terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A TV psicotizante na globobocalização


A TV psicotizante na globobocalização

Depois de ver essa fotografia nas redes sociais fui procurar o vídeo com a cena na Internet, achando facilmente no site "gshow" da Globo. Pasmo, fiquei matutando em como o "carrasco" que idealiza e executa esses crimes superou em mau gosto os requintes daquela famosa cena artística do banho da beldade loira de Hitchcock.

Ao mesmo tempo, não há como evitar que venham à mente outras tantas cenas que se relacionam com as estranhices sobre o que a TV e as grandes corporações midiáticas fazem com, e pelo povo: reproduzir cotidianamente a doença que é inoculada pelas janelinhas e mil telas vidiotizadoras produzindo, em série, os vivo-mortos dessa sociedade da chamada Idade Mídia que corrói em trevas, ironicamente disseminada por cabos e tubos que conduzem luz.

Decerto que é assunto para neurocientistas e psiquiatras se debruçarem por décadas a fio, em seus laboratórios, o que as monopolizadas empresas de anti-comunicação em conjunto fazem a partir de seus estúdios, provocando essa epidemia que dis-forma em zumbis des-pensantes o que seriam seres humanos com dignidade e direitos.

Nesse século XX, que ainda não acabou, a Idade Mídia tem muito a ver com a Era de Direitos tão propalada aqui e ali nos cenários nacional e internacional, mesmo que nos meios políticos as políticas públicas sejam tão negadoras do que acolá, na luta cotidiana por um mundo melhor, a sociedade civil e gatos pingados da indignação defendam e promovam os ideais e valores para a construção de uma sociedade de justiça.

Políticos e empresários à soldo do mundo do mercado se sentem acima disso tudo, do bem e do mal, e as discussões sobre regulamentação, qualidade da programação, democratização dos meios de comunicação, direitos humanos e das crianças não afetam em nada a pandemia em curso, bem planejada em conjunto pelos poderosos interesses dos donos das mídias, obviamente orquestrada e afinadíssima com os interesses de quem faz da humanidade gato e sapato.

Desde tempos imemoriais é fato que as classes dominantes continuam atuando com o mesmo roteiro, ainda que os atores e a ribalta nos apresentem um elenco com caras novas, ao gosto de cada época e à moda do apetite da plebe por o que veio a se chamar entretenimento, purgação das culpas da vida desenfreada de prazeres duvidosos de cada um.

A turba insatisfeita com pouco sangue nas arenas levanta ou abaixa o dedo para determinar a vida de quem se digladia até à morte naquilo que chamam de espetáculo. Hoje, entronizam ou execram a mesmice que desfila em todos os canais do Circo Midiático com a idêntica imponência do gesto de césares sanguinários, com o polegar apertando as teclas do controle remoto da arquibancada do sofá almofadado.

Papas, cardeais, bispos e padres cederam sua vez aos megaempresários atuando por suas marionetes que estampam as revistas, assim como dão as caras atrás das telinhas ultra contemporâneas em alguma engenhoca tecnológica de última geração. Pelos altares erigidos na sala, no quarto etc., nos tablets e nos celulares se cultua e se venera o que a deusa platinada santifica.  Agora, são os telespectadores e consumidores dos produtos endeusados dos tempos modernos que absolvem e condenam o que ouvem de pecados e mazelas no confessionário pessoal de cada um.

E, segue dia e noite a ladainha na farsa dos telejornais criando a pauta de discussão nacional pela des-informação hipnotizante, na festança do banquete da dieta informacional de engorda e espalhando o terror e o medo como prestação de serviço indispensável à população que perdeu a noção do certo e errado, do justo e injusto, tantas as falcatruas que permeiam as intenções de jornalistas, repórteres, editores e chefes de redação como prepostos dos interesses dos patrões na ideia hegemônica da anti-comunicação. Claro que regiamente financiados pela propaganda e marketing a serviço e impulsionados pela ideologia opressora disfarçada nas caricaturas.

Até nesses horários dos religiosos se re-produzem o tom dado aos telejornais e programas de auditório, com apresentadores do show de fé dando mais pinta que as macacas de auditório, que aplaudem calorosamente os calouros e veteranos dos púlpitos de todas as crenças como quem se extasiasse se o mar se abrisse para revelar as terras da salvação. Todos famintos e sedentos de uma vida glamorosa além do deserto percorrido das vidas medíocres , que não seria bela se a televisão não lhes prometesse o paraíso das sensações.

Na novena quase infindável das novelas em que a deusa brasileira em favor da globobocalização se tornou referência internacional, toda uma geração se habituou a seguir como vidiota a procissão de estórias chamadas de folhetim, onde se ressaltam capítulo a  capítulo todas as coisas desgracentas e esquisitices próprias da vida humana no rumo desembestado de vivências das paixões, ilusões e desejos. Pelo enredo inteiro perpassa dor, desatino, des-encontro, mal-entendidos em tramas maquiavélicas com suspense de um fim de semana para outro, como ondas trazendo o mesmo lixo do comportamento infeliz de personagens que não se sabe bem influenciando a vida real, ou apenas retratando o que vai no pensamento e sentimento coletivo da humanidade entorpecida.

Por séculos que a literatura e os romances, e décadas que os filmes, novelas e noticiários se edificam sobre essa ideia de colocar dia após dia um tijolinho de infortúnio criando o clima de tensão, terror e medo enquanto os “finais felizes” se dão apenas no final das “obras”, quando terminam. E logo depois se recomeça outra maratona de tristezas diárias. Isso por si só já denota alguma coisa doentia.

E, o resto da programação da TV des-regulada, enquadrada nos moldes do que se quer para o mundo escravizado e doentio, vai contaminando ano após ano desde a criança até o mais idoso dos velhinhos habituados às papinhas indigestas da publicidade dirigida ao público infantil, aos requintes dos temperos de violência adocicada da sociedade embevecida e trôpega, até o soro de mil histórias contadas em gotas incalculáveis injetadas no sangue de quem, no final das contas, não viveu nenhuma daquelas cenas a não ser pelas telas, e não viveu a própria vida, pensante, sonhadora e realizadora de cenas singulares e criativas além do que foi imposto.

Nem precisa se falar aqui do que significam esses programas de reality show em que muitos se comprazem em ficar espiando as bobageiras encenadas por atrizes e piriguetes, atores e modelos, garotões machistas e, às vezes, gays e lésbicas bem comportadinhos conforme quer o contrato que assinam para se exporem ao gosto do voyeur. Perguntemos às crianças nas escolas quem dormiu, e fez o que com quem, debaixo de edredons ou na piscina. Muitas delas sabem mais do que mal imaginamos como professores e professoras mal-amados e des-amantes em nossos sonhos e fantasias eróticas.

O Circo Midiático com seus shows espetaculares, a programação fantástica, o que faz des-pensar os cegos, surdos e mudos refastelados, os obesos do entretenimento que gargalham, choram, devoram as migalhas caídas da mesa dos 1% senhores controladores de tudo e  todos, a-palermados zumbis no drama tragicomédico da doença normotizante.

Desde a invenção desse tipo de imprensa e meios de anti-comunicação temos sido tratados na camisa de força do hospício da vida des-humana, criados à imagem e semelhança das exigências do deu$ monetário exercendo seus plenos poderes para tudo controlar. Nos acostumamos a agir e reagir, apenas dentro das esferas do aceitável nessa lógica escravizante e alienadora desde que um mais espertinho, no meio das massas sem vontade nenhuma, subiu em alguma pedra acima do fogo das cavernas ou numa caixinha de fósforo nos palanques, púlpitos, tribunas, palcos e centros das atenções para atrair a si a má-vontade de todos num discurso manipulador de consciências para que o restante dos 99% da humanidade sempre servisse de pedestal para a fama, eleição, canonização, soberba, arrogância e endeusamento daqueles poucos. A TV nos formata, mais que ninguém, mais que qualquer tirano, para a consagração do Império dos falsos deuses mandando e desmandando sobre a vida dos pobres vidiotas.

Lemos por aí no ciberespaço que a personagem da novela retratada na cena da foto, encarnada pela outra beldade malvada da hora, alcançou índices recordes de público plugado na emissora que a reproduziu, segundo disseram os institutos de pesquisa e verificação de audiência, pelo menos para a cidade de São Paulo. Faz parecer que no resto do país se deu o mesmo.

Todo ano temos essas cenas finais de novelas em que a sociedade se delira com a condenação, perseguição e morte de malvados e malvadas que destilaram fel pela história inteira. Se houve muitos tapas e beijos, corpos desnudos, cenas de sexo e outras de alguma coisa querendo se parecer com politicamente correto, mas indubitavelmente bastante baixaria ao longo da trama, é certa garantia de que a audiência foi conquistada, os anunciantes pensam que comprarão seus produtos, e as emissoras faturam milhões com a contribuição do dízimo dos pagantes. O “carrasco” das novelas - em especial dessa da cena da foto - é apenas mais um dos criadores de ilusão, dos acólitos que em seus estrelismos fazem sua parte na colaboração para ludibriar a massa que finge estar tudo bem no mundo das escolhas pessoais, onde liberdade de expressão se confunde tanto com a velhíssima e velhacas formas opressão re-produzidas pelas mídias 24 horas por dia, e sete dias por semana sem intervalo.

Na sequência da enumeração das artes feita há 100 anos, certamente que à TV cabe o oitavo lugar - mas como anti-arte - pelas anti-maravilhas que produz e re-produz na disseminação da doença ainda não devidamente catalogada em um rol, bem ao lado de itens que descrevessem a patologia com os tiques da histeria coletiva, demência generalizada, boçalidade intermitente, câncer do pensamento, inflamação dos sentidos, vidiotice pura.

Obviamente que há cura para tudo isso, muito mais além do simples desligar a TV ou ficar estropiado e junto a uns poucos na luta que parece interminável pela qualidade de programação, democratização dos meios de comunicação, regulação, classificação indicativa etc. Remendar pano novo nos velhos tecidos desses preciosos sistemas de educação e comunicação que temos tem se comprovado tão ineficaz quanto dar um passo pra frente e dois para trás pelas vias da justiça que não enxerga, não fala e não ouve como ab-surda, ab-muda e ab-cega frente às ações promovidas pela alfabetização des-humana - escolar, midiática  - no beabá da cartilha do consumismo pelos interesses do mercado e dessa economia da selva em que o poder e o dinheiro mandam.

Creio que há que se des-truir tudo isso e re-começar de novo. Como restaurar o bom senso onde o consenso que impera tem essas características psicóticas graves na globobocalização e vidiotização do mundo?

Parece faltar indignação, lucidez, sensatez, responsabilidade, integridade, em suma, sabedoria, onde sobra des-amor e in-felicidade nesse tempo de trevas da “Idade Mídia”. O distúrbio neurótico que padecemos, e agora parece ser social, educacional, cultural, artístico e comunicacionalmente aceito como a coisa mais normal do mundo contemporâneo, ainda vai provocar muita tristeza, terror e guerras em que todos sempre perderemos alguma lindeza dentro e fora de nós.

O esquisito do personagem Norman Bates - de Psicose de Hitchcock - a meu perceber, teria feito muito mais estragos no filme se fosse rodado hoje. Não duvido que sua mãe encalacrada naquele quarto, mortinha-viva da silva, assistisse o dia inteiro, por exemplo, a TV Globo com sua programação e essa novela em especial. Somos todos Ninhos e Césares, acreditando nas palavras de anti-amor da Aline, das TVs, dos meios de comunicação. E daqui a pouco morreremos, de facada, tristeza, ou teremos um AVC. Tudo a ver!

Que pais e irresponsáveis não sub-metam as crianças a esse tipo de programação e, professores, fiquem atentos aos compromissos no campo das relações entre a Educação e Comunicação. As crianças têm direitos e devemos defendê-los, mesmo que não venhamos a dar a mínima para os nossos próprios e des-cumpramos nossos deveres, como o fazem os meios de anti-comunicação.

Quem puder ou querer des-pertar do torpor viciante dessa doença psicotizante e normótica, que o faça logo, e realize com outros indignados os sonhos por uma humanidade para o Bem Viver.

Leo Nogueira Paqonawta
27 jan 2014

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A foto reproduzida nas redes sociais, aqui foi retirada de um site sobre novelas. Apenas a colocamos ali para expressar, no texto, todo nosso repúdio a tudo o que ela apresenta, re-presenta e se e-produz pelas mídias.

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