domingo, 4 de março de 2012

“Pense antes de falar”: “googlar antes de tuitar ou blogar”...


Porque você deve "googlar antes de tuitar ou blogar"

Esta é a versão brasileira da frase Google before you tweet is the new think before you speak, popularizada num cartaz criado pelo designer Jon Parker e que sintetiza, no jargão digital,  a principal mudança de comportamento que nos está sendo imposta pela internet. É a nossa forma de lidarmos com a informação que está sendo posta em cheque e com ela toda uma série de rotinas e valores transmitidos por gerações, há décadas.

O tema não é novo porque já foi tratado aqui e em vários outros blogs e colunas especializadas.Minha preocupação não é com o ineditismo e mas com o debate continuado sobre o que os especialistas chamam de leitura crítica. A recomendação do cartaz é pesquise uma informação antes de publicá-la num blog, twitter ou rede social, o que equivale ao nosso velho e conhecido  “pense antes de falar”.  Não basta decorar a frase, é necessário torná-la automática em nosso trato diário com as notícias e informações.

A recomendação de refletir antes de dizer qualquer coisa procura evitar que uma pessoa diga asneiras ou idiotices, visando evitar embaraços públicos pessoais. O “googlar antes de twitar”  tem um sentido bem mais amplo porque busca, acima de tudo,  evitar a disseminação de boatos, mentiras, difamação e fofocas antes que elas acabem se transformando num fato aceito de forma também irrefletida. Se trata de evitar danos à imagem alheia mais do que impedir problemas para quem originou o boato.

A internet transformou a todos nós em produtores de informação o que nos obriga a assumir muitas das atitudes que até agora eram cobradas apenas dos jornalistas profissionais.  Não  fomos educados para checar informações, dados e noticias. Bastava sair na imprensa para os leitores assumissem o que foi publicado como verdade acima de qualquer suspeita. Hoje isto está mudando rapidamente tanto no que se refere aos jornalistas como aos jornais.

Alterar  uma atitude como esta não é uma coisa que acontece da noite para o dia. O americano Daniel Yankelovich vem pesquisando a mudança de valores das pessoas desde 1995 e é categórico ao afirmar que “mesmo com a velocidade vertiginosa da internet, uma mudança de valores demora anos” para incorporar-se ao cotidiano das pessoas.

Daí a necessidade de periodicamente voltarmos a bater nesta tecla porque ela afeta o nosso relacionamento com a informação e portanto com o item que a cada dia que passa mais condiciona a nossa vida social, política, econômica e cognitiva. A transformação da nossa cultura informativa é muito mais relevante do que a avalancha de gadgets eletrônicos que mudaram o nosso dia a dia.

E nesta mudança de comportamentos, nós os jornalistas, temos um papel fundamental porque a experiência profissional nos ensinou que um dado, fato ou notícia devem ser confirmados antes da publicação e que as conseqüências de uma informação falsa ou distorcida podem ser irreversíveis e letais.  Só que a dinâmica industrial da produção noticiosa em jornais, revistas e noticiários da rádio ou TV inviabilizou a checagem criteriosa e implantou a corrida pelo furo e exclusividade como valores máximos do jornalismo.

O deterioro dos valores morais e comportamentais no serviço público, atividades legislativas e na política brasileira fornece amplo material para denúncias de corrupção, o que por um lado é benéfico para a sociedade porque ela passa poder patrulhar o comportamento dos servidores e políticos, mas por outro,  cria um ambiente favorável à multiplicação de suspeitas e dúvidas. É aí que a leitura critica e a regra do “googlar antes de tuitar” passam a ser essenciais.

Reproduzido de Código Aberto por Carlos Castilho
20 fev 2012

Nenhum comentário: