domingo, 4 de dezembro de 2011

Coisas da des-magia da Ilha de Santa Catarina...


Desbafo da Família Lorenzo*

"Viemos para o Brasil com o coração aberto, prontos para fazer dele a nossa segunda pátria e, como forma de gratidão, deixar a nossa contribuição com tudo que temos de melhor: o amor que nos une, a coragem de recomeçar do zero, a vontade de ser útil e de fazer amigos, o valor do trabalho. Foram anos difíceis com muita luta pela sobrevivência e adaptação. Mas foram eles que nos fizeram merecedores da oportunidade de um terreno e, a partir dele, o lugar adequado para colocarmos em prática um dom de família: a culinária. O preço era muito bom, principalmente porque ninguém, até então, tivera arrojo suficiente para explorar, de uma forma ecologicamente correta, aquele paraíso. Até então, porque nós, da família Lorenzo, tivemos. Colocamos cada tijolo de uma forma respeitosa com a natureza, atitude que nos é culturalmente familiar e, inclusive, porque sabíamos que ela seria o palco ideal para desenvolvermos a nossa arte, entregando a Florianópolis um belo e precioso cartão de visitas. Assim foi feito: não demorou muito e o Restaurante João de Barro tornou-se referência, não só na gastronomia, mas também na belíssima paisagem que todos desfrutam enquanto saboreiam um delicioso jantar. Mais felizes ficam todos quando prestamos uma homenagem a esta ilha que tão bem nos acolheu.

Trata-se de um momento mágico, à luz de velas, ao som de violão e voz numa belíssima interpretação do Rancho de Amor à Ilha, e com um final apoteótico colorindo o céu com os antigos fogos de artifício, hoje com uma adaptação deles. Não há quem não se emocione e não espere por este momento. Neste clima amistoso e familiar, 16 anos se passaram e, há 8 anos, integrou-se a nós a Lorenzo´s Pizzaria, outro patrimônio formado pelo nosso esforço e suor.

A pizzaria é um lugar pitoresco, onde as crianças têm espaço para fazerem a sua própria pizza, para usar livros de história e brinquedos, o que elas adoram, e os adultos se sentem em casa. Se cometemos erros? Sim, quem nunca os cometeu? Mas, todos eles foram passíveis de correção e de conciliação. Em contrapartida, os acertos e benefícios são infinitamente maiores, a começar pela geração de empregos, sendo a maioria dos funcionários antigos de casa, além de uma clientela fiel que mantém as casas o ano todo, o que atesta, sem sombra de dúvida, a qualidade dos nossos serviços prestados.

Agora, desde o final do ano passado, eis que passamos a ser vítimas do que podemos chamar de perseguição gratuita ou por intenção que até agora nos é desconhecida, tamanha é a fúria das acusações, que nos chegam de surpresa, uma atrás da outra, nos fazendo reféns - financeira e emocionalmente – de situações que não condizem com a realidade soberana e das quais temos que nos defender. Afinal, não podemos deixar que destruam tudo o que nós construímos e que, hoje, nem é só nosso: é também uma conquista de Florianópolis. Nós, e todos os nossos funcionários e clientes, não fazemos outra coisa, desde então, do que suportar todos os bombardeios que, cada vez mais, nos perturbam e fogem do nosso entendimento.

Como explicar, aplicando a Justiça, que um casal com um filho escolha para morar, por livre e espontânea vontade, uma casa próxima a dois restaurantes, num mesmo terreno que lhes é comum, inclusive sendo de trânsito público, já que é considerado uma Servidão, e, depois, se sintam incomodados e se achem tão poderosos a ponto de acreditar que a Justiça vá dar ganho de causa a eles, fechando os dois restaurantes? Ou que nos vençam pelo cansaço, diante de tanta pressão? A última surpresa desagradável nos chegou véspera de feriado e de recesso no judicial para dificultar a nossa defesa, com a proibição de que carro algum poderia subir naquela servidão que servem os dois restaurantes e a casa do casal, exceto o carro dos proprietários das residências. Resultado: nem assim os clientes desistiram de freqüentar os dois restaurantes e estão subindo a pé ladeira acima, na chuva, de salto, senhoras idosas, portadores de necessidades especiais, fornecedores, funcionários, mulheres com crianças no colo, etc. Com certeza, só essa postura da sociedade de Florianópolis e seus visitantes já traduz TUDO em favor do Restaurante João de Barro e da Lorenzo´s Pizzaria.

Enfim, podemos estar perdendo dinheiro; podemos estar perdendo energia emocional, mas, jamais perderemos a confiança na Justiça, que sabe e defende o valor do trabalho e a importância de locais propícios para que as famílias, profissionais liberais e turistas possam desfrutar de momentos de lazer e de confraternização.

Somos uma família do BEM, que só fez construir neste país sagrado, no qual investimos todo o nosso suor, plantamos todo o nosso amor e gratidão, vimos crescer e formar em universidades de Florianópolis nossos filhos; vimos nascer nossos netos; vimos despedir da vida terrena o nosso chefe de família, Gustavo Lorenzo; vimos nosso patrimônio tornar-se patrimônio da cidade inteira que o exibe – com muito orgulho - aos seus convidados, familiares e amigos de fora. Não merecemos, depois de 26 anos de posse do terreno e 16 anos de perfeito funcionamento, ser incomodados desta forma insensata e desregrada, sem limites, sem motivos consistentes, sem fim. Não merecemos ser tratados como marginais e bandidos, porque não o somos. Não mereço, eu, Diana, proprietária do Restaurante João de Barro, aos 71 anos, não poder receber em minha própria casa nem mesmo as minhas amigas já idosas e que não conseguem subir a pé. Não merecemos esta situação insustentável de perseguição ao nosso trabalho, ao nosso único meio de sobrevivência, ao nosso ninho.

Por tudo isso, pedimos a todos que se solidarizam com a nossa causa, principalmente aos órgãos da Justiça, que nos ajudem a continuar a ser o que sempre fomos: uma família de estrangeiros, apaixonados pelo Brasil, que só percebe a vida fazendo amigos, praticando o bem, compartilhando o prazer das boas coisas de uma forma familiar e sem algazarras, e divulgando a arte, a literatura, a música, Florianópolis. Só queremos o direito de viver e trabalhar em paz, e o dever de cumprir com nossas obrigações com dignidade e respeito.

Obrigada

Família Lorenzo

* Proprietária do Restaurante João de Barro no Cacupé/Florianópolis/SC


A servidão que não serve

Eleito pela Revista Veja como o Melhor Restaurante de Cardápio Variado de Florianópolis em três anos consecutivos, o João de Barro, no Cacupé, está proibido de permitir o tráfego dos veículos de seus clientes na via de acesso ao estabelecimento. A gerência colocou uma equipe de plantão para explicar aos frequentadores o porquê de precisarem estacionar os carros na rodovia Haroldo Soares Glavan e dirigir-se a pé até o estabelecimento: é que, em meados de outubro, o desembargador Domingos Paludo deferiu uma decisão liminar em favor dos moradores da residência na esquina da servidão - a única edificação da via, além do restaurante - que se incomodam com a movimentação do local em função da existência do restaurante.

O casal argentino Gustavo (falecido em janeiro) e Diana Lorenzo comprou a área em 1990 - já com aquela via de acesso. Anos depois ela foi pavimentada pela Comcap, que na época era a responsável por esse serviço. Desde 1996 o restaurante funciona no local, mas os problemas começaram com a ocupação do terreno da esquina da servidão (o portão, na foto), e se acirraram no ano passado, quando a Loki Participações Ltda., sediada em São Paulo, adquiriu o imóvel para residência de um executivo canadense - diretor-responsável pela empresa Loki -, a esposa brasileira e um filho pequeno. O casal inconformou-se com a presença do Restaurante João de Barro e a Loki solicitou na Justiça a declaração de inexistência da servidão, solicitando em medida liminar que apenas os carros da família Lorenzo possam trafegar pela via, até a decisão de mérito da ação principal, em que também são réus a Prefeitura e a Floram.

Reproduzido de Jornal Ilha Capital
01 nov 2011

Enquanto isso, nas salas da Justiça catarinense...

RELATOR EXPEDIENTE N.º 460/2011 - CÂMARA CIVIL ESPECIAL_MM
Exp.460/2011 - Agravo de Instrumento - 2011.046195-8/0000-00

Capital Agravante :Loki Participações Ltda ADVOGADO: Édson Carvalho Agravados : Lorenzo & Lorenzo Ltda ME e outros ADVOGADO: Agravo de Instrumento n. da CapitalAgravante: Loki Participações Ltda ADVOGADO: DR. Édson Carvalho (20267/SC) Agravados: Lorenzo & Lorenzo Ltda ME e outros DESPACHO O agravo discute a decisão de fl. 214-7, que indeferiu pedido de liminar para que os agravados providenciem em seu imóvel saída para a via pública, no prazo de 30 dias. Alega aagravante que a decisão é nula por ausência de fundamentação; o terreno da recorrida possui acesso para via pública; a ideia de servidão de passagem estaria diretamente ligada à noção de necessidade; a ação reivindicatória 0, julgada improcedente, foi ajuizada por terceiro contra o agravado para dirimir a pretensão de propriedade sobre o imóvel, e não a existência de servidão; inexiste registro imobiliário de instituição de servidão de passagem, ou mesmo consentimento seu ou de proprietário antigo do imóvel; no máximo, deve ser limitada a passagem apenas aos agravados, e não a toda clientela que frequenta os estabelecimentos comerciais (restaurantes), em torno de 160 pessoas diariamente; e a manifesta perturbação da tranquilidade e uso nocivo da propriedade (acesso ao imóvel obstruído com veículos de clientes da agravada) causa prejuízos imensuráveis. Requer antecipação da tutela para que os agravados providenciem em seu imóvel saída para via pública. Alternativamente, a utilização da passagem seja restrita aos agravados.


Pg. 505. Diário de Justiça do Estado de Santa Catarina DJSC de 14/06/2011
ADV: ÉDSON CARVALHO (OAB 020.267/SC)
Processo 023.11.004079-4 - Ação Ordinária / Ordinário - Autor : Loki Participações Ltda - Réus : Lorenzo & Lorenzo Ltda - ME e outros - ... III - Ante o exposto, INDEFIRO a pretendida antecipação dos efeitos da tutela pleiteado pela parte autora na exordial, tendo em vista a falta dos requisitos essenciais para a sua concessão. Citem-se. Intimem-se. Notifique-se o Ministério Público, conforme pleiteado na Promoção Ministerial retro.


Pg. 205. Diário de Justiça do Estado de Santa Catarina DJSC de 22/09/2011
19-Ed.3743/11-Agravo de Instrumento nº 2010.048527-8, da Capital
Relator: Desembargadora Sônia Maria Schmitz
Juiz(a): Haidee Denise Grin
Agravantes: Loki Participações Ltda e outro
Advogada: Dra. Simone Jardim Mortola (24925/SC)
Agravado: Lorenzo & Lorenzo Ltda ME
Advogados: Drs. Orídio Mendes Domingos Júnior (10504/SC) e outro Agravados: Gustavo Horácio Ramon Lorenzo e outros
Advogadas: Drs. Cátia Cristine Kempf Zanotto (22300/SC) e outro DECISÃO: por votação unânime, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento, nos termos do acórdão. Custas legais.



Comentário de Filosomídia:

Loki, por acaso, é o deus Asgardiano da trapaça, derrotado na série de HQ da Marvel Comics, por "Os Vingadores". Vai saber o que é essa empresa canadense com filial em São Paulo... E, espero que a turma do Bem dessa Ilha apoie a Família Lorenzo a resolver essa questão absurda e estranha. O João de Barro é um restaurante de infinitas estrelas, tanto pela gentileza de todo o seu pessoal quanto pela qualidade dos pratos e ambiente da casa. Ora, a Família Lorenzo há anos encanta a Ilha com sua presença, e agora chegam essas pessoas que parecem não querer "ser incomodadas"  com o restaurante? Sugiro a eles que envidem esforços para a construção de uma ponte desde o aeroporto até sua casa, sem passar pela servidão que dá acesso ao João de Barro...

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