domingo, 25 de março de 2012

Indústria da tecnologia: a controladora do futuro das notícias...


The State of the News Media 2012: A indústria da notícia vem perdendo terreno para a de tecnologia

Priscila Duarte

Embora o crescimento na utilização de dispositivos e de novas plataformas estimule o consumo de notícias devido à facilidade de acesso, a indústria da tecnologia é que vem ganhando terreno, sendo agora considerada a controladora do futuro das notícias. Essa é uma das conclusões da 9ª edição da pesquisa anual 'The State of the News Media 2012', realizada pelo Pew Research Center's Project for Excellence in Journalism (PEJ), que tem como proposta analisar o estado do jornalismo norte-americano.

O estudo desse ano contém pesquisas em que foram examinados como os consumidores de notícias utilizam as mídias sociais, e como os dispositivos móveis podem mudar o 'negócio da notícia', além de uma atualização sobre as rápidas mudanças sofridas no campo do jornalismo comunitário.

Mais de um quarto dos americanos (27%) recebem notícias em dispositivos móveis e, para a grande maioria, isso se reflete em um aumento no consumo de material jornalístico. Segundo o relatório, embora a tecnologia venha a se somar ao apelo das notícias tradicionais, são os intermediários da indústria tecnológica que vêm ganhando espaço.

Em 2011, cinco gigantes da tecnologia geraram 68% de toda a receita publicitária digital, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado eMarketer - que não inclui na estatística os números da Amazon e da Apple, pois seus lucros têm origem a partir de dispositivos e downloads. De acordo com a mesma fonte, em 2015, aproximadamente 1 em cada 5 dólares de anúncios de exibição (display ads) está previsto para ser investido no Facebook.

Para Tom Rosenstiel, diretor da PEJ, a análise do relatório sugere que a notícia está se tornando uma parte mais importante e penetrante da vida das pessoas. "Mas ainda não está claro quem irá se beneficiar economicamente desse crescente apetite por novidades", questiona.

As plataformas de mídias sociais, entretanto, cresceram substancialmente no último ano, mas continuam a desempenhar um papel limitado no consumo diário de notícias. Apenas um terço dos consumidores de notícias leem matérias pelo Facebook; no Twitter, a proporção cai para menos de um sexto.

O relatório, que traz uma análise abrangente das tendências mais importantes no campo da notícia com base no ano de 2011, inclui capítulos detalhados sobre oito grandes áreas de mídia: digital, jornais, notícias a cabo, rede de TV, notícias de televisão local, áudio, revistas e meios de comunicação étnicos. Seguem algumas das conclusões:

- Os norte-americanos são muito mais propensos a acessar notícia digital indo diretamente para o site de uma organização jornalística ou aplicativo do que seguir links de mídias sociais, contabilizando 36% dos entrevistados. Apenas 9% dos adultos americanos dizem seguir as sugestões de notícias do Facebook ou Twitter.

- Ainda assim, as mídias sociais são consideradas um canal cada vez mais importante para as notícias, de acordo com dados de tráfego. Segundo a análise de dados da Hitwise, 9% do tráfego para sites de notícias agora vêm do Facebook, Twitter e pequenos sites de mídia social. A porcentagem vinda das ferramentas de busca, entretanto, caiu de 23% em 2009 para 21% em 2011.

- Usuários do Facebook (70%) seguem os links de notícias compartilhadas por familiares e amigos, já os do Twitter seguem links de uma variedade de fontes. Apenas 13% dizem que a maioria dos links acessados vêm de empresas de comunicação.

No Twitter, no entanto, a mistura é mais uniforme: 36% dizem que a maioria dos links que acessam vem de amigos e familiares, 27% dizem que a maior parte dos links vem de organizações de notícias, e 18% que a maioria dos links de notícias lidos chegam por meio de entidades e instituições. E mais: a maioria das notícias recebidas por essas redes poderia ter sido vista em outro lugar sem essa plataforma.

- Os setores de mídia tiveram um crescimento de sua audiência em 2011, com exceção das publicações impressas. Os sites de notícias registraram o maior aumento de audiência do ano: 17%. Outra área de destaque foi a dos telejornais que, em 2011, apresentaram um aumento no número de telespectadores atribuído aos acontecimentos negativos no exterior. Os jornais impressos, por sua vez, se destacaram por seu declínio contínuo, com uma redução de 5% quando comparado ao ano anterior. As revistas ficaram estáveis.

- Apesar dos ganhos de audiência, apenas as notícias via web e via cabo registraram um crescimento de receita publicitária em 2011. A publicidade on-line teve um crescimento de 23%, já os anúncios de TV a cabo 9%. A maioria dos setores da mídia, no entanto, viu o declínio das receitas de anúncios - as redes de TV caíram 3,7%; publicidade em revista, 5,6%; notícias locais, 6,7%, e os jornais impressos, 7,6%.

- Cerca de 100 jornais são esperados nos próximos meses para se juntar aos 150 periódicos que já migraram para algum tipo de modelo de assinatura digital. Em parte, os jornais estão fazendo este movimento depois de testemunhar o sucesso do 'The New York Times', que agora tem cerca de 390 mil assinantes on-line. O movimento também é impulsionado por quedas drásticas em receita publicitária. A indústria do jornal - circulação e publicidade combinados - encolheu 43% desde 2000. No geral, em 2011, os jornais perderam em receita publicitária cerca de US$ 10 para cada US$ 1 ganho on-line.

- O emergente panorama de sites de notícias comunitárias está chegando a um novo nível de maturidade e enfrentando novos desafios. NewWest.net e Chicago News Cooperative estão entre os importantes sites de notícias de comunidades que deixaram de ter publicação no papel. O modelo de sucesso, sintetizado pela Texas Tribune e pelo MinnPost, foi diversificar as fontes de financiamento e gastar mais recursos em negócios, não apenas com jornalismo.

- A privacidade é um assunto que está se tornando um problema maior para os consumidores, criando pressões conflitantes sobre as organizações noticiosas. Cerca de dois terços dos usuários de internet se sentem inquietos com a publicidade segmentada e com as ferramentas de busca que rastreiam comportamentos na web. Os consumidores, entretanto, dependem cada vez mais dos serviços prestados pelas empresas que agregam esses dados. As organizações de notícias estão bem no meio disso e, para sobreviver, precisam encontrar maneiras de fazer sua publicidade digital mais eficaz e lucrativa. No entanto, também devem se preocupar em não violar a confiança do público a fim de proteger seus ativos mais fortes: suas marcas.

Reproduzido de Nós da Comunicação
20 mar 2012

Via Cristiane Parente .  Mídia e Educação

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