sexta-feira, 28 de junho de 2013

FNDC repudia declarações do ministro Paulo Bernardo à revista Veja


FNDC repudia declarações do ministro Paulo Bernardo à revista Veja

Coordenação Executiva do Fórum
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
28/06/2013

Em meio a uma série de manifestações legítimas realizadas pela população brasileira por transformações sociais, o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) continua atuando e contribuindo com a luta pela democratização dos meios de comunicação, pauta expressa continuamente pela população nas ruas. Em todos os estados do país, acontecem manifestações e assembleias populares que expressam o descontentamento do povo com a mídia hegemônica brasileira.

A situação de monopólio das comunicações no Brasil afeta diretamente a democracia nacional, e possibilita que grupos empresariais de comunicação manipulem a opinião pública de acordo com seus próprios interesses. Isto ficou mais do que claro nas últimas semanas: a grande mídia criminalizou os protestos durante as primeiras manifestações e depois partiu para a tentativa de ressignificação dos movimentos, com o objetivo de pautar as vozes das ruas.

Apesar desses fatos, o Ministério das Comunicações insiste em não propor ou apoiar a regulamentação dos meios de comunicação no Brasil. E mais: tem se apresentado como guardião dos interesses dos próprios donos da mídia. A fala do atual ministro, Paulo Bernardo, em entrevista à revista Veja desta semana, é uma afronta aos lutadores históricos pela democratização da comunicação e à população brasileira como um todo.

O ministro valida, na entrevista, a teoria conspiratória de que “a militância pretende controlar a mídia” e, novamente – não é a primeira vez que se vale desse artifício –, tenta confundir o debate da democratização das comunicações ao tratar a proposta popular como uma censura à mídia impressa.

Ora, é de conhecimento público que o projeto de Lei da Mídia Democrática, um projeto de iniciativa popular realizado pelos movimentos sociais para democratizar as comunicações no Brasil, não propõe a regulação da mídia impressa, muito menos a censura. É uma proposta de regulamentação para o setor das rádios e televisões no país para a efetiva execução dos artigos 5, 220, 221, 222 e 223, que proíbem, inclusive, os oligopólios e monopólios no setor. No Brasil, 70% da mídia no Brasil são controlados por poucas famílias, que dominam os meios de comunicação, que são concessões públicas. Dessa maneira, estabelecer normas não é censurar, mas garantir o direito à liberdade de expressão de todos os brasileiros e não apenas de uma pequena oligarquia.

Ao se posicionar contrariamente ao que definiram a nossa Carta Magna e as deliberações das 1ª Conferência Nacional de Comunicação, Paulo Bernardo despreza as vozes que ecoaram em todas as ruas nas últimas semanas e de todo conjunto da sociedade civil de nosso país, que há meses definiu a democratização das comunicações como uma de suas bandeiras principais de luta.

Diante desses acontecimentos, o FNDC vem a público repudiar o posicionamento do ministro e informar que, nesta semana, protocolou mais uma vez um pedido de audiência com a presidenta Dilma Roussef (o primeiro foi enviado em setembro do ano passado), que abriu sua agenda para receber os movimentos sociais brasileiros, para apresentar a campanha “Para Expressar a Liberdade”, o projeto de Lei da Mídia Democrática.

Reproduzido de Clipping FNDC

28 jun 2013

Leia também:

"Veja: Entrevista com Paulo Bernardo - contra dois inimigos sombrios" no Clipping do FNDC, clicando aqui.

"Paulo Bernardo se rende à Veja" (24/06/13), por Altamiro Borges, clicando aqui.

"CUT repudia fala de Paulo Bernardo sobre regulação da mídia" (25/06/13), na página da Central Única dos Trabalhadores, clicando aqui.

"Emir Sader: Governo paga caro por não ter democratizado a mídia" (26/06/13) em Viomundo, clicando aqui.

"A orfandade das derrotas", por Emir Sader (12/08/11) em Carta Maior, clicando aqui.

Pasme com a Veja e o Ministro, clicando aqui.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Ivo Tonet: sobre as atuais manifestações


Sobre as atuais manifestações

Por Ivo Tonet
Professor/ UFAL

1. O pano de fundo

Para compreender o que está acontecendo, atualmente, no Brasil, é preciso voltar um pouco na história. Certamente, é uma situação muito complexa, mas procuraremos sinalizar, aqui, os elementos que nos parecem mais marcantes para entender o processo atual. Em primeiro lugar, a vitória esmagadora do capital sobre o trabalho.

A eclosão da crise do capital, que começou por volta de 1970, encontrou um chão fértil para permitir que este enfrentasse esta crise com uma brutal intensificação da exploração da classe trabalhadora. A intensificação da exploração se deu, de modo prioritário, através da reestruturação produtiva, isto é, da reorganização da produção de modo a permitir a retomada dos lucros do capital. Privatização de empresas estatais, privatização de serviços públicos, aumento do desemprego e do subemprego, precarização do trabalho, intensificação da exploração dos que ainda permaneciam empregados, supressão de direitos duramente conquistados, corte dos gastos públicos e com isso, agravamento dos problemas sociais de toda ordem: saúde, educação, transporte, alimentação, moradia, saneamento, segurança, urbanização, cultura e lazer, devastação da natureza. Tudo deveria ser organizado no sentido de garantir os lucros dos capitalistas nem que, para isso, fosse preciso destruir a humanidade.

Ao mesmo tempo, o Estado foi reorganizado sempre no sentido de favorecer o capital e garantir o controle e a submissão da classe trabalhadora. Nunca, como neste momento, foi e está sendo, tão verdadeira a afirmação de Marx e Engels, no Manifesto Comunista, de que o Estado é “o comitê executivo dos negócios da burguesia”. Umas poucas grandes corporações ditam, utilizando o Estado, as regras de todas as políticas econômicas mundiais.

Em segundo lugar, a perda do horizonte revolucionário. O desmoronamento dos países ditos socialistas pareceu confirmar, empiricamente, a ideia de que o socialismo é impossível. O que se apresentou como socialismo em vez de ser uma sociedade superior ao capitalismo se manifestou, na verdade, como um precário igualitarismo e, ao mesmo tempo, como supressão das liberdades democráticas e cidadãs, como brutal ditadura, como um sistema repressivo, como um Estado todo-poderoso e como um menosprezo pela individualidade. Desde então, o horizonte mais presente é, no máximo, aquele do aperfeiçoamento da atual ordem social.

Mesmo para aqueles que ainda pretendiam construir um mundo melhor, a alternativa, tanto pela via social-democrata como pela via revolucionária resumia-se a atribuir ao Estado a tarefa de dirigir o processo de transformação social. Para isso, seria necessário conquistar o Estado e colocar todos os partidos, sindicatos e movimentos sociais sob a direção desse Estado, supostamente posto, agora, a serviço dos interesses das classes subalternas.

Tudo isso contribuiu para orientar a classe trabalhadora e todos os movimentos sociais no sentido de lutar não contra o capital e contra Estado, mas com o capital e com o Estado no o objetivo de conquistar melhorias pontuais sem nunca colocar em questão a ordem social capitalista.

As ideias de revolução, de socialismo, de superação de toda exploração e dominação do homem pelo homem, de construção de uma sociedade realmente igualitária foram substituídas pelas ideias de reforma, democracia, cidadania, universalização de direitos, melhorias gradativas.

A pressuposição era de que, não sendo o socialismo algo possível, a única alternativa razoável seria o aperfeiçoamento da atual ordem social capitalista.

A enorme maioria dos partidos que se pretendia representante dos interesses da classe trabalhadora foi assumindo esta perspectiva reformista, mesmo quando conservava o nome de comunista ou socialista, contribuindo, poderosamente, para a deseducação da classe trabalhadora e das lutas sociais.


Deste modo, os inúmeros movimentos sociais que surgiram foram vistos ora como substitutos do verdadeiro sujeito revolucionário ora como simples momentos de reivindicação de melhorias pontuais.

Este conjunto de circunstâncias gerou uma ideologia profundamente conservadora e individualista. Disseminou-se a ideia de que esta forma de sociabilidade seria a última (fim da história) e a melhor possível, apesar dos seus defeitos; que ela seria indefinidamente aperfeiçoável; que o sucesso ou insucesso dependeria apenas do esforço individual; um sentimento de impotência diante da solidez do sistema; uma perda de compreensão do processo histórico; um espírito de superficialidade, que leva a ver a história como a repetição indefinida do momento atual; uma fragmentação do conhecimento, que impede a compreensão da realidade como uma totalidade articulada.

Em resumo: as consequências mais importantes de tudo isso foram: a perda do horizonte revolucionário e sua substituição por um horizonte reformista; a descrença na possibilidade de mudar o mundo na sua totalidade e o apego a reformas pontuais; a sensação de impotência diante dos problemas sociais; a ideia de que todas as lutas deveriam confluir para o Estado, ou para tomá-lo e, supostamente, colocá-lo a serviço das classes populares ou para arrancar dele melhorias pontuais; o acento na ação individual e eleitoral em substituição à luta coletiva.

Com tudo isto, no momento de sua crise mais séria (a partir de 1970), o capital vê seu caminho inteiramente livre para enfrentar o agravamento dos seus problemas com a intensificação da exploração da classe trabalhadora de uma maneira incrivelmente brutal. Isto porque o seu adversário histórico – o proletariado – a classe que poderia liderar  a oposição mais consequente ao capital se encontrava ideológica e politicamente desnorteado e desorganizado quando não atrelado ao próprio Estado por obra e graça de partidos, centrais sindicais e sindicatos que se diziam defensores dos interesses da classe trabalhadora. Desamparadas de seu líder natural, as demais lutas sociais, justas e importantes, não conseguem ultrapassar os limites de reivindicações pontuais no interior do capitalismo, confluindo sempre para o Estado. Não há nenhum questionamento mais profundo do capital e do Estado. E já que socialismo é confundido com falta de liberdades democrático-cidadãs, com ditadura, com partido único e todo-poderoso, com supressão de toda propriedade, inclusive a individual, com menosprezo do indivíduo, então sobra apenas a busca do aperfeiçoamento da democracia e da cidadania.

2. A situação atual no Brasil

     No Brasil, a chegada do PT ao poder se deu em meio ao enfrentamento da crise do capital através da reestruturação produtiva e da retomada da ideologia liberal. A aparente oposição deste partido aos interesses do capital gerou uma enorme expectativa de mudanças substanciais. Apesar das alianças problemáticas, o crédito concedido pelas classes subalternas foi enorme.

     Além do mais, o PT carregava consigo a confiança da maioria da classe trabalhadora, da maioria dos outros partidos ditos de esquerda (PCdoB, PDT, PSB) e da maioria dos sindicatos e Centrais Sindicais.

     Uma situação internacional favorável aos países periféricos – já que o foco principal dela estava nos países centrais – permitiu ao governo enfrentar a crise mundial de modo a suavizar os seus efeitos. Contudo, as linhas mestras da política econômica não destoavam do conjunto das políticas mundiais. Todas elas estavam direcionadas no sentido de garantir os interesses do capital descarregando o peso do enfrentamento da crise sobre os ombros da classe trabalhadora e das demais classes populares.

Foi-se gerando, então, a ideia de que esse seria o caminho para a superação dos problemas sociais no Brasil: um pacto entre o capital (representado por parte da burguesia) e o trabalho (representado pela maioria da classe trabalhadora), no qual ambos sairiam ganhando e possibilitaria ao Brasil elevar-se à posição de membro dos países mais desenvolvidos!

No entanto, aos poucos, o caminho ia ficando claro: nenhuma mudança estrutural, apenas a busca de um caminho para a inserção do Brasil na economia mundial do capital em crise profunda. Para isso, continuidade das privatizações (via concessões, parcerias público-privadas, isenções fiscais, mercantilização de tudo, corte dos gastos públicos, privatização de serviços públicos, favorecimento dos interesses privados (bancos, empreiteiras, agro-negócio, montadoras...). Ao lado disso, a montagem de políticas sociais compensatórias (bolsas de diversos tipos), que permitiriam minimizar os aspectos mais gravosos dos problemas sociais.

       O orçamento nacional (tomando como exemplo o de 2012 e assinalando apenas alguns elementos) mostra claramente onde estão as prioridades para a destinação dos recursos públicos: 43,98% para pagamento da dívida pública; 22,47% para previdência social; 10,21% para transferência para Estados e Municípios;  4,17% para saúde; 3,34% para educação, 2,42% para trabalho; 3,15% para assistência social; 0,39% para segurança pública; 0,70% para transporte; 0,01% para habitação; 0,06% para urbanismo; 0,02% pra desportos e lazer 0,04% para energia; 0,05% para cultura.

        Na esfera política deu-se uma completa transformação do PT em um partido típico burguês: sistema de alianças com partidos e grupos sociais conservadores e mesmo reacionários, corrupção, apadrinhamentos, utilização dos bens públicos para fins privados, carreirismo, manipulação das massas com fins eleitoreiros, criminalização das lutas sociais, favorecimento dos grandes grupos empresariais. O PT, que se tinha apresentado como campeão da “ética na política” acabou chafurdando no mesmo lamaçal em que sempre se espojaram todos os partidos políticos. Todos eles utilizando a população apenas como massa de manobra em momentos eleitorais, para depois esquecê-la e buscar apenas a satisfação dos interesses da burocracia partidária e dos seus financiadores.

As consequências disto foram o agravamento dos problemas sociais com o consequente aumento da insatisfação social; o descrédito nas instituições políticas; a despolitização, a alienação e o apassivamento da maioria da população; a confusão ideológica e política; a percepção da enorme desigualdade social, pois enquanto alguns poucos (bancos, empreiteiras, montadoras, agro-negócio, etc) enriqueciam, a maioria da população via aumentar muito pouco a sua participação na riqueza gerada. Tudo isto, ainda, agravado, nos últimos meses, pelo aumento da inflação, pela deterioração nos serviços públicos e por gastos bilionários com a construção e reforma de estádios de futebol.

Como resultado de tudo isto, a violência se tornou cada vez mais presente na vida social, atingindo, embora de modo muito diferente, todas as classes sociais. Os ricos vêem ameaçado o seu patrimônio e os pobres se sentem abandonados pelo Estado, quando não, muitas vezes, eles próprios vítimas da violência do Estado.

Por sua vez, a juventude vê estreitar-se cada vez mais o seu horizonte. Além de sofrer com a deterioração dos serviços públicos, também se vê engrossando cada vez mais um enorme exército de reserva, que dificilmente será absorvido pelo mercado de trabalho.

Ainda mais: a corrosão do nível de vida da classe média aumentou também as suas preocupações e a sua insatisfação. Insatisfação esta que, por um lado se dirige contra a relação entre o alto pagamento de impostos e o que é recebido em troca como serviço público, de péssima qualidade e, por outro lado, contra o que ela vê como favorecimento das classes populares em detrimento de si mesma, interpretando isto como uma política governamental assistencialista que privilegia os que não trabalham.

3. Desdobramentos

Embora pipocassem, aqui e ali, lutas setoriais, nada parecia indicar uma iminente explosão. Mas, a caldeira estava aumentando a sua fervura. A questão do aumento do transporte foi apenas a gota d´água que fez explodir a insatisfação que estava latente.

Surgem, então, as mais variadas reivindicações.

Como resultado de todo o processo acima descrito, não é de admirar que, neste momento, haja uma enorme confusão ideológica e política.

Também não é de admirar que não haja clareza quanto aos objetivos a médio e longo prazo.

Do mesmo modo, não é de admirar que os reacionários e conservadores procurem direcionar esse movimento para seus fins. O surgimento de movimentos fascistas, integralistas, nazistas não é algo estranho a estas situações. Isto já foi visto em outros momentos históricos.

Por sua vez, a rejeição aos partidos é compreensível, embora não justificável, porque a maioria, despolitizada, vê toda atividade partidária pela lente de um sistema político totalmente degenerado. A ampla maioria dos participantes destas manifestações não é nem de esquerda, nem de direita nem de centro. Simplesmente está reagindo motivada por uma insatisfação que, provavelmente, no fundo, tem a ver com a frustração relativa às suas perspectivas de vida. A falta de um maior esclarecimento acerca das causas mais profundas dos problemas sociais pode facilmente tornar essas massas presa de grupos reacionários e/ou de indivíduos “salvadores”.

As classes dominantes, por sua vez, diante do agravamento dos problemas, procurarão, por todos os modos, defender os seus interesses: intensificando a repressão, aumentando as políticas de austeridade, isto é, de exploração do trabalho e a criminalização das lutas sociais.

Mas, em tudo isso, há ainda um elemento profundamente preocupante. A classe operária está praticamente ausente dessas manifestações, pelo menos como classe consciente e organizada. Algumas pesquisas parecem indicar que, entre os manifestantes, encontram-se muitos, especialmente mais jovens, trabalhadores precarizados e desempregados. O fato é que o grosso da classe trabalhadora ainda não entrou em cena. E por essa ausência, como vimos acima, a esquerda (partidos e sindicatos) tem uma enorme responsabilidade.

Vê-se que, mesmo onde esta classe intervém de forma mais expressiva e organizada, como na Grécia, em Portugal, na Espanha, ela não tem um projeto próprio claramente contrário ao capital e ao Estado, projeto este que só poderia ser o resultado de um longo processo de construção. A tônica das reivindicações é, de modo geral, por reformas e por outro tipo de Estado, mais preocupado com as questões sociais.

De modo especial, aqui no Brasil, o atrelamento da classe trabalhadora ao Estado dirigido pelo PT tem um enorme impacto no sentido de enfraquecer e desnortear essas lutas que estão surgindo espontaneamente. Impediu que se formasse a convicção de que a solução dos problemas sociais passa pela superação radical do capitalismo e pela construção de uma sociedade socialista. Infelizmente, a tônica da polarização, por uma grande parte da esquerda, era colocada na contraposição entre PSDB (o caminho do mal) e PT (o caminho do bem) e não entre capital e trabalho.

Acresce a isso o fato de que inclusive partidos e organizações sociais, que se pretendem de esquerda e de oposição, imprimiram ao seu trabalho um forte viés eleitoral. Embora existam, são raras e de expressão ainda bastante reduzida as organizações partidárias e movimentos sociais, que não imprimiram às suas lutas um viés eleitoral. Tudo isso contribui para iludir as massas fazendo-as acreditar que a resolução dos problemas sociais se centra em questões éticas (contra a corrupção, contra a malversação de recursos públicos), administrativas (melhor gestão dos recursos públicos, menor impostos) e/ou políticas (reforma política) passa pela conquista do Estado e por reformas realizadas por ele.

4. Nossas tarefas

Neste momento, agitação (poucas ideias para muitas pessoas) e propaganda (muitas ideias para poucas pessoas) são fundamentais para ajudar na politização, no esclarecimento e na definição dos objetivos. A esquerda terá que se reinventar, deixando de lado sectarismos e vanguardismos, para poder influenciar nos rumos das lutas atuais e futuras.

É importante mostrar às massas a relação entre os diversos problemas setoriais, a natureza do capital e a atual crise a que ele submete a humanidade.

É importante esclarecer que a solução dos problemas não pode ser encontrada dentro do capitalismo; que a resolução dos problemas, que são universais, só pode ser encontrada com a superação radical do capitalismo e a construção de uma sociedade socialista.

Para isso, é importantíssimo explicar o que é socialismo, desfazendo os equívocos em relação aos países ditos socialistas e deixando clara a sua superioridade em relação ao capitalismo.

É importante esclarecer que o problema não é a corrupção (inerente ao capitalismo), nem a “bandalheira” dos políticos (também inevitável), nem a falta de “vontade política” dos governantes, muito menos este governo – cujo núcleo é o PT – (porque todo governo cumpre a função essencial do Estado que é a defesa dos interesses das classes dominantes), mas, que as causas mais profundas se situam na lógica do capital, na exploração dos trabalhadores pelos capitalistas e na existência da propriedade privada.

Como dizia Lenin, é preciso “explicar, explicar e explicar”, sem reducionismos sem sectarismo, sem acusações, mas procurando mostrar a conexão entre as diversas reivindicações e as causas fundamentais dos problemas sociais.

Mas, a tarefa mais importante, é, sem dúvida, contribuir para que a classe trabalhadora volte a assumir o seu lugar como sujeito fundamental das transformações sociais. Ela, porém, só poderá voltar a ocupar este lugar na medida em que se organizar ideológica e politicamente contra o capital e, também, contra o Estado. Considerando o pano de fundo acima descrito e as suas consequências, essa não será uma tarefa nada fácil. No entanto, absolutamente necessária e decisiva. Os exemplos das lutas da chamada “primavera árabe”, das grandes manifestações em vários países da Europa e nos vários tipos de “Occupy” mostram, claramente, que a ausência da classe trabalhadora como sujeito fundamental deste processo, com um projeto revolucionário, impede o avanço das lutas no sentido da resolução radical dos problemas sociais.

Reproduzido de IELA/UFSC

27 jun 2013

Conheça a página e outros artigos do autor clicando aqui.

Lula convoca movimentos sociais para ir às ruas


Lula convoca movimentos sociais para ir às ruas

Em encontro na sede do Instituto Lula, no bairro do Ipiranga, em São Paulo, ex-presidente adotou discurso de líder de massa: disse que é hora de trabalhador e juventude irem para a rua para aprofundar as mudanças, enfrentar a direita e empurrar o governo para a esquerda; foram convidados os grupos Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a União da Juventude Socialista (UJS), o Levante Popular da Juventude e o Conselho Nacional da Juventude (Conjuve)

247 - O ex-presidente Luiz Inácio Lula intensificou os encontros com os movimentos sociais mais próximos do PT para tratar da onda de protestos. A mensagem passada surpreendeu os jovens de grupos como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a União da Juventude Socialista (UJS), o Levante Popular da Juventude e o Conselho Nacional da Juventude (Conjuve). Em vez de pedir conciliação para acalmar a crise no governo Dilma Rousseff, Lula disse que o momento é de “ir para a rua”.

Na última terça-feira, o ex-presidente convidou cerca de quinze lideranças para um encontro na sede do Instituto Lula, no bairro do Ipiranga, em São Paulo. O Movimento Passe Livre (MPL) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto não foram convidados.

“O (ex-)presidente queria entender essa onda de protestos e avaliou muito positivamente o que está acontecendo nas ruas”, disse ao Globo o integrante da UJS, que conta majoritariamente com militantes do PCdoB, André Pereira Toranski.

Segundo um outro líder, ele “colocou que é hora de trabalhador e juventude irem para a rua para aprofundar as mudanças. Enfrentar a direita e empurrar o governo para a esquerda. Ele agiu muito mais como um líder de massa do que como governo. Não usou essas palavras, mas disse algo com “se a direita quer luta de massas, vamos fazer lutas de massas”.

Reproduzido de Brasil 247

27 jun 2013

"É Tua revelação que deslumbra os ofuscados olhos"...


Prosseguindo O Caminho

Célia Laborne Tavares

O místico som de cítara comanda o ritmo interno, talvez o manso ondular do vento, sobre velhas palmeiras, faz aflorar reminiscências de longínquo viver.

No relembrar saudoso, surgiram guirlandas de flores e sinos de templos; as longas vestes de caminhantes, cujos pés, conheceram vales e montanhas, lagos e grutas consagradas, no seu buscar incessante.

No anoitecer, figuras chegaram e imobilizarem-se junto ao rio sagrado, como antenas eretas a pesquisar o céu. Por vezes, ecoaram sons de místicas palavras...

Tudo parecia acordar velhas e perdidas memórias de tempos raros.


No leve acordar impunha-se a necessidade muito urgente, de refazer histórias para dar continuidade ao longo caminho de eras bem remotas. Crescia o dever de entrelaçar etapas, num fluir e refluir da consciência que desperta e se apaga, sucessivamente, até que a luz se imponha definitivamente.

O Portal do passado já não sabe como reter seus mistérios, como esconder o germe da primeira claridade latente. – Que desça a paz sobre os tropeços do caminho, que chegue logo o acordar definitivo, para surpreender as fantasias e simbolismos que compuseram o degrau primário; que a palavra encontre sua correta função. Que possa gotejar, sobre tudo e sobre todos, o crescente irradiar da verdade e da luz que se esforça, agora, para ampliar-se sobre o mundo.

As Verdades grandes como a própria vida, são simples, como a mente do mais simples dos homens. Por isso, às vezes se indagam; - de que reminiscência vem este reconhecimento místico? – De onde crescem as belezas vindas da Luz e do mais profundo e pessoal sentir? São planos que se ligam para se comunicarem; é o humano desmaterializando-se. É como um revoar de asas brancas sobre resplandescente lótus, um cristalizar de pérolas sobre profundas águas. É Tua revelação que deslumbra os ofuscados olhos quando, de outras esferas comandas o transmutar do espírito.

- De que energia cósmica se reveste o Ser, à simples reminiscência dessa elevadíssima vibração?

Recebido via e-mail da autora. Conheça seu Blog "Vida em Plenitude", clicando aqui.

terça-feira, 25 de junho de 2013

A mídia monstra pedagófila


A mídia monstra pedagófila

As “chamadas” durante a programação semanal no canal RBS SC já deixavam entrever o que viria pela frente com a matéria da repórter mirim falando de tendências na moda. Apresentada na noite do domingo dia (Programa Estudio Santa Catarina da RBS TV, madrugada de segunda, 03/06/13), as suspeitas se confirmaram, com a menina arremedando trejeitos das musas apresentadoras globais e catarinenses, entrevistando o que parecia ser dona de butique, ou personal stylist, bem ao gosto do mundo fashion que tem foco na criança como nicho do mercado de consumo, certamente desenfreado.

No final do mês o mesmo programa destaca a referida menina bonitinha opinando sobre o Fashion Kids num shopping center badalado da Ilha de Santa Catarina, evento produzido pela rede de comunicação. Dessa vez o programa destaca também outras crianças sendo maquiadas e se preparando para o desfile na passarela improvisada e espremida entre as escadas rolantes. Pais e presentes espocavam flashes dos pimpolhos sendo conduzidos pra lá e pra cá por moços e moças com ares de modelos fotográficos, enquanto a Mula Sem Cabeça do folclore popular travestida de personagem de campanha paralela da mesma emissora zanzava em volta dos toucadores empoados e do banner do “Educação precisa de respostas”.

Tema de artigos e vídeos indignados daqueles que protegem os direitos das crianças, a outra chamada campanha educativa da RBS TV nesses cenários de estúdio de TV se confundindo com o back stage dos desfiles de moda demonstra muito bem a verdadeira hipocrisia do discurso e da forma com que as mídias hegemônicas e monopólio fortemente protegido por grupo empresarial do sul do país.

Isso que vem pela confusão da doutrina midiática usando as figuras do folclore infantil, além da própria meninada como atrizes e atores de uma farsa educativa, deixa quantos pais, educadores e responsáveis de “antenas ligadas” frente ao ostensivo desrespeito aos direitos das crianças e adolescentes de ambas iniciativas da oligarquia dos donos dos meios de (anti)comunicação e (des)informação?

Nesses casos acima não é só a “educação” quem “precisa de respostas”, senão a própria “comunicação” é quem deve dar satisfação dos golpes que desfere contra a cidadania, contra o direito à informação de qualidade, visivelmente contra os direitos de dignidade de crianças e adolescentes vistos como consumidores mirins, como meninos e meninas no mundo do anti-lúdico mercado da diversão e do infotenimento como meios de desqualificação e negação de sua infância e juventude.

A rede de comunicação sem pé nem cabeça, e certamente sem coração, sabe muito bem o que, e como fazer a confusão dos sentidos, e enquanto enchemos seus bolsos com os rios de dinheiro que circulam nesse mundo de menininhas arremedando “gente grande” irresponsável – da educação e da comunicação – quem sai perdendo são as crianças e adolescentes no meio dessa insanidade a mídia metendo o nariz e a mão onde ela, se entende de tudo, no mínimo deve ser chamada para explicar o que não deve fazer: ser autoritária, mentirosa, abusadora de menores, pedagófila.

Da “comunicação” e suas (a)fundações com campanhas mentirosas, aos "profissionais"  mundo da moda, da propaganda e marketing  exigimos satisfações, porque a “monstra”, folclórica, caricata e abusada é ela. Aos “ansiosos” e "orgulhosos" pais que se extasiam com a criançada pintada como “gente adulta”, parece que deveriam ser, digamos, responsáveis, e responsabilizados pela des-humanidade e des-infancidade que reproduzem para seus filhos e filhas. Haja coração e bom senso, ou falta deles, enquanto tanto disparate é desfilado pelas mídias em suas telas, e na tela da vida...

O dedinho indicador da campanha da RBS TV parece uma bofetada na cara das gentes iludidas desse mundo da coisificação de crianças e adolescentes promovido pelos virtualmente irresponsáveis donos das mídias. Entre tantos mal-feitos e des-entendimentos provocados por eles, e por seus prepostos apresentadores de notititícias deslizando na passarela da farsante tragi-comédia do stand up news nesses dilemas e dramas da vida, qual dedo, enfim, deveríamos lhes apontar?

Haja tarja preta pra rotular essas campanhas e suas arrogâncias para alertar aos "consumidores" desse mundinho apodrecido do que está na moda, na educação e na comunicação.

Tsc... tsc...


Leo Nogueira Paqonawta


Matérias em questão

. Waldir Rampinelli: Prêmio RBS de Educação é propaganda enganosa

SJSC
14 de maio de 2013

Link/Enlace:

. Waldir Rampinelli: Prémio RBS de Educação

IELA
19 de maio de 2013


. Evento de moda traz tendências infantis para SC

Estúdio Santa Catarina
RBS TV
23 de junho de 2013

Link/enlace vídeo:

. A repórter mirim Luísa Bastos confere as tendências de moda para mães e filhas

02 de junho de 2013
Programa Studio SC
RBS TV

Link/Enlace:

Outros vídeo de Luísa Bastos:

1) O Mundo Invisível - Galdino Estúdio
Youtube user galdinoestudioffcb

Frases finais do vídeo:
“Procure lembrar do mundo que só você viu um dia”
“Reencontre o seu eu, volte a ser criança”

Galdino Estúdio parece ser especializado em beldades para o mundo fashion, de crianças e adultos.

2) Natal Havan 2012
Youtube user Lojas Havan
Divulgado pela mãe de Luísa, Youtube Usuário denisembgs

3) Quimby - Summer 2012
Youtube Usuário aldinoestudioffcb

4) Quimby – Coleção de verão
Youtube Usuário Cristina Malhas
Produção de Galdino Estúdio

Divulgado pela mãe de Luísa, Youtube Usuário denisembgs

5) Hello Kitty | Hello Salon S/S 2012
Youtube Usuário Cristina Malhas

Outros vídeos:

. Institucional Cristina Malhas
Youtube Usuário Cristina Malhas

Frases pinceladas do vídeo:

“Valores como ética, excelência, gestão eficaz, inovação, lucratividade, respeito ao meio ambiente e valorização do ser humano são colocados em prática todos os dias na Cristina”.

“(Linha) Quimby, é voltada para a criança moderna, mais que ao mesmo tempo sabe ainda o que é brincar de faz de conta. Sabe que ela pode aquilo que ela quiser enquanto houver imaginação”.

. Tholokko & Tholokka - Winter 2012
Youtube Usuário galdinoestudioffcb
Crianças em situação de “namoro” e super maquiadas

. Primavera Verão 2013 Pakita e Only kids
Youtube Usuário  grupopakita
Crianças em situação de “poses de adultos” e sendo maquiadas

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A mídia (hegemônica) não me apresenta!


A mídia (hegemônica) não me apresenta!

Antes, os donos das mídias colocavam pela boca de seus apresentadores de telejornais que todos os manifestantes ao redor do mundo provocavam tumultos, que a ordem, o progresso e a "república" tinham suas bases abaladas pelos "bandidos" e "desordeiros". Agora, a manipulação midiática segue firme e forte, num discurso estereotipado pelas redes de televisão e comunicação.

Até o patético Jabor capitulou à força da voz das ruas, e os descarados não-anônimos atrás de suas bancas de "notitícias" não conseguem disfarçar o incômodo que sentem com os versos de (des)ordem cantado pelas multidões. Evitam a qualquer custo mostrarem cenas e falas que deixam mostrar a indignação das gentes com o autoritarismo das mídias, em especial da rede globobocalizante.

Além de quererem se apropriar das manifestações para colocar na pauta da discussão nacional a sua "polida" ladainha contra os desafetos políticos, os comentários jocosos pontuados nas edições ordinárias e extraordinárias dos telejornais, e das notícias pelos portais das grandes corporações, os caricatos esgares e trejeitos vidiotizantes dos patetas do falso "stand up news" no estilo de CQC e outras beldades (de)formadoras de opiniões, mostram muito mais que imaginam o (tele)espectador faminto pelo costumeiro terror propalado pelas mídias.

A caricatura das mídias hegemônicas não para por aí!

A "dieta informacional" indispensável do dia - como diz o SBT - vem como pílulas fortificando a questão da "inflação que voltou", que "deve haver transparência da gestão do dinheiro público", - como o Bom Dia Brasil anuncia entre risos sarcásticos e dançantes na cadeira -, e outros comentários do gênero feitos pelos âncoras esfregando uma mão na outra.

O povo nas ruas e as gentes indignadas já não engolem, tão docilmente, a amargura do pão e o frenesi do circo midiático querendo fazer crer que alguns (des)governantes e outros prepostos do poder estão tirando dinheiro da educação, saúde, infraestrutura etc. para, por exemplo, subsidiar as empresas privadas de transporte público na redução das tarifas de preços exorbitantes e qualidade de serviço que deixa muito a desejar.

"Vergonha" mesmo é que(des)governantes e prepostos da "rede polititica" patrocinam - com dinheiro público (leia-se verbas publicitárias) - essas grandes redes hegemônicas de (des)comunicação e prestadoras do des-serviço ao querer vidiotizar as pessoas.

É verdade, as reivindicações vão além dos R$ 0,20 e passam por uma série de questões que mantêm o povo escravizado a um sistema desumano que paga a conta das elites que curtem os (de)formadores de opinião, esses como marionetes dos donos das mídias que são os atrelados e comparsas dos donos do mercado, os bancos que patrocinam telejornais e, que no fundo, são sócios dessas companhias limitadas a destruir o mundo.

As mídias e seus donos que se cuidem, porque se não tiverem como esconder mais a insatisfação generalizada contra seus desmandos, espalhados em cartazes pintados á mão e nas mil e uma manifestações das redes sociais, correrão o risco de que “vândalos” e “desordeiros” invadam suas instalações.

Isso já está quase acontecendo e, finalmente, o povo tomará as mídias, além de tomarem brevemente as urnas para desalojar o que querem quis se legitimar pelo voto. A democracia direta é isso: ruas cheias e manifestantes re-vira-voltando o mundo, armados até o pescoço com a poderosa força de suas vozes indignadas, até há pouco engasgadas com o que de indigesto as mídias querem nos fazer engolir.


O vomitório de manifestantes está aí para abalar a ordem e o progresso falsos em que (des)governantes e prepostos, os apresentadores e âncoras de telejornais tinham em suas cadeirinhas frágeis.

A mídia (hegemônica) não me apresenta, nem me representa!
Democratização dos meios de comunicação pelo povo, já!

Paqonawta

PS: Pergunta que só o PHA conversando afiadíssimo saberia responder, via Stanely Burburinho.... cadê o MotoSerra no meio disso tudo? (21/06/13)

domingo, 16 de junho de 2013

Todo poder emana do povo, e por ele deve ser exercido!





Resposta ao video de Arnaldo Jabor contra as manifestações pelo transporte no Brasil





Manuel Castells analisa as manifestações em São Paulo

Sociólogo espanhol, Manuel Castells esteve no Fronteiras do Pensamento 2013 para a conferência Redes de indignação e esperança, homônima à sua mais recente obra, a ser lançada no Brasil em setembro (editora Zahar). Em São Paulo, no preciso momento de sua fala no Teatro Geo (11/06), a Avenida Paulista era espaço de tensão entre a polícia militar e os manifestantes contra o aumento das passagens de ônibus. Questionado pelo público sobre o que estava acontecendo na cidade, Manuel Castells respondeu:

Todos estes movimentos, como todos os movimentos sociais na história, são principalmente emocionais, não são pontualmente indicativos. Em São Paulo, não é sobre o transporte. Em algum momento, há um fato que traz à tona uma indignação maior. Por isso, meu livro se chamaREDES de indignação e de esperança. O fato provoca a indignação e, então, ao sentirem a possibilidade de estarem juntos, ao sentirem que muitos que pensam o mesmo fora do quadro institucional, surge a esperança de fazer algo diferente. O quê? Não se sabe, mas seguramente não é o que está aí. Porque, fundamentalmente, os cidadãos do mundo não se sentem representados pelas instituições democráticas. Não é a velha história da democracia real, não. Eles são contra esta precisa prática democrática em que a classe política se apropria da representação, não presta contas em nenhum momento e justifica qualquer coisa em função dos interesses que servem ao Estado e à classe política, ou seja, os interesses econômicos, tecnológicos e culturais. Eles não respeitam os cidadãos. É esta a manifestação. É isso que os cidadãos sentem e pensam: que eles não são respeitados.

Então, quando há qualquer pretexto que possa unir uma reação coletiva, concentram-se todos os demais. É daí que surge a indicação de todos os motivos - o que cada pessoa sente a respeito da forma com que a sociedade em geral, sobretudo representada pelas instituições políticas, trata os cidadãos. Junto a isso, há algo a mais. Quando falo do espaço público, é o espaço em que se reúne o público, claro. Mas, atualmente, esse espaço é o físico, o urbano, e também o da internet, o ciberespaço. É a conjunção de ambos que cria o espaço autônomo. Porém, o espaço físico é extremamente importante, porque a capacidade do contato pessoal na grande metrópole está sendo negada constantemente. Há uma destituição sistemática do espaço público da cidade, que está sendo convertido em espaço comercial. Shopping centers não são espaços públicos, são espaços privados organizando a interação das pessoas em direção a funções comerciais e de consumo. Os cidadãos resistem a isso.

Veja que interessante é o caso da Praça Taksim e do Parque Gezi, em Istambul. Há meses, eles estão protestando contra a destruição do último parque no centro histórico da cidade, onde seria construído um shopping center, um complexo dedicado aos turistas, que nega aos jovens o espaço que poderiam ter para se relacionar com a natureza, para se reunir, para existir como cidadãos. Portanto, é a negação do direito básico à cidade. O direito, como disse Henri Lefebvre, de se reunir e ocupar um espaço sem ter que pagar, sem ter que consumir ou pedir permissão a autoridades. Por isso, tenta-se ultrapassar a lógica da liberdade na internet à liberdade no espaço urbano.

Eu não posso opinar diretamente sobre os movimentos que estão acontecendo neste momento aqui em São Paulo, mas há algumas características de tentar manifestar que a cidade é dos cidadãos. E este é o elemento fundamental em todas as manifestações que eu observei no mundo.

O que muda atualmente é que os cidadãos têm um instrumento próprio de informação, auto-organização e automobilização que não existia. Antes, se estavam descontentes, a única coisa que podiam fazer era ir diretamente para uma manifestação de massa organizada por partidos e sindicatos, que logo negociavam em nome das pessoas. Mas, agora, a capacidade de auto-organização é espontânea. Isso é novo e isso são as redes sociais. E o virtual sempre acaba no espaço público. Essa é a novidade. Sem depender das organizações, a sociedade tem a capacidade de se organizar, debater e intervir no espaço público.

Reproduzido de Fronteiras do Pensamento

15 jun 2013

terça-feira, 4 de junho de 2013

Projeto Criança Pequena em Foco: Vamos ouvir as crianças?


Vamos ouvir as crianças?

Crianças entre 4 e 12 anos podem ajudar a formular políticas públicas? Não só podem como devem. E se alguém tem alguma dúvida de como ouvi-las neste processo de escuta, o projeto Criança Pequena em Foco, do Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip) dá boas pistas. Ao longo de 2012, cerca de 100 crianças das favelas Santa Marta, Babilônia e Chapéu-Mangueira, localizadas no Rio de Janeiro, foram convidadas a participar de diferentes oficinas para retratarem as comunidades e identificarem as necessidades locais, auxiliando assim a construção de políticas públicas.

As dinâmicas foram sistematizadas e reunidas na publicação “Vamos ouvir as crianças?” que acaba de ser lançada pelo Cecip. O livro divulga as metodologias utilizadas nas oficinas. “A publicação surge no contexto da iniciativa Cidade Amiga da Criança do Unicef, que defende que o respeito aos direitos das crianças nas cidades passa por incluir sua participação no planejamento e execução de ações a elas destinadas. O Projeto Criança Pequena em Foco também acredita nessa ideia e esse caderno é uma ferramenta que convida órgãos públicos e organizações não-governamentais, escolas e organizações comunitárias a incluir nas suas práticas a escuta das crianças. Seria um desperdício não aproveitar sua criatividade, imaginação e desejo de contribuir com o diagnóstico e com a solução para os problemas que afetam a todos”, destaca Moana Van de Beuque, coordenadora do Projeto Criança Pequena em Foco.

A obra traz os detalhes de cada uma das dez oficinas realizadas: confecção de crachás, leitura do livro crianças como você; brincadeira lugares da comunidade; jogo os caminhos das crianças; como se brinca na rua?; mapa afetivo; linha do tempo; o que é bom e o que é ruim na sua comunidade?; vídeo jornal das crianças; e passeio fotográfico. “A metodologia não é um camisa de força para a elaboração das oficinas, mas uma referência, apenas. A partir das experiências dos facilitadores e das características de cada grupo, novas propostas serão construídas e adaptadas, em um aprendizado constante. A metodologia apresentada também pode servir de inspiração para que outros temas e questões sejam trabalhados e pesquisados com crianças”, destaca trecho da obra.

Faça o download do livro.

Reproduzido de Revistapontocom
30 mai 2013