sábado, 31 de março de 2012

29 de março de 2011: "Será esta a lição que nos impõe a História: delegar sempre a realização dos 'sonhos impossíveis' ao destemor idealista dos mais jovens?"


A manifestação dos caras-pintadas diante do Clube Militar

Hildegard Angel

Foi um acaso. Eu passava hoje pela Rio Branco, prestes a pegar o Aterro, quando ouvi gritos e vi uma aglomeração do lado esquerdo da avenida. Pedi ao motorista para diminuir a marcha e percebi que eram os jovens estudantes caras-pintadas manifestando-se diante do Clube Militar, onde acontecia a anunciada reunião dos militares de pijama celebrando o "31 de Março" e contra a Comissão da Verdade.

Só vi jovens, meninos e meninas, empunhando cartazes em preto e branco, alguns deles com fotos de meu irmão e de minha cunhada. Pedi ao motorista para parar o carro e desci. Eu vinha de um almoço no Clube de Engenharia. Para isso, fui pela manhã ao cabeleireiro, arrumei-me,  coloquei joias, um vestido elegante, uma bolsa combinando com o rosa da estampa, sapatos prateados. Estava o que se espera de uma colunista social.

A situação era tensa. As crianças, emboladas, berrando palavras de ordem e bordões contra a ditadura e a favor da Comissão da Verdade. Frases como "Cadeia Já, Cadeia Já, a quem torturou na ditadura militar". Faces jovens, muito jovens, imberbes até. Nomes de desaparecidos pintados em alguns rostos e até nas roupas. E eles num entusiasmo, num ímpeto, num sentimento. Como aquilo me tocou! Manifestantes mais velhos com eles, eram poucos. Umas senhoras de bermudas, corajosas militantes. Alguns senhores de manga de camisa. Mas a grande maioria, a entusiasmada maioria, a massa humana, era a garotada. Que belo!

Eram nossos jovens patriotas clamando pela abertura dos arquivos militares, exigindo com seu jeito sem modos, sem luvas de pelica nem punhos de renda e sem vosmecê, que o Brasil tenha a dignidade de dar às famílias dos torturados e mortos ao menos a satisfação de saberem como, de que forma, onde e por quem foram trucidados, torturados e mortos seus entes amados. Pelo menos isso. Não é pedir muito, será que é?

Quando vemos, hoje, crianças brasileiras que somem, se evaporam e jamais são recuperadas, crianças que inspiram folhetins e novelas, como a que esta semana entrou no ar, vendidas num lixão e escravizadas, nós sabemos que elas jamais serão encontradas, pois nunca serão procuradas. Pois o jogo é esse. É esta a nossa tradição. Semente plantada lá atrás, desde 1964 - e ainda há quem queira comemorar a data! A semente da impunidade, do esquecimento, do pouco caso com a vida humana neste país.

E nossos quixotinhos destemidos e desaforados ali diante do prédio do Clube Militar.  "Assassino!", "assassino!", "torturador!", gritava o garotinho louro de cabelos longos anelados e óculos de aro redondo, a quem eu dava uns 16 anos, seguido pela menina de cabelos castanhos e diadema, e mais outra e mais outro, num coro que logo virava um estrondo de vozes, um trovão. Era mais um militar de cabeça branca e terno ajustado na silhueta, magra sempre, que tentava abrir passagem naquele corredor humano enfurecido e era recebido com gritos e desacatos. Uma recepção com raiva, rancor, fúria, ressentimento. Até cuspe eu vi, no ombro de um terno príncipe de Gales.

Magros, ainda bem, esses velhos militares, pois cabiam todos no abraço daqueles PMs reforçados e vestidos com colete à prova de balas, que lhes cingiam as pernas com os braços, forçando a passagem. E assim eles conseguiram entrar, hoje, um por um, para a reunião em seu Clube Militar: carregados no colo dos PMs.

Os cartazes com os rostos eram sacudidos. À menção de cada nome de desaparecido ao alto-falante, a multidão berrava: "Presente!". Havia tinta vermelha cobrindo todo o piso de pedras portuguesas diante da portaria do edifício. O sangue dos mortos ali lembrados. Tremulavam bandeiras de partidos políticos e de não sei o quê mais, porém isso não me importava. Eu estava muito emocionada. Fiquei à parte da multidão. Recuada, num degrau de uma loja de câmbio ao lado da portaria do prédio. A polícia e os seguranças do Clube evacuaram o local, retiraram todo mundo. Fotógrafos e cinegrafistas foram mandados para a entrada do "corredor",  manifestantes para o lado de lá do cordão de isolamento. E ninguém me via. Parecia que eu era invisível. Fiquei ali, absolutamente sozinha,  testemunhando  tudo  aquilo, bem uns 20 minutos, com eles passando pra lá e pra cá, carregando os generais, empurrando a aglomeração, sem perceberem a minha presença. Mistério.

Até que fui denunciada pelas lágrimas. Uma senhora me reconheceu, jogou um beijo. E mais outra. Pessoas sorriram para mim com simpatia. Percebi que eu representava ali as famílias daqueles mortos e estava sendo reverenciada por causa deles. Emocionei-me ainda mais. Então e enfim os PMs me viram. Eu, que estava todo o tempo praticamente colada neles! Um me perguntou se não era melhor eu sair dali, pois era perigoso. Insisti em ficar, mesmo com perigo e tudo. E ele, gentil, quando viu que não conseguiria me demover: "A senhora quer um copo d'água?". Na mesma hora o copo d'água veio. O segurança do Clube ofereceu: "A senhora não prefere ficar na portaria, lá dentro? ". "Ah, não, meu senhor. Lá dentro não. Prefiro a calçada". E nela fiquei, sobre o degrau recuado, ora assistente, ora manifestante fazendo coro, cumprindo meu papel de testemunha, de participante e de Angel. Vendo nossos quixotinhos empunharem, como lanças, apenas a sua voz, contra as pás lancinantes dos moinhos do passado, que cortaram as carnes de uma geração de idealistas.

A manifestação havia sido anunciada. Porém, eu estava nela por acaso. Um feliz e divino acaso. E aonde estavam naquela hora os remanescentes daquela luta de antigamente? Aqueles que sobreviveram àquelas fotos ampliadas em PB? Em seus gabinetes? Em seus aviões? Em suas comissões e congressos e redações?  Será esta a lição que nos impõe a História: delegar sempre a realização dos "sonhos impossíveis" ao destemor idealista dos mais jovens?

Abaixo imagens da manifestação e seus desdobramentos


29 mar 2012






Na tarde desta quinta-feira (29/03/2012), manifestantes protestaram do lado de fora do Clube Militar, no centro do Rio, onde acontecia uma comemoração pelo aniversário do golpe de 1964. A polícia militar, como de costume, fez farta distribuição de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e muita truculência. Ex-militares como o tenente-coronel Lício Maciel, que participou de operações no Araguaia, e o general Nilton Cerqueira, responsável pela execução de Carlos Lamarca, foram escorraçados pelos manifestantes.


Comentário de Filosomídia:

"Será esta a lição que nos impõe a História: delegar sempre a realização dos "sonhos impossíveis" ao destemor idealista dos mais jovens?"

Quando um Anjo está Presente ao nosso lado...

Eu era pequeno, mas nunca me esqueci das imagens de jovens correndo da PM que baixava o cacetete no meio daquela fumaceira, lá pelos lados da Faculdade de Direito da UFMG, ali na esquina das avenidas Álvares Cabral e João Pinheiro em Belo Horizonte. Minha família toda ali dentro do carro foi "pega" desprevenida quando voltávamos do Parque Municipal e íamos para casa, subindo desde a parte debaixo do quarteirão cheio de árvores próximo ao viaduto de Santa Teresa onde também se desenrolava cenas semelhantes. Papai estava apreensivo e nos mandava fechar as janelas. De joelhos no banco de trás eu olhava através da janela do carro aquela correria. Eu não tinha nenhuma noção do que estava acontecendo naqueles dias com os meus mais ou menos 9 anos de idade...

Passaram-se alguns anos e vim a saber - ainda mais ou menos - da morte de Stuart e Zuzu Angel, Juscelino Kubitschek dentre tantas outras. Nada se falava em casa, muito menos nas escolas e, as revistas "O Cruzeiro", "Realidade" e "Manchete", bem como a televisão, traziam uma ou outra notícia sobre isso e aquilo das versões oficiais, exceto sobre o que em verdade acontecia no país. Criança e adolescente naqueles idos das décadas de 60 e 70 nós que éramos estudantes não fazíamos ideia nenhuma do que era aquela Ditadura Militar e, as escolas contribuíam para isso. Quantas vezes éramos convidados a participar das boas vindas aos governantes da época e, empunhávamos bandeirinhas do Brasil grudadas em palito de churrasco gritando vivas ao generais Emílio Garrastazu Médici, Geisel ou Figueiredo? Pois então, era assim na capital mineira ou no interior do estado por onde vivi uns tempos...

Foi como estudante interessado e participando das greves dos professores em 1979 nas escadarias da Igreja São José, em Belo Horizonte, que fui percebendo do que estava oculto.

Lembro-me também da coluna de Hildegard Angel por aqueles anos todos, e ela na TV. E, os anos e décadas se passaram e volto a revê-la nessa cena do vídeo e em seu belo texto a respeito das manifestações ocorridas no Rio de Janeiro a respeito dos militares concelebrando o que chamam de "revolução".

Sobre seu belo e co-movente texto e as cenas desse vídeo tenho isso a dizer, pensar, re-tirando de mim as poeiras do tempo: obrigado por nos re-lembrar de que os sonhos devem ser lutados por aqueles que ainda mantêm o "idealismo" e "destemor" diante de tantas falsas histórias que nos contam, e nos impõem como verdades.

Enquanto se desenrolavam aquelas cenas de 29 de março de 2011 ali no Rio de Janeiro e, quando as redes "oficiais" de televisão faziam questão de mostrar algumas imagens com bandeiras vermelhas a reforçar os "causadores"  do "tumulto", o Latuff captou um Anjo com lágrimas silenciosas a proteger e inspirar aqueles quixotinhos em suas vozes bradando justiça...

E, não foram apenas os transeuntes, manifestantes ou mulheres que lhe mandaram beijos e sorrisos de simpatia. Outros Anjos estavam ali, "Presentes", com lágrimas tão reais quanto às suas, pisando também o chão avermelhado do sangue simbólico. Todos nós sabemos disso.

E, só temos a te agradecer, agradecendo mais ainda a todos aqueles jovens que deram suas vidas por nossa liberdade naqueles tempos de ditadura.

Obrigado, Hildegard, enquanto tantos se fazem de cegos, surdos e mudos, você é um Anjo Presente ao nosso lado a se co-mover com a voz, a coragem, o idealismo e destemor das "crianças" de hoje...

Que venha a Comissão da verdade!

Leo Nogueira - O Nawta

sexta-feira, 30 de março de 2012

A barbárie é a cara de nossa civilização... é a cara da não-democratização dos meios de comunicação...


MMA, a barbárie

Gianni Carta
Carta Capital
26 mar 2012

Eles choram, cozinham, fazem faxina e conversam. São seres humanos como nós. É isso que The Ultimate Fighter, o novo reality sobre os lutadores de MMA (sigla para artes marciais em inglês) quer provar.

O reality é transmitido pela tevê Globo aos domingos à meia-noite. Os 12 remanescentes episódios servirão como um excelente substituto para soníferos. Pelo menos funcionou para mim na estreia, no domingo 25.

Inspirado no Big Brother Brasil, The Ultimate Fighter consegue ser ainda mais fastidioso. Isso porque vemos 32 brutamontes confinados numa casa no Rio de Janeiro. E não tem biquíni. E nem sexo – consta que ontem não houve nenhuma cena de duplas ou grupos se cobrindo com edredons nas suas camas.

Vai saber o que ainda vai rolar naquela casa.

Essas artes marciais envolvem jiu-jitsu e aqueles golpes de luta greco-romana nos quais os valentes lutadores, todos a expor seus torsos nus, ficam enroscados por longos períodos com objetivo de imobilizar o rival. Claro, há momentos mais viris em que trocam socos, cotoveladas, aplicam joelhadas e chutes.

Os 32 atletas do reality são divididos em dois grupos de 16, um capitaneado por Vitor Belfort, o outro por Wanderlei Silva. O prêmio será um contrato para lutar no UFC, o principal campeonato mundial de MMA.

Só haverá uma luta por edição, o que é uma pena para aqueles telespectadores sequiosos por cenas de violência inaudita. Mas pelo menos se contentarão vendo os seus ídolos a jogar pebolim e sinuca, na piscina, a meditar na área zen (alguns deles meditam), e dando murros em sacos de areia. Os atletas só podem sair da casa para inflar ainda mais seus músculos em uma academia.

Não causa maiores surpresas o fato de The Utimate Fighter, lançado nos EUA em 2005, ter sido exportado pela primeira vez para o Brasil. De fato, o pessoal da Globo neste país macdonalizado sequer mudou o título do reality, já que aqui The Ultimate Fighter tem maior impacto nos brasileiros com complexo de vira-lata. Da mesma forma, essa turma agora prefere dizer, ao encomendar uma pizza, “é para delivery”.

Na França, onde o MMA é proibido, a pizza “para entrega”, como se dizia em tempos idos, é ainda “pour emporter”.  Mas aqui, como naquele país, temos, felizmente, pessoas sensatas.

Uma delas responde por José Mentor, deputado federal (PT-SP) que quer proibir a cobertura do MMA na tevê. O projeto de lei que propôs em 2009 continua em tramitação na Câmara.

Em recente texto no diário Folha de São Paulo, Mentor lembra que o “MMA não tem a ver com as lutas de judô, taekwondo ou boxe, modalidades com regras previstas em competições olímpicas ou mesmo profissionais.

Mentor lembra, ainda, que Éder Jofre, o bicampeão mundial de boxe, “é um dos veementes opositores do MMA, que tem pouco de esporte e muito de ‘briga de rua’, onde vale tudo”.

Mentor escreve que ainda não há levantamentos sobre quantos lutadores de MMA perderam a vida. O deputado sabe, porém, de três casos de mortos, dois deles nos EUA, em 13 anos de luta. Em dezembro, o brasileiro Antônio Rodrigo Nogueira, mais conhecido como o Minotauro, quebrou o braço, no qual foram inseridos 17 pinos metálicos.

Por que Mentor não consegue acabar com o MMA?

De saída, o “esporte” tem enorme audiência. Certamente com inclinações sádicas, os fãs dessa “briga de rua” amam a violência perpetrada por modernos gladiadores. E o UFC, avaliado em mais de 1 bilhão de dólares, e a Globo têm muito poder.

Reproduzido de Carta Capital

Comentário de Filosomídia:

A barbárie é a cara de nossa civilização...

E, a barbárie não é só pelo programa em si. Naquela novela das 21 horas a família do lutador não torcia emocionada para o rapaz ganhar a luta no ringue? Astros desse "esporte" não deram as caras no último capítulo? Um dos competidores do reality não deu depoimento de como seguiu na carreira desde o exemplo de seu irmão mais velho no "esporte"?

Essa novela e esse reality show certamente passam pela Classificação Indicativa, e a rede de televisão faz indicação disso na abertura dos programas. Mas, e as "chamadas" para novelas, realities shows etc. não passam "normalmente" pelo dia na grade de programação?

O que eu quero dizer é que as crianças são bombardeadas com essas chamadas e programas, e certamente que assistem a estes programas com a desenvoltura "dramatizada" daquela família na novela torcendo pelo filho/irmão...

Foi-se o dia em que as crianças queriam ser jogadores de futebol, ou atrizes de novela. Agora, querem ser lutadores, pegadores e piriguetes que novelas, revistas, realities shows etc. que quase todos assistem impávidos colossos pelos meios. E, as redes de televisão brasileira fazendo o que bem querem num cenário de monopólio dos meios de comunicação completamente desregulados ou convenientemente engrenados aos poderes políticos/econômicos ficam mais ricas, enquanto crianças, adolescentes e adultos ficam cada vez mais tolos.

A barbárie é a cara de nossa civilização... é a cara da violência " dos" donos dos meios de comunicação, é a cara da não-democratização dos meios de comunicação...

Como nos proteger disso tudo? Marco Regulatório, já!

Leo Nogueira - O Nawta

CCTCI aprova proposta que permite publicidade institucional em TVs educativas


CCTCI aprova proposta que permite publicidade institucional em TVs educativas

Tela Viva
Da Redação
29 mar 2012

A Comissão deCiência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados aprovou na última quarta, 28, uma proposta que permitirá a publicidade institucional na forma de patrocínio ou apoio cultural nas emissoras de TV educativas. Trata-se do Projeto de Lei 960/03, do ex-deputado Rogério Teófilo. A legislação é dúbia em relação à comercialização de publicidade por parte das educativas. Enquanto o Decreto-Lei 236/67 proíbe a transmissão de qualquer propaganda pela televisão educativa, a lei que trata da qualificação de entidades como organizações sociais (Lei 9.637/98) permite que essas entidades veiculem publicidade, desde que se enquadre no conceito de apoio cultural. A Lei Rouanet (8.313/91) também permite patrocínios a produções culturais-educativas de caráter não comercial, realizadas por empresas de rádio e televisão.

Pelo substitutivo do deputado Gilmar Machado (PT-MG), o tempo destinado à publicidade institucional nas emissoras educativas não poderá exceder a 15% do tempo total de programação.

O projeto, que foi rejeitado na Comissão de Educação e Cultura, será analisado agora pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania e, em seguida, pelo Plenário.

(Com Agência Câmara)

Reproduzido de Tela Viva via e-mail Criança e Consumo/Instituto Alana

Leia também:

"Câmara pode autorizar publicidade em TV educativa" (17 nov 2011) na página do Projeto Criança e Consumo/Instituto Alana clicando aqui.

Control + C e Control + V no aprendizado das crianças e adolescentes


A Educação em tempos de Control C e Control V

João Luís de Almeida Machado
C Mais+

Como o "copiar e colar" da internet interferem no aprendizado das crianças e adolescentes nas escolas? Quais são os prejuízos? Há benefícios?

Nos anos 1970 e 1980 era comum que as famílias brasileiras fossem visitadas por vendedores de enciclopédias. Coleções de livros que traziam informações sobre todos os assuntos que interessavam aos pais e a seus filhos, neste caso, em especial para atender a trabalhos e pesquisas escolares. Barsa, Delta Larousse, Conhecer e tantas outras destas coleções ficaram bastante conhecidas e, além de presentes nas casas das pessoas, eram também encontradas em bibliotecas públicas e escolares.


A partir do momento em que uma tarefa escolar que exigia pesquisa era demandada pelos professores estes instrumentos do conhecimento eram logo acessados. Os alunos buscavam verbetes em suas páginas, liam o conteúdo, retiravam as ideias mais importantes - ou aproveitavam todo o conteúdo, e colocavam no papel. Dependendo do grau de maturidade dos alunos ou da série (ano escolar) em que se encontravam, muitos professores pediam que o conteúdo não fosse apenas uma cópia, mas sim uma seleção de informações que gerasse textos mais personalizados.

Nem todos os professores assim o faziam, é claro. Assim como, mesmo quando isso era pedido, muitos alunos, por motivos variados (preguiça, dificuldade, desorganização, por deixarem para a última hora...), ou não faziam ou quando realizavam esta releitura, a faziam apenas de modo a cumprir tabela, ou seja, pró-forme. De qualquer modo, era esse o ensejo, o caminho, a trajetória percorrida por muitos estudantes daquelas décadas, guiados por suas enciclopédias.

Estes livros, por sinal, constituem um desejo humano tão antigo quanto a Bíblia e outros livros sagrados parecem expressar: A ideia de que nas páginas de uma publicação pudesse estar contida toda a sabedoria do mundo ou, pelo menos, a forma como nós conseguimos deduzir e interpretar tudo o que nos cerca. Arte, ciência, filosofia, matemática, literatura, música, história, educação, saúde e tudo o mais em forma de letras e imagens. Decodificado pela mente humana e colocado dentro de linguagem acessível que permita o acesso ao conhecimento a todos os mortais.

Este conceito veio a tomar forma e corpo, no modelo que conhecemos hoje, durante o movimento pré-revolucionário francês do século XVIII. Constitui uma das espinhas dorsais do Iluminismo ou Revolução das Luzes. Seus artífices foram os pensadores Denis Diderot e Jean D'Alembert que, no ensejo de legar a população de seu país (e do mundo) o direito legítimo de conhecer, de saber, de ter contato com a ciência, as artes e todas as áreas do conhecimento, produziram sua Enciclopédia. Atribuíram a alguns dos grandes nomes da época, como Voltaire e Rousseau, o compromisso de escrever alguns destes verbetes.

Na Era da Informação que estamos vivendo agora, com o advento da internet e outras tecnologias, as enciclopédias em papel parecem ter perdido o próprio sentido de existência. Há "organismos vivos" em gestação (em rede) que suprem, literalmente, a falta de todos aqueles livros. É possível, por exemplo, acessar a Wikipedia, atualizada diariamente em inúmeras línguas, e pesquisar dados sobre todos os assuntos de uma coleção como a Barsa e, ainda, encontrar muitos outros temas não abarcados em seus vários volumes.

Basicamente, no entanto, ainda que enriquecido por mídias como vídeos, podcasts, imagens e/ou infográficos, as enciclopédias digitais, ou mesmo as páginas resultantes de pesquisas em mecanismos de busca como o Google são apenas ferramentas, meios ou plataformas para se chegar à informação. Não são tão diferentes, portanto, dos livros e, de modo mais específico, as enciclopédias.

A relação das pessoas e, no caso, dos estudantes com a pesquisa em enciclopédias de papel ou em suas versões virtuais pode parecer, num primeiro momento, a mesma. O que faziam os estudantes da década de 1970 ao ler, selecionar trechos, reproduzir ou realizar uma releitura dos mesmos em suas produções para projetos e tarefas escolares não seria, neste sentido, o mesmo que hoje com a Wikipedia ou com o Google e seus resultados de busca. Será?

Na realidade, a ideia primordial é a mesma, ou seja, a da busca de informações para compor conhecimento, enriquecer saberes, realizar pontes inteligando conteúdos e leituras de sala de aula com novos autores, fatos e dados.

Há, no entanto, diferenças primordiais. Por exemplo, a leitura na internet tende a ser muito mais rápida e, assim sendo, menos criteriosa ou preocupada em entender as minúcias do texto, buscar suas conexões. A leitura, muitas vezes, pode até mesmo se restringir ao título, subtítulo e linhas iniciais, para saber se contempla a pesquisa demandada em sala de aula. É comum, em diferentes níveis de ensino, que os professores se defrontem com "trabalhos" supostamente de autoria de seus alunos nos quais há menções a outros estudantes, escolas e épocas...

A leitura criteriosa passa a ser, neste sentido, uma meta a ser atingida quando se propõe aos alunos pesquisas a serem realizadas na web e que venham a compor material para seus projetos. Isso pode ser atingido se os alunos são informados desde o princípio que, de algum modo, serão questionados quanto ao conteúdo do trabalho realizado, seja em aula ou em avaliações. É preciso que fique claro a todos os alunos que o professor leu (ou lerá) sua composição e que ela de algum modo poderá ser referenciada ou utilizada em questionamentos direcionados a ele ou a toda a turma.

A própria leitura do trabalho pelo professor, muitas vezes esmagado por uma grande carga de atividades a realizar em aula e também fora da escola, muitas vezes acaba fazendo com que sua correção seja rápida e que, com isso, não se percebam situações como reprodução de materiais da internet disfarçadas. O comprometimento do professor na correção dos trabalhos é uma forma muito eficaz de se combater esta ou qualquer outra ação indevida dos alunos. Sua leitura atenta e correção minuciosa permitem devolutivas plenas aos alunos e lhes transmite a ideia de que o docente está muito sintonizado, comprometido e engajado com o processo de ensino-aprendizagem que realiza e com a formação de seus pupilos.

Além da leitura com foco e condição de articulação em relação aos saberes trabalhados em aula, o trato da informação obtida no mundo virtual, ao ocorrer mecanicamente através do copiar e colar não oportuniza para o aluno a seleção de informações e, principalmente, a organização das ideias no papel.

A seleção de ideias é, muitas vezes, descartada ou substituída pela escolha aleatória de alguns trechos, com o intuito de compor a esperada tarefa que foi pedida. Isso quando não ocorre simplesmente a cópia e colagem de todo o material encontrado num site ou portal. O processo de escolha criteriosa de dados infere relacionar com o que foi estudado anteriormente, a leituras indicadas, a tarefas pedidas, a explanações do(s) docente(s) daquele ano ou de etapas anteriores do ensino. É, portanto, uma ação de racionalização, organização, construção e elaboração dos saberes e, como tal, não pode ser desprezada ou relegada a segundo plano.

Organizar as ideias no papel, por sua vez, é a parte do trabalho em que o estudante tem que dar aos recortes sobre as temáticas em estudo (trazidas pelas leituras, aulas e pesquisas on-line e off-line) a sua compreensão de todo este montante de dados. A isto trará, como contribuição e elemento de aglutinação o seu conhecimento de mundo, pautado em experiências e leituras que fez ao longo da vida e que lhe são próprias e únicas. Além disso, estará praticando a escrita, a organização das informações, enriquecendo o vocabulário e definindo a sua forma de escrever e de se comunicar através das letras.

Neste sentido, é praticamente um imperativo para o professor - ao pedir pesquisas, trabalhos ou qualquer tipo de projeto que demande levantamentos por parte dos alunos – que se estipulem metas além da simples busca de conteúdos. Os docentes precisam orientar o trabalho de pesquisa e almejar, além dos conteúdos adicionados, que também sejam atingidos objetivos como:

- Busca pelas melhores fontes;
- Utilização de mais de uma fonte;
- Uso de referências virtuais e também físicas;
- Leitura criteriosa e focada;
- Seleção das ideias mais importantes dos materiais pesquisados;
- Comparação/aproximação das ideias lidas com as aulas e materiais usados em sala de aula;
- Rascunho ou esboço do que irá escrever e levar para a aula;
- Enriquecimento do vocabulário e melhor conhecimento das regras gramaticais;
- Escolha de imagens, gráficos, tabelas ou outros materiais visuais que ajudem a tornar mais clara a ideia do projeto;
- Valorização de saberes que já possui quanto ao assunto (leituras e experiência de vida) e que possam ajudar a compor seu projeto;
- Desenvolvimento da escrita quanto às técnicas e também em busca de seu próprio estilo e forma de comunicar-se através das letras;

Isso não significa dizer que não existam pontos positivos na pesquisa on-line, pelo contrário, sua agilidade e a disponibilização de base de dados e informações que vem de todo o mundo é um grande adendo para a educação. No entanto, o que não pode acontecer é o uso acrítico e inconsistente, ou seja, sem que o aluno pense seus procedimentos, os conteúdos por ele escolhidos e mesmo, que realize apenas um ato mecânico de copiar e colar para apenas atender uma demanda de seus professores... Neste sentido vale sempre destacar que a educação tem que ser, sempre, significativa para o aluno, ou seja, vinculada ao seu mundo, associada ao que ele vive ou viverá, sendo capaz, desta forma, de fazer com que tudo para ele no processo de ensino-aprendizagem seja realmente motivador e desafiador!

Reproduzido de CMais+ via Diário Catarinense e clipping FNDC

Ipea e Socicam lançam Panorama da Comunicação e das Telecomunicações


Ipea e Socicam lançam Panorama da Comunicação e das Telecomunicações

Redação
Agência Brasil
30/03/2012

Brasília - O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Federação Brasileira das Associações Científicas de Comunicação (Socicom) lançam hoje (30) a segunda edição do Panorama da Comunicação e das Telecomunicações no Brasil 2011-2012. Será às 14h no campus da Asa Norte da Universidade Católica de Brasília.

O documento é composto de 1.200 páginas, divididas em quatro volumes, escritos por mais de 70 colaboradores. O primeiro é dedicado aos indicadores e aborda temas como o Programa Nacional de Banda Larga, a regulação e infraestrutura da comunicação, segurança da informação, cobertura do jornalismo econômico e a comunicação pública, entre outros.

O segundo volume avalia a participação do Brasil em congressos de comunicação em 2011, a cibercultura, a realidade brasileira do cinema e do audiovisual, a Conferência Brasileira e a Folkcomunicação.

O volume três da publicação é dedicado à história da comunicação no Brasil. Também são analisados os aspectos mais importantes da comunicação em cada região ao longo da história. O último volume aborda a indústria criativa e de conteúdos digitais, os avanços no campo público da televisão digital, as tendências profissionais e ocupacionais para a área e a regulação na comunicação e telecomunicação brasileira.

Edição: Graça Adjuto


Panorama da Comunicação e Telecomunicações no Brasil

Lançamento dos 3 volumes do livro Panorama da Comunicação e das Telecomunicações no Brasil, resultado da parceria IPEA - Socicom, que contou com apoio da área de Conteúdos, Serviços e Aplicações do PNBL.

primeiro volume traz um estudo sobre as tendências nas Telecomunicações no Brasil e reflexões sobre a Comunicação.

segundo volume apresenta as associaçoes de pesquisa em comunicação que compõem a Socicom e o trabalho que estão realizando.

E o terceiro volume relata quatro estudos fundamentais para se pensar a indústria de conteúdos e serviços digitais no país:

. levantamento das escolas de graduação e pós-graduação emComunicação, número de professores, pesquisadores, tipos de pesquisa, e etc;

. tendências no mercado de trabalho e novas profissões a partir das TICs;

. tendências da industria criativa e de  conteúdos digitais no Brasil;

. estudo comparativo em 11 países sobre temas relacionados à comunicação: marco regulatório, cursos, mercado, e etc.

A proposta dessa parceria é que o estudo seja atualizado anualmente, constituindo series históricas, a criação de indicadores para area decomunicação e conteúdos digitais, e a criação de um observatorio (como existe nos países europeus) que disponilibize publicamente o avanço das políticas de comunicação e telecomunicações no país.

Reproduzido de Blog do Planalto

Clique nos links para acessar/descarregar os documentos.

A legalização do saque das terras indígenas no Brasil


Ruralistas querem legalizar o saque das terras indígenas

Por Elaine Tavares – jornalista
30.03.2012

Os povos que viviam na terra chamada de Pindorama – quando chegou Cabral – se organizavam em grandes grupos, mas não chegaram a formar civilizações como aconteceu com os incas, maias e astecas, em outras regiões deste grande continente. Os daqui eram nômades e coletores. Viviam num espaço tão generoso em água e frutos que não tinham ainda encontrado necessidade de organizar cidades ou outras estruturas parecidas como já faziam os povos andinos, premidos pelo ambiente inóspito. Hoje, sabe-se que todos os povos do continente de alguma forma se conheciam e se encontravam, como prova o Caminho de Piabeiru, que sai do litoral sul de Santa Catarina até a região inca, ligando os dois oceanos. O que faz crer que outros caminhos havia e que muitos encontros de davam, não necessariamente de conquista. Enfim, as gentes viviam aqui do seu jeito e com sua organização. Essa não era uma terra vazia.

A chegada dos europeus em 1492, sedentos de ouro e riquezas selou o destino desses povos. Invadidos pelos espanhóis e depois pelos portugueses, as comunidades da região sul de Abya Yala (hoje chamada de Américas) foram sendo dizimadas. Os impérios aqui existentes acabaram vencidos militarmente e as comunidades mais afastadas caíram em dominó. Algumas demoraram mais porque como o continente era grande, o interior demorou a ser ocupado. Muitas são as páginas heroicas dos povos autóctones em defesa de seu território e de sua forma de viver, como os exemplos de Tupac Amaru, Tupac Catari, Nheçu, Lautaro e tantos outros. Mas, apesar das lutas e da resistência, a força bruta dos invasores – e depois dos já nativos  - foi mais forte.

O caldo de toda essa história foi a dominação. O homem branco assumiu a liderança do “mundo novo” e aos indígenas ficou relegado o limbo. Chamados de seres sem alma, eles primeiro foram escravizados e depois – quando os brancos viram que se não se prestavam a isso – dizimados. Só que apesar de todo o processo de violência muitas comunidades sobreviveram. Acossados pela necessidade de sobrevivência foram se adaptando de alguma forma ao mundo que lhes foi imposto, o que Darcy Ribeiro chama de transfiguração. Ocorre que essa decisão nunca significou o abandono de sua cultura. Em algum lugar ela permanecia viva e nas entranhas das comunidades ela se expressava. Foi assim que muitas etnias lograram sobreviver, como é o caso dos ayamara, quéchua, kichwa, mapuche, guarani e tantos outros.

Hoje, essas comunidades retomam sua cosmovisão e exigem o reconhecimento de sua cultura e da sua forma de organizar a vida. Muitas foram as batalhas travadas ao longo desses 500 anos e em alguns países como o Equador e a Bolívia, os indígenas conseguiram avançar ao ponto de garantir o Estado Plurinacional, que significa o reconhecimento de suas organizações e de seus territórios como regiões livres, conduzidas e governados por eles mesmos. Ainda assim, apesar de consolidado na Constituição, esse estado plurinacional ainda é uma construção. Basta ver o caso dos indígenas equatorianos que lutam contra as mineradoras que avançam sobre suas terras sem que seja respeitada a lei da consulta e do domínio do espaço pelos verdadeiros donos, que são os originários.

Aqui no Brasil, por força da organização menos estruturada que a dos povos andinos, as comunidades autóctones ficaram mais expostas à destruição, e a dizimação aconteceu de forma acelerada. Com a chegada massiva dos imigrantes no século XVII, o interior, que ainda servia de abrigo a muitas etnias, também começou a ser invadido e a matança voltou a ocorrer. Os bandeirantes cumpriram esse triste papel. Visto como “heróis” pelos seus contemporâneos eles avançavam pelo Brasil adentro caçando e matando índios, “limpando” a terra para entregar aos imigrantes ou aos seus patrões latifundiários. Alguns deles são os incensados fundadores de cidades, homenageados até hoje, como é o caso de Francisco Dias Velho, que expulsou da ilha de Santa Catarina os guarani e fundou o que hoje é Florianópolis.

A solução encontrada pelos “bondosos” senhores das terras naqueles dias era confinar em reservas os sobreviventes. A proposta primeira era integrar. Uma ideia que parecia muito piedosa depois do massacre. Diziam que aos índios era necessário “civilizar”, ou seja, submetê-los a uma cultura e a um deus que não era deles. Assim, aprisionados como bichos, os indígenas ou se integravam ou morriam. Mas, a tal da integração também nunca foi uma tarefa fácil. Os indígenas eram vistos pelos colonos brancos como uma ameaça e o confronto sempre foi latente. Daí para o racismo foi um pulo. A integração jamais foi conseguida. Aqueles que saiam das reservas e se aventuravam na cidade, tinham “por castigo” sofrer todo o tipo de preconceito e discriminação. Raramente se livravam da marca do “selvagem”.

No início do século XX foi a vez da ocupação das terras amazônicas e, de novo, a proposta apresentada pelo governo era a de “civilização”. Trazer os “selvagens” para a vida civilizada, integrá-los ao mundo moderno, tira-los da mata e torná-los “gente e bem”. De novo, apesar das boas intenções, seguiu o longo processo de apagamento das culturas, senão pelos arcabuzes, pela integração. Ainda assim, muitos conseguiram seguir nos seus territórios, ainda que confinados nas reservas. Desde então é assim. Os indígenas que não migraram para as cidades  e ainda seguem seus costumes tais como suas formas organizativas são seres tutelados pelo Estado. Não têm autonomia. São vistos e tratados como crianças, incapazes de gerir suas próprias vidas. Seus territórios não lhes pertencem, são da União, e é o Estado quem decide onde e como eles ficam na terra. Os argumentos para essa tutela seguem sendo os mais piedosos: “os indígenas não sabem negociar no mundo moderno, são bêbados, são vagabundos, são inúteis, são ladrões”. Ou seja, imputam ao índio toda a sorte de vícios e problemas que são típicos do homem branco invasor. É certo que os indígenas não são pessoas puras, desprovidas de toda a maldade (afinal, são 500 anos convivendo), mas daí a dizer que só por ser índio alguém vai conduzir de forma equivocada um pedaço de terra beira ao absurdo. Basta dar uma olhada nas fazendas que mantém pessoas escravizadas e ver quem as dirige: não são índios. São os latifundiários.

Assim, nesse sistema de tutelagem, as comunidades indígenas são mandadas para cá e para lá conforme os interesses dos governos de plantão. Poucos são os que conseguiram garantir a permanência no seu território original. Ocorre que para as comunidades indígenas o território não é descolado da vida. Não é a mesma coisa que para um cidadão ocidental que pode mudar de casa, de cidade ou de país sem qualquer alteração no seu modo de ser. Um indígena está conectado com o lugar de vivência, precisa de espaço para caçar, cultivar, nadar, adorar os seus deuses. A terra faz parte do seu ethos cultural, é parte constitutiva de sua cosmovisão. Por isso que tantas etnias sofrem a fome, a miséria e a morte – alguns chegam a preferir o suicídio. Levadas para reservas – que são cópias mal apanhadas do mundo branco - sem identidade, as pessoas sucumbem e precisam viver à custa do Estado como se fossem inúteis. Não o são. Foram expropriados de sua maneira original de viver e ainda têm de pagar o preço de uma decisão que nunca foi delas.

Como no Brasil as comunidades são espalhadas e pequenas, a organização também é bem mais difícil do que em países como Bolívia e Equador, onde a maioria da população é indígena. Nesse sentido, acossados por todos os lados, os indígenas de Pindorama mal conseguem se fazer ouvir, a não ser em casos específicos onde, inclusive, são mais uma vez apontados como selvagens, avessos ao progresso, como é o caso da construção da usina Belo Monte que vai alagar a terra de muitas comunidades e contra a qual as comunidades estão em luta. Os indígenas defendem seu território, mas são mostrados na mídia como bárbaros, enquanto os verdadeiros “bárbaros” passam por empresários de sucesso que só querem o bem e o progresso do país. A União, que detém a posse legal da terra, põe e dispõe conforme os interesses dos depredadores da vida e do país.

Pois agora, não satisfeitos com a entrega das terras indígenas para seus projetos privados e destruidores, os negociantes e empresários, de olhos nas riquezas das terras ocupadas pelas comunidades autóctones, deram mais um golpe na já combalida organização indígena. Levaram para o Congresso Nacional uma proposta que aparentemente é singela e democrática: tirar da União a decisão sobre as terrasindígenas e passar para o Congresso Nacional. Assim, pensam eles, será mais fácil vencer as resistências que por ventura possam surgir quando da ocupação de algum lugar onde vivam os índios. Como agora há uma presidente permeável às demandas das comunidades eles viram que era melhor arrancar o mal pela raiz. Devem ter pensado: “vai que a presidente resolve dar uma de esquerda e proteger os índios. Melhor não arriscar”. A ideia então foi jogar a decisão para o Congresso Nacional onde os poderosos têm quase total controle.

Numa primeira vista pode parecer interessante. No Congresso a coisa parece mais democrática, a decisão precisa ser discutida, negociada. Mas, não é. No Congresso quem manda são os poderosos, os endinheirados. Na correlação de forças, os trabalhadores, os empobrecidos, os índios, os excluídos sempre perdem. As chances de uma proposta de ocupação de terra indígena são muito maiores se levadas ao Congresso, pois o lobby dos ruralistas é forte demais. E eles agiram apresentando uma proposta de emenda constitucional, o que significa alterar a Constituição que, com todos os seus problemas, tem alguns avanços no que diz respeito à questão indígena.

Pois, sem debate e sem uma discussão nacional, essa proposta leonina já passou na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Os argumentos são os mesmos usados pelos invasores e destruidores do passado: os indígenas precisam se integrar. E, caso algum dia (que será bem breve) alguma terra precisar ser ocupada por algum projeto mirabolante ou mesmo por uma fazenda de bois, os indígenas terão “todo o direito” de se organizar, ir ao Congresso e debater. Ora, isso é o cinismo levado à última potência.

A emenda constitucional ainda vai tramitar e ser votada no plenário. Ela foi inscrita como PEC 215. É mais uma violência contra as já tão aviltadas comunidades indígenas. Caso seja aprovada, pode ser a pá de cal nas ainda sobreviventes comunidades que lutam pela demarcação de seus territórios. É por isso que a luta contra essa PEC precisa ser assumida pelos movimentos sociais populares, pelos sindicatos. Já basta de deixar a questão indígena para os índios. Ela é parte de cada uma de nós, está no nosso DNA, precisa ser uma luta nacional.

A batalha que agora começa a ser travada contra essa PEC também não deveria ficar no mais do mesmo. Não se trata de apenas impedir que a decisão sobre as terras indígenas seja apreciada no Congresso, muito menos de aceitar que siga como tem sido, na base da tutela governamental. Há que avançar. A decisão sobre as terras indígenas pertence aos indígenas. É hora de caminhar para a consolidação da autonomia real. É o momento de lutar pela retomada dos territórios originais, pelo direito à cultura e a organização da vida e pelo direito de gerir o seu território no que diz respeito às riquezas que ali estão. Essa não é uma luta fácil, mas tem de iniciar. O debate sobre os direitos das comunidades originárias precisa tomar o país para além das folclorizadas visões de um mundo puro, natural e perfeito. O mundo indígena tem seus próprios problemas, mas acabe às comunidades resolverem. Como em toda Abya Yala é chegada a hora das comunidades indígenas de Pindorama também se levantarem na luta pelo que lhes é direito. Todos contra a PEC 215, mais uma safadeza dos ruralistas.  Ainda é tempo de estancar a fonte do crime seguindo o que ensinava o inesquecível poeta palestino Mahmud Darwish: “rebelem-se... e permaneçam vigilantes, prontos para o combate”!


Veja também:

Conheça o documento PEC 215 clicando aqui.


Saiba mais sobre o autor da PEC 215, dep. Almir Sá (ora apresentado como sendo filiado ao PPB e ao PR) clicando na página da Câmara Federal. Note que seu nome não está na lista de deputados, e a página pessoal do deputado Abel Ávila dos Santos (com foto) se abre quando clicamos no nome Almir Sá na página do PEC 215.


A Câmara foi contatada em 30 mar 2012, via FALE CONOSCO, bem como pelo número de telefone 0800 619 619 para esclarecer essa troca de nomes/fotos.


Leia o texto e assista ao vídeo que fala sobre "o bom filho à casa retorna" (à Câmara) na página do Partido da República (PR) por Roraima clicando aqui.

Índios, vítimas da imprensa


Índios, vítimas da imprensa

Dalmo de Abreu Dallari*
Observatório da Imprensa
27/03/2012

Os índios brasileiros nunca aparecem na grande imprensa com imagem positiva. Quando se publica algo fazendo referência aos índios e às comunidades indígenas o que se tem, num misto de ignorância e má fé, são afirmações e insinuações sobre os inconvenientes e mesmo o risco de serem assegurados aos índios os direitos relacionados com a terra. Essa tem sido a tônica.

Muitas vezes se tem afirmado que a manutenção de grandes àreas em poder dos índios é inconveniente para a economia brasileira, pois eles não produzem para exportação. E com essa afirmação vem a proposta de redução da extensão da ocupação indígena, como aconteceu com a pretensão de reduzir substancialmente a área dos Yanomami, propondo-se que só fosse assegurada aos índios o direito sobre o pequeno espaço das aldeias. E como existem várias aldeias dentro do território Yanomami, o que se propunha era o estabelecimento de uma espécie de “ilhas Yanomami”, isolando cada aldeia e entregando a especuladores de terras, grileiros de luxo ou investidores do agronegócio a quase totalidade da reserva indígena.

Não é raro encontrar a opinião de alguém dizendo que “ é muita terra para pouco índio”, o que autoriza a réplica de que quando somente um casal ou um pequeno número de pessoas ocupa uma grande mansão ou uma residência nobre com jardins, piscina e até quadra de tênis, usando um grande espaço que vai muito além do necessário para a sobrevivência, um índio está autorizado a dizer que “é muita terra para pouco branco”.

Créditos de carbono

Outro argumento que aparece com grande frequência na imprensa é a afirmação de que as reservas indígenas próximas das fronteiras colocam em risco a soberania brasileira, pois os índios não fazem a vigilância necessária para impedir a invasão ou a passagem de estrangeiros.


Uma primeira resposta que se pode dar a essa acusação é que frequentemente, quando se registra uma ocorrência mais marcante relacionada com o tráfico de drogas, aparecem informações, às vezes minuciosas, sobre os caminhos da droga, seja por terra, pelos rios ou pelo ar. Várias vezes se mostrou que a rota dos traficantes passa perto de instalações militares basileiras de fronteira, vindo logo a ressalva de que o controle do tráfico é problema da polícia, não dos militares. E nunca se apontou uma reserva indígena como sendo o caminho da droga, jamais tendo sido divulgada qualquer informação no sentido de que a falta de vigilância pelos índios facilita o tráfico.

E quanto à ocupação de partes de uma reserva indígena por estrangeiros, qualquer pessoa que tenha algum conhecimento dos costumes indígenas sabe que os índios são vigilantes constantemente atentos e muito ciosos de seus territórios.

Noticiário recente é bem revelador do tratamento errado ou malicioso dado às questões relacionadas com terras indígenas. Em matéria de página inteira, ilustrada com foto de 1989 – o que já é sintomático, pois o jornal poderia facilmente obter foto de agora e não usar uma de 23 anos atrás – o jornal O Estado de S.Paulo coloca em caracteres de máxima evidência esta afirmação alarmante: “Por milhões de dólares, índios vendem direitos sobre terras na Amazônia”.

Como era mais do que previsível, isso desencadeou uma verdadeira enxurrada de cartas de leitores, indignados, ou teatralmente indignados, porque os índios estão entregando terras brasileiras da Amazônia a estrangeiros. Na realidade, como a leitura atenta e minuciosa da matéria evidencia, o que houve foi a compra de créditos de carbono por um grupo empresarial sediado na Irlanda e safadamente denominado “Celestial Green Ventures”, sendo, pura e simplesmente, um empreendimento econômico, nada tendo de celestial.

Mas a matéria aqui questionada não trata de venda de terras, como sugere o título.

Fora de dúvida

Por ignorância ou má fé a matéria jornalística usa o título berrante “índios vendem direitos sobre terras na Amazônia”, quando, com um mínimo de conhecimento e de boa fé, é fácil saber que, mesmo que quisessem, os índios não poderiam vender direitos sobre terras que ocupam na Amazônia ou em qualquer parte do Brasil.


Com efeito, diz expressa e claramente o artigo 231 da Constituição brasileira :

“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.

Nesse mesmo artigo, no parágrafo 2°, dispõe-se que “as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes”. E o parágrafo 4° estabelece uma restrição muito enfática, cuja simples leitura deixa bem evidentes o erro e a impropriedade da afirmação de que os índios venderam seus direitos sobre sua terras na Amazônia.

Diz muito claramente o parágrafo 4°: “As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis”. Acrescente-se a isso tudo, o que já seria suficiente para demonstrar a má fé do título escandaloso dado à matéria, que o artigo 20 da Constituição, que faz a enumeração dos bens da União, dispõe, também com absoluta clareza : “São bens da União : XI. As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios”.

Com base nessas disposições constitucionais, fica absolutamente fora de dúvida que os índios não têm a possibilidade jurídica de vender a quem quer que seja, brasileiro ou estrangeiro, seus direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupam, na Amazônia, em Goiás, na Bahia, em São Paulo, no Rio Grande do Sul ou em qualquer outra parte do Brasil.

Errada e absurda

Se, por malícia, alguém, seja uma pessoa física, uma empresa ou qualquer instituição, obtiver de um grupo indígena uma promessa de venda de algum desses direitos estará praticando uma ilegalidade sem possibilidade de prosperar, pois, como está claramente disposto na Constituição, esses direitos são inalienáveis. E ainda de acordo com a Constituição é obrigação da União, que é a proprietária das terras indígenas, proteger e fazer respeitar todos os bens existentes nessas terras.

Em conclusão, o título escandaloso da matéria jornalística aqui referida está evidentemente errado pois afirma estar ocorrendo algo que é juridicamente impossível sgundo disposições expressas da Constituição brasileira.

Comportando-se com boa fé e respeitando os preceitos da ética jornalística, a imprensa deveria denunciar qualquer ato de que tivesse conhecimento e que implicasse o eventual envolvimento dos índios, por ingenuidade e ignorância, na tentativa da prática de alguma ilegalidade. Mas, evidentemente, é absurda, errada e de má fé a afirmação de que os índios vendam direitos sobre terras na Amazônia.

* É jurista e professor emérito da Faculdade de Direito da USP

quinta-feira, 29 de março de 2012

Red Abya Yala promueve el 2012 como el Año de la Comunicación Indígena y Reafirma sus Derechos


Red Abya Yala promueve el 2012 como el Año de la Comunicación Indígena y Reafirma sus Derechos

En recientes encuentros la Red de Comunicación Indígena Abya Yala* manifestó sus nuevas proyecciones sobre el próximo festival de Cine y Comunicación Indígena en septiembre del 2012, asimismo, sobre el próximo encuentro continental de Comunicación Indígena en México (2013). Se manifestó también sobre la falta de reconocimiento al derecho de la comunicación de los Pueblos Indígenas en diversos Países y particulamente, su profunda preocupación ante los crímenes de lesa humanidad que vienen ocurriendo en diversos territorios de Colombia y que afecta a Pueblos indígenas, entre otros puntos.

Fuente: CLACPI  06 mar 2012

En el territorio Wayuu, Resguardo 4 de Noviembre, Albania, la Guajira en Colombia, se realizó el VI Taller Internacional de la Red ABYA YALA(*), entre los días 6 al 13 de febrero de 2012, reuniendo a comunicadores y comunicadoras, medios y organizaciones de todo el continente para evaluar los compromisos asumidos por las organizaciones indígenas de comunicación, sus propuestas y desafíos para la realización de la próxima Cumbre a realizarse en México en 2013 y la organización del XI Festival Internacional de Cine y Comunicación Indígena entre septiembre y Octubre de 2012 en Colombia, señalando lo que a continuación se indica:

Como red, reafirmamos el 2012 como EL AÑO DE LA COMUNICACIÓN INDÍGENA y en este contexto asumimos el derecho a la comunicación como un derecho humano fundamental basado en el reconocimiento de la dignidad y los derechos iguales e inalienables de todos los pueblos, por lo que impulsaremos durante el presente diversas actividades e iniciativas tendiente al fomento, garantía y protección de este derecho ante la amenaza, desconocimiento y atropellos recurrentes que suceden en diversos países del Abya Yala.Asimismo, como comunicadores y comunicadoras indígenas, en el ejercicio de este derecho , consideramos que la Comunicación debe representar las demandas y aspiraciones de los pueblos con respecto a sus derechos colectivos, como la libre determinación, la cultura, el derecho al uso y goce de las tierras, bienes naturales, desarrollo propio, paz social, buen vivir, entre otros.

Atendiendo esto, manifestamos nuestra profunda preocupación ante los crímenes de lesa humanidad que vienen ocurriendo en diversos territorios de Colombia y que afecta a Pueblos indígenas, donde, en medio del llamado conflicto armado, las principales víctimas pertenecen a la población indígena y entre ellos, niños, mujeres, dirigentes y comunicadores indígenas, siendo el responsable principal de estos gravísimos hechos el Estado colombiano.

En este contexto, con mucho dolor y a la vez indignación hemos constatado la situación de nuevas víctimas como ha ocurrido recientemente en el Cauca con seis niños heridos y uno muerto, a causa de minas antipersonales y la manipulación de un artefacto explisovo en un establecimiento educacional el martes 7 de febrero y que debe poner en alerta y acción inmediata a todos los organismos de Derechos Humanos, defensores, organizaciones solidarias y medios libres y democráticos.

A su vez, en el marco de la legítima protesta social y libertad de expresión de los movimientos sociales en el continente, ante las amenazas y graves impactos que vienen causando industrias extractivas y energéticas como parte de un atroz modelo depredador y que atenta al buen vivir de los Pueblos y elementos vitales de pervivencia como el agua, expresamos nuestro categórico repudio a las acciones de criminalización, violencia, judicialización y represión que diversos gobernantes vienen imponiendo en desmedro de la paz social, donde se han sobrepuesto los intereses económicos y comerciales de grupos de poder económicos, en su mayoría transnacionales, por sobre la vida, la libertad, dignidad e integridad de las personas.

Como comunicadoras y comunicadores, como medios sociales de información, como defensores(as) de Derechos Humanos, nos comprometemos a seguir avanzando y construyendo para hacer visible con fuerza hechos como los descritos anteriormente en medio de cercos mediáticos que imponen sectores políticos y empresariales, para continuar por la senda de los intereses colectivos y el respecto irrestricto a los Derechos Humanos y la madre tierra.


(*) La Red de Comunicación de Comunicación Red Abya Yala nacida en 2002 al impulso de CLACPI es un espacio de articulación constituido por diferentes experiencias y organizaciones indígenas originarias que trabajan en el impulso de acciones y procesos de comunicación. Desarrolla acciones de reforzamiento y formación de procesos de comunicación que trabajan en el contexto sudamericano.

Esta Red que ha desarrollado ya 6 Talleres Internacionales, ha venido trabajando para “contribuir a un cambio profundo y esencial de la situación de marginación y exclusión de los pueblos indígenas en la sociedad, como al posicionamiento, empoderamiento y cumplimiento de la defensa y plena vigencia de los derechos indígenas. De igual forma a recrear la cultura y recuperar los valores ancestrales y reflejar los intereses de comunidad, así como explorar nuevas formas creativas de expresión; como a constituir un espacio de diálogo y reflexión, difundir los valores culturales de los pueblos indígenas originarios y fortalecer a las organizaciones indígenas y originarias”.

Leia também “América Latina: Lanzan Año Internacional de la Comunicación Indígena“ em Servindi clicando aqui.

Veja a programação do Ano Internacional da Comunicação Indígena na página de Apia clicando aqui.