quarta-feira, 28 de agosto de 2013

"O médico cubano, o Facebook e a massa"


O médico cubano, o Facebook e a massa

A foto do profissional de saúde sendo vaiado foi vista nesta terça-feira por milhões de pessoas na rede social, de forma espontânea. Não há campanha de TV que tenha a mesma eficácia.

Publicado 28/08/2013

A foto de Jarbas Oliveira, da Folhapress, em que médicas de Fortaleza vaiam um médico cubano, circulou o Brasil ontem e sua repercussão fizeram pelo Mais Médicos e a vinda dos profissionais de saúde estrangeiros mais do que qualquer campanha em horário nobre da TV poderia fazer. Manifestar-se publicamente de forma contrária à vinda de médicos estrangeiros em geral –e de Cuba em particular-- ficou mais difícil depois daquele clique.

Explico o motivo.

Comprada por CartaCapital, a imagem foi postada em nossa página no Facebook e, até as 13h desta quarta-feira, já tinha sido compartilhada mais de 20 mil vezes, “curtida” outras 8 mil vezes e comentada por 4 mil pessoas. A cada vez que alguém interage com um conteúdo no Facebook, ele aparece em sua “time line”, e acaba sendo visto por parte de seus contatos. O Facebook fornece ao administrador de páginas corporativas --como a de CartaCapital— o total de pessoas “impactadas” pelo post. Ou seja, em quantas na time line de quantas pessoas aquela informação foi vista. Neste caso, foram 1,5 milhão de pessoas.

O fenômeno ocorreu em algumas páginas pessoais. Na minha mesmo, onde postei uma foto da capa do jornal que tirei com meu celular, os números são semelhantes aos da página da revista, então faz sentido supor que um número semelhante de pessoas foram impactadas. O paraense Marcus Pessoa postou  em sua página pessoal uma montagem simples, ladeando a foto da Folhapress e uma imagem PB de Little Rock (EUA), de 1957, que mostra uma estudante negra chegando para seu primeiro dia de aula sem separação racial –e sendo hostilizada por colegas brancas. Mais de 30 mil pessoas compartilharam. Na página do Brasil 247 a onda foi ainda mais forte. Ao ser o primeiro veículo a escrever sobre o assunto e postar rapidamente na rede no começo da manhã, mais de 200 mil compartilharam o post. Certamente alguns milhões de pessoas viram esse conteúdo ontem ao longo do dia em sua tela.

O que tudo isso quer dizer?

Além do enorme impacto positivo na opinião pública quanto a vinda dos médicos estrangeiros, fica claro o potencial do Facebook enquanto comunicação de massa, pelo menos no Brasil. Os números batem a audiência da maioria dos telejornais, e ainda vêm acompanhados de um juízo de valor, de opinião. E isso, como se diz, “agrega valor”, especialmente num ambiente de posições exacerbadas –e muitas vezes pouco equilibradas.

O poder da criação de Mark Zuckerberg é bastante útil para gerar contrapontos aos grandes veículos de comunicação e disputar o imaginário e a opinião da população. Segundo dados do próprio Facebook, há 76 milhões de contas ativas no Brasil. Ok, outras dezenas de milhões de pessoas estão fora, mas praticamente a totalidade dos profissionais de comunicação e da parcela mais jovem da nação está diariamente se informando e formando sua opinião pelo que veem em sua "time line". Isso não é pouca coisa. Falar que 10 milhões de pessoas debateram o assunto ontem na rede social é estimativa modesta, e o número real é praticamente impossível de ser aferido mesmo pela empresa.

O Facebook como ferramenta de comunicação, tornando cada um ao mesmo tempo emissor de informação e comentarista pode ser interessante, ainda mais levando-se em consideração que quase toda nossa mídia tradicional trabalha dentro de uma mesma linha ideológica. No caso do médico cubano, escancarou o viés racista da ação, o que é obviamente bom.

Esse protagonismo do Facebook enquanto pauteiro geral da nação, influenciando grandes veículos, blogs e até conversas de boteco ou no almoço da firma, contudo, é perigoso. Haja visto o caminho que os protestos de junho ameaçaram tomar em um determinado momento. Ainda mais porque muita gente enxerga Facebook como se fosse um serviço público. Pessoalmente tenho críticas a certas políticas da empresa, como o veto a qualquer tipo de nudez e a proteção tênue da privacidade dos usuários. Mas trata-se de uma empresa privada, com interesses comerciais claros e que dita as regras que bem entender, desde que não desrespeite a legislação dos países em que atua. A função primordial do Facebook é dar lucro, e não pra prestar um serviço livre e gratuito à população.

Convém curtir com moderação.

Reproduzido de Blog do Lino

28 ago 2013

Comentário de Filosomídia:

Há que se ter profunda admiração, respeito e gratidão aos médicos cubanos que chegaram ao Brasil dias atrás para trabalhar nas frentes de luta contra uma doença crônica no país: o descaso público de séculos pelo povo sofrido e vitimizado nas periferias do sistema desumanizador; a síndrome de superioridade de uma elititica soberba, esnobe, a verdadeira "escrava moderna" da máfia da exploração do ser humano; a ganância de pseudo médicos, mercadores da vida, traficantes dos planos de saúde, vassalos das corporações profissionais travestidas na morte de todas as esperanças do Bem Viver em seus jalecos brancos impecáveis, sem uma grama de poeira dos caminhos do sofrimento alheio no mundo, a anti-solidariedade.

Elas e eles, as médicas e médicos cubanos são verdadeiramente heróis que rexistem há décadas um bloqueio econômico imposto pelo autoritarismo que é, sim, o Grande Ditador da (des)ordem mundial espalhando no mundo o medo, a fome, a sede, a doença maior do egoísmo.

Elas e eles furam esse bloqueio justamente no atendimento ao grito de desespero dos desamparados pelos poderes e suas políticas públicas por séculos e, são recebidos aqui, numa cidade chamada Fortaleza, berço daquelas e daqueles colegas de juramento de uma profissão que, em nosso país parece ter gerado e saído das academias mais embrutecidos e desumanizados pelo trator de interesses que beiram a insanidade do que entraram nas escolas de medicina para realizar, talvez, um sonho de colaborar na redenção de todas as dores, ou, no que parece mais óbvio, ampliar a sangria e os horrores da mercantilização da saúde, direito de todos.

Esses jovens brasileiros tão alienados de sua própria humanidade, vaiando os recém-chegados como matilha de lobos uivando sob pele de cordeiros em suas vestes querendo parecer imaculadamente santos merecem a nossa mais profunda compaixão, quando sabemos que só mentes e sentimentos insanos podem produzir e conduzir ações tão infelizes, dignas de quem patrocina a miséria nessa conduta anti-ética, anti-humana, ignorante, estúpida. O mesmo fazem tantos outros profissionais da área de comunicação, chamados de jornalistas, que bancam a des-informação e alimentam o ódio ao próximo, ao diferente, ao íntegro.

Lamento profundamente, do mesmo modo, tantos afetos e conhecidos meus que compartilham aquela má ideia desses médicos brasileiros criados e formatados nos moldes do profissionalismo sem coração, repetidores de um juramento hipócrita, professadores de uma doutrina de anti-fraternidade que chamam de "ciência', quando os vejo tão des-informados e alienados quanto eles, des-possuídos de sua própria dignidade humana, verdadeiros moribundos, rodeados de brilhos de ouro mas mendigos do afeto mais sincero e simples, esse que a gente bem vê nos olhos de crianças em situação de forçada miséria e desamparo, mas que sorriem ao menor gesto de amor desinteressado.

Meus parabéns a esses heróis da medicina além de todas as fronteiras das convenções humanas, minha gratidão a vocês que atenderam a um chamado para ir onde nossos jovens ou imaturos profissionais jamais ousariam servir de instrumento de Paz para a Saúde, Alegria, Esperança. Vocês em sua coragem nos co-movem a sermos tão profissionais e humanos quanto vocês o são.

Meus parabéns pela foto, Jarbas Oliveira, porque você captou um desses instantes que ficará marcado para sempre na retina espiritual desse planeta tão carente de heróis anônimos que fazem a diferença, re-vira-voltam e re-evolucionam o mundo. Obrigado.

Leo Nogueira Paqonawta

Venício Lima: Sim. Existe ‘controle’ da mídia no Brasil


Sim. Existe ‘controle’ da mídia no Brasil

Por Venício A. de Lima em 27/08/2013 na edição 761

Em debate sobre “A mídia e a corrupção”, realizado durante o seminário “Corrupção: diálogos interdisciplinares”, promovido pelo tradicional Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP), da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, na quarta-feira (21/8), respondi a uma pergunta de futura advogada preocupada em saber se as normas e princípios da Constituição de 1988 permitiam o “controle” sobre a mídia no Brasil.

Respondi de imediato: não; claro que não. As normas e princípios da Constituição de 1988 impedem claramente que haja “controle” do Estado sobre a mídia. Não há possibilidade de volta à censura estatal nem de qualquer ameaça do Estado à liberdade de expressão ou à liberdade da imprensa.

Embutido na pergunta, tudo indica, estava o conhecido mantra da grande mídia brasileira e de seus eloquentes porta-vozes que identificam qualquer manifestação sobre regulação, independentemente de sua origem, como tentativa autoritária de “controlar” a mídia por intermédio do Estado ou, em outras palavras, volta à censura estatal, atentado à liberdade de expressão e à liberdade da imprensa (tratadas, aliás, como se fossem a mesma coisa).

Resposta errada

O debate continuou, outras perguntas foram feitas e me dei conta de que havia cometido um erro grave. Minha resposta assumia como verdadeiro o falso pressuposto contido no mantra da grande mídia de que somente o Estado pode “controlar” a mídia.
Solicitei, então, ao mediador do debate que, por favor, me permitisse corrigir uma resposta incorreta.

Sim. Apesar das normas e princípios da Constituição de 1988 é possível que exista “controle” sobre a mídia. Na verdade, esse “controle” vem sendo exercido diariamente. Todavia, não pelo Estado, mas pelos oligopólios privados de mídia.

São esses oligopólios que – contrariando as normas e princípios da Constituição em vigor – “controlam” a mídia e ameaçam a liberdade de expressão e a liberdade da imprensa ao impedir o acesso das vozes da maioria da população brasileira ao espaço de debate público cuja mediação, apesar das TICs, monopolizam.

Constituição não regulamentada

Esse “controle” da mídia pelos oligopólios privados se sustenta de diferentes formas. Uma delas é o poderoso (e bem remunerado) lobby que nos últimos 25 anos tem pressionado continuamente deputados e senadores e impedido que normas e princípios da Constituição de 1988 relativas à comunicação social sejam regulamentados. Sem serem regulamentados, não são cumpridos.

É por isso que, apesar de a Constituição rezar que “os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio” (parágrafo 5º do artigo 220), apenas uns poucos grupos privados controlam os meios de comunicação diretamente ou indiretamente através de “redes” de afiliadas cuja “formação” não obedece a qualquer regulação.

É por isso que, apesar de a Constituição rezar que “os Deputados e Senadores não poderão firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes” (alínea ‘a’ do inciso I do artigo 54), muitos deles mantêm vínculos com empresas privadas concessionárias do serviço público de radiodifusão, numa viciosa circularidade que inviabiliza a aprovação de projetos que regulem as normas e princípios constitucionais sobre a comunicação social no Congresso Nacional.

É por isso que, apesar de a Constituição rezar que a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão devem atender “aos princípios de preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei; respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família” (artigo 221), o que se escuta nas emissoras de rádio e se vê na televisão, salvo raras exceções, é exatamente o oposto.

É por isso que, apesar de a Constituição rezar que as outorgas e renovações de concessões, permissões e autorizações para o serviço público de radiodifusão sonora e de sons e imagens devem “observar o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal” (artigo 223), a imensa maioria das concessões, permissões e autorizações de radiodifusão no país continua a ser explorada por empresas privadas.

O paradoxo do Estado financiador do “controle” privado

No Brasil, os “critérios técnicos” adotados pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom-PR) para distribuição dos recursos oficiais de publicidade se baseiam na diretriz “comercial” que considera “a audiência de cada veículo [como] o balizador de negociação e de distribuição de investimentos. A programação de recursos deve ser proporcional ao tamanho e ao perfil da audiência de cada veículo” (ver “Transparência e a desconcentração na publicidade do governo federal“).

Como já argumentei neste Observatório (ver “Publicidade oficial: Quais critérios adotar?“), o artigo 1º da Constituição de 1988 reza que um dos fundamentos da democracia brasileira é o pluralismo político (inciso V) e, logo em seguida, o artigo 5º garante que é livre a manifestação do pensamento (inciso IV). Essa garantia é confirmada no caput do artigo 220, que impede a existência de qualquer restrição à manifestação do pensamento, à expressão e à informação.

Por outro lado, o inciso I, do artigo 2º do Decreto nº 6.555/2008, que “dispõe sobre as ações de comunicação do Poder Executivo Federal”, determina que “no desenvolvimento e na execução das ações de comunicação (...), serão observadas as seguintes diretrizes, de acordo com as características de cada ação: afirmação dos valores e princípios da Constituição”.

Decorre, portanto, que a responsabilidade primeira da negociação e distribuição de qualquer investimento oficial – inclusive, por óbvio, aqueles de publicidade – deveria ser a proteção e garantia do pluralismo político e da liberdade de expressão.

Da mesma forma, considerando apenas que “a programação de recursos deve ser proporcional ao tamanho e ao perfil da audiência de cada veículo”, a Secom-PR descumpre também os princípios gerais da atividade econômica definidos no “Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira” da Constituição.

Na verdade, contrariam-se os incisos IV (livre concorrência), VII (redução das desigualdades regionais e sociais) e IX (tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte) do artigo 170, e o parágrafo 4º (repressão ao abuso de poder econômico, com vistas à eliminação da concorrência e aumento arbitrário dos lucros) do artigo 173.

A Secom-PR – vale dizer, o Estado brasileiro –, paradoxalmente, tem sido um dos principais financiadores do “controle” que os oligopólios privados exercem sobre a mídia no Brasil.

Inversão da realidade

Ao difundir a noção de que o Estado brasileiro é o único agente capaz de exercer o “controle da mídia” e, ainda mais, ao empunhar como exclusivamente suas as bandeiras da liberdade de expressão e da liberdade da imprensa, os oligopólios privados de mídia constroem publicamente a imagem daqueles que pelejam para que mais vozes tenham acesso ao debate público como se fossem os inimigos da liberdade e pretendessem fazer exatamente o que, de fato, já é feito por eles, os oligopólios privados – isto é, o “controle” da mídia.

Com o desmesurado poder de que desfrutam, conseguem fazer prevalecer publicamente uma inversão do que de fato acontece (o processo de “inversão da realidade”, como se sabe, foi identificado, nomeado e explicado faz mais de 150 anos).

O debate na Faculdade de Direito da UFMG me ofereceu a oportunidade de argumentar, ainda uma vez mais, que, apesar das normas e princípios da Constituição de 1988, existe, sim, “controle” da mídia no Brasil. E ele tem sido exercido exatamente por aqueles que se apresentam como defensores exclusivos da liberdade de expressão e da liberdade: os oligopólios privados de mídia.

***
Venício A. de Lima é jornalista e sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado), pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras) da UFMG e autor dePolítica de Comunicações: um Balanço dos Governos Lula (2003-2010), Editora Publisher Brasil, 2012, entre outros livros

27 ago 2013

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Pesquisa da Fundação Perseu Abramo sobre democratização da mídia


TVPT: Fernando Ferro comenta pesquisa sobre comunicação para defender democratização da mídia

Pesquisa da Fundação Perseu Abramo coletou 2.400 entrevistas, com pessoas a partir de 16 anos nas áreas urbana e rural de 120 municípios, pelas cinco regiões do País.

Com objetivo de investigar a opinião da população brasileira sobre os meios de comunicação, a Fundação Perseu Abramo realizou pesquisa sobre temas como o grau de concentração da mídia e sobre o regime de concessões das TVs e rádios, além da penetração da internet nos lares.

De acordo com a pesquisa, 34% dos entrevistados acreditam que quando tratam de política e economia, os meios de Comunicação no Brasil costumam defender seus próprios interesses. Além disso, 65% das pessoas não concordam com tudo que os veículos de comunicação publicam.

Para o deputado federal Fernando Ferro (PT/PE), a pesquisa apresenta dados que revelam a falta de comprometimento da mídia com as questões sociais em detrimento a fatores que geram lucros. “Essa opinião da população surpreende e vai ao encontro da necessidade de uma democratização da mídia. E aqueles que se achavam formadores de opinião, tem que ter uma nova visão crítica da população” afirmou Ferro.

Janary Damacena
Portal do PT

Acesse a pesquisa clicando aqui.

Reproduzido de PT
24 ago 2013



Consumo de mídias

Esse item identificou que mídias a população mais acessa e para que tipo de informação acessa cada uma delas. O domínio da TV aberta é total, com 94% assistindo, sendo 83% diariamente. Rádio em segundo: 79% ouvem rádio, mas apenas 55% de forma diária. 43% leem jornais, 43% acessam internet, 37% assistem TV Fechada e 24% leem revistas.

Há ainda um predomínio de jornais “populares” e locais. Para se informar sobre o país e o mundo, mais pessoas usam a internet do que as que usam preferencialmente jornais. Ambos são superados nos dois quesitos pela TV Aberta e pelo rádio, mas superam TV Fechada e as revistas semanais.

Nos sites em que os entrevistados navegam, fica clara a predominância dos grupos de comunicação que controlam outras plataformas de mídia. Em primeiro e segundo lugares aparecem Facebook (38,4%) e Google (25,5%), seguidos pela Globo (16,7%), UOL (12,6%) e Terra (7,3%). A leitura de “Blogs” foi citada por 1,2%, ao que se pode acrescentar uma fatia da porcentagem de “Outros”, que representa 7,9%.

Os dados apontam ainda que poucas pessoas se informam por revistas, mas, dentre elas, mais de 50% leem a Veja. Em segundo lugar vem a Isto É, com 12,5%, seguida pela Época (11,6%) e pela Caras (10,7%). A Carta Capital aparece com 0,5%, e a Caros Amigos com 0,2%.


Análise

Fica clara a força da internet na transmissão de informações sobre fatos que extrapolam o nível local. Essa é a potencialidade mais bem explorada pelos que a utilizam como fonte de informação, e tende a enfraquecer o poder de influência das grandes emissoras de televisão no que se refere ao relato de fatos – não necessariamente, ao menos em um primeiro momento, em relação ao consumo de entretenimento.

O fato de a internet estar ocupando esse espaço de informações nacionais e internacionais poderia coloca-la em disputa discursiva com os conglomerados de comunicação que controlam jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão, mas o que acontece é que, em vez de disputa, o que há é reforço. A possibilidade de disputa é limitada na medida em que os sites mais acessados seguem o mesmo tipo de linha discursiva, veiculam o mesmo de discurso, já que são representantes dos mesmos grupos econômicos. Está demonstrado, nos dados da Fundação Perseu Abramo, que a internet não foi ainda capaz, portanto, de democratizar verdadeiramente o debate social, já que também ali o poder econômico e político oligárquico mantém sua capacidade de domínio e hegemonia total.

Em relação às revistas, não há dúvida de que há um grande vácuo de discurso de esquerda. Apenas duas publicações entre as referidas nos dados apresentados mantêm esse perfil, e somam nada mais do que 0,7% de leitores, contra 50,2% apenas da Veja. O fato de as revistas, em seu conjunto, não manterem grande porcentagem de leitores – 24%, o menor percentual entre as seis mídias – é relevante, mas ainda assim é preocupante o controle desse mercado editorial por publicações de discurso conservador – e até mesmo ultra-conservador – e por publicações de banalidades e que costumam reforças estereótipos e imaginários perigosos, como Caras, Contigo, Tititi e Capricho.

Há, em todos os setores midiáticos, um domínio quase absoluto dos conglomerados empresariais e do discurso de direita e/ou apolítico. Mesmo na internet essa realidade não se apresenta de forma diferente. Indicações de que é urgente a necessidade de avançar na desconstrução do modelo de mídia que sustenta esse controle e no fortalecimento da mídia contra-hegemônica enquanto alternativa real de discurso e construção social.

Reproduzido de Jornalismo B
19 ago 2013

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