quinta-feira, 29 de março de 2012

..."Não façais algo a nosso povo que lhe cause desgraça e que o faça perecer... Vieram fazer as flores murchar"…


Texto relembrado por Denis de Moraes a propósito da partida de Cuba do Sr. Ratzinger em março de 2012, publicado em Koinonia, de autoria de Leonardo Boff. Via Facebook.

“Sobre a Declaração “Dominus Iesus”, documento sobre a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e a doutrina da Igreja. Foi emitido pela Congregação para a Doutrina da Fé, no dia 6 de agosto de 2000, assinado pelo então prefeito da Congregação, o Cardeal Joseph Ratzinger, que se o tornou Papa Bento XVI”. Wikipédia

Joseph Card. Ratzinger: exterminador do futuro?

Leonardo Boff

Quem pretende possuir sozinho a verdade absoluta está condenado à intolerância para com todos os demais que não estão nela. A estratégia é sempre a mesma, em qualquer um destes totalitarismos: converter os outros ou submetê-los, ou desmoraliza-los ou destruí-os. Esse método o conhecemos bem na América Latina. Foi minuciosamente aplicado pelos primeiros missionários ibéricos que vieram ao México, ao Caribe e ao Peru com a ideologia absolutista romana. Consideraram as divindades das religiões indígenas falsas e suas doutrinas pura invenção humana. E os destruiram com a cruz associada à espada.

Os lamentos dos sábios astecas ecoam até hoje:"Dissestes que não eram verdadeiros nossos deuses. Nova é essa palavra, a que falais. Por causa dela estamos perturbados, por causa dela estamos incomodados… Ouvi, senhores nossos, não façais algo a nosso povo que lhe cause desgraça e que o faça perecer… não podemos estar tranquilos" (Miguel León-Portilla, A conquista da América Latina vista pelos indios, Vozes, Petrópolis l987,21-22). Os maias em soluços choravam: "Ai! Entristeçamo-nos porque chegaram (os espanhóis cristãos)…Vieram fazer as flores murchar. Para que sua flor vivesse danificaram e engoliram nossa flor… Castrar o sol. Isso vieram eles fazer aqui… Esse Deus "verdadeiro" que vem do céu só de pecado falará, só de pecado será seu ensinamento. Eles nos ensinaram o medo"(León-Portilla, op.cit. 60-62).

O Cardeal Ratzinger poderá imaginar o que um piedoso presbiteriano, trabalhando no interior da selva amazônica com os indígenas ou um monge taoista, mergulhado em sua contemplação, sentirão quando, num encontro inter-religioso qualquer, se lhes disser que eles não têm fé ou que não são igreja, que em si nada possuem de divino e de positivo, e se o possuem é só por causa de Cristo e da Igreja? Assim humilhados e ofendidos têm motivos para chorar como os astecas e maias. E seu lamento chegará até o coração de Deus que sempre escuta o grito dos oprimidos, sem a mediação desnecessária da Igreja. Mas como são justos e sábios, seguramente, apenas sorirrão face à tanta arrogância, à tanta falta de respeito e à tanta ausência de espiritualidade para com os percursos de Deus na vida dos povos.

Leia o texto completo em português na página de Koinonia clicando aqui.

Joseph Card. Ratzinger: ¿exterminador del futuro? Sobre la Dominus Iesus

Leonardo Boff

Quien pretende tener él solo la verdad absoluta está condenado a la intolerancia para con todos los demás, que no están en ella. La estrategia es siempre la misma, en cualquiera de estos totalitarismos: convertir a los otros o someterlos, desmoralizarlos o destruirlos. Conocemos bien este método en América Latina. Fue minuciosamente aplicado por los primeros misioneros ibéricos que vinieron a México, al Caribe y a Perú con la ideología absolutista romana. Consideraron falsas las divinidades de las religiones indígenas, y sus doctrinas las tuvieron por pura invención humana. Y las destruyeron con la cruz asociada a la espada.

Los ecos de los lamentos de los sabios aztecas resuenan hasta hoy: "Dijisteis que no eran verdaderos nuestros dioses. Nueva palabra es ésa, la que habláis. Por causa de ella estamos perturbados, incomodados… Oigan, señores nuestros: no hagáis a nuestro pueblo algo que le cause desgracia o que lo haga perecer… No podemos quedar tranquilos" (Miguel León Portilla, A conquista da América Latina vista pelos indios, Vozes, Petrópolis l987, 21-22). Los mayas sollozaban: "¡Ay!, entristezcámonos, porque llegaron (los españoles cristianos)… Vinieron a hacer que las flores se marchiten. Para que su flor viviese, dañaron y devoraron nuestra flor… Castrar el sol: eso es lo que vinieron a hacer ellos aquí… Ese Dios "verdadero" que viene del cielo, sólo de pecado hablará, sólo sobre el pecado será su enseñanza. Ellos nos enseñaron el miedo" (León-Portilla, op.cit. 60-62).

¿Podrá imaginar el cardenal Ratzinger lo que un piadoso presbiteriano, trabajando en el interior de la salva amazónica con los indígenas, o un monje taoísta, sumergido en su contemplación, sentirán, cuando, en un encuentro inter-religioso cualquiera, se les diga que ellos no tienen fe, o que no son iglesia, que en sí nada tienen de divino y de positivo, y que si lo poseen es sólo por Cristo y por la Iglesia? Humillados y ofendidos, tienen motivos para llorar como los aztecas y los mayas. Y su lamento llegará hasta el corazón de Dios, que siempre escucha el grito de los oprimidos, sin la mediación innecesaria de la Iglesia. Pero como son justos y sabios, seguramente sólo sonreirán frente a tanta arrogancia, a tanta falta de respeto y a tanta ausencia de espiritualidad para con los caminos de Dios en la vida de los pueblos.

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