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domingo, 25 de novembro de 2012

"En el medio digital" por Gisela Busaniche no Canal Encuentro


En el medio digital

Gisela Busaniche
Canal Encuentro

Una producción de Canal Encuentro sobre cómo los medios de comunicación construyen su versión de la realidad. Bajo la conducción de Gisela Busaniche, cada programa profundiza un panorama mediático diferente.

Con la llegada de Internet a las familias, se crea un nuevo hábito: mirar videos, chatear y bloguear por Internet. Hoy, el lector que lee un diario en Internet puede dejar un mensaje, responder una idea, ser parte de la noticia. La agenda va cambiando y hay muchas noticias que circulan primero por la Web y después llegan a los diarios.

¿Cómo se preparan el periodismo y los medios de comunicación para insertar a estos internautas? Los blogs se multiplican y el periodismo se democratiza. Los fotologs crean nuevas tribus urbanas. La Web cambia la vida cotidiana, y al periodismo también.

El recorrido de las redacciones, las características de cada género y las entrevistas a periodistas, editores y directores acercan al espectador al detrás de escena de la noticia y proponen una lectura reflexiva de los medios y el periodismo.

¡Los esperamos!

Los invitamos a sumarse al Facebook de la TV Pública.

Reproduzido de Facebook Programa 678
25 nov 2012





segunda-feira, 7 de maio de 2012

A mídia, a direita e o jornalismo de esgoto


A mídia, a direita e o jornalismo de esgoto

José Dirceu
Correio do Brasil
05/05/2012

Ao ler a Carta Capital que está nas bancas neste sábado sinto-me com a alma lavada. Não só pela capa, brilhante, que coloca a foto de Robert Civita com o título “Nosso Murdoch (vocês vão ver logo o porquê), mas pela profundidade e pertinência, pela forma inteligente como coloca o debate sobre a questão da mídia e do jornalismo no Brasil.

Começo por uma citação de Lorde Puttnam, membro do Partido Trabalhista inglês e que foi presidente da comissão do Parlamento que analisou a Lei de Comunicação de 2003. Não vou transcrever todo o artigo, publicado originalmente no The Observer, sob o título Pelo bom jornalismo , que merece ser lido por todos os que têm interesse no fortalecimento da democracia brasileira.

Lorde Puttnam escreve exatamente sobre como os políticos transformaram-se em reféns de uma mídia que, praticando um tipo de jornalismo de esgoto, graças à fragilidade da regulação e à tibieza dos próprios políticos, acabaram facilitando o trabalho de Murdoch e fortalecendo a direita.

Dois trechos do artigo de Lord Puttnam

O primeiro, que situa o problema: “Nos últimos 30 anos o império Murdoch tentou minar e desestabilizar governos eleitos e reguladores independentes, em nome de uma agenda política que, enquanto se ocultava por trás da cortina de fumaça da ortodoxia do livre-mercado, não é nada menos que uma tentativa sofisticada de maximizar o poder e a influência da News Corporation e sua agenda populista de direita”.

O segundo, onde buscar a solução: “Eu afirmaria que a lei da concorrência, em um setor ágil como a mídia, deve ser capaz de levar em conta e fazer julgamentos com base em um domínio do mercado “altamente provável”, assim como “real”. Isso exige uma clara estrutura regulatória que incentive e na verdade permita o florescimento da pluralidade da mídia. Não podemos, por exemplo, legislar pelo bom jornalismo, mas podemos legislar pelas condições sob as quais o melhor jornalismo é nutrido e sustentado. Podemos criar estruturas em que cada nova tecnologia se torne um incentivo à diversidade, e não um instrumento de sua erosão”.

Os esgotos, lá e aqui

O texto de Lord Puttnam é o coroamento da edição que Carta Capital faz envolvendo os escândalos da mídia lá e aqui. Lá, o assunto está em andamento. Não adiantou Murdoch fechar seu jornal de fofocas, o News of the World. Ele foi obrigado a prestar um depoimento de 10 horas devido ao chamado inquérito Levenson (utilização ilegal de escutas telefônicas). No depoimento saíram comprometidas figuras como os ex-secretário de estado para a Cultura, Jeremy Hunt, o ex-primeiro ministro Tony Blair, assim como os atuais primeiros ministros da Inglaterra, David Cameron, e da Escócia, Alex Salmond. Não é pouca coisa!

Aqui, em reportagem de Cynara Menezes, com o título Os desinformantes, explica-se, afinal, por que a capa com Roberto Civita como o “nosso Murdoch”. A reportagem traz à luz as engrenagens de um sistema em que a revista de maior circulação do país se prestou a promover os interesses do bicheiro Carlos Cachoeira. Traz, de forma mais esmiuçada, o que já mostramos aqui: a troca de telefonemas entre o chefe da sucursal da revista em Brasília e a turma de Cachoeira; como se montaram reportagens de capa como aquela de 31 de agosto de 2011 em que se pretendeu juntar minha imagem à de um mafioso, com minha foto e o título O poderoso chefão; a entrevista nas páginas amarelas com o senador Demóstenes Torres, ação dentro da estratégia de transformá-lo, quem sabe, em ministro do STF (sic); e como Cachoeira era transformado pela revista em um verdadeiro pauteiro e editor: além de indicar os conteúdos de notas e reportagens, era consultado também sobre onde deveriam ser publicadas, se na coluna Radar, ou então na Veja.online ou, quem sabe e outro espaço mais ‘nobre’…

Um ‘olho’ revelador

Ao lado da reprodução da capa com minha foto e da abertura da entrevista de Demóstenes Torres, a edição de Carta Capital traz o seguinte ‘olho’: “Denúncias sem sustentação serviram para acuar os adversários do esquema criminoso”.

A frase em destaque explica minha alma lavada. Até agora nenhuma publicação jornalística havia feito a relação. Para mim, que tenho uma história de militância política de esquerda, que tenho uma vida pública e um patrimônio moral a defender – minha própria vida –, é importante que a verdade apareça no ambiente do jornalismo, que tem suas técnicas e sua ética própria, que só pode prestar o serviço à sociedade quando exercita a busca pela verdade.

Veja, um caso sério. Mas não único

Complementa o foco da edição de Carta Capital nos problemas da mídia e do jornalismo brasileiros os textos do editor especial da revista publicado sob o título Veja, um caso sério, e o editorial de Mino Carta, que pergunta: “Por que a mídia nativa fecha-se em copas diante das relações entre Carlinhos Cachoeira e a revista Veja?” (leia a íntegra)

O próprio Mino responde: porque o jornalismo brasileiro sempre serviu à casa-grande, mesmo porque seus donos moravam e moram nela. Quanto a isso, ninguém precisa se perder em explicações mais detalhadas.

Mas até quando continuará assim? Os parlamentares que integram a CPMI podem ajudar a jogar luz nos mecanismos de como a mídia e a direita (que, não por acaso, se confunde com os moradores da casa grande) se servem do mau jornalismo para esconder a verdade. E podem começar convocando a direção da Veja para explicar como foi armado o conluio com a turma de Carlos Cachoeira. Será um bom começo para se pensar sobre o que e como fazer para, a exemplo do que diz Lorde Puttnam na Grã Bretanha, criar por aqui também “uma clara estrutura regulatória que incentive e na verdade permita o florescimento da pluralidade da mídia”.

Reproduzido de Correio do Brasil
5 maio 2012

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Folha de São Paulo: Audiência e falta de anunciantes reduzem os infantis globais


Audiência e falta de anunciantes reduzem os infantis globais

Anna Virginia Balloussier*
Folha de S. Paulo
De São Paulo
08/04/2012

Querida, encolheram as crianças. Na TV aberta, ao menos, a programação para essa faixa etária ficará em breve mais "baixinha".

A Globo, que já colocou em sua linha de frente programas como "Vila Sésamo" e "Xou da Xuxa", argumenta agora que a grade infantil não dá nem audiência, nem receita publicitária. E decidiu acabar com os 60 minutos diários dedicados à criançada.

Com os desenhos "Homem de Ferro" e "Bob Esponja", a "TV Globinho" sairá das manhãs de segunda a sexta -continua aos sábados, com "Sítio do Picapau Amarelo" e "Turma da Mônica".

Abre espaço para o programa de Fátima Bernardes, que deve estrear no segundo semestre, vizinho ao Ana Maria Braga. É comum que "Globinho" empate com "Hoje em Dia", feminino da Record.

A Globo diz seguir tendência internacional: deixar os pequenos para a TV paga. Seria um espaço menos sujeito a controle externo, como classificação indicativa, sugerida pelo governo, e proibições à publicidade infantil (como limite à propaganda de alimentos e ao uso de desenhos para "seduzir" o público-alvo).

Dos dez canais por assinatura mais assistidos em fevereiro, quatro eram para menores -campeão (Discovery Kids) e vice (Cartoon) inclusos.

"O segmento infantil está na TV paga porque lá não tem censura nem restrição à propaganda", diz à Folha Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação.

CADA UM NO SEU GALHO

As crianças ainda veem TV, como prova o "boom" de canais pagos. A Globosat se prepara o lançamento do canal Gloob. Na "Globo mãe", afirma Erlanger, "não estamos deixando de fazer programação que interesse à criança, mas que interesse apenas à criança".

Para especialistas, a Globo largou o osso justamente por falar a um público genérico demais. Ex-secretário do Audiovisual (em 2010), Newton Cannito diz que "a programação precisa ser muito segmentada dentro do próprio segmento". Pais com filhos de várias idades sabem direitinho do que ele está falando.

"São diversas faixas etárias que concorrem entre si. Até os seis anos é uma. Dos sete aos dez, é outra. E ainda começa uma subdivisão entre gêneros: o que agrada ao menino não agrada à menina."

Para piorar, na TV aberta, o modelo é baseado na venda de anúncios, com pouco "branding" - basicamente, a gestão de uma marca de modo que ela grude como chiclete na cabeça do consumidor.

Exemplo: se você quer vender uma Barbie, cria um universo em volta dela (de desenhos temáticos a virais na internet), em vez de comerciais tradicionais de 30 segundos.

Outra brecha: os canais pagos avançam a passo largo, mas ainda atingem menos de 25% da população. E o resto da garotada, assiste a o quê?

A tendência é que as emissoras abertas foquem em seus pontos fortes. Em março, o diretor-geral da Globo, Octávio Florisbal, já disse que o SBT faz "muito bem" a grade infantil. O canal dedica sete horas diárias ao gênero e detém o pacote Disney/Warner.

Em sua autobiografia, o ex-executivo global José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, questiona: "Com tantos canais [...] transmitindo toneladas de lixo estrangeiro, não seria a hora de as redes abertas deixarem esse tipo de produto apenas para o sábado, quando não há aula?".

Indaga, por fim, se "deu curto-circuito na babá eletrônica". O apagão já começou.


*Colaborou Elisangela Roxo


Reproduzido de Clipping FNDC
08 abr 2012

Grifos de Filosomídia

Comentários de Filosomídia:

Pois então, se para a Globo os canais de TV aberta estão mais sujeitos ao controle externo "como classificação indicativa, sugerida pelo governo, e proibições à publicidade infantil (como limite à propaganda de alimentos e ao uso de desenhos para "seduzir" o público-alvo)", e seus "investimentos" em programação infantil se farão em seu canal fechado - Gloob a inaugurar - resta saber se a rede de televisão estará respeitando os princípios éticos e determinados em lei em relação à classificação indicativa e publicidade infantil.

Se a estratégia da Globo passa por seguir essa tendência mundial (onde há controle externo e legislação específica de proteção aos direitos das crianças em relação à programação de TV e publicidade), e sabendo que no Brasil a completa desregulação em relação a isso favorece que na TV aberta ou  fechada é ainda possível de desrespeitar ostensivamente aqueles princípios éticos, não seria de se supor que as crianças ainda sejam vistas apenas como mera consumidoras de produtos anunciados no decorrer da programação?

O debate está posto sobre o controle social nos meios de comunicação e, o que não se pode "apagar" é a luta pela dignidade e repeito aos direitos humanos das crianças e adolescentes em relação aos meios de comunicação. 

Como estamos no Brasil, país da desregulação dos meios de comunicação e da falta de compromisso de seus políticos em defender os direitos das crianças e adolescentes, país onde a própria Justiça se faz de cega aos desrespeitos da legislação internacional e nacional e abre os olhos para as determinações do mercado, creio que muita luta será ainda necessária para se ter que seja o mínimo compromisso ético dos homens e mulheres em cargos públicos a defender e promover a dignidade dos direitos.

Sabidamente, não é a criança na dignidade de seus direitos que é esquecida pela programação infantil na TV, aberta ou fechada. Muito pelo contrário, o pequeno, mas grande e ávido consumidor é que é visado pelas redes de comunicação que no final das contas quer lucrar em cima de uma programação infantil que atenda aos interesses do mercado.

A questão é de estratégia para o lucro, e de aumentar esse lucro através de cooptar mais assinantes na TV paga. Ora, a Rede Globo, Fox, Net, Sky não são farinha do mesmo saco, empresas de um mesmo dono?

Que as crianças não se "afoguem" nesse maremoto de publicidade infantil que virá disfarçada de programação destinada especificamente para elas. Glub... glub... glub...

Pela classificação indicativa dos telejornais, pela não erotização precoce, pelo fim da violência na TV, já!


quinta-feira, 5 de abril de 2012

"Esquenta" a discussão sobre o lugar da periferia na grande mídia


Periferia na tevê

Inaira Campos e Thiago Ansel
Observatório de Favelas
04/04/2012

“Bateria arrebenta/Todo mundo comenta” são versos de “Samba da Regina”, música de Arlindo Cruz e Gilberto Gil, que abre o programa de TV “Esquenta!”, comandado pela atriz Regina Casé. Até a sua última edição, no domingo passado, a atração cumpriu o que professou sua trilha sonora: deu o que falar.

No palco rodeado por um auditório, sambistas, comediantes e celebridades dividem espaço com grupos musicais de diferentes cantos do país. Os números musicais são entrecortados por quadros que costumam abordar temas tão diversos quanto educação, violência contra mulher, comportamento e aspectos da cultura popular. Estes últimos, geralmente comentados por uma espécie de elenco fixo -- composto por cantores como Arlindo Cruz, Preta Gil, Leandro Sapucahy, atores como Douglas Silva, entre outros -- e convidados, que parecem selecionados segundo o seguinte critério: não deixar o nível de heterogeneidade do programa cair.

Segundo Sarah Nery Chaves, que fez uma pesquisa intitulada “Eu tenho cara de pobre: Regina Casé e a periferia na TV”, o argumento da apresentadora para fazer o que faz é colocar o pobre que sempre vê tevê para se reconhecer nela, longe dos estereótipos das novelas e das notícias policiais. “Acredito que ela realmente procura aproximar as pessoas: anônimos e famosos, ricos e pobres, brancos e pretos. Faz isso à sua maneira, com os aparatos e parceiros que têm e na polêmica empresa em que trabalha”, afirma Chaves. O cantor Criolo, um dos convidados da edição do dia 18 de março, deu um depoimento semelhante ao se referir à atração: “As pessoas que estão em casa dizem ‘tem alguém parecido comigo’”.

Para o ex-espectador declarado, o estudante de educação física, Alexandre Paes, o “Esquenta!” causa mais embaraço do que distração. “Acho que o pobre e o favelado são zoados o tempo todo. Não sei se é a intenção da produção. Acho que não é, mas é isso que acaba acontecendo. E todo mundo fica rindo. Antes eu via e sentia aquela vergonha que só me fazia olhar para o lado. Da última vez que vi, tive que mudar de canal. Acho que quando chega nesse estágio de trocar de canal é porque você fica muito constrangido”, conta.

Há também os que afirmam que a forma pela qual o programa representa a periferia pode ser um tiro pela culatra. “A Regina tem carisma e até me parece muito autêntica quanto à proposta de mostrar os subúrbios e favelas. Agora, não sei se é uma decisão da emissora ou da direção do programa estigmatizar comportamentos presentes nas comunidades. Um exemplo foi a eleição das chamadas ‘Néns’, garotas ‘vestidas para ir ao baile funk’, cheias de maneirismos, falando errado e servindo de chacota. É isso que é ser garota de favela? Acho que as favelas têm coisas mais interessantes para se mostrar”, opina a jornalista Alexandra Silva.

Paradoxal

De um extremo a outro, a marca da atração parece ser o paradoxo. Se de um lado, “Esquenta!” traz para a grade dominical da Globo diversidade muito superior em contraste com outros programas da emissora, de outro, há momentos em que o reforço de estigmas é patente.

Foi o que aconteceu no dia 12 de dezembro, num quadro dedicado a discutir o papel das empregadas domésticas na sociedade brasileira. O programa trouxe babás que deixam suas famílias durante a semana para cuidar dos filhos de outras pessoas.

Regina encerrou o bloco dizendo “a babá é uma instituição nacional”. E completou: “antigamente babá se chamava ama de leite, porque elas também davam de mamar para os bebês. Até o imperador tinha uma ama de leite. Outro político muito importante, um cara sensacional, Joaquim Nabuco, que lutou muito pela abolição da escravatura, escreveu em suas memórias sobre os escravos domésticos. Ele escreve especialmente sobre a sua ama de leite: ‘ela permanecerá por muito tempo como uma característica nacional do Brasil’” (durante a fala, a telinha mostrava fotos de mulheres negras com crianças brancas nos dias atuais).

“Talvez a gente deva a abolição da escravatura a esse carinho que a babá do Joaquim Nabuco teve por ele. Palmas para a ama de leite do Joaquim Nabuco, que fez o Brasil dar um passo importante na sua história”, concluiu a apresentadora.

A equivalência estabelecida entre ama de leite -- tarefa executada, à época, por escravas -- e babá -- categoria profissional contemporânea, como tantas outras – parece longe de propor qualquer tipo de ruptura com estereótipos. O que chama atenção, ao contrário, é a insistência na idéia de que o carinho tem sido o emblema de relações raciais no Brasil. A escolha de Joaquim Nabuco como referência confirma que a abordagem do programa em alguns momentos pode mesmo ser paradoxal, já que se trata de um personagem histórico que foi diplomata, intelectual abolicionista do Império, mas cujas memórias contêm uma célebre passagem onde o pensador diz ter “saudades do escravo”.

Para Maria Eduarda Rocha, professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que tem se dedicado a analisar o programa, a questão exige pensar o “Esquenta!” em seu conjunto. “A resposta exige que se olhe para duas coisas: primeiro, a chave de representação dos negros no programa. Essa não me parece assimilável ao mito da democracia racial porque os negros e mestiços não são ‘embraquecidos’, muito pelo contrário, estão lá trazendo formas de manifestação cultural que são as da ‘periferia’. Embora o mito da democracia racial possa ser ressignificado na ideia de pluralismo, sem dúvida há no programa uma dimensão afirmativa das identidades negras que vai na contramão desta ideia”, pondera a pesquisadora.

O lugar da periferia na grande mídia

Há lugar para a periferia, ao meio-dia, na Rede Globo? Para a pesquisadora Sarah Nery Chaves é possível, mas desde que dentro das regras e formatos da emissora. “As estratégias televisivas nos seduzem com suas narrativas e isso não deveria ser motivo para descartamos as experiências que elas proporcionam. Apesar de também poderem ser vistos enquanto reprodução de estereótipos e reforço das fronteiras culturais, por um lado, sem dúvida, eles ajudam a expandir nossa visão de Brasil e de mundo com histórias e personagens tão extraordinários quanto ordinários, que retratam aspectos profundos da nossa cultura. Por isso não há como pensar em termos de ‘positivo’ ou ‘negativo’, ‘bom’ ou ‘ruim’, pois há muitos fatores juntos”, explica.

As ambigüidades que marcam a incorporação das culturas populares pela mídia não são exatamente novas. Segundo Maria Eduarda Rocha, esse movimento de “incorporação”, simultaneamente, reconhece as classes populares, mas deixa evidentes as tentativas de dominação simbólica sobre este grupo. De acordo com essa perspectiva, a ideia de que há um “aviltamento” da cultura popular pela cultura de massa remete a uma concepção purista de cultura que não se sustenta quando olhamos para a história.

A professora, contudo, adverte que no caso do Esquenta é preciso lembrar que enquanto a Globo dá visibilidade positiva às classes populares, ao mesmo tempo, ela trabalha fervorosamente em favor do monopólio da fala. “Esse monopólio é um obstáculo, embora não absoluto, para que as classes populares possam falar de si mesmas e as torna em parte dependentes de um espaço de visibilidade outro. Essa contradição, a Globo não pode resolver, por mais pluralista e democrático que seu programa tente ser”, ressalta.

Reproduzido de Clipping FNDC
04 abr 2012


Grifos de Filosomídia


Leia tambem:


A pesquisa de Sarah Nery Chaves, “Eu tenho cara de pobre: Regina Casé e a periferia na TV”, clicando aqui.



“Juventude de periferia, mídia televisiva e lutas por reconhecimento social: tensões e aproximações”, por Fernanda Carla de Castro (Faculdade de Educação da UFMG), clicando aqui.  

domingo, 25 de março de 2012

Mídia televisiva e democracia: a perspectiva da comunicação como um direito humano

Mídia televisiva e democracia: a perspectiva da comunicação como um direito humano*

Larissa Carvalho de Oliveira (UFG)**

Resumo

A partir de uma perspectiva crítica acerca da produção midiática em nosso país, este trabalho busca enfatizar a legitimidade  de anseios sociais de democratização dos meios de comunicação. Nesse sentido, há de se ressaltar o caráter humanista que deveria pautar tais veículos comunicativos, em contraste com ideais mercantis e concentracionistas, predominantes no setor midiático. Inicialmente abordamos sobre determinadas consequências do cerceamento de reflexões e integração do público em relação ao conteúdo transmitido pelos meios de comunicação. Com isso, evidencia-se a falácia do discurso de censura da mídia, afinal quem seriam os censurados? Na sequência, são consideradas algumas justificativas sustentadoras do entendimento da comunicação como um direito humano. A sociedade civil brasileira tem sido mantida apartada das decisões no âmbito comunicativo, seja no que tange ao sistema de outorgas de concessões para o funcionamento televisivo, seja no processo de seleção ou produção de conteúdos. Por fim, em um exemplo de participação popular em discussões envolvendo a comunicação social, consideramos a realização da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), analisando certas propostas que refletem o interesse social por atuar efetivamente nos meios de comunicação.

*Trabalho apresentado no Simpósio Temático “Meios de comunicação, direitos humanos e democracia” do II Congresso Internacional de História da UFG/Jataí, sob orientação da Professora Msc. Rosane Freire Lacerda, do curso de Direito da UFG, Campus Jataí. 2011.

**Aluna do quarto período do curso de graduação em Direito da UFG, Campus Jataí.

Texto completo disponível para leitura clicando aqui.

Leia também:

"A comunicação como direito humano: um conceito em construção", dissertação de Raimunda Aline Lucena Gomes, apresentada ao Programa de pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (2007) na página do DHNETclicando aqui.

sábado, 3 de março de 2012

Centro de Estudos Barão do Itararé: Dia de festa para a comunicação democrática no país


Dia de festa para a comunicação democrática no país

Christiane Marcondes e Deborah Moreira
Portal Vermelho
02/03/2012

O Centro deEstudos Barão do Itararé nasceu do jeito possível há dois anos, como plataforma de luta pela comunicação progressista e ética jornalística, e, mesmo "sem teto", delimitou espaço e um nome de referência entre os militantes e entidades que levantam a bandeira pela mídia alternativa e livre.

Nesta quinta-feira (1º), o Itararé finalmente inaugurou com muita festa sua sede de argamassa e tijolos, em parceria com a Anid – Associação Nacional de Inclusão Digital. O novo espaço está aberto a todos os simpatizantes e adeptos da causa. A entrada só está proibida para a burocracia e censura, dois entraves ao desenvolvimento da comunicação livre no Brasil.

Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB, José Dirceu, Mouzar Benedito, poeta e escritor, estão os que foram à festa do Barão e brindaram a nova fase.

Altamiro Borges, presidente do Barão de Itararé, deu uma entrevista exclusiva ao Vermelho falando da sede e das lutas pela democratização da e-comunicação, das iniciativas e realizações do Barão de Itararé, que agora ganham mais "modernidade" e novo fôlego.


 O que a mudança de sede vai representar para o trabalho do Barão do Itararé?

Altamiro Borges - Na verdade, não é nem uma mudança de casa, o Barão de Itararé era do MTST, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, não tinha teto, as coisas estavam indo até para a minha casa. Então fazíamos reunião ora no Sindicato dos Jornalistas, ora no Intervozes, isso nos dois anos de vida do Barão. Agora conseguimos viabilizar uma casa em parceria com uma moçada interessante, porque é dos pequenos provedores. Então há quatro grandes, que pegam os grandes centros, e os pequenos que atendem cidadezinhas que ninguém quer atender, porque não dá lucro. São milhares no Brasil e há várias entidades, uma delas é a ANID – Associação Nacional de Inclusão Digital. Fizemos parceria com essa porque ela tem muita força no Nordeste, nasceu na Paraíba, está estendendo sua ação para o interior de Minas e de São Paulo. Como eles têm cursos de reciclagem para pequenos provedores, estavam querendo sede aqui, então, a partir de uma bate-papo com eles, pintou essa parceria. Agora deixamos de ser do MTST...


Mas muda algo?

Cria mais referência, porque antes o cara queria achar o Barão e não achava. A sede vai ser um espaço para essa luta pela democratização da comunicação, então tem menos salinhas e mais uma salona. É menos burocracia e mais movimento! O que estiver rolando nesta área tem um espaço. Vai ser também um espaço importante para a formação, porque antes dependíamos de parceiros, como o sindicato de engenheiros ou o dos jornalistas, que cediam espaço, mas ficávamos dependendo de agenda. Agora o Barão vira referência, ponto de encontro e local de formação. Lá há um auditório para 60 pessoas, vamos ter um calendário de cursos. E a nossa ideia também, e o fato de estar com a ANID possibilita, é que essa moçada é muito expert em internet. Então a nossa ideia é ter um local muito modernoso, todo aparelhado para videoconferência, teremos plataforma livre, comunicação imediata com outros estados. É uma outra fase, demorou um ano e sete meses para concretizar essa coisa, mas saiu.


E 2012 é um ano importante para a mídia alternativa, não é? Quais são os desafios?

Pode ser dos mais quentes, mas também pode ser que não, depende do governo. O governo Lula terminou com um pré-projeto de novo marco regulatório da comunicação, elaborado pela equipe de Franklin Martins, secretário de Comunicação da Presidência (Secom), que deixou isso para o governo Dilma. O ministro Paulo Bernardo assumiu, disse que ia colocar em debate o projeto, se comprometeu a fazer em 2011 e não fez, sentou em cima. Mas parece que agora, há um buchicho muito forte de que esse projeto está pronto e já está na mão da Dilma, é um projeto de consulta pública sobre o que deve ser mudado nas comunicações no Brasil. Se o governo lançar essa consulta aí vai ser um escarcéu, vai virar o grande tema antes das eleições. Porque o conteúdo das perguntas tem a ver com tudo, com todos os artigos da Constituição relacionados com a comunicação, questão de propriedade cruzada, monopólio, complementariedade de sistemas, produção independente, produção regional...


E está tudo superado com a convergência digital?

Está superado com a internet, com o processo de convergência digital, mas o problema é que também nunca foi aplicado, saiu na Constituição, mas não foi regulamentado. Então nunca foi aplicado, por isso tem um passivo, dívidas do passado e coisas para pensar em termos de tecnologia. O debate abrange passado e futuro. Se o governo topar a briga, daí vai ser o ano da comunicação, aí pronto, vai virar um pandemônio, vai ser um ano quentíssimo. Evidentemente os barões da mídia vão cair matando, vão dizer que é censura, atentado à liberdade de expressão. Porque a consulta pública tem processo de audiência, tem processo de seminários, então o assunto pega fogo e envolve muito mais gente além dessa meia dúzia que está militando por essa causa. Se não sai, o debate continua evidentemente, mas vai ser atropelado pelo processo eleitoral. Na verdade as eleições já estão bem em evidência, mas em junho concentrarão o foco das atenções.


Divulgaram uma pesquisa dizendo que os parlamentares não aceitam mexer nisso, porque é vespeiro... Se nem os parlamentares estão sensibilizados, como sensibilizar a sociedade em torno de um assunto tabu, sobre o qual ninguém quer falar?

Essa pesquisa -- saiu até no blog do Noblat -- ela é uma faca de dois “legumes”, como diria Vicente Matheus, mostra que 54% são contra qualquer mudança, qualquer regulamentação da mídia. Então temos 46% a favor? É metade, eu não acredito que no congresso haja 50% a favor. Esse é um tema tabu, que a mídia não trata, quando trata é para satanizar. Os parlamentares temem muito a mídia, temem por duas razões, dependem dela para ter visibilidade nas suas ações. Não é assim, o que não saiu na Globo, não aconteceu, não é? E eles temem também porque, se cutucarem a mídia, ela pode ir atrás de uma dívida deles no botequim na esquina, que vira manchete e quando é desmentida, leva só uma linhazinha. Por isso o projeto não pode depender do Parlamento, porque lá ele será aprovado, mas se não levar para a sociedade, se não explorar as contradições neste campo, porque ele não é monolítico, não há brigas entre Record e Globo? Então, tem que ir para a sociedade. Se o governo ficar calado, isso não anda. Se para a sociedade, daí ganha força. Na Argentina, a maioria parlamentar não era a favor, mas daí a discussão foi para a sociedade e saiu a lei. O Uruguai também conseguiu a lei pelo mesmo caminho. Nós é que estamos parados!


Agora essa coisa da hegemonia, da mídia tradicional, ela é muito alavancada pela publicidade, já que a mídia alternativa vem crescendo muito. Você acha que existe uma trincheira da publicidade. O mercado publicitário é que segura a mídia como ela é hoje, no formato broadcast?

Eu acho que estamos vivendo uma situação contraditória. Essa chamada mídia tradicional, a velha mídia, ainda tem muita força. Quando a Rede Globo decide, por exemplo, dar uma cutucada no Ricardo Teixeira e aí vira um escândalo. Ela tem muita força no sentido de fazer a cabeça das pessoas na informação e nos comportamentos. A mídia cria moda. O que sai no BBB (Big Brother Brasil, da Globo) vira moda. Eu não sou daqueles que acreditam que a mídia tradicional está em franco declínio, morrendo. Não. Ela ainda tem um poder violentíssimo em tudo. Jornais conseguem pautar as rádios e TVs, e estas, enquanto comunicação de massa, mexem com milhões de pessoas. As novas tecnologias de informação criaram uma brecha. Permitiram uma guerrilha informativa onde sites, blogueiros e pessoas nas redes sociais se mobilizam. E é o que somos perto da mídia tradicional,que é o exército regular. Estamos praticamente de tacape. Mas já incomodamos e cria uma certa crise de modelo de negócios dessa mídia tradicional, que está perdendo. Recentemente faliu mais um jornal público na Europa. Já há um processo de queda de tiragem dos jornalões e há um processo de migrações nas televisões, principalmente entre a juventude que está trocando a TV pela internet. Isso cria uma brecha, que também não é totalmente ocupada pela gente. É ocupada por eles. A editora Abril, por exemplo, o portal está mais forte do que as revistas. Sabe quantos visitantes únicos tem a Veja? Cinco milhões e 800 mil visitantes únicos. Nós não concorremos com isso. Não é que as novas tecnologias vieram e eles viraram as costas. Pelo contrário. Por isso que digo que essa guerrilha ainda é muito pequena. Mas, é muito melhor do que antes para a mídia alternativa, porque antes eles tinham tudo. Existem algumas ocupações nesse latifúndio midiático. Agora, nós vamos ter que crescer muito. Isso tem a ver com mudança de legislação. Por isso é tão importante debater o marco regulatório. Terá que mexer nas estruturas, como a questão da publicidade. Em alguns países, fruto pela própria luta contra o nazifascismo, durante a 2ª Guerra Mundial, você tem em alguns países estímulos à diversidade e pluralidade informativa, na publicidade. Na Itália, por exemplo, 20% da verba destinada pelo governo à publicidade, são dedicados a estimular a diversidade informativa. Se tivéssemos no Brasil, a verba oficial do governo federal é R$ 1,4 bilhão, ou seja, seriam R$ 280 milhões de reais para Vermelho, Carta Maior, etc... algo parecido com o que já acontece com o mercado de livros didáticos no país. E isso tem relação direta com mudança na legislação.


Os pequenos pensam na publicidade?

Sim, claro. Mas o mercado é muito monopolizado, a publicidade privada vai em direção ao que tem relação com o comércio, o e-comerce, por exemplo. A internet não é só para fazer cabeça. É para vender produto. No contexto do capitalismo, a internet é feita para vender produto e não para fazer debate democrático. Nos Estados Unidos, a publicidade no mundo digital superou a do impresso em US$ 2,5 bilhões em sites feitos para o mercado. A internet foi incorporada à lógica do capitalismo, senão ela nem existiria. Os pequenos tentam, mas vai conseguir publicidade de uma grande empresa! Por isso a importância do papel do Estado, para garantir uma fatia para os pequenos. E isso será uma luta titânica.


E quanto à expectativa de o governo criar políticas de concessões na internet pra veículos de imprensa...

Acho difícil que vinguem as concessões para veículos de imprensa na internet neste momento. É uma tentativa de controle. Isso questiona a própria tecnologia, que é aberta e compartilhada. A não ser que você feche a internet, com controles como o que está no projeto SOPA nos Estados Unidos ou a ACTA, a legislação discutida mundialmente.


E existe esse risco no Brasil em algum momento?

Sim, já que existe esse risco no mundo. Os Estados Unidos, se não fosse uma pressão violenta e o Obama ficar numa situação difícil, já que ele se elegeu com base na internet, um setor o elegeu com esse compromisso, o congresso lá teria aprovado o projeto antipirataria, o SOPA. Está agora em discussão o ACTA, que seria uma legislação mundial. E temos também aqui no Brasil, o AI-5 digital do Eduardo Azeredo. Essa tentativa de controle é uma tendência ...


O ex-ministro das comunicações da Venezuela disse que a Internet do jeito que está é um desafio ao stablishment. É o único nicho que ainda não tem controle total, por isso vão tentar fechar. Eles estão procurando os caminhos. Eles têm hegemonia, mas perdem uma fatia de poder que os incomoda. É uma situação semelhante à do rádio, que quando surgiu na década de 1920 era livre, era aberto, faziam transmissões diretamente para a comunidade. Com o tempo, os governos foram fechando as rádios, criminalizando-as. Hoje, eles tiram do ar quem tenta fugir do que a lei determina, como transmitir para raio de um quilômetro, ter publicidade.


Reproduzido de Portal Vermelho

Leia também: "Com personalidades políticas e da mídia alternativa, Barão de Itararé inaugura sede em SP", na página do Centro de Estudos Barão de Itararé.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Crítica à crítica (e aos críticos) da mídia


Crítica à crítica (e aos críticos) da mídia

Raphael Tsavkko Garcia*
Observatório da Imprensa
28/02/2012

O professor Gilberto Maringoni, em artigo recente amplamente divulgado pela blogosfera que compõe a chamada “mídia alternativa”, lembrou aos maiores críticos da “grande mídia” que esta era em grande parte financiada pelo governo federal, por meio de cotas de patrocínio que, apenas para a Veja, rendiam perto de 1,5 milhão de reais por semana. Sua intenção era a de criticar os contumazes críticos da mídia que, mais ou menos alinhados com o governo federal e com o PT, gastavam horas de seus dias a enxovalhar a mídia, seja chamando-a de PIG (Partido da Imprensa Golpista) ou, agora, de PUM (Partido Único da Mídia – com direito a trocadilho proposital).

O primeiro termo, popularizado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, soa ainda mais irônico se contarmos que este trabalha para um notório membro do... PIG: a Rede Record, do bispo Edir Macedo. O segundo termo vem sendo usado pelo insuspeito professor Laurindo Lalo Leal Filho e, ao menos de sua parte, há consistência no uso do termo.

Não se trata de debater a validade dos termos ou mesmo o caráter da grande mídia, mas talvez de se entender quais interesses estão por trás da crítica. Não posso colocar em dúvida a idoneidade e honestidade do professor Lalo, mas começo a suspeitar de jornalistas alinhados à grande mídia e mesmo que recebem – por um meio ou por outro – financiamento estatal (caso, por exemplo, do sempre presente e atuante Luis Nassif, funcionário da TV Brasil) e que gastam boa parte de seu tempo e de seu espaço em seus respectivos blogs/portais para criticar veículos “inimigos” e políticos não-alinhados com o atual governo.

É sintomático o desaparecimento de certas críticas a políticos que passam para o lado governista e é notável o tom brando empregado contra o governo quando de atuações semelhantes ou mesmo mais acintosas que as do governo anterior, ou mesmo totalmente diversas daquelas prometidas em campanha.

Timidez patológica

Há, por parte de um crescente contingente daqueles defensores da “mídia livre”, um alinhamento automático com o governo federal que mascara erros, que abranda problemas e realiza uma defesa intransigente e inconsciente de todas ou da maior parte das atitudes governamentais, sem matizes ou ponderações. Há, dentre muitos governistas que continuam a reclamar da necessidade de uma democratização das comunicações, profundo silêncio sobre o emprego de nossos impostos em revistas da Editora Abril, mas ao mesmo tempo esses mesmos indivíduos que silenciam neste assunto reclamam e bradam contra as compras e contratos feitos entre o governo de São Paulo (do PSDB) e a mesma editora.

Está claro que, em ambos os casos, há o que se investigar e reclamar, mesmo repudiar, mas apenas um dos casos, ou um dos lados, acaba veementemente criticado.

Fala-se muito que as redes de TV, concessões públicas, têm um lado. Alguns afirmam claramente que Globo, Band e outras apoiaram claramente o candidato derrotado tucano José Serra nas eleições passadas, mas quando são perguntados sobre por que o governo federal não se move para rever as regras para concessões públicas, calam-se – dão desculpas pouco críveis ou simplesmente apelam para o velho chavão da “governabilidade”. Termo este, aliás, usado para explicar toda derrapada ou desastre patrocinado pelo governo federal. Se faz algo, merece aplausos, se errou, faz-se silêncio ou tira-se da cartola a palavrinha mágica que tudo explica.

Há, dentre os vários críticos da mídia, uma falta patológica de autocrítica e um excesso de subserviência e mesmo de umbiguismo. Chego até a considerar um certo duplipensar. Para mudar a mídia, é preciso constante pressão, mas o que vemos é uma timidez patológica quando o assunto vira um problema para seu próprio lado. Podemos avançar apenas até o ponto em que os interesses de um ou outro grupo – e são cada vez mais grupos – passam a ser a “vítima”. Sempre, claro, que o grupo se coloca ao lado do governo.

Enquanto os críticos da mídia forem apenas isso – críticos daquilo que não gostam, do outro lado – e não críticos de todo um conjunto de instituições, indivíduos, partidos e indústria, não haverá qualquer mudança significativa no caminho da democratização das comunicações no país.

* É jornalista, blogueiro e mestrando em Comunicação

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Latinfúndio midota: “A grande mídia imprime no inconsciente coletivo uma visão deformada do mundo”


“A grande mídia imprime no inconsciente coletivo uma visão deformada do mundo”

Livro Latifúndio midiota, do jornalista Leonardo Severo, foi lançado no Fórum Social Temático, em Porto Alegre (RS)

Vivian Fernandes , de São Paulo (SP)
15/02/2012

A crítica à manipulação da sociedade feita pelos grandes meios de comunicação e o papel democrático que cumpre o jornalismo alternativo. Com o debate sobre essa dupla face da mídia, o jornalista Leonardo Severo lançou seu novo livro. Sob o título Latifúndio midiota: crise$, crime$ e trapaça$, a obra traz artigos e matérias nacionais e internacionais sobre temas da luta dos trabalhadores e movimentos sociais.

Com extensa trajetória no jornalismo de resistência, Leonardo é redator do jornal Hora do Povo, assessor na área de comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), além de colaborador do jornal Brasil de Fato. O livro inaugura o selo do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.

O lançamento ocorreu em 27 de janeiro durante o Fórum Social Temático, em Porto Alegre (RS). Outro lançamento está marcado para 7 de fevereiro, em São Paulo (SP), a partir das 18:30, na Livraria Martins Fontes (Av. Paulista, 509). O livro pode ser adquirido nas livrarias ou pela internet.

Como Leonardo salienta, sua obra é acima de tudo um livro militante, comprometido com a defesa do Brasil, de seu povo e da classe trabalhadora.

Leonardo, você poderia fazer uma breve apresentação do que os leitores irão encontrar no seu livro?

Leonardo Severo – Latifúndio midiota é um livro que faz uma reflexão sobre os descaminhos e a manipulação da mídia em nosso país. São conglomerados de comunicação que imprimem no inconsciente coletivo uma visão deformada do mundo. Na nossa visão, jogam para cultuar valores egocêntricos e individualistas, banalizando a violência, a mulher e as relações sociais, no sentido de manter a dominação de uma casta – que é o setor financeiro ao qual ela serve. Então, Latifúndio midiota reúne artigos publicados sobre Venezuela, Bolívia, Cuba, Paraguai e sobre o próprio Brasil no âmbito da construção de uma postura mais social e coletivista.

O que na sua experiência como jornalista o levou até a construção dessa obra?

A minha experiência indica que esses artigos que foram publicados na internet mereciam ser melhor trabalhados e debatidos. E que nesse momento de discussão do novo marco regulatório da comunicação era uma oportunidade para debater determinados temas. O livro dialoga com a necessidade de nós fortalecermos o papel protagônico do Estado – na indução ao desenvolvimento, no estímulo à empresa nacional, ao emprego e ao fortalecimento dos salários. Com isso, nós damos visibilidade a análises críticas que não aparecem nos meios de comunicação da grande mídia. O livro é uma forma que eu encontrei de sistematizar essa denúncia e de fazer uma conclamação. É um livro militante.

Qual dos artigos e matérias você destacaria como representativo do livro?

Um dos artigos que eu gosto muito é um no qual eu sistematizei uma visita que fi z à Palestina em 2001, onde me encontrei com [Yasser Arafat (1929-2004), então presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP)]. Na época a ministra de Educação superior palestina, Hanan Ashrawi, falava que as principais vítimas das balas de aço revestidas com borracha dos israelenses eram os olhos das crianças palestinas. O livro traz fotos dessas balas, do que elas faziam no cérebro das crianças. Era uma coisa bastante cínica, que era para cegar e não matar. Isso era o resultado da segunda Intifada do levante popular árabe-palestino. Essa é uma das reportagens que eu acho que dá bastante visibilidade a um tema que é totalmente manipulado pelos grandes meios de comunicação.

Você poderia relatar também alguma matéria brasileira presente no livro?

Uma matéria que nós fizemos sobre o Marcos Antonio Pedro, que foi um indígena de etnia Terena, na cidade de Sidrolândia, no interior do Mato Grosso do Sul, onde ele foi literalmente moído dentro de um frigorífi co avícola da multinacional Cargil. Esse trabalhador foi acusado de ter se suicidado. Ele caiu [em uma máquina] porque não havia as mínimas condições de segurança. A empresa, de uma hora para outra, modificou todo o local do crime. Quando ele caiu, nós temos relatos de que disseram “bom, vamos abrir por baixo [do equipamento] para tentar socorrê-lo”, mas o fiscal da empresa disse: “não, porque isso vai parar a produção”. A partir disso, nós nos dirigimos até a aldeia de onde ele era proveniente. Conseguimos reconstituir as últimas horas [de vida dele] e comprovar que na verdade Marcos tinha um grande apego pela vida. Conversei com a companheira dele, com as fi lhas. Eu tenho um orgulho muito grande do livro porque ele procura abrir espaço aos que não têm voz. (Radioagência NP)

SERVIÇO
Título: Latifúndio midiota: crime$, crise$ e trapaça$
Autor: Leonardo Wexell Severo
Nº de páginas: 136
Preço: R$ 20,00

Reproduzido de Brasil de Fato

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Infância na programação da TV brasileira: “A TV perdeu a vergonha”


“A TV perdeu a vergonha”

Por Marcus Tavares

Daniel Azulay é um nome conhecido por muitas gerações. Desenhista, músico e arte-educador brasileiro, ele foi o criador da Turma do Lambe-Lambe, que invadiu a programação infantil brasileira entre as décadas de 70 e 90. O programa misturava desenho, histórias e um quadro bem popular, o mãos mágicas, que ensinava as crianças a criar.

Longe da TV, Daniel vem realizando exposições de arte contemporânea no Brasil e no exterior, incluindo projetos sociais de arte-educação. Acaba, inclusive, de lançar o livro de arte ‘A porta’. Por sua vez, a Turma do Lambe-Lambe, que ganhou versão animada, pode ser vista no Canal Futura e na TV Ra-Ti-Bum.

A revistapontocom conversou com o desennhista sobre o atual momento da programação infantil na TV aberta brasileira. Para ele, “a TV hoje em dia perdeu a vergonha, todo mundo sabe que virou um balcão de negócios onde o dinheiro pode tirar um telejornal do ar no horário nobre e transmitir, em rede nacional, um programa religioso para dizimistas”.

Acompanhe:

revistapontocom – Como você avalia a história da programação brasileira voltada para as crianças?

Daniel Azulay – Do ponto de vista de conteúdo educativo, nos programas antigos existia sempre a preocupação educativa e por que não dizer, ética e moral de contribuir de forma construtiva com a formação das crianças. Era muito comum em produtos ou programas infantis incluir o rótulo “Educa-diverte-instrui”. Havia também a dramatização com adaptação para a TV de autores de literatura infantil como o Teatrinho Trol e apresentadores como Gladys e seus bichinhos, Capitão AZA, National KID, Circo do Carequinha e Capitão Furacão.


revistapontocom – E hoje, há espaço de qualidade para a infância na programação da TV brasileira?

Daniel Azulay – Espaço sempre há se houver boa vontade e respeito pela criança que assiste à televisão.  Enquanto as emissoras olharem a criança apenas como produto, como alvo de merchandising e objeto de consumo, estamos crescendo como o rabo do cavalo, para baixo no nível da mediocridade que está aí.


revistapontocom – Por que, nos dias de hoje, programação infantil na TV aberta se resume a desenhos animados e em sua grande maioria estrangeiros?

Daniel Azulay - É facil entender: porque é mais barato quando não é de graça, e ainda gera lucros. As emissoras de TV adoram chamar programa de criança como “Sessão Desenho”. Os desenhos animados de praticamente todas os canais não custa um centavo para as emissoras. Há uma enorme disputa e oferta mundial para distribuir esses desenhos. Tudo para veicular os personagens de licensing e merchandising que geram fortunas em dinheiro para os distribuidores e emissoras que repartem percentuais das vendas milionárias de lancheiras, mochilas, cadernos, livros, brinquedos etc. As crianças, pobres coitadas, imploram aos pais que comprem tudo o que elas assistem na TV. Haja salário familiar e compensação afetiva para cobrir todas essas compras de produtos que escoam nas prateleiras na chamada “venda emocional”. Os americanos incluem o rótulo que atesta “a fama” do produto “As seen on TV”.


revistapontocom – Eis o motivo pelo qual a Turma do Lambe Lambe não tem espaço hoje na TV aberta? Ela está no Futura e na TV Ra ti bum, certo? Foram feitas 104 tiras animadas da Turma Lambe Lambe, não foi?

Daniel Azulay – Na minha opinião, para voltar à telinha em rede nacional é mais fácil eu fundar uma igreja, bolar um programa de Baile Funk e comprar horário na TV ou inventar um Carnê do Baú, como o Silvio Santos fez para comprar sua emissora de televisão. Aí como dono de uma emissora, eu poderia continuar a apresentar meu programa para crianças como sempre gostei de fazer. A TV hoje em dia perdeu a vergonha, todo mundo sabe que virou um balcão de negócios onde o dinheiro pode tirar um telejornal do ar no horário nobre e transmitir, em rede nacional, um programa religioso para dizimistas. A televisão aberta, como um todo, está tão abandonada que até o governo se esqueceu de que tem obrigação de fiscalizar a programação das emissoras. Não sou pessimista, sou realista. Infelizmente a mediocridade está tão disseminada nas cabeças que dirigem  nossas emissoras que a única coisa que sabem administrar é a cultura do “quanto-eu-levo-nisso” ou do maior lucro que posso gerar a curto prazo. Afinal de contas a TV é de graça, o telespectador não paga para ver a TV aberta. É triste ver que a programação de um modo geral reflete a linha de montagem de fórmulas desgastadas, os mesmos formatos, os mesmos protagonistas, nivelando por baixo a criação artística. Só para lembrar, não é de hoje que adultos, jovens e crianças não têm espaço para mostrar e divulgar seu talento na televisão. Mas nem tudo está perdido. De tão supérflua, a TV aberta caminha para a obsolescência, pois não compete com a TV do primeiro mundo, a TV a cabo altamente avançada em conteúdo, inovação e informação. Meu trabalho de TV hoje se resume a reprises no canal Futura e na TV Rá-Tim-Bum.


revistapontocom – E a sua opinião sobre desenho animado, os quadrinhos? Como você analisa o atual mercado brasileiro voltado para a infância? Há espaço para novos autores? Novas propostas?

Daniel Azulay – É um mercado em franca expansão. Carlos Saldanha e o sucessos da Era do Gelo e Rio, lavaram a alma não só de todos nós brasileiros como tb um orgulho da nossa capacidade técnica e artística para o mundo.


Reproduzido de Revistapontocom
07 fev 2012