segunda-feira, 12 de março de 2012

Pressão da Capes pode gerar conduta antiética por parte dos pesquisadores


Pressão da Capes pode gerar conduta antiética

A pressão feita pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) por publicações pode gerar condutas antiéticas por parte dos pesquisadores. Tal constatação faz parte de pesquisa desenvolvida na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.

Segundo o autor do estudo, Jesumar Ximenes de Andrade, “quem não publica muito pode ser responsável pela redução da nota do curso e, por consequência, pode ser retirado do programa”. Tal relação é tema da tese de doutorado de Andrade, sob a orientação do professor Gilberto de Andrade Martins e será defendida no mês de abril. A pesquisa foi aplicada na área de Contabilidade.

Andrade fez o levantamento da opinião de 85 pesquisadores durante o Congresso USP de Controladoria e Contabilidade, em 2009, na FEA. Através de pesquisa quantitativa, na forma de questionário, o pesquisador apresentou 18 comportamentos antiéticos aos entrevistados, pedindo que esses respondessem à frequência com que ficaram sabendo de alguma daquelas práticas, bem como, a freqüência que acreditavam que tais comportamentos ocorriam. Ao final, foram questionados sobre os fatores que levariam a tais comportamentos. Com os dados coletados através do questionário, Andrade aplicou uma entrevista semi-estruturada a oito pesquisadores.

Conforme os levantamentos, um dos fatores mais indicados como propulsores de condutas antiéticas foi a pressão por um grande número de publicações. “É algo que merece reflexão da própria Capes e de toda a comunidade científica. É melhor ter quantidade ou qualidade? Publicações com qualidade exigem tempo para serem produzidas”, afirma o pesquisador. Contudo, Andrade ressalta que a crítica não é ao papel que a Capes cumpre e sim aos atuais mecanismos. O autor pontua, ainda, que segundo a pesquisa as condutas antiéticas ainda não possuem muita frequência, contudo, sua simples existência já deve servir como alerta, buscando novas perspectivas que eliminem de vez a má conduta no meio acadêmico.

Práticas mais citadas

Entre os exemplos de má conduta, os mais citados estão relacionados às coautorias e a bibliografia. No primeiro caso, é comum, segundo os entrevistados, creditar a coautoria de outros autores que não contribuíram com o trabalho. Com isso, em outra pesquisa existe a retribuição. Com isso, aumenta-se o número de publicações para ambos. No que se refere à referência bibliográfica, é comum, também segundo dados da pesquisa, a citação de obras que não foram lidas, o que daria ao trabalho a impressão de um maior embasamento teórico. Outro dado que chamou a atenção, foi que os entrevistados acreditavam que a frequência com que são praticadas tais condutas é maior do que eles têm conhecimento.

Edição: Rafael Balbueno/Fritz Nunes (Sedufsm)

Reproduzido de ANDES 07 mar 2012.

Comentário  e Filosomídia:

Quem não publica nessa esteira da produção acadêmica não só é retirado dos programas, como às vezes nem entra neles, no mestrado, doutorado...

Aguardem meu texto "Fordismo e Educação: um século da escola na esteira da organização da produção do conhecimento" (2008), que em breve disponibilizarei aqui.

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