dá o que tem, recebe o que pode, vive quem o quer.

Compreende-se aqui o “Amor” como força poderosa de uma Sabedoria Superior - muito mais que a mera realidade eletromagnética - que move e co-move o universo, do micro ao macrocosmo, das partículas subatômicas na sua infinita pequenitude, passando pela corrida de uma única e simples célula em busca de outra para gerar outra vida, às grandezas imensuráveis das galáxias formando cordões de luzes multicores pelos espaços/tempos e além deles. Como Lei da Vida e instinto nos diversos planos de existência e manifestação na matéria, no reino humano se traduz por energia criadora que move ou de-move à harmonia com o cosmo em todas as suas expressões.

Em nosso perceber, Amar e des-amar é questão de escolha, de vontade, de boa-vontade, é questão fundamental para seguir na Educação e na Escola com os pés firmes e decididos a seguirem na rota das harmonizações, com as mãos dispostas a fazer contatos e conexões que estabelecemos em respeito ao outro em sua singularidade, com os corações entre-laçando-se e alinhavando pontos iluminados bordando flores nas vivências em comunhão e alegria com-partilhados de uns para com os outros, alongando os galhos de uma Árvore que tem raízes na Terra e abre os braços aos Céus espalhando perfumes e sementes para que re-nasçam e cresçam outras irmãs em bosques que se ampliam no além. Jardins da Infância dos que se fazem meninas e meninos des-cobridores nessa história de todos nós...

Tudo isso ganhou um significado mais profundo - com um toque de cores douradas - quando descobrimos do aniversário de 50 anos da Escola chegando, convocando a todos para uma reflexão dos passos dados ao longo dessa história, para levantar esforços e voos a ainda mais profundas ou necessárias transformações àqueles que têm o dever de profissionais a defender, proteger e ampliar os direitos das crianças e adolescentes no âmbito das possibilidades a serem dadas e vividas na Escola.

Os desafios para o Bem Viver no mundo contemporâneo são propostos nesse cinquentenário pela própria Vida a convocar para que todos se encontrem na descoberta da plenitude de seus direitos inalienáveis, e na responsabilidade do dever de cada um para que os bem-aventureiros presentes no Barco da Educação continuem sua jornada ampliando roteiros, chamando outros a subirem a bordo, deixando alguns nos diversos portos que dão rumo a vários outros caminhos que se entrecruzam em órbitas de circulares a elipses cada vez mais distantes e abrangentes no universo de infinitas possibilidades de ensino, aprendizagem e, enfim, de descobertas de si mesmo e do outro, dos vários mundos possíveis a bem viver.

As milhares de curtidas, de visualizações, de acessos, de comentários e compartilhamentos, as incontáveis alegrias despertadas, sentidas e vividas na Escola e nas redes sociais são os marcos felizes no roteiro e nas vidas desses descobridores a quem nos juntamos para expressar a gratidão pela acolhida e gentileza com que fomos recebidos na Escola Beatriz.

Nos en-cantos desse mundo real e virtual as cicatrizes também são marcas indeléveis, mas maravilhosas expressões, na pele e no coração, de quem se atreveu a ir com coragem e peito aberto a descobrir nos recônditos de cada ser as feições originais e singulares do Amor que nos une e reúne para amarmos cada vez mais e além de nossas limitações e ignorância, porque como diz o poeta de Itabira das Minas Geraes, “esse o nosso destino: amor sem conta!”

Assim, o dever do “amor sem conta” nos chama, agora, a outras descobertas e possibilidades. E, deixamos essa frota de seres beatrizficados para seguir noutros rumos marcados pelas estrelas coloridas, com a alegria explodindo o peito em mil e uma sementes iluminadas a indicarem portos de chegada e de partidas nessa viagem de infinitudes pela e-ternuridade, sempre bem vendo e bem querendo os outros e a criação.

Agora, outras páginas se abrem brancas, alvas e sorridentes para outros autores escreverem suas vivências, e registrem seus pensamentos e sentimentos, suas percepções que elevem e realcem a dignidade de cada um e de todos nas histórias que podemos relatar como de um diário de Amor que humaniza nossas próprias vidas e nossas relações. Os sonhos mais profundos e belos de cada um podem sobrepujar e deixar no perdão, e no esquecimento, as horas de infelicidades rascunhadas em nossas atitudes e afirmações des-amorosas e des-gentis para com o próximo no Livro da Vida.

Nesse cinquentenário a Era de Ouro do Beatriz chega com renovadas possibilidades e esperanças para que sejam vividas as alegrias mais simples e puras colorindo os peitos em color-ações que abençoem, orientem e inspirem a comunidade escolar à dignidade de seres humanos em sua plenitude. É hora de escolhas, de tomar decisão, é o outro Espaço/Tempo de Des-cobertas e assumir posição de qual lado estamos, seja do lado in-volutivo ou do e-volutivo, momento de aprender a “não andar com os pés no chão” seguindo além de todas as fronteiras, dando vida a tudo com as mãos...

Despeço-me do Beatriz com um aceno de “até breve”, e entrego o leme dessas tarefas das artes e peripécias pelos mil e um re-en-cantos da Escola a outros que venham a apresentar as maravilhosas cenas cotidianas nas suas lindezas, cores e formas tão peculiares, que fazem dessa encosta do Sertão do Pantanal um porto tão cheio de vida e histórias a registrar de maneira indelével dentro do peito.

“Me leva para sempre, Beatriz, me ensina a não andar com os pés no chão”... “para sempre é sempre por um triz” cantam os outros poetas e, assim agradeço a todos e a todas com os quais eu mesmo me descobri mais amoroso e humano nesse percurso que foi de histórias tão lindas, que para sempre levarei em minhas boas recordações em honra e Sabedoria.

Feliz Ano de Novas Dádivas nesse Espaço/Tempo de outras mágicas e transcendentais des-cobertas que chega para todos, e um beijo de profunda gratidão às crianças e jovens tão queridos, aos pais, aos funcionários, aos que são seres lindos dessa história que levarei para sempre dentro do peito.

Despeço-me também com esse vídeo, como uma homenagem a todos os “escolares” entre todas essas lindas histórias, inspirado no Artista que tanto amou ao semelhante, e aquele menino em especial com seu olhar indagador e, com certeza, refletindo o azul dos céus pintados com tanta belezura, à semelhança do pálio aberto em Estrelas que re-evoluciona acima de todas as nossas inquietudes, convidando a que amemos sem conta cada criança e cada jovem, cada pai e mãe, cada tia e tio, avô e avó, cada amigo e cada colega professor nessa história do Beatriz... Noite Estrelada que precede o novo amanhecer...

Obrigado, do fundo de meu coração... alegre, choroso e saudoso...

Das Meninas e dos Meninos de meus olhos uma lágrima cai, por um triz... e, sigo, para sempre beatrizficado...

Mil e um beijos nessa vida com todas as suas belezuras e mensagens...

Leo

Noite de Dia de Reis
06 de janeiro de 2014