sexta-feira, 8 de junho de 2012

Marcelo Adnet: TV brasileira “é refém do grotesco”



TV brasileira “é refém do grotesco”, lamenta Marcelo Adnet 

Mauricio Stycer
Blogosfera UOL

Muita gente reclama da baixa qualidade da programação da TV brasileira, mas quando a queixa parte de um dos mais talentosos humoristas em atividade, creio, é o caso de ouvir com atenção.

Marcelo Adnet recorreu ao Twitter, esta semana, para lamentar: “TV é movida por PATROCÍNIO que é movido pela AUDIÊNCIA que é movida pelo GROTESCO. Conclusão: TV é refém do GROTESCO.”

O comentário deu origem a um rápido debate com alguns leitores, levando-o a desenvolver um pouco mais a ideia.

“O mito é achar que a ‘classe C’ (que, por si só, já é quase um mito) tem péssimo gosto e só é atraída por uma TV rasa e limitada”, disse Adnet.

Argumentei com o comediante que, às vezes, o público rejeita o grotesco, citando o fiasco do programa “Sexo a 3”, apresentado pelo tal Dr. Rey na RedeTV!. “Rolou rejeição mesmo ou foi um sucesso? Ironia? O fato é que contamos em uma mão os não-grotescos de grande audiência”, respondeu Adnet. Verdade.

À frente do “Comédia MTV”, Adnet tem dado shows semanais. Recentemente comentei a genial paródia da canção “Roda Viva”, de Chico Buarque, na qual o comediante fez um diagnóstico crítico sobre a TV brasileira.

O seu programa passa longe do grotesco (o esquete “Casa dos Autistas”, em 2011, foi uma escorregada, do qual ele se arrepende), mas o desabafo desta semana deixa no ar a dúvida se está sendo viável fazer humor deste jeito na televisão.

Abaixo, outro grande momento recente de Adnet no “Comédia MTV”, no qual encarna Victor Inácio Pacheco, o “Homem Área Vip”:

Reproduzido de Blogosfera UOL por Maurício Stycer
08 jun 2012


Leia também:


"Fábio Rabin defende piada sobre autistas, mas "sem desrespeito", por Maurício Stycer na Blogosfera UOL (26/05/2011) clicando aqui.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acredito que o Marcelo Adnet se propôs a fazer um estilo de humor diferente do que estávamos acostumados a ver na TV, sejam as piadas ultrapassadas de A Praça É Nossa e Zorra Total, seja o apelo à crítica aos políticos, de CQC e genéricos, ou pelo humor que preza a humilhação alheia, do Pânico e seus genéricos.
Não consigo imaginar em outras emissoras as esquetes como as do Comédia MTV. O Marcelo Adnet não teria na Globo, sob circunstância alguma, a liberdade que tem na MTV. O humor proposto por Adnet não é aquele que leva ao riso fácil por meio de eventos comuns. O comediante se propõe a críticas de cunho político, social e filosófico em cada uma de suas esquetes. E isso é louvável.
Não tomo a Casa dos Autistas como ruim e abominável como trataram de considerá-la à época. Não foi uma boa esquete, visto que pessoas se ofenderam com aquela exibição, mas não é de todo ruim. Foi um humor inteligente. Depois, é um pouco cansativo ver que ainda insistem em vincular tal esquete ao Marcelo Adnet. Quem acompanha o trabalho tanto do comediante, como de Dani Calabresa (por sinal, a esposa de Adnet), Tatá Werneck, Bento Ribeiro e Paulinho Serra, sabe que a esquete foi redigida pelo roteirista, Rafael Queiroga, e que não havia sido aprovada pelos humoristas, porém, obedece quem tem juízo. De todo modo, Rafael Queiroga não teve a intenção da ofensa. Também é de sua autoria esquetes memoráveis da emissora, tais como Vestíbulo (com Tatá Werneck e Paulinho Serra), Diva (clipe musical de Dani Calabresa satirizando as "divas" do pop), Esquizofril (com Tatá Werneck, ao mesmo estilo de Casa dos Autistas - porém ninguém se ofendeu), o documentário "creuza.doc", de Marcelo Adnet, definitivamente uma pérola do humor - vale a pena a pesquisa no Youtube, acreditem), dentre tantas outras esquetes inteligentes que eu poderia citar aqui.
Temos sim muitos humoristas de qualidade no cenário atual, porém estes não estão nas principais emissoras de TV do país. E realmente concordo com Adnet sobre o erro em tomar como certo que a classe C só se sente atraída por uma TV rasa. Está enraizada na nossa cultura assistir lixo na TV e sentir-se confortável com isso, e a classe C poderia também ter acesso a um tipo de programação diferenciada. Se for de seu gosto um humor para se pensar, excelente, se não, ao menos lhe foi concedida a oportunidade da escolha.