sábado, 17 de novembro de 2012

Polissemias da “Insegurança”, por Fernando Buen Abad Domínguez



O medo ao medo e as operações midiáticas golpistas*

Polissemias da “Insegurança”

Por Fernando Buen Abad Domínguez

Calça perfeitamente no golpismo midiático burguês, o manuseio do termo “Insegurança” atribuído a tudo que não seja seus interesses. Álibi criminoso perfeito. Uma espécie de “curinga” semântico de grande utilidade nos baralhos ideológicos dos jogadores das notícias. Choramingam o tempo todo enquanto traficam com manobras de terrorismo informativo; enquanto choram amargamente sobre a vítima que eles esfaqueiam; enquanto fazem biquinho constrangidos como plangentes jornalísticos; enquanto defendem os reinos oligarcas onde prima o repertório mais terrível de injustiças… Montaram um circo hipócrita com palhaçadas “mass media” para tornar invisível uma realidade medular: Não tem nada mais inseguro que o capitalismo!

Repertório de delinquentes e capitalistas que começa com a mais-valia, com o manuseio das leis burguesas, com o antidemocrático de suas instituições e seus valores, com os fracassos educativos, com as demagogias de farsantes “culturais”, não cumprindo compromissos políticos. O perigo é o capitalismo. Insegurança no trabalho, insegurança médica, insegurança de moradia, insegurança educativa… ninguém garante nem o indispensável. O único seguro no capitalismo é a miséria e a barbárie. Ou expressado de outro jeito, é mais do mesmo.

Estouram, nos “mass media”, como tapas de irracionalidade descomunal, as hipocrisias burguesas que choramingam constrangidas pela paisagem de “insegurança” que eles exageram – e ocasionam-. O grau de cinismo aberrante com que diariamente se fala de “insegurança” sintetiza, em seu núcleo ideológico mais duro, a moral da história do ódio burguês, o ódio de classe, no qual os pobres são uma espécie de ameaça apocalíptica irrefreável. A tese não declarada pelo mundinho informativo, a tese que resmungam sempre entre linhas, é que a “insegurança” (aquela que os assusta) é decomposição social que ameaça sua “propriedade privada” e que tem um povinho desumano que tem inveja do que a “gente nobre” ganhou “com o suor da sua frente”. No fundo o ataque burguês pela “insegurança” reclama manhosamente mais policiais, mais repressão, mais “mão dura”… o que for, com tal de não sentir na nuca a consciência pesada e a responsabilidade objetiva produzida pelo despojamento da maioria para que uns quantos vivam como reis.

Não é falso que os índices de criminalidade cresceram exponencialmente em setores muito diversos. Essa criminalidade, se se soma o valor em dinheiro, tem seu centro mais agudo nos bancos usureiros, nos latifúndios e em não poucos grupos empresariais que, historicamente, vêm roubando, assassinando e saqueando (inclusive de formas “legalizadas”) fortunas incomensuráveis, a propriedade dos povos e a vida de povos inteiros. Essa insegurança obra do capitalismo não conta na narração dos “jornalistas” servis à operação criminosa, base e sustento do capitalismo.

Historicamente o capitalismo foi incapaz de resolver o problema da “insegurança” ou da “delinquência”, em todas suas expressões e extensões. Se o fizesse, atentaria contra a sua própria essência e começaria por proibir ou roubo da mais-valia. Nenhum dos seus progressos em matéria de espionagem, de infiltração nem de “dissuasão” serviu para frear nenhum dos itens em que classifica os atos criminosos. Nem os chamados crimes de “foro comum”, nem os crimes contra as “garantias individuais” nem os crimes internacionais, tão graves quanto a invasão de países para saquear riquezas naturais. Visto como o veem os meios oligarcas, paradoxo de paradoxos, o capitalismo é um fracasso descomunal na hora de providenciar “segurança” a si próprio.

Quando se trata de caluniar qualquer projeto de transformação social que enfaticamente se arraiga em uma vida democrática em sério, a burguesia não duvida em tirar seu “curinga” mestra para acusar de “inseguro”, de “ausência de autoridade”, de permissividade cúmplice, ou de qualquer outra canalhice aos líderes e a os povos reticentes à mansidão que o capitalismo exige. Hoje em dia isso é uma moda mundial e com o lengalenga da insegurança se cometem insolências aberrantes como nunca. O burguês assustado se torna, facilmente, fascista e se desculpa toda perversão repressora, toda despesa com armas e toda estratégia de espionagem e morte em troca de dormir “tranquilo”.

As cifras mundiais em matéria de “insegurança”, além de ser manipuladas, (segundo conveniências de época) têm sempre o sabor amargo da impotência e a incerteza porque, um assunto tão sério, se deixa, principalmente, em mãos de policiais e soldados, das associações muito suspeitas perfilhadas pela burguesia durante pelo menos 300 anos, só para servir aos seus interesses. Não tem jeito de romper os círculos viciosos e trapaceiros da “insegurança” capitalista se o controle das polícias e os exércitos não o exercem os povos, democraticamente, sob uma doutrina de paz socialista, obediente, sem restrição, ao mandato de tranquilidade que a humanidade reclama desde sus aspirações mais profundas e dores históricas.

Nenhum oligarca resolverá problema algum de insegurança, por mais promessas que faça  ante os púlpitos de suas urgências eleitorais ou reinos burocráticos. Não o resolverá porque realmente não deseja fazê-lo e, especialmente, porque realmente não pode. Tem milhares de máfias, pequenas ou grandes, às que a oligarquia tributa privilégios com esmero e, todas elas, têm base criminosa histórica. Poderemos auditá-las, uma por uma, quando o povo tenha o poder de dirigir seu destino e terminar com o reino da delinquência estrutural consubstancial ao capitalismo. Não tem outra. A fome é um crime, o desemprego é um crime, a falta de escolas é um crime, a falta de saúde é um crime… o capitalismo é a “insegurança” mesma. Estamos esperando o que para compreendê-lo e resolvê-lo?

Versão em português: Projeto América Latina Palavra Viva

* Reproduzido com o título de Desacato
14 nov 2012

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