sexta-feira, 17 de junho de 2011

Inovação, não saudosismo: o desafio dos estudos sobre comunicação e mídia


"Inovação, não saudosismo: o desafio dos estudos sobre comunicação e mídia

A epistemologia da comunicação está em crise. A saída defendida por Erick Felinto, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, é passar pelas mídias digitais. Segundo ele, o digital gera uma problematização dos modelos comunicacionais atuais, colocando em questão o cerne da própria comunicação.

Por isso, assim como em outros campos do saber, a comunicação também precisa lidar com a sua crise "através de formas inovadoras e não saudosistas", comentou.

No 20º Encontro Anual da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação - Compós, realizado em Porto Alegre, Felinto afirmou que uma das preocupações centrais da comunicação hoje é, muitas vezes, disciplinar, demarcar sua fronteiras. Isso, segundo ele, manifesta claramente a infância-adolescência da comunicação hoje. "A comunicação é muito mais um campo do que uma disciplina", afirmou, já que é composta por problemas que são atravessados por diversas áreas, trans ou interdisciplinares.

O digital, para Felinto, coloca em xeque noções como a própria comunicação, a mensagem e o sentido. Historicamente, afirmou, os estudos sobre comunicação foram muito marcados pelo paradigma emissor-mensagem-receptor, característico da mass media research, assim como pelos estudos de recepção, que propunham uma investigação de ordem hermenêutica, ou seja, de interpretação de sentidos.

"Assim, o componente propriamente tecnológico e material dos meios foi quase que inteiramente esquecido", disse. "O digital coloca como questão central a materialidade, os impactos da dimensão material da comunicação", afirmou, a partir da obra de Friedrich Kittler. E questionou: "Como pensar em meios no contexto da cultura digital?".

Felinto afirmou que, nos estudos do paradigma emissor-mensagem-receptor, o ruído era considerado problemático. Porém, citando estudos de Jussi Parikka, o ruído tem função produtiva, constitutiva da própria comunicação. "Já se pensou muito no sentido. Cabe agora pensar o ruído, a perturbação", afirmou.

Para Felinto este também seria o momento de investigar não apenas quais significados circulam pelos sistemas midiáticos, mas sim como, em tais sistemas tecnológicos, pode-se dar a emergência de sentidos em geral. "Ou seja, como a partir do não sentido – a dimensão material dos meios – surgem as condições para a manifestação do sentido".

Para isso, é preciso abandonar uma metafísica fundada em pressupostos humanistas, "na qual o sujeito humano ocupa posição absolutamente central, como senhor e mestre da tecnologia e do significado". "A cultura é um fenômeno tecnológico desde suas origens, mas hoje, mais que em qualquer outra época, a tecnologia se torna tema central de debate. Os atores não humanos ocupam uma posição tão decisiva que nossos pudores humanistas não tem mais onde se sustentar", explicou.

Assim, pode-se passar de uma preocupação central na hermenêutica para uma preocupação com a dimensão material da comunicação. Mas, para isso, é preciso abandonar, segundo Felinto, um ranço ou preconceito humanista, segundo o qual pensar o meio é ser determinista tecnológico.

Nesse sentido, outra dimensão importante é promover uma arqueologia da comunicação, ou seja, analisar como o presente surge de um tempo profundo. "São necessários exercícios teóricos imaginativos", afirmou. "A imaginação pode preencher os espaços deixados pelo saber", ou seja, pensar em amplitude, não microscopicamente.

E, para exemplificar, desafiou a se estudar a comunicação como fizeram os "pensamentos proféticos" da comunicação promovidos pelo filósofo canadense Marshall McLuhan e pelo filósofo tcheco e naturalizado brasileiro Vilém Flusser."

Erick Felinto
Instituto Humanitas Unisinos
16/06/2011

Leia o artigo de Erick Felinto na íntegra aqui.

Reproduzido do FNDC

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