O livro morreu? Viva o livro!
A primeira conferência digital exclusiva para debater o uso de tecnologia na edição de livros para crianças acontece às vésperas da abertura da Feira do Livro Infantil de Bolonha, o encontro mais respeitado do gênero, no dia 27 deste mês. O Tools of Chance for Publishing reunirá educadores e especialistas no assunto e vai analisar cases de educação com o livro digital. “As crianças aprendem mais e melhor com esta ferramenta?” Esta será uma das perguntas “que se tentará responder” no acontecimento.
Se há alguns anos ainda havia dúvidas sobre o futuro do livro digital, hoje já se pensa em sua utilização para além da mera diversão. Prova da nova visão é que acaba de ser aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal o projeto de lei que altera a Política Nacional do Livro, atualizando a definição e ampliando a lista de produtos equiparados ao livro. Com o projeto, que deve ser votado até meados do ano, ficarão equiparados aos livros os equipamentos eletrônicos destinados à leitura de textos, os e-readers.
Como uma das razões para o ceticismo dos editores para a ampliação do mercado de livros digitais no Brasil é o alto preço dos equipamentos de leitura no país, a aprovação da medida poderá ser um bom empurrão na disseminação do e-book. Afinal, com a mudança, poderão ser concedidos benefícios fiscais próprios dos livros aos leitores digitais, ainda que o relator da CAE seja contrário à extensão da redução de impostos ao iPad, por considerá-lo mais do que um leitor de livros digitais.
Outro sinal das mudanças editoriais que estão chegando foi a reunião, no final do ano passado, de seis editoras (Objetiva, Record, Sextante, Intrínseca, Rocco e Planeta) para a criação da Distribuidora de Livros Digitais (DLD), empresa de distribuição de e-books que espera incorporar 300 novos títulos por mês ao seu catálogo, embora funcione apenas como uma intermediária entre o consumidor e as livrarias digitais, não vendendo obras diretamente para o público.
Ainda incipiente no Brasil, o assunto gera discussões acaloradas no exterior. Uma das palestrantes do encontro em Bolonha, Lisa Edwards, é uma das responsáveis por uma pesquisa recente sobre o futuro do livro digital para as crianças, o estudo Kids and family reading reporttrade, realizado pela Scholastic Corporation, a maior editora e distribuidora de livros infantis, entre os quais a série Harry Potter. Segundo a pesquisa, 57% das crianças entrevistadas preferiam ler em aparelhos digitais (os e-readers) em vez de no meio impresso, apesar do temor paterno (41% dos pais entrevistados) de que a tecnologia afastasse seus filhos do hábito da leitura. Mais: ainda que apenas 6% dos pais possuam um aparelho eletrônico para ler e-books, neste ano o número, segundo o estudo, deve crescer para 16%. E, apesar do custo de leitores como o Kindle ou o iPad, 83% dos pais não hesitariam em deixar esses aparelhos delicados nas mãos dos filhos, encorajando-os a usá-los na leitura. Outra pesquisa, dessa vez feita pela Marketing and Research Resources, complementa a nova direção e indica que 40% dos entrevistados passaram a ler mais livros por causa dos aparelhos eletrônicos de leitura, o que levará 11 milhões de americanos a ter um leitor até meados deste ano. As vendas de livros digitais no país cresceram 183% entre 2009 e 2010.
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