sábado, 5 de maio de 2012

#VejaBandida, veja você...


Veja, um caso sério

Maurício Dias
Carta Capital
05 maio 2012

Desde 1996, Marcus Figueiredo investiga os processos eleitorais a partir da cobertura feita pelos jornais Folha de S.Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo. Nesse período, Figueiredo, agora coordenador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), reuniu evidências sólidas para poder afirmar com segurança: “Há certa resistência, da parte dos jornalistas, em admitir a legitimidade da análise de mídia. Os próprios meios dedicam pouco espaço ao tema”.

Há poucos dias, no entanto, o veterano jornalista Merval Pereira, de O Globo, quebrou essa regra não escrita e se dedicou ao tema. Saiu em defesa da revista Veja, envolvida com questões do receituário da CPI.

“O relacionamento de jornalistas da revista Veja com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e seus asseclas nada tem de ilícito”, assegurou Merval.

Essa afirmação vigorosa se sustenta em bases frágeis. Merval enalteceu o “jornalismo investigativo” praticado na revista. Veja, no entanto, foi parceira de um jogo criminoso. Aliou-se a um contraventor e, no afã de denunciar escândalos, criou escandalosamente um deles. Cachoeira oferecia a munição e Veja atirava.

No futuro, esse episódio e outros deverão ser objeto de estudo acadêmico possivelmente sob o título de “O caso Veja”. Melhor seria abandonar o formalismo acadêmico e chegar a um título mais adequado à tese “Veja é um caso sério”.

Não é a primeira vez que a revista sapateia sobre as regras do jornalismo. Mais do que isso. Frequentemente, ela sai do jogo e -adota o vale-tudo.

Em 2006, por exemplo, Veja foi protagonista de um episódio inédito no jornalismo mundial, ao acusar o então presidente Lula de ter conta no exterior. Na mesma reportagem, no entanto, confessa não ter conseguido comprovar a veracidade do documento usado para fazer sustentar o que denunciava. Só o vale-tudo admite acusação sem provas.

A imprensa brasileira, particularmente, tem assombrosos erros históricos. Um prontuário que inclui, entre outros, a participação na pressão que levou Vargas ao suicídio, em 1954, e quando se tornou porta-voz do movimento de deposição de Jango, em 1964.

A ascensão de um operário ao poder é outro marco divisório da imprensa brasileira. A eleição de Lula acirrou os ânimos dos “barões da mídia”. O noticiário passou a se sustentar, primeiramente, nas divergências políticas e, depois, mas não menos importante, no preconceito de classe. A imprensa adotou o que Marcus Figueiredo chama de “discurso ético de autoqualificação diante dos leitores”.

 No exercício diário, semanal ou semestral, porém, essa propaganda se esfuma. Figueiredo fez um flagrante em 2006:

“(…) o que vimos são diferenças no tratamento conferido aos candidatos, de amplificação de certos temas negativamente associados a Lula, contraposto à benevolência no tratamento de temas espinhosos relacionados aos seus adversários”.

É possível recolher na história das redações inúmeros exemplos de desvios éticos provocados pela busca da informação exclusiva. Mas tudo, em geral, provocado pelo afã de profissionais em busca do “furo” sensacional.

Essa prática se mantém, mas sustentada muitas vezes em parceria criminosa e não em investigação jornalística.

Certas reportagens de Veja nos põem diante de um caso assim. A informação chega à redação de mãos beijadas. No caso, as mãos de Carlinhos Cachoeira.

Reproduzido de Carta Capital

Confira também em Filosomídia:

“Trevas ao meio dia”, por Mino Carta da Carta Capital (03/05/12) clicando aqui.

“Barões da mídia fecham acordo contra a CPI”, na página de O Escrevinhador (27/04/12) via Brasil 247 clicando aqui.

“Maia reduz a Veja a pó”, por Brizola Neto do Blog Tijolaço (16/04/12) clicando aqui.


“10 motivos para me indignar com a corrupção e monopólio nos meios de comunicação” clicando aqui.

"A mídia está de gringo no samba", no Blog Tijolaço (13/04/2012), clicando aqui.


"O medo da Veja", na página de Brasilianas (Advivo), postado por Luis Nassif clicando ali: O medo da veja 1, O medo da Veja 2, O medo da Veja 3.


"Veja tenta desviar o foco" na página de Minuto Notícias (14/04/2012) clicando aqui.


"Zé Dirceu denuncia cortina de fumaça da Veja", na página Terror do Nordeste, que faz análise sobre a "pressão de juízes" clicando aqui.


"As matérias que Cachoeira plantou na Veja", por Luís Nassif (02/05/12) clicando aqui.


"Merval se associa à Veja", por Altamiro Borges (04/05/12), clicando aqui.


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