Da regulação até o diploma: receita da grande mídia continua sendo a de não se ater aos fatos e sim às suas ideologias
Em interessante texto de autoria de Sérgio Murillo de Andrade da FENAJ – Federação Nacional dos Jornalistas, publicado pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), as tendências cada vez mais elitistas, concentradoras e ideológicas da grande mídia são esboçadas no contexto da discussão de temas importantes não só para o país, como também e especificamente, para o próprio jornalismo, como a regulação dos meios e a exigência do diploma para exercer a profissão de jornalista.
Quanto à regulação, o talento da mídia em dar vestes de liberdade de expressão para uma intensa produção de ideologia e confundir regulação com censura já está mais do que demonstrado. Já em relação ao diploma, a possibilidade deste último voltar a ser exigido para que alguém possa atuar como jornalista gerou uma cobertura como sempre incompleta, descontextualizada e com viés manipulatório por parte de alguns veículos de comunicação, como diz Sérgio.
Novamente, o talento da mídia está em dar vestes de direito de expressão de cidadania a um quase explícito aviltamento da profissão como se um jornalista ética e tecnicamente qualificado, com diploma, não fosse um instrumento de defesa das liberdades democráticas e reflexo direto da expressão da cidadania.
No entanto, a mídia diz o que quer e como quer, por isso, no caso da votação do projeto de emenda à constituição no Senado Federal, a mídia não deu atenção aos 65 votos a favor, preferindo ficar nos sete votos contra. Inverte-se aí básicos princípios do jornalismo que, talvez, um jornalista formado não inverteria.
Obviamente, não se falou que alguns votos contra eram de “donos de empresas de comunicação, predadores de mão-de-obra e interessados diretos no aviltamento da profissão”, como lembra o texto.
Realmente, diploma pra quê? Qualificação sobra e o que dirá da cidadania!
Reproduzido de Educação Política, por Glauco Cortez
10 dez 2011
Veja trecho do texto:
O rabo é mais importante que o cachorro
Por Sérgio Murillo de Andrade
Não é a primeira vez e, com certeza, não será a última. Mas sempre surpreende a reação violenta e o grau de manipulação que demonstram os próceres que controlam a mídia, e seus cães de aluguel, quando têm algum interesse contrariado. A atual cobertura das propostas de regulação dos meios de comunicação, qualquer regulação, é exemplo perfeito dessa anomalia editorial.
A decisão do Senado de aprovar em primeiro turno a emenda à Constituição que resgata a exigência do diploma de curso superior para o exercício da profissão de jornalista ofereceu mais uma oportunidade para um desfile de meias verdades, mentiras inteiras e muita, mas muita manipulação. Ou seja, uma boa aula de mau jornalismo.
A história já é conhecida: Em 2009 o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que para exercer o jornalismo não deve ser exigida qualquer habilitação ou documento legal. Basta se autodenominar jornalista, contar com um patrão amigo, e conquistar um lugar no disputado espaço dos jornais, rádios, TVs, revistas e portais de notícias no Brasil. Para a Suprema Corte do País, para ser jornalista não é necessário nem provar a alfabetização. Aliás, uma exigência desse tipo, para uma parte dos Ministros, é uma séria ameaça ao estado democrático de direito.
O curioso é que esse processo tramitou por uma década sem merecer qualquer menção da parte dos Meios. Mas o julgamento do STF ganhou as manchetes e causou tamanha estranheza e surpresa na sociedade, que os históricos opositores do diploma se abstiveram de comemorar.
Inconformados com a decisão do STF, vamos dizer assim, equivocada, para manter o nível (o que faltou ao Senador Fernando Collor), as lideranças sindicais dos jornalistas, com o apoio de diversos parlamentares, buscaram, no Congresso Nacional, deixar claro, no texto da Constituição, que não há contradição nenhuma entre exigir que jornalistas estudem e o direito de expressão da cidadania.
Enquanto durou, por mais de 40 anos, a exigência jamais impediu qualquer cidadão de expressar-se de forma livre nos jornais, rádios ou TVs. Muito pelo contrário, o jornalismo ética e tecnicamente qualificado é um dos principais instrumentos de defesa das liberdades democráticas, em especial à de expressão, e de enfrentamento das vilanias provocadas pela lógica do mercado e a concentração da propriedade dos meios.
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