quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Crianças em disputa: o ataque do capital (1)


"Nos últimos 10 anos cresceu a preocupação dos técnicos dos governos, dos políticos e do capital sobre a necessidade de se projetar cenários para o futuro. Esta projeção nos mostra como, no exercício de poder, a classe dominante materializa e projeta para dentro da classe trabalhadora sua idéia de manutenção da ordem.

(...) Segundo a CEPAL, a América Latina possui aproximadamente 600 milhões de habitantes. Destes, 27,3% têm até 14 anos de idade e 33,6% têm de 15 a 34 anos. Tomemos como referência apenas o primeiro grupo. Se analisarmos as projeções para os próximos 25 anos, este grupo terá entre 25 a 39 anos de idade. Em 25 anos estas crianças já terão passado por um processo de formação ideológica, cultural e política que moldará em muitos sentidos sua forma de ver e atuar sobre o mundo. Supõe-se que, quanto mais cedo estas crianças forem educadas no projeto da classe dominante menor resistência estas terão, para assumir sua posição periférica na tomada de decisões em seus territórios.

(...) Na formação da consciência burguesa desta futura juventude, não pode haver espaço para questionamentos sobre a ordem. O capital só materializa sua formação da consciência, caso domine e adestre.  O modo de produção dominante consolidou as bases materiais concretas para desenvolver aparatos técnico-científicos tais que o permita tirar vantagens de sua posição de classe hegemônica.

(...) O que está em jogo afinal?

Está em jogo a manutenção da acumulação de capital centrada na exploração do trabalho, fruto de uma perversa dominação de classe.

Está em jogo o atual consumo da criança associado à inserção futura como trabalhador endividado consciente. Enquanto hoje são os pais os que arcam de forma endividada com o consumo das crianças, amanhã estes trabalhadores já terão internalizado que toda inclusão passa pelo tipo de consumo que são capazes de desejar e realizar.

Está em jogo a formação da consciência de que não existe outro projeto senão o da classe dominante. Talvez esta seja a mensagem mais clara de todas: a de que só resta para o trabalho, trabalhar para consumir e que a acumulação fica como propriedade privada, indiscutível, de quem emprega.

Está em jogo eliminar a disputa, as contradições, e colocar no lugar da divergência e do antagonismo um processo de dominação de classe como um projeto único de sociedade. Isto não é novo na dinâmica de manutenção da hegemonia capitalista. Quiçá as bases técnico-científicas com as quais o capital ora conta, coloquem outros elementos que dificultam ainda mais a clareza dos projetos e processos em disputa".

Roberta Traspadini . Economista e educadora popular

Leia o texto completo (Parte 1) na página do Brasil de Fato. clicando aqui.

Leia também "O trabalho infanto-juvenil na sociedade capitalista" clicando aqui.
Veja também "Capitalismo e outras coisas de crianças" clicando aqui, ou a série com legenda no Youtube clicando aqui.

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