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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A TV psicotizante na globobocalização


A TV psicotizante na globobocalização

Depois de ver essa fotografia nas redes sociais fui procurar o vídeo com a cena na Internet, achando facilmente no site "gshow" da Globo. Pasmo, fiquei matutando em como o "carrasco" que idealiza e executa esses crimes superou em mau gosto os requintes daquela famosa cena artística do banho da beldade loira de Hitchcock.

Ao mesmo tempo, não há como evitar que venham à mente outras tantas cenas que se relacionam com as estranhices sobre o que a TV e as grandes corporações midiáticas fazem com, e pelo povo: reproduzir cotidianamente a doença que é inoculada pelas janelinhas e mil telas vidiotizadoras produzindo, em série, os vivo-mortos dessa sociedade da chamada Idade Mídia que corrói em trevas, ironicamente disseminada por cabos e tubos que conduzem luz.

Decerto que é assunto para neurocientistas e psiquiatras se debruçarem por décadas a fio, em seus laboratórios, o que as monopolizadas empresas de anti-comunicação em conjunto fazem a partir de seus estúdios, provocando essa epidemia que dis-forma em zumbis des-pensantes o que seriam seres humanos com dignidade e direitos.

Nesse século XX, que ainda não acabou, a Idade Mídia tem muito a ver com a Era de Direitos tão propalada aqui e ali nos cenários nacional e internacional, mesmo que nos meios políticos as políticas públicas sejam tão negadoras do que acolá, na luta cotidiana por um mundo melhor, a sociedade civil e gatos pingados da indignação defendam e promovam os ideais e valores para a construção de uma sociedade de justiça.

Políticos e empresários à soldo do mundo do mercado se sentem acima disso tudo, do bem e do mal, e as discussões sobre regulamentação, qualidade da programação, democratização dos meios de comunicação, direitos humanos e das crianças não afetam em nada a pandemia em curso, bem planejada em conjunto pelos poderosos interesses dos donos das mídias, obviamente orquestrada e afinadíssima com os interesses de quem faz da humanidade gato e sapato.

Desde tempos imemoriais é fato que as classes dominantes continuam atuando com o mesmo roteiro, ainda que os atores e a ribalta nos apresentem um elenco com caras novas, ao gosto de cada época e à moda do apetite da plebe por o que veio a se chamar entretenimento, purgação das culpas da vida desenfreada de prazeres duvidosos de cada um.

A turba insatisfeita com pouco sangue nas arenas levanta ou abaixa o dedo para determinar a vida de quem se digladia até à morte naquilo que chamam de espetáculo. Hoje, entronizam ou execram a mesmice que desfila em todos os canais do Circo Midiático com a idêntica imponência do gesto de césares sanguinários, com o polegar apertando as teclas do controle remoto da arquibancada do sofá almofadado.

Papas, cardeais, bispos e padres cederam sua vez aos megaempresários atuando por suas marionetes que estampam as revistas, assim como dão as caras atrás das telinhas ultra contemporâneas em alguma engenhoca tecnológica de última geração. Pelos altares erigidos na sala, no quarto etc., nos tablets e nos celulares se cultua e se venera o que a deusa platinada santifica.  Agora, são os telespectadores e consumidores dos produtos endeusados dos tempos modernos que absolvem e condenam o que ouvem de pecados e mazelas no confessionário pessoal de cada um.

E, segue dia e noite a ladainha na farsa dos telejornais criando a pauta de discussão nacional pela des-informação hipnotizante, na festança do banquete da dieta informacional de engorda e espalhando o terror e o medo como prestação de serviço indispensável à população que perdeu a noção do certo e errado, do justo e injusto, tantas as falcatruas que permeiam as intenções de jornalistas, repórteres, editores e chefes de redação como prepostos dos interesses dos patrões na ideia hegemônica da anti-comunicação. Claro que regiamente financiados pela propaganda e marketing a serviço e impulsionados pela ideologia opressora disfarçada nas caricaturas.

Até nesses horários dos religiosos se re-produzem o tom dado aos telejornais e programas de auditório, com apresentadores do show de fé dando mais pinta que as macacas de auditório, que aplaudem calorosamente os calouros e veteranos dos púlpitos de todas as crenças como quem se extasiasse se o mar se abrisse para revelar as terras da salvação. Todos famintos e sedentos de uma vida glamorosa além do deserto percorrido das vidas medíocres , que não seria bela se a televisão não lhes prometesse o paraíso das sensações.

Na novena quase infindável das novelas em que a deusa brasileira em favor da globobocalização se tornou referência internacional, toda uma geração se habituou a seguir como vidiota a procissão de estórias chamadas de folhetim, onde se ressaltam capítulo a  capítulo todas as coisas desgracentas e esquisitices próprias da vida humana no rumo desembestado de vivências das paixões, ilusões e desejos. Pelo enredo inteiro perpassa dor, desatino, des-encontro, mal-entendidos em tramas maquiavélicas com suspense de um fim de semana para outro, como ondas trazendo o mesmo lixo do comportamento infeliz de personagens que não se sabe bem influenciando a vida real, ou apenas retratando o que vai no pensamento e sentimento coletivo da humanidade entorpecida.

Por séculos que a literatura e os romances, e décadas que os filmes, novelas e noticiários se edificam sobre essa ideia de colocar dia após dia um tijolinho de infortúnio criando o clima de tensão, terror e medo enquanto os “finais felizes” se dão apenas no final das “obras”, quando terminam. E logo depois se recomeça outra maratona de tristezas diárias. Isso por si só já denota alguma coisa doentia.

E, o resto da programação da TV des-regulada, enquadrada nos moldes do que se quer para o mundo escravizado e doentio, vai contaminando ano após ano desde a criança até o mais idoso dos velhinhos habituados às papinhas indigestas da publicidade dirigida ao público infantil, aos requintes dos temperos de violência adocicada da sociedade embevecida e trôpega, até o soro de mil histórias contadas em gotas incalculáveis injetadas no sangue de quem, no final das contas, não viveu nenhuma daquelas cenas a não ser pelas telas, e não viveu a própria vida, pensante, sonhadora e realizadora de cenas singulares e criativas além do que foi imposto.

Nem precisa se falar aqui do que significam esses programas de reality show em que muitos se comprazem em ficar espiando as bobageiras encenadas por atrizes e piriguetes, atores e modelos, garotões machistas e, às vezes, gays e lésbicas bem comportadinhos conforme quer o contrato que assinam para se exporem ao gosto do voyeur. Perguntemos às crianças nas escolas quem dormiu, e fez o que com quem, debaixo de edredons ou na piscina. Muitas delas sabem mais do que mal imaginamos como professores e professoras mal-amados e des-amantes em nossos sonhos e fantasias eróticas.

O Circo Midiático com seus shows espetaculares, a programação fantástica, o que faz des-pensar os cegos, surdos e mudos refastelados, os obesos do entretenimento que gargalham, choram, devoram as migalhas caídas da mesa dos 1% senhores controladores de tudo e  todos, a-palermados zumbis no drama tragicomédico da doença normotizante.

Desde a invenção desse tipo de imprensa e meios de anti-comunicação temos sido tratados na camisa de força do hospício da vida des-humana, criados à imagem e semelhança das exigências do deu$ monetário exercendo seus plenos poderes para tudo controlar. Nos acostumamos a agir e reagir, apenas dentro das esferas do aceitável nessa lógica escravizante e alienadora desde que um mais espertinho, no meio das massas sem vontade nenhuma, subiu em alguma pedra acima do fogo das cavernas ou numa caixinha de fósforo nos palanques, púlpitos, tribunas, palcos e centros das atenções para atrair a si a má-vontade de todos num discurso manipulador de consciências para que o restante dos 99% da humanidade sempre servisse de pedestal para a fama, eleição, canonização, soberba, arrogância e endeusamento daqueles poucos. A TV nos formata, mais que ninguém, mais que qualquer tirano, para a consagração do Império dos falsos deuses mandando e desmandando sobre a vida dos pobres vidiotas.

Lemos por aí no ciberespaço que a personagem da novela retratada na cena da foto, encarnada pela outra beldade malvada da hora, alcançou índices recordes de público plugado na emissora que a reproduziu, segundo disseram os institutos de pesquisa e verificação de audiência, pelo menos para a cidade de São Paulo. Faz parecer que no resto do país se deu o mesmo.

Todo ano temos essas cenas finais de novelas em que a sociedade se delira com a condenação, perseguição e morte de malvados e malvadas que destilaram fel pela história inteira. Se houve muitos tapas e beijos, corpos desnudos, cenas de sexo e outras de alguma coisa querendo se parecer com politicamente correto, mas indubitavelmente bastante baixaria ao longo da trama, é certa garantia de que a audiência foi conquistada, os anunciantes pensam que comprarão seus produtos, e as emissoras faturam milhões com a contribuição do dízimo dos pagantes. O “carrasco” das novelas - em especial dessa da cena da foto - é apenas mais um dos criadores de ilusão, dos acólitos que em seus estrelismos fazem sua parte na colaboração para ludibriar a massa que finge estar tudo bem no mundo das escolhas pessoais, onde liberdade de expressão se confunde tanto com a velhíssima e velhacas formas opressão re-produzidas pelas mídias 24 horas por dia, e sete dias por semana sem intervalo.

Na sequência da enumeração das artes feita há 100 anos, certamente que à TV cabe o oitavo lugar - mas como anti-arte - pelas anti-maravilhas que produz e re-produz na disseminação da doença ainda não devidamente catalogada em um rol, bem ao lado de itens que descrevessem a patologia com os tiques da histeria coletiva, demência generalizada, boçalidade intermitente, câncer do pensamento, inflamação dos sentidos, vidiotice pura.

Obviamente que há cura para tudo isso, muito mais além do simples desligar a TV ou ficar estropiado e junto a uns poucos na luta que parece interminável pela qualidade de programação, democratização dos meios de comunicação, regulação, classificação indicativa etc. Remendar pano novo nos velhos tecidos desses preciosos sistemas de educação e comunicação que temos tem se comprovado tão ineficaz quanto dar um passo pra frente e dois para trás pelas vias da justiça que não enxerga, não fala e não ouve como ab-surda, ab-muda e ab-cega frente às ações promovidas pela alfabetização des-humana - escolar, midiática  - no beabá da cartilha do consumismo pelos interesses do mercado e dessa economia da selva em que o poder e o dinheiro mandam.

Creio que há que se des-truir tudo isso e re-começar de novo. Como restaurar o bom senso onde o consenso que impera tem essas características psicóticas graves na globobocalização e vidiotização do mundo?

Parece faltar indignação, lucidez, sensatez, responsabilidade, integridade, em suma, sabedoria, onde sobra des-amor e in-felicidade nesse tempo de trevas da “Idade Mídia”. O distúrbio neurótico que padecemos, e agora parece ser social, educacional, cultural, artístico e comunicacionalmente aceito como a coisa mais normal do mundo contemporâneo, ainda vai provocar muita tristeza, terror e guerras em que todos sempre perderemos alguma lindeza dentro e fora de nós.

O esquisito do personagem Norman Bates - de Psicose de Hitchcock - a meu perceber, teria feito muito mais estragos no filme se fosse rodado hoje. Não duvido que sua mãe encalacrada naquele quarto, mortinha-viva da silva, assistisse o dia inteiro, por exemplo, a TV Globo com sua programação e essa novela em especial. Somos todos Ninhos e Césares, acreditando nas palavras de anti-amor da Aline, das TVs, dos meios de comunicação. E daqui a pouco morreremos, de facada, tristeza, ou teremos um AVC. Tudo a ver!

Que pais e irresponsáveis não sub-metam as crianças a esse tipo de programação e, professores, fiquem atentos aos compromissos no campo das relações entre a Educação e Comunicação. As crianças têm direitos e devemos defendê-los, mesmo que não venhamos a dar a mínima para os nossos próprios e des-cumpramos nossos deveres, como o fazem os meios de anti-comunicação.

Quem puder ou querer des-pertar do torpor viciante dessa doença psicotizante e normótica, que o faça logo, e realize com outros indignados os sonhos por uma humanidade para o Bem Viver.

Leo Nogueira Paqonawta
27 jan 2014

...

A foto reproduzida nas redes sociais, aqui foi retirada de um site sobre novelas. Apenas a colocamos ali para expressar, no texto, todo nosso repúdio a tudo o que ela apresenta, re-presenta e se e-produz pelas mídias.

sexta-feira, 16 de março de 2012

A televisão possibilitando novos olhares no fazer pedagógico


A televisão possibilitando novos olhares no fazer pedagógico

Pedagoga
Universidade Federal do Tocantins
2010

Resumo

A pesquisa que se segue: “A televisão possibilitando novos olhares no saber – fazer pedagógico” investiga formas de apropriação da televisão como ferramenta pedagógica nas instituições de ensino. O hábito de ver televisão faz parte da cultura atual. Na maioria dos lares brasileiros, estejam eles no ponto mais distante do mapa, a TV está presente entretendo e distraindo as pessoas, e por ser um meio de comunicação tão atraente e popular acaba por interferir no modo de pensar, agir e se relacionar com o mundo. Nesse sentido, o projeto procura mostrar de uma forma atraente, o uso desta tecnologia para promover a aprendizagem de forma crítica e atualizada, já que a grade de programação de todas as emissoras busca tratar de assuntos atuais em seus programas, sejam eles informativos ou de entretenimento. Sendo assim, os meios tecnológicos de comunicação, em especial a televisão, podem ser usados como recurso para educar o olhar, motivar os alunos e transformar as aulas em laboratórios do conhecimento humano e assim contribuir para a formação de cidadãos que conseguem ver além das imagens e participar democraticamente dos processos políticos e sociais do contexto em que está inserido. Para tanto, foi realizado pesquisa de campo em escolas da rede pública estadual de ensino, com aplicação de questionários abertos para alunos e professores. Teoricamente o trabalho se fundamenta no pensamento de autores que há muito tampo se dedicam ao tema como Douglas Kellner, Marcos Napolitano, Pedrinho Guareschi, José Manoel Moram, dentre outros.

Conclusão

Chegando ao fim desse trabalho percebo que muito descobri sobre a televisão e toda a dinâmica que a envolve, porém minhas descobertas são apenas uma pequenina ponta da discussão que não pode ficar engavetada nas escrivaninhas burocráticas das escolas, faculdades e outros órgãos educacionais.

Nesse trabalho pude pontuar fatos e levantar questionamentos pertinentes ao campo comunicacional e educacional, pois acredito que da mesma forma que a escola precisa mudar sua visão em relação a televisão e outras mídias, as emissoras de TV devem se engajar em utilizar esse instrumento tão rico que é a comunicação de massa em benefício da formação de gerações críticas e questionadoras.

Para encaminhar essas mudanças é necessário coragem para debater os meios de comunicação de massa, que hoje são grandes oligopólios a serviço do capitalismo mercantilista. Penso que essa realidade deve ser modificada e acompanho o pensamento de Silverstone (2002), quando este diz que a sociedade precisa se manifestar criando o que pode ser chamado de quinto poder, que seja capaz de controlar o quarto poder - a mídia- que já controla muito bem os outros três.

O papel desse quinto poder seria desafiar, criticar, enfrentar e responder a mídia. Quanto a escola, a responsabilidade dessa instituição vai além da formação intelectual, deve transcender a formação humana e cidadã e alcançar o ápice de uma formação integral do indivíduo, onde este possa contra argumentar e se posicionar-se frente as intencionalidades das mídias, não deixando de assisti-las e participar de suas produções, mas lendo-as de forma crítica, reflexiva e decidindo-se de forma democrática sobre seus valores e contribuições à sociedade.

Sempre é tempo de iniciar um letramento para as mídias, e para essa tarefa obter êxito ninguém pode ficar de fora. A sociedade civil e o poder público devem ampliar seus conhecimentos sobre a mídia eletrônica para junto aos órgãos educacionais buscar formas de democratizá-la.

A obrigação da mídia é defender os interesses do país, e a obrigação da escola é possibilitar as futuras gerações a participação ativa nas mudanças e a compreensão intrínseca desses interesses. Portanto, na sociedade atual, uma não deve caminhar sem a outra do lado.

Conheça o trabalho na íntegra clicando aqui ou ali.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Televisão: fábrica de mais-valia ideológica



Televisão: fábrica de mais-valia ideológica



Elaine Tavares
A televisão é uma usina ideológica. Gera milhares de megawatts de ideologia a cada programa, por mais inocente que pareça ser. E ideologia como definiu Marx: encobrimento da realidade, engano, ilusão, falsa consciência. Então, se considerarmos que a maioria da população latino-americana, aí incluída a brasileira, se informa e se forma através desse veículo, pensá-la e analisá-la deveria ser tarefa intelectual de todo aquele que pensa o mundo. Afinal, como bem afirma Chomsky, no seu clássico “Os Guardiões da Liberdade”, os meios atuam como sistema de transmissão de mensagens e símbolos para o cidadão médio. “Sua função é de divertir, entreter e informar, assim como inculcar nos indivíduos os valores, crenças e códigos de comportamento que lhes farão integrar-se nas estruturas institucionais da sociedade”. Não é sem razão que bordões, modas e gírias penetram nas gentes de tal forma que a reprodução é imediata e sistemática.
Um termômetro dessa usina é a famosa “novela das oito”, que consolidou um lugar no imaginário popular desde os anos 60, com a extinta Tupi, foi recuperado com maestria pela Globo e vem se repetindo nos demais canais. O horário nobre é usado pela teledramaturgia para repassar os valores que interessam à classe dominante, funcionando como uma sistemática propaganda que visa a manutenção do estado de coisas. É clássica, nos folhetins, a eterna disputa entre o bem e o mal, o pobre e o rico, com clara vinculação entre o bem e o rico. Sempre há um empresário bondoso, uma empresária generosa, um fazendeiro de grande coração, que são os protagonistas. E, se a figura principal começa a novela como pobre é certo que, por sua natural bondade, chegará ao final como uma pessoa rica e bem sucedida, porque o que fica implícito que o bem está colado à riqueza, vide a Griselda de Fina Estampa, a novela da vez.
Outro elemento bastante comum nas novelas é o da beleza da submissão. Como os protagonistas são sempre pessoas ricas, eles estão obviamente cercados dos serviçais, que, no mais das vezes os amam e são muito “bem-tratados” pelos patrões. Logo, por conta disso, agem como fiéis cães de guarda. Um desses exemplos pode ser visto atualmente na novela global. É o empregado-amigo (?) da vilã Tereza Cristina. Ele atua na casa da milionária como um mordomo, cúmplice, saco de pancadas, dependendo do humor da mulher. Ora ela lhe conta os dramas, ora lhe bate na cara, ora lhe ameaça tirar tudo o que já lhe deu. E ele, premido pela necessidade, suporta tudo, lambendo-lhe as mãos como um cachorrinho amestrado. Tudo é tão sutil que não há quem não se sinta encantado pelo personagem. Ele provoca o riso e a condescendência, até porque ainda é retratado de forma caricata como um homossexual cheio de maneios, trejeitos e extremamente servil.
Mas, se o servilismo de Crô pode ser questionado pela profunda afetação, outros há que aparecem ainda mais sutis. É o caso da turma da praia que, na pobreza, hostilizava Griselda e, agora, depois que ela ficou rica, passou para o seu lado, vindo inclusive trabalhar com a faz-tudo, assumindo de imediato a postura de defensores e amigos fiéis. Ou ainda a relação dos demais trabalhadores com os patrões “bonzinhos”, como é o caso do Paulo, o Juan, o homem da barraquinha de sucos, e o Renê. Todos são “amigos” e fazem os maiores sacrifícios pelos patrões, reforçando a ideia de que é possível existir essa linda conciliação de classe na vida real. O grupo que atua com o cozinheiro Renê, por exemplo, foi demitido pela vilã, não recebeu os salários, viveu de brisa por um tempo e retomou o trabalho com o antigo chefe por pura bem-querença. Coisa de chorar.
Nesses folhetins também os preconceitos que interessam aos dominantes acabam reforçados sob a faceta de “promoção da democracia”. O negro já não aparece apenas como bandido, mas segue sendo subalterno. No geral faz parte do núcleo pobre, mas é generoso e sabe qual é o “seu lugar”. É o caso do ético funcionário da loja de motos. Um bom rapaz, que, no máximo, pode chegar a gerente da loja. As pessoas que discutem uma forma alternativa de viver aparecem como gente “sem-noção”, no mais das vezes caricaturada, como é o caso da garota que prevê o futuro, a mulher negra que era bruxa, o rapaz que brinca com fogo ou os donos da pousada que em nada se diferem de empresários comuns, a não ser nas roupas exotéricas. Ou o personagem do Zé Mayer, numa antiga novela, que via discos voadores, não aceitava vender suas terras e, no final, “fica bom”, entregando sua propriedade para a empresária boazinha que era dona de uma papeleira. Os homossexuais também encontram espaço nas novelas, dentro da lógica da “democratização”, mas continuam sendo retratados de forma folclórica, como é o caso do Crô, na novela das oito, ou do transexual da novela das sete. Já o índio, como é invisível na vida real, tampouco tem vez nas tramas novelistas e quando tem, como a novela protagonizada por Cléo Pires, vem de forma folclórica e desconectada da vida real. E assim vai...
Gente há que fica indignada com os modelos que as telenovelas reproduzem ano após ano, mas essa é realidade real. Os folhetins nada mais fazem do que reforçar as relações de produção consolidadas pelo sistema capitalista. Até porque são financiados pelo capital, fazendo acontecer aquilo que Ludovico Silva chama de “mais-valia ideológica”. Ou seja, a pessoa que está em casa a desfrutar de uma novela, na verdade segue muito bem atada ao sistema de produção dessa sociedade, consumindo não só os produtos que desfilam sob seu olhar atento, enquanto aguardam o programa favorito, mas também os valores que confirmam e afirmam a sociedade atual. Prisioneira, a pessoa permanece em estado de “produção”, sempre a serviço da classe dominante. Assim, diante da TV – e sem um olhar crítico - as pessoas não descansam, nem desfrutam.
É certo que a televisão e os grandes meios não definem as coisas de forma automática. Como bem já explicou Adelmo Genro, na sua teoria marxista do jornalismo, os meios de comunicação também carregam dentro deles a contradição e vez ou outra isso se explicita, abrindo chance para a visão crítica. Momentos há em que os estereótipos aparecem de maneira tão ridícula que provocam o contrário do que se pretendia ou personagens adquirem tanta força que provocam um explodir da consciência. E, nesses lampejos, as pessoas vão fazendo as análises e podem refletir criticamente. Mas, de qualquer forma, esses momentos não são frequentes nem sistemáticos, o que só confirma a função de fabricação de consenso que é reservada aos meios. Um caso interessante é o do transexual que está sendo retratado na novela da Record, que passa às dez horas. “Dona Augusta” é nascida homem e se faz mulher, sem a folclorização do que é retratado na Globo. É “descoberta” pelo filho que a interna como louca. Toda a discussão do tema é muito bem feita pelos autores, sem estereótipos, sem falsa moral. Mas, é a TV dos bispos evangélicos, que, por sua vez, na vida real pregam a homossexualidade como “doença”. São as contradições.
De qualquer sorte, a teledramaturgia brasileira deveria ser bem melhor acompanhada pelos sindicatos e movimentos sociais. E cada um dos personagens deveria ser analisado naquilo que carrega de ideologia. Não para ensinar aos que “não sabem”, mas para dialogar com aqueles que acabam capturados pelo véu do engano. Assim como se deve falar do que silencia nos meios, o que não aparece, o que não se explicita, também é necessário discutir sobre o que é inculcado, dia após dia, como a melhor maneira de se viver. Pois é nesse entremeio de coisas ditas, malditas e não ditas, que o sistema segue fabricando o consenso, sempre a favor da classe dominante.
Reproduzido de Palavras Insurgentes . 18 jan 2012

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Dieta informacional: a Rede Globo "está investindo em telejornais mais soltos e informais"


Telejornais faturam o mesmo que novelas na Rede Globo

Anderson Scardoelli

O jornalismo e a dramaturgia são os núcleos que mais geram receita para a TV Globo, informa o diretor geral da emissora, Octávio Florisbal. O executivo revela ao Comunique-se que "há equilíbrio" entre os dois setores, não tendo um à frente do outro no quesito faturamento. "A procura por estes gêneros é muito grande".

Sem revelar os números de cada departamento, Florisbal conta que atrás do jornalismo e dos folhetins produzidos pela Globo, o departamento de esportes é o que mais arrecada. Os shows e outras atrações de entretenimento e variedades, incluindo seriados e programas esporádicos somam a quarta força de arrecadação do canal.

Dividido entre conteúdo local e nacional, a Globo dedica cerca de cinco horas diárias da sua programação para o jornalismo. Ao todo, nove noticiários são produzidos por dia pelas duas principais geradoras de conteúdo da rede: São Paulo e Rio de Janeiro. Sobre este conteúdo, o executivo diz que "está investindo em telejornais mais soltos e informais".

Reproduzido de Comunique-se em 06 out 2011.

Comentário de Filosomídia:

Dieta informacional = Telejornais = Novelas = Entretenimento = $

Veja mais sobre Notícias e Entretenimento, por Prof. Daya Kishan Thussu clicando aqui.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Como a internet está mudando a televisão


As mídias sociais estão revolucionando tudo, principalmente na área da comunicação. Mesmo com a internet ainda estando em fase de crescimento e principalmente pelo fato de os serviços relacionados ao acesso ainda serem muito contrários às pesquisas que mostram os brasileiros como um povo que passa muito tempo conectado.

televisão já é a muito tempo a principal ferramenta de comunicação de massa e continua a escrever tendências e exercer grande influência na sociedade. Mas este império criado pelas grandes emissoras do país também esta se rendendo a essa recente revolução.

Citamos aqui algumas constatações que comprovam que essas grandes empresas de comunicação estão se rendendo as novas tecnologias, seja por medo de ser substituído por elas ou apenas para oferecer um serviço mais completo aos tele-espectadores.

Jornalismo: Talvez uma das primeiras áreas da televisão a tentar se adaptar as novidades da internet. O jornalismo vem se adaptando com a internet, vemos programas jornalísticos de diversas emissoras fazendo matérias sobre acontecidos da web, tentando atrair de volta aquele público que está migrando para a internet...

Novelas: As novelas talvez sejam a melhor ferramenta que a televisão possui para exercer o seu poder. Podemos perceber essa influência quando vemos modas serem lançadas pela novela das 20h que está passando...

Programação: Já vemos que a internet vem mudando a grade de horários das grandes emissoras brasileiras. Como em qualquer empresa, as emissoras vivem em base a resultados e retorno por parte dos clientes, os espectadores no caso da televisão....


Publicidade: O assunto publicidade tradicional contra a nova publicidade já é assunto comum...

Entretenimento: Outra função que a televisão está perdendo é o poder de entretenimento que vem sendo “roubado” pela internet, principalmente na parte do público jovem...

Dennis Altermann

Leia o texto completo em Midiatismo clicando aqui.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Violência na TV: quais são os limites do jornalismo televisivo?


Violência em horário impróprio

Por Flávia Péret em 29/3/2011

Uma indignação profunda me motiva a escrever este texto. Nos últimos 15 dias assisti na TV (precisamente Rede Globo, Jornal Nacional e Jornal da Globo) a matérias sobre tentativas de assalto seguidas de assassinato que foram gravadas por circuitos de segurança interna e, posteriormente, exibidas. Cenas de execuções sumárias, imagens violentas, veiculadas em horário impróprio para crianças e adolescentes.

Na primeira matéria, um rapaz universitário, em São Paulo, é abordado por dois homens ao chegar em casa à noite. Depois de uma confusão que não entendi totalmente, os assaltantes vão embora, o rapaz volta para fechar o portão, um dos bandidos reaparece e atira na cabeça dele. Na imagem, vemos o corpo caindo, o sangue e, minutos ou segundos depois, os pais apavorados que vêm ao encontro do filho morto. Toda a cena foi filmada pela câmera particular da família e reproduzida (com autorização de quem?) pelas redes de TV.

Nas imagens de hoje (23/3), outro jovem é a vítima, agora de policiais militares (acho que de Bélem). O jovem é abordado, levado para um canto na rua e, de repente, um policial dispara em direção ao corpo do rapaz, ele balança e o tiro parece atingir a barriga. Nesse momento, decido que não vou continuar vendo as imagens e mudo de canal.

Imagens assustadoras

Legalmente, a mídia pode exibir essas imagens? Existe um código de ética que trata da questão? Por que a mídia exibe e reproduz essas imagens? Por que é preciso mostrar a morte? Por que precisamos conviver com essas imagens? Conviver, sim, porque enquanto faço minha aula de ginástica uma TV ligada mostra o assassinato do rapaz em São Paulo. Não tenho o direito de desligar a TV, como fiz hoje em casa. Mostrar a morte, além de desrespeito com os familiares, é uma banalização da violência. Acho que esse assunto merece uma discussão mais profunda, cuidadosa e ética.

Quais são os limites – limite não é censura – do jornalismo televisivo? Qual o futuro do telejornalismo num contexto cada vez mais fotografado, vigiado, filmado? A lógica do furo? Da "melhor" imagem? Da informação "completa"? Do direito à informação? E quando os cinegrafistas são "substituídos" por câmeras que funcionam 24 horas e gravam tudo? É preciso mostrar tudo? Não mostrar a morte é esconder que vivemos num país cada dia mais violento? Mostrar reiteradamente assassinatos tem alguma função, além de criar paranoia e medo na população? Precisamos ver assassinatos como esses para acreditar que eles existem?

Peço desculpa pelos erros e informações incompletas, escrevi no calor da hora, uma espécie de desabafo, espero que vocês de alguma forma possam reverberar essas questão. Por que o cinema (um certo tipo de cinema) discute tanto essas questões e o jornalismo não? As implicações éticas de uma imagem, as representações e ideologias que as imagens engendram e reproduzem, as construções parciais e frágeis de mundo que sustentam, o modo como jornalismo tem lidado com essas imagens me assusta profundamente.


Saiba mais sobre a Classificação Indicativa para telejornais e programas noticiosos no debate online promovido pelo Ministério da Justiça, clicando aqui.

Leia também o texto “Novela sexual: indicada para crianças e jovens?” na Revistapontocom clicando aqui.